quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

NEM VOCÊ, NEM SUA BÍBLIA ME CONVENCEM!



É incrível como tem gente que afirma que tem a Bíblia como única regra de fé e prática para suas vidas, mas quando suas fés e práticas e gostos são diferentes das prescritas pela Bíblia, partem para o "Sim, mas...". Buscam justificativas!

As pessoas crentes parecem que não consideram mais a Bíblia como o Livro dos livros. Seus ensinos são desprezados friamente, em nome de práticas de anos. E não adianta mostrar-lhes na Bíblia a vontade de Deus, pois eles preferem o que lhes ensinaram, o que experimentaram, o que seus líderes lhes manda. Isso me remete a uma conversa que há muitos anos tive com uma Testemunha de Jeová. Pedi sua Bíblia emprestada, e em sua própria tradução bíblica refutei algumas das mentiras que haviam lhe ensinado. Mostrei-lhe a presença de uma grande multidão no céu (e não somente os 144 mil), mostrei-lhe a Trindade, e algumas outras coisas que ele tinha como verdade absoluta. Mostrei NA BÍBLIA DELE! Atordoado, ele me disse “― Estou vendo na minha Bíblia, mas não estou acreditando...”

Esta descrença na Bíblia deixou de ser exclusividade das TJ; agora, os próprios crentes não creem mais nela! Mostre-lhes o erro na Bíblia, mesmo de forma irrefutável, e eles escolhem permanecer no erro, descartando o que diz a Bíblia!

Quase todos os dias, quer por redes sociais, quer pessoalmente, mostro a pessoas os seus erros nas Escrituras, mas elas, mesmo diante do que está escrito, continuam no "Sim, mas...". Mostrei recentemente a uma pessoa que o diabo não veio para matar, roubar e destruir, mas O LADRÃO, os maus pastores, em contraposição ao BOM PASTOR, que é Jesus (Jo 10:1-11). Pois bem... Esta pessoa, MESMO TENDO LIDO NA BÍBLIA, continua procurando justificativas para ficar com o que lhe ensinaram por anos, e não com o que está escrito! Ou seja, é como se ele gritasse em meu ouvido: "Nem você e nem a sua Bíblia me convencem! Fico com o que meu líder me ensinou!".

Só pode ter alguma coisa errada COMIGO, que insisto nesta loucura de seguir a Bíblia!! Só pode ser... A multidão segue na direção contrária a que eu sigo!!

Na narrativa da parábola do bom samaritano (Lc 10:25-37), um escriba perguntou a Jesus o que devia fazer para herdar a vida eterna. Mesmo depois de Jesus provar-lhe que ele já sabia da resposta (estava na Escritura que ele tanto lia e estudava), ele insistiu em querer se justificar...

Quando o jovem rico foi questionado por Cristo, que lhe disse que faltava uma coisa, retirou-se cabisbaixo (Mt 19:16-22)... Seus bens o impediram de satisfazer ao Mestre, e ele preferiu ficar com seus próprios conceitos.

Nem a Bíblia te convence mais do erro? Você prefere ficar com seus próprios conceitos, ou com o conceito dos teus líderes? Prefere as experiências ao invés das prescrições da Palavra? Lamento, mas o "evangelho" que você segue não é o da Bíblia, mas o seu próprio" . O Evangelho genuíno, o da cruz, aponta para o contrário. Para seguir a Cristo, temos que negarmo-nos a nós mesmos. Temos que tomar a crus, e seguir o Senhor Jesus (Mt 16:24), e não a nós mesmos, a nossos gostos, a nossos conceitos humanos e equivocados.

Jesus acusou os judeus da época de algo terrível, e que infelizmente se repete em nossos dias: "Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam; mas não quereis vir a mim, para terdes vida" (Jo 5:39-40). Ou seja, vocês têm a Bíblia nas mãos; a Bíblia testifica de mim, e é o mapa seguro para a vida eterna, mas vocês não querem segui-la, para chegarem até mim e terem esta vida eterna! Preferem continuar em seus próprios conceitos, doutrinas e maneiras vãs de seguir a Jesus!

Disponha-se a reconhecer que seus conceitos e preconceitos podem estar errados, e disponha-se a renegá-los toda vez que a Bíblia disser que o que você faz, crê ou pratica está em desconformidade com o que está escrito. Disponha-se a examinar o que te dizem à luz das Escrituras. E sempre que a Bíblia se opuser aos seus conceitos, não resista! 

As antepenúltimas palavras de Estêvão foram: "Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim, vós sois como os vossos pais. A qual dos profetas não perseguiram vossos pais? Até mataram os que anteriormente anunciaram a vinda do Justo, do qual vós agora fostes traidores e homicidas; Vós, que recebestes a lei por ordenação dos anjos, e não a guardastes" (At 7:51-53), protestando veementemente contra homens que resistiam a Deus, e embora tivessem em suas mãos as Escrituras, não as observaram, antes preferiram suas próprias doutrinas humanas...

Volte-se à obediência da Palavra de Deus!! Se não fizer isso, a Bíblia NÃO É sua única regra de fé e prática. Sequer é a primeira!!

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

EU VOTO PELO FIM DA BÍBLIA!



A Bíblia já devia, e há muito tempo, ter sido OFICIALMENTE banida de nossas Igrejas. Falo sério. Assim como em muitas Igrejas Batistas não se vê nem se usa mais o Cantor Cristão, assim como o Hinário presbiteriano "Novo Cântico" tem seu uso compulsoriamente aposentado nos cultos, assim como a própria Harpa Cristã aos poucos é abandonada pelas Assembleias de Deus, mormente nas grandes igrejas, por que não fazer o mesmo com a Bíblia??



Este livro, que por muitos anos foi chamado de "O Livro dos livros" nos meios protestantes, hoje se revela um livro muito mais ofensivo à nossa fé do que qualquer outra obra já produzida e perpetuada pela invenção do Guttemberg. Tornou-se obsoleto e obstaculoso ao nosso crescimento, e devemos tomar atitudes extremas para corrigirmos tal erro. 

Eu gostaria que todos analisassem as razões por que eu voto pela sua jubilação e pelo seu total afastamento de nosso meio: 

1. A Bíblia é um livro homofóbico. Vivemos no Século XXI, aonde o liberalismo entra pelas portas da frente de nossas Igrejas e é recebido com tapete vermelho e lugar de honra no "altar". Ser contrário à homossexualidade, como a Bíblia claramente é, significa lutar contra o bom senso e contra a diversidade sexual dos nossos dias. As igrejas "inclusivas-GLBTUVWXYZ" já a traduzem conforme suas próprias doutrinas e seus desejos pessoais, mas devem ser as primeiras a dar o exemplo, abolindo-a inteiramente de seu meio. E que as demais Igrejas sigam este valioso exemplo. Somente os crentes homofóbicos ainda insistem em serem seguidores um livro velho e odioso, que exclui os homossexuais da comunhão da Igreja. Ora, se ela mesma diz que Deus é amor, quem são estes homofóbicos para desprezar este amor de iguais, criado por Deus?? Heterossexuais adúlteros, é até aceitável que exijamos que se arrependam e deixem o pecado do adultério, mas o homossexualismo, independentemente do que se diga e do que afirme a Bíblia, não é pecado para ser abandonado! 

2. A Bíblia é um livro machista. Conta a história de uma sociedade machista, e perpetua este machismo ao não dar o espaço devido às mulheres, a igualdade plena que elas já conquistaram na sociedade atual. Abrindo caminho para a aceitação plena e incondicional dos homossexuais em nosso meio, o feminismo já ocupou seu lugar na Igreja na marra. Embora a retrógrada Bíblia não prescreva cargo pastoral ou sacerdotal para mulheres nem para a religião judaica (AT) e nem para a Igreja (NT), já demos o nosso jeitinho feminista. Isso é bom, pois assim, em futuro próximo os homossexuais que quiserem ser pastores(as) reivindicarão o mesmo direito. Se as mulheres podem, mesmo sem base bíblica, por que eles também não podem? É justo!! Igualdade já!! 

3. A Bíblia limita a ação do Espirito Santo, castra e inibe a liberdade plena para Ele agir em nosso meio. Que 1 Co 12 e 14 que nada!! Esse negócio de ordem e decência nos cultos, dois ou três falando em línguas, e um de cada vez, e com intérprete, é coisa de presbiteriano e batistão! Este negócio de "dom de discernimento de espíritos" é o único dom que justifica o cessacionismo; se existe um dom que cessou, foi este de discernimento, pois os "Profeta$" não podem ter suas profecias questionadas, pois são a voz do próprio Deus! Estas limitações são invenções de teólogos e de frios espirituais, para colocar o Espírito Santo em uma caixinha de fósforos! Temos que deixar o Espírito Santo fazer o que bem quiser durante nossos cultos, como quiser e na hora que quiser! 

4. A Bíblia atrapalha mais do que ajuda. Que o diga as imposições arbitrárias que lemos em  1 Tm 3 e Tt 1 para se poder consagrar um pastor. Absurdo!! Colocar exigências para se reconhecer um novo pastor só atrapalha a propagação do Evangelho!! O certo é, assim que se converter, se batizar nas águas, for batizado no Espírito Santo e aprender a dar um nó de gravata (homens) ou fazer uma trança de raiz ou um "cocó" (mulheres) no próprio cabelo, os servos do Senhor têm logo é que serem ungidos pastores, para pregarem o Evangelho e ganharem almas! Estas exigências são ofensivas a Deus, pois o importante é que o Evangelho seja pregado. 

5. A Bíblia contém muitos versículos errados. Por exemplo, Jesus deixou claro que não devemos julgar. Embora encontremos mais de doze outros versículos do Novo Testamento afirmando que devemos, sim, julgar, e até nos incentivando a fazê-lo, certamente estes estão errados, já que Deus pessoalmente nos mandou não tocarmos nos "Ungido$"! 

6. Finalmente, a Bíblia é um livro ultrapassado! Seus princípios atrapalham a prosperidade de pastores, cantores, "levitas" e conferencistas, que são dignos de seu sustento e de enriquecer, pois devem comer o melhor desta terra! Suas orientações atrapalham a felicidade amorosa de homens e mulheres infelizes com seus cônjuges, que precisam abandoná-los, se divorciarem, para poderem ser realmente felizes com seus amantes e/ou novos cônjuges! E muitos outros atrapalhos trazem à Igreja do Senhor!

Assim sendo, e considerando que muitas Igrejas já abriram os olhos para esta realidade, embora ainda a usem estrategicamente, na verdade já a abandonaram quase que completamente, sugiro que todos nós a abandonemos também. Ela virou um peso morto, um amuleto, um livro-desodorante diante de uma Igreja que prefere seguir a suas próprias concupiscências e considerar seus ouvidos comichentos, em vez de obedecer o que Está Escrito! A Bíblia nada vale! Deus continua falando pela boca de seus "ungido$" e "profeta$", e o que eles dizem nos dias de hoje vale muito mais do que o que Está Escrito nesta ultrapassada Bíblia!

"Tu, tolo, dirás: Uma Bíblia; temos uma Bíblia e não necessitamos mais de Bíblia! .. Por que murmurais por ter de receber mais palavras minhas? ... porque falei uma palavra, não suponhais que não poderei dizer outras: porque meu trabalho ainda não está terminado, nem estará até o fim do homem, e desde então para sempre. Portanto, porque tendes uma Bíblia, não deveis supor que ela contém todas as minhas palavras; nem deveis supor que eu não fiz com que se escrevesse mais" (LIVRO DE MORMON, 2 Néfi, cap. 29)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O QUE O NOVO TESTAMENTO NOS ENSINA SOBRE O "GUARDAI-VOS" - 4/7


No Evangelho de Lucas, capítulo 12, a Escritura relata que Jesus estava ensinando às multidões quando alguém gritou-lhe, em súplica: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta comigo a herança!”. É bem possível que tal súplica fosse justa; afinal, pressupõe-se que o pai de dois homens havia morrido e deixado uma herança para ser dividida entre ambos, mas um destes homens a usurpou, negando dar ao seu próprio irmão a parte que lhe cabia. Uma injustiça. E o Senhor Jesus, que sempre foi contrário a qualquer injustiça que se cometesse, parecia ser a pessoa certa a quem se apelar. Era de se esperar, pela óptica do irmão lesado, que levar o caso a Jesus pudesse por fim à discórdia, com a repartição justa do espólio. Entretanto, a resposta de Jesus soa aos seus e aos nossos ouvidos como injusta e prepotente: “Homem, quem me pôs a mim por juiz ou repartidor entre vós?

Então, Jesus vira-se para a multidão que o ouve certamente já há algumas horas e diz: “Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui” (Lc 12:13-15). Joga um balde de água gelada, com gelo e sal, naquele que pleiteava justiça financeira para si. E esta água gélida respinga ainda hoje em todos nós!

Jesus ensina pelo menos duas verdades para os que quiserem ouvir Quem tem ouvidos para ouvir, ouça! (Mt 13:9)  neste texto:

Primeiro, o Seu Ministério e Sua atuação na Igreja não é para resolver questões financeiras. Caso você, crente, se aproxima de Jesus para que Ele resolva seus problemas financeiros e lhe dê prosperidade da forma como se prega no neopentecostalismo, não espere resposta diferente de Jesus, senão aquela que ele deu ao anônimo da multidão!

Segundo, Jesus deixa claro que o Seu seguidor deve guardar-se da avareza. Trata-se do quarto "Guardai-vos" que encontramos no Novo Testamento em português. E sobre ele discorreremos.

A palavra grega utilizada para “avareza” é pleonexia (pleonexia), e significa, conforme o léxico grego, desejo ávido de ter mais, cobiça, avareza. Nunca é custoso lembrar que o solicitante fazia uma petição justa, mas não foi aceito pelo Senhor. E mais: após a lição, o Senhor ainda acrescentou ao Seu ensino a parábola do rico insensato, que nós erroneamente julgamos se tratar de lições referentes a pessoas não-crentes. Ledo engano. O que ele ensinou, é primeiramente para aqueles que O seguiam, e que O seguem nos dias de hoje. Isso não é para "incrédulos", mas para crentes!

"E propôs-lhes uma parábola, dizendo: A herdade de um homem rico tinha produzido com abundância: E arrazoava ele entre si, dizendo: Que farei? Não tenho onde recolher os meus frutos. E disse: Farei isto: derribarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens; E direi à minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens, para muitos anos: descansa, come, bebe e folga. Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus" (Lc 12:16-21).

Nem é preciso ser gênio, ou ter QI diferenciado, para observar na Igreja de nossos dias que as denominações estão cheias, não de ricos insensatos, mas de POBRES querendo ser ricos, valendo-se da mesma insensatez do rico da parábola, e da presunção daquele anônimo no meio da multidão, que achava que poderia se valer de Jesus para satisfazer suas necessidades financeiras, mesmo as mais justas! O fechamento da parábola é taxativo: há muitos, inclusive entre nós, que são ricos para o sistema financeiro, mas pobres para Deus, como era o "anjo" da Igreja de Laodiceia (Ap 3:17-8). A pior das pobrezas!

Não é pecado querer ser rico, ou pelo menos ter "folga financeira", viver de forma cômoda, financeiramente falando! O trabalho honesto pode levar qualquer homem, crente ou não, a alcançar esta riqueza. O pecado é querer enriquecer de forma "miraculosa", sem trabalho e sem esforço, simplesmente porque somos cristãos! Pecado é achar que podemos usar Jesus neste afã de enriquecer, e que Ele vai-nos satisfazer os quereres. O pecado é fazer do "Projeto Enricar" o centro de tudo em nossas vidas, canalizar todos nossos os esforços e nosso tempo para satisfazer nossa sede de riqueza. O pecado não é querer ter dinheiro, mas amar ao dinheiro, seja muito ou pouco, mais do que a Jesus, fazendo dEle, do Senhor, nosso expediente mágico para enriquecer. E assim, acrescentamos pecado a pecado (Is 30:1), e fazemos com que um abismo chame outro abismo (Sl 42:7).

Paulo deixou claro o seu ponto de vista sobre tais pessoas que têm a riqueza como seu principal objetivo na vida. Escrevendo a Timóteo, ele afirma que "os que querem ser ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se trespassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu, ó homem de Deus, FOGE DESSAS COISAS e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão" (1 Tm 6:9-11 - grifo meu). E arremata, aconselhando aqueles que já são ricos: "Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas, para delas gozarmos; Que façam bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boamente, e sejam comunicáveis; Que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna" (1 Tm 6:17-19).

Repito: não é pecado ser rico, desde que esta riqueza não seja alcançada por meios não lícitos, desonestos ou fraudulentos. Entretanto, o Evangelho veio para os pobres (Mt 11:2-5), não para fazê-los ricos, mas para dar-lhes a salvação. Não para empobrecer os ricos, mas para que eles compreendam a fragilidade das riquezas, não ponham as suas esperanças no dinheiro e nem tratem o pobre com desdém, principalmente os irmãos da fé. Afinal, era assim que a religião dos tempos de Jesus fazia: fechava todas as portas para o pobre. Jesus veio fazer exatamente o contrário: abrir as portas aos pobres e mostrar aos ricos que esta mesma porta estava fechada para eles, e permaneceria fechada enquanto eles não percebessem a essência do verdadeiro Evangelho, enquanto não se desprendessem do vil metal.

Lamentavelmente, estas preciosas lições não são mais ouvidas em nossos dias. As pessoas entram na Igreja não em busca de Deus, mas de benesses, principalmente a riqueza financeira. Os cultos de doutrina e oração foram estrategicamente por cultos de vitória e prosperidade. Bíblias são editadas não com o propósito de salvar e edificar almas, mas de ensinar às ovelhas como enriquecer. Afinal, segundo estes "pastores" a pobreza é maldição, e a riqueza é sinal de bênção! Entretanto, as Escrituras veterotestamentárias mostram que sempre que o povo de Deus enriqueceu e se tornou próspero, afastou-se do Senhor. Coincidência? Vemos isto nos dias de Jeremias, de Oséias...

Como resultado desta inversão de valores, a revista FORBES já listou os "pastores" brasileiros mais ricos, e entre eles encontramos fortunas estimadas em quase $1 bilhão! Insatisfeitos, estes "homens de Deus" continuam captando mais e mais, como bons filhos da sanguessuga que são (Pv 30:15), pedindo diuturnamente em suas "igrejas" e em seus programas de tevê que se comprem mais os seus produtos, que se façam mais ofertas, dízimos e trízimos, além de outros expedientes para extorquir dinheiro de suas ovelhas incautas. Este dinheiro vai para a construção de megatemplos e a criação de megaimpérios religiosos. Uma gorda fatia vai para os bolsos e contas bancárias destes "pastores", para ser usado em seus deleites pessoais, contrariando o ensino do Senhor Jesus sobre o desapego às coisas materiais e sobre o princípio do "de graça recebestes, de graça dai" (Mt 10:8).

Estes mesmos "pastores" alargam seus ministérios, dando passos maiores que as pernas, justificando para isto que estão pregando o Evangelho. Entretanto, basta assistir um dos seus programas para observarmos que o "evangelho" que pregam não é o da cruz, mas o do trono. Seu objetivo maior não é pregar o genuíno e puro Evangelho, mas sim angariar mais "patrocinadores" para seus jatos, mansões, fazendas e rebanhos. Seu alvo não é a salvação dos seus ouvintes, mas a lavagem cerebral para que as ovelhas façam o que eles mandarem.

Repito pela terceira e última vez neste artigo: não é pecado ser rico, e nem é pecado desejar melhoras financeiras, desde que através do trabalho honesto. Buscar melhorias, como prestar concursos, fazer cursos de aperfeiçoamento e capacitação profissional, ou abrir seu próprio negócio, deixando de ser empregado e passando a ser patrão, é lícito. Pecado é achar que Jesus é juiz e partidor de riquezas, que Ele vai nos prosperar para que vivamos uma vida de ricos, desprezando os pobres que nos rodeiam. Pecado é usar o dinheiro de ofertas para seu enriquecimento pessoal, e inventar formas de extorsão, prometendo milagres e benesses em troca de ofertas, como se Deus fosse um negociante, como se Ele, em Sua infinita justiça, beneficiasse somente aquele que pode dar dinheiro. Pecado é desejo ávido de ter mais, desenvolver uma cobiça desenfreada, e cruel avareza diante dos mais pobres. Pecado é se achar superior aos pobres pelo fato de ser rico. Pecado é fazer das riquezas o maior de todos os objetivos de nossa vida.

Para estes lobos travestidos de pastores e seus seguidores ávidos por prosperidade e riqueza, resta a dura palavra dada por Pedro a Simão, o mago: "O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro. Tu não tens parte nem sorte nesta palavra, porque o teu coração não é reto diante de Deus. Arrepende-te, pois, dessa tua iniquidade e ora a Deus, para que, porventura, te seja perdoado o pensamento do teu coração; Pois vejo que estás em fel de amargura, e em laço de iniquidade" (At 8:20-23). 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

SENSAÇÃO DE DÉJÀ VU...

Hoje o tio Zilton vai contar uma historinha para vocês...

Certo dia, um homem riquíssimo decidiu abrir uma filial de sua empresa em uma grande cidade. Mudou-se para esta cidade e pessoalmente cuidou de todos os detalhes para a abertura e funcionamento da empresa, criou toda a sua estrutura, admitiu funcionários... Excessivamente rígido em termos de administração, ele mesmo deixou muito bem definidos os parâmetros administrativos que deveriam reger sua administração em um manual chamado MANUAL DE CONDUTA ADMINISTRATIVA, elaborado por ele mesmo, com a orientação expressa de que estas rotinas deveriam ser observadas minuciosamente. Após a implantação daquela empresa, ele decidiu se afastar do comando, retornando à Matriz, mas não sem antes nomear um administrador idôneo, dando-lhe plenos poderes para conduzir seus negócios naquele local.

Em dado momento, este administrador admitiu dois de seus filhos, também bons administradores, para auxiliá-lo na tarefa de conduzir a empresa. Tudo corria bem, a empresa dava lucros a seu proprietário... Entretanto, os dois administradores resolveram modernizar um pouco as coisas. Mudaram rotinas, estabeleceram novas formas de administrar as coisas, novas condutas... A empresa cresceu, ganhou novos clientes, passou até a dar mais lucro... Mas tudo passou a ser feito de forma contrária ao que estava escrito no Manual de Conduta.  Ao passo que tudo crescia e se modernizava, abriu-se espaço para falcatruas e desvios... E em pouco tempo estes dois administradores passaram a aplicar golpes em benefício próprio nas finanças da empresa...

O velho pai, zeloso com a administração, tentou até parar com toda aquela modernidade, tentou argumentar com seus filhos... Foi tudo em vão. Aquele homem não tinha mais pulso para dar ordens a seus filhos, homens independentes. Não tinha mais autoridade, ou não queria mais usa-la de forma rigorosa, com medo de contrariar seus filhos queridos...

Um dia bateu uma auditoria surpresa. O auditor nem se deu ao trabalho de fazer grandes investigações, pois as irregularidades estavam à vista de todos. Chamou o administrador e repreendeu-o por tudo o que estava acontecendo, pela sua incapacidade de comandar os seus administradores subalternos, pela sua incompetência de manter em funcionamento a máquina que o dono da empresa havia criado, na forma que ele havia estabelecido para que sua empresa funcionasse. Por fim, informou-lhe que estava preparando um relatório completo da situação que seria imediatamente encaminhado ao dono da empresa, e que os resultados deste relatório não seriam muito agradáveis... Certamente o dono da empresa tomaria providências no sentido de destituí-lo da administração juntamente com seus filhos, e pesar sobre eles as consequências de seus atos desonestos...

Vocês devem estar com uma enorme sensação de déjà vu...

Pois é... Esta história não é fictícia, está descrita na Bíblia.  Ela está registrada no primeiro livro de Samuel... “Eram, porém, os filhos de Eli filhos de Belial e não se importavam com o Senhor; pois o costume daqueles sacerdotes com o povo era que, oferecendo alguém sacrifício, vinha o moço do sacerdote, estando-se cozendo a carne, com um garfo de três dentes na mão; e metia-o na caldeira, ou na panela, ou no tacho, ou na marmita, e tudo quanto o garfo tirava o sacerdote tomava para si; assim se fazia a todo o Israel que ia ali, a Siló. Também, antes de se queimar a gordura, vinha o moço do sacerdote e dizia ao homem que sacrificava: Dá essa carne para assar ao sacerdote; porque não aceitará de ti carne cozida, senão crua. Se o ofertante lhe respondia: Queime-se primeiro a gordura, e, depois, tomarás quanto quiseres, então, ele lhe dizia: Não, porém hás de ma dar agora; se não, tomá-la-ei à força. Era, pois, mui grande o pecado destes moços perante o Senhor, porquanto eles desprezavam a oferta do Senhor [...] Era, porém, Eli já muito velho e ouvia tudo quanto seus filhos faziam a todo o Israel e de como se deitavam com as mulheres que serviam à porta da tenda da congregação. E disse-lhes: Por que fazeis tais coisas? Pois de todo este povo ouço constantemente falar do vosso mau procedimento. Não, filhos meus, porque não é boa fama esta que ouço; estais fazendo transgredir o povo do Senhor. Pecando o homem contra o próximo, Deus lhe será o árbitro; pecando, porém, contra o Senhor, quem intercederá por ele? Entretanto, não ouviram a voz de seu pai, porque o Senhor os queria matar [...] Veio um homem de Deus a Eli e lhe disse: Assim diz o Senhor: Não me manifestei, na verdade, à casa de teu pai, estando os israelitas ainda no Egito, na casa de Faraó? Eu o escolhi dentre todas as tribos de Israel para ser o meu sacerdote, para subir ao meu altar, para queimar o incenso e para trazer a estola sacerdotal perante mim; e dei à casa de teu pai todas as ofertas queimadas dos filhos de Israel. Por que pisais aos pés os meus sacrifícios e as minhas ofertas de manjares, que ordenei se me fizessem na minha morada? E, tu, por que honras a teus filhos mais do que a mim, para tu e eles vos engordardes das melhores de todas as ofertas do meu povo de Israel? Portanto, diz o Senhor, Deus de Israel: Na verdade, dissera eu que a tua casa e a casa de teu pai andariam diante de mim perpetuamente; porém, agora, diz o Senhor: Longe de mim tal coisa, porque aos que me honram, honrarei, porém os que me desprezam serão desmerecidos”.  (1 Sm 2:12-30).

Esclarecidas as coisas... mas a sensação de déjà vu continua, né?

Não é para menos... Este mesmo tipo de conduta continua sendo comum no meio da Igreja de Deus nos dias atuais. Administradores continuam fazendo o que bem querem e entendem na conduta e nos procedimentos dentro da Igreja do Senhor Jesus... O fato é que a Igreja do Senhor Jesus está cheia de Hofnis e de Finéias...E os Elis dos nossos dias, os crentes, que foram feitos reis e sacerdotes (1 Pe 2:5; Ap 1:6; 5:10) e que deveriam examinar as Escrituras "para ver se as coisas são realmente assim" (At 17:11), na maioria das vezes assumem o papel do submisso e conformado sacerdote Eli, com um silêncio obsequioso e indulgente que consente silenciosamente com o erro...

As coisas estão sendo conduzidas de forma visivelmente contrária ao que foi definido no Manual de Conduta Administrativa, digo, de Fé e Prática, a saber, a Bíblia Sagrada, aonde se encontram os verdadeiros padrões para se conduzir a Igreja do Senhor (1 Tm 3:14-15), os padrões que Ele mesmo deixou para que seguíssemos, sem nos desviarmos deles nem para a direita e nem para a esquerda (Js 1:7-8; Dt 5:32; Dt 28:14).

O pior de tudo é que muitos dentre aqueles que deveriam estar se posicionando contra as imoralidades que são praticadas na casa de Deus e em nome dEle, têm-se levantado em defesa não das Escrituras, mas daqueles que a profanam e pisam sobre ela. Abrem sua boca e dizem, presunçosamente e sem nenhuma reflexão, “não toqueis nos meus ungidos”, “não julgueis para não serdes julgados”, “não faleis mal uns dos outros” e outras expressões fora de contexto. Nem se dão ao trabalho de verificar o que as Escrituras e a sua unidade doutrinária dizem a respeito. Assim como Satanás na tentação do Senhor Jesus, citam a Bíblia de forma isolada. Preocupam-se com o “está escrito”, e se esquecem do “também está escrito” (Mt 4:6-7).

Não negamos o direito de defesa a qualquer pessoa, e nós mesmos reivindicamos tais direitos para nós... Entretanto, o que está em jogo não sou eu, nem pastores e nem cantores e nem outras coisas secundárias, senão a SÃ DOUTRINA e as ESCRITURAS SAGRADAS. Qualquer atitude de qualquer cristão deve passar pelo crivo da Palavra, e tudo deverá ser julgado de conformidade com ela, segundo a reta justiça nela descrita e ensinada. Não é a toa que a Palavra de Deus é chamada de “lei, estatutos e juízos” (Sl 119), e que nós somos chamados a observá-la em todo e qualquer julgamento. Esta foi a orientação dada aos futuros reis de Israel: “Quando entrares na terra que te dá o Senhor, teu Deus, e a possuíres, e nela habitares, e disseres: Porei sobre mim um rei, assim como têm todas as gentes que estão em redor de mim: Porás, certamente, sobre ti, como rei, aquele que escolher o Senhor, teu Deus [...] Será, também, que, quando se assentar sobre o trono do seu reino, então escreverá para si um traslado desta lei, num livro, do que está diante dos sacerdotes levitas. E o terá consigo, e nele lerá, todos os dias da sua vida; para que aprenda a temer ao Senhor, seu Deus, para guardar todas as palavras desta lei, e estes estatutos, para cumpri-los; Para que o seu coração não se levante sobre os seus irmãos, e não se aparte do mandamento, nem para a direita nem para a esquerda; para que prolongue os dias no seu reino, ele e os seus filhos, no meio de Israel” (Dt 17:14-20).

O fato é que nos dias de hoje temos muita gente se esquecendo, propositadamente, das Escrituras, honrando muito mais as pessoas que estão virando o Evangelho de cabeça para baixo. Assim como nos tempos de Eli, é responsabilidade de cada crente, sacerdotes que são, zelar pela sã doutrina, zelar pelo certo e desprezar e combater o engano. Entretanto, insiste-se no velho erro de Eli em se proteger, defender e incentivar aqueles que erram, ensinam o erro e fomentam o engano de se afastar das Escrituras.

Imitamos e perpetuamos o erro de Eli quando honramos mais os “filhos” ― leia-se “pastores, líderes, cantores” etc ― do que o Senhor.

Imitamos e perpetuamos o erro de Eli quando vemos a Escritura, ÚNICA REGRA de fé e prática para a Igreja, ser pisada, vilipendiada, considerada obsoleta e substituída por “revelações”, “moveres” e outras coisas, tudo de forma contrária ao que está escrito!

Imitamos e perpetuamos o erro de Eli quando nos calamos diante de pessoas que disseminam o erro doutrinário, num respeito ao homem que na verdade é a manifestação absoluta do desrespeito a Deus!

Imitamos e perpetuamos o erro de Eli quando honramos mais ao homem e suas revelações do que a Deus e à Sua Palavra, ignorando a Palavra que afirma categoricamente que “seja Deus verdadeiro, e todo o homem mentiroso” (Rm 3:4)!

Acho muito bonito quando algumas pessoas saem em defesa apaixonada de seus “ídolos gospel”, sejam eles pastores ou cantores, quando estes são criticados por alguma atitude questionável à luz da Bíblia. Cada um defende o que acha conveniente. Eu, por exemplo, prefiro defender as Escrituras... É uma das formas de se repetir a máxima de Josué “Porém, se vos parece mal aos vossos olhos servir ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais: se os deuses a quem serviram os vossos pais, que estavam dalém do rio, ou os deuses dos amorreus, em cuja terra habitais: porém, eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Js 24:15).  Defender a Palavra de Deus é a forma mais exata de se servir ao Senhor. Ou não?

Analisem-se os “ungidos” da atualidade e suas pregações e "revelações"... Já observaram que eles se contradizem, uns aos outros, ensinando cada um uma doutrina diversa? Aonde está a unidade doutrinária entre eles, que existia nos tempos dos apóstolos de Cristo (At  2:42)? A Unidade perfeita está nas Escrituras, em obedecermos o que o próprio Deus deixou para o homem. É exatamente por esta falta de unidade entre os "ungidos" que nos mostra que convém retornarmos à Palavra, seguir somente a ela, pois não foi a toa que Deus inspirou homens para escrevê-la e preservou-a através de séculos de perseguições e tentativas de aniquilação e desmoralização. Preservou-a por amor de nós, para que a amássemos, lêssemos, praticássemos e rejeitássemos tudo o que se levanta contra ela, para contradizê-la o substitui-la!

A expressa prioridade é a defesa da sã doutrina e a repreensão daqueles que dela se afastam. E neste aspecto, ninguém está isento de ser repreendido, seja qual for sua posição na Igreja. Paulo teve que peitar ninguém menos do que Pedro porque ele, coluna da igreja, não estava se conduzindo corretamente: "E, chegando Pedro a Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível... quando vi que não andavam bem e direitamente, CONFORME A VERDADE DO EVANGELHO, disse a Pedro, na presença de todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?” (Gl 2:11-14 - grifo meu). O que pastores, líderes, cantores, eu, qualquer um de nós, o meu pastor local ou qualquer outro nome ou título que possua a liderança da igreja tem de melhor que Pedro apóstolo, que não pode ser questionado ou repreendido quando comete erros e excessos? Quem dentre nós é intocável, se nem o apóstolo que aprendeu aos pés de Jesus  Cristo era?? E o que temos nós, que nos calamos diante de seus erros, assim como Eli se calava diante dos erros de seus filhos, fazendo vista grossa às abominações que praticavam? E ainda achamos isto pouco e tentamos calar a voz daqueles que defendem a sã doutrina??

Temos que retornar URGENTEMENTE às Escrituras, e tomar muito cuidado com as novidades e as inovações que contrariam o que está escrito. O caso de Eli e seus filhos é um exemplo disto. Um outro exemplo digno de atenção é o do rei Saul, que foi enviado a executar o que estava ordenado na lei: “Lembra-te do que te fez Amaleque no caminho, quando saíeis do Egito, como te saiu ao encontro no caminho, e te derribou, na retaguarda, todos os fracos que iam após ti, estando tu cansado e afadigado; e não temeu a Deus. Será, pois, que, quando o Senhor, teu Deus, te tiver dado repouso, de todos os teus inimigos em redor, na terra que o Senhor, teu Deus, te dará por herança, para possuí-la, ENTÃO APAGARÁS A MEMÓRIA DE AMALEQUE DE DEBAIXO DO CÉU: não te esqueças” (Dt 25:17-19 – grifo meu). Mas Saul resolveu inovar e desobedeceu ao que estava na Palavra, deixando o rei Agague com vida, assim como o melhor do gado, com a melhor das intenções: fazer sacrifícios a Deus. Acontece que Deus tem mais prazer na obediência da Sua Palavra do que nas novidades e inovações, mesmo com as melhores intenções, mesmo que tais inovações promovam crescimento da obra.

Longe de nós querermos limitar Deus e Suas formas de atuação no meio de Sua Igreja! Quem é o homem, quem somos nós, cacos de barro, para querermos limitar o Criador Todo Poderoso? Pelo contrário, ELE MESMO limitou sua atuação em nosso meio, impondo regras de ordem, decência, coerência, imutabilidade etc, regras estas que Ele, o Eterno, segue, porque foi Ele mesmo quem as estabeleceu em Sua Palavra, por amor de nós, para que não fôssemos enganados por pessoas inescrupulosas,que afirmam terem sido mandadas por Ele, que são seus porta-vozes inquestionáveis! Pois bem: se foram realmente mandados por Ele, falarão e agirão conforme as "regras" que Ele mesmo estabeleceu! Tudo de forma clara e inconfundível, pois Ele não é Deus de confusão (1 Co 14:33). Deixa a confusão para os homens enganadores...

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

SOBRE GANHAR ALMAS PARA JESUS


Vez em quando recebo nos murais de minhas redes sociais perguntas  do tipo "quantas almas você já ganhou para Jesus?". Já falei sobre este assunto aqui no blog, no artigo QUANTAS ALMAS VOCÊ JÁ GANHOU PARA JESUS?, mas como hoje recebi algo parecido, inclusive a pessoa que mandou se gloriava de ter ganho somente ontem tantas almas, achei por bem esclarecer algumas coisinhas a respeito do assunto.

Não caiam na tentação de achar que somente os que "ganham almas" são os que estão fazendo a obra de forma produtiva. Embora o pregar o Evangelho seja uma ordem para TODOS os crentes, nem todos são Evangelistas no sentido ministerial da palavra. 

Primeiro, Paulo apóstolo escrevendo aos Efésios afirma, inspirado por Deus, que "...Ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores" (Ef 4:11). Todos os cinco ministérios existentes na Igreja são igualmente importantes, pois visam o crescimento da Igreja. De que adianta ganhar almas, se estas almas não são pastoreadas, ensinadas na sã doutrina, admoestadas pelos profetas a permanecerem na graça? Além disso, a Igreja não cresce somente no quesito "almas ganhas". Muitos não ganham almas, mas pastoreiam as almas que se achegam ao rebanho: são os Pastores. Outros também não as ganham, mas ensinam as ovelhas no caminho que devem andar: são os Doutores (também chamados de Mestres).. E o próprio Paulo acrescenta: "Eu plantei; Apolos regou; mas Deus deu o crescimento. Pelo que, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento" (1 Co 3:6-7). Você que ganha almas, não é maior que eu, que ensina almas. E nem eu maior que você.

Segundo, homem nenhum ganha almas para Jesus! Quem faz isto é o Espírito Santo. Portanto, é grande pretensão para o homem achar que pode ganhar almas. Somos pregadores do Evangelho, e só! O trabalho maior, de convencer o homem do pecado, da justiça e do juízo,é do Espírito Santo. E Deus não dá sua glória a ninguém! Portanto, devemos continuar pregando o Evangelho, e se preciso for usar até as palavras (sim, pois o maior evangelismo ainda é o VIVER o Evangelho), deixando a conversão a cargo do Espírito Santo.

Terceiro, não faça o seu "ganhar almas" uma forma de se gloriar diante dos seus irmãos. Sua contabilidade de mil almas por ano deve manter-lhe cada dia mais humilde e dependente de Deus e dos demais ministros da Igreja. Quando o fato de ter ganho tantas almas só ontem te faz sentir-se mais crente que os que não ganharam nenhuma, o"evangelho" que você segue é o evangelho da acepção de pessoas, tão condenado na Bíblia.

Quarto, um amigo meu, pr. Enoque Brandão, comentando sobre o assunto disse: "Quando jovem, vi um pregador realizar uma cruzada que resultou na conversão de mil almas; porém, dois meses depois não havia nem um novo convertido na igreja. O estado dessas pessoa não ficou pior do que antes?". É um fato: ganhar almas sem dar-lhes o devido acompanhamento dos demais ministérios da Igreja (apóstolos*, pastores, mestres, profetas..) é um trabalho incompleto. As cruzadas evangelísticas são uma poderosa ferramenta de pregação e decisão. Entretanto, muitas das "almas ganhas" não são abraçadas por pastores, e muito menos pelos mestres, que deveriam ensinar à nova ovelha o caminho que deve andar. Resultado: poucas se firmam no Caminho...  Isto nos faz lembrar a severa admoestação de Jesus,quando disse: "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que percorreis o mar e a terra, para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno, duas vezes mais do que vós" (Mt 23:15).

Não despreze, caro amigo Evangelista, os demais trabalhadores da seara. Enquanto você planta, outro rega. Enquanto outro rega, um terceiro colhe E a glória é toda de Deus, pois somos servos inúteis. Eu sou Mestre, mas dependo de você, pois se você não "ganhar almas para Jesus", a quem eu vou ensinar? E se eu não ensinar, como você terá a alegria de ver o fruto de seu trabalho firmado no Evangelho, trilhando o mesmo caminho? Não caia no erro de achar-se o rei da cocada-de-todas-as-cores. Lembre-se das palavras de Paulo: "Porque, também, o corpo não é um só membro, mas muitos. Se o pé disser: Porque não sou mão, não sou do corpo; não será, por isso, do corpo? E se a orelha disser: Porque não sou olho, não sou do corpo; não será, por isso, do corpo? Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato? Mas, agora, Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis. E se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Agora, pois, há muitos membros, mas um corpo. E o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti; nem ainda a cabeça aos pés: Não tenho necessidade de vós. Antes, os membros do corpo que parecem ser os mais fracos, são necessários; E, os que reputamos serem menos honrosos no corpo, a esses honramos muito mais; e, aos que em nós são menos decorosos, damos muito mais honra. Porque, os que em nós são mais honestos, não têm necessidade disso; mas Deus assim formou o corpo, dando muito mais honra ao que tinha falta dela; Para que não haja divisão no corpo, mas, antes, tenham os membros igual cuidado uns dos outros. De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele. Ora vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular" (1 Co 12:14-27).

Fico muito feliz que você tenha ganho somente ontem tantas almas. Eu não ganhei nenhuma, mas no Culto de Doutrina de ontem eu ensinei o Evangelho. Lembro-me da reação de uma das pessoas que lá estavam, que me disse: "Poxa, irmão Zilton, até hoje eu cri da maneira errada! Graças a Deus o sr. me esclareceu pela Bíblia, e corrigiu meu erro!". Isto me remete a Tiago, irmão de Jesus, que disse: "Irmãos, se algum de entre vós se tem desviado da verdade, e alguém o converter, saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador salvará da morte uma alma e cobrirá uma multidão de pecados" (Tg 5:19-20).

Finalmente, encerro respondendo sua pergunta de "quantas almas você ganhou para Jesus?" com outra pergunta: E quantos crentes você já resgatou do erro?

* Sobre os apóstolos, nada a ver com aqueles que carregam e ostentam o título! Todos estes ministérios descritos em Ef 4:11 são destituídos de título humano. Para saber mais sobre apóstolos modernos, leiam o artigo APOSTOLICES.

APOSTOLICES


A Palavra de Deus afirma que o Senhor Jesus, no início de seu ministério, após uma noite de oração e comunhão com o Pai, chamou dentre os seus discípulos doze homens, pôs-lhes o nome de “apóstolos” e os designou como principais porta-vozes de sua missão na terra, responsáveis diretos pela propagação da Sua doutrina após a Sua partida para o céu (Lc 6:12-16; At 1:1ss). Com a traição e morte de Judas Iscariotes, os demais julgaram conveniente nomear-lhe um substituto, por entender que a escritura designava a necessidade desta substituição (At 1:15-26), e por sorteio Matias foi contado com os demais. Algum tempo depois, Saulo de Tarso afirmou que, em visão, o Senhor Jesus o havia designado a ser o apóstolo enviado aos gentios.

O fato é que, após a morte de Paulo e dos doze, ninguém mais na Igreja Primitiva invocou para si qualquer TÍTULO ou CARGO apostólico. Os relatos escritos da época, da autoria dos pais da igreja (aqueles que foram contemporâneos dos apóstolos) e/ou dos seus sucessores mostra que nenhum deles evocava este TÍTULO para si. Nem mesmo quando a igreja católica adotou uma organização clerical com vários títulos (bispos, arcebispos, cardeais...), jamais se cogitou a necessidade de apóstolos para a igreja. O mesmo se deu com a Reforma Protestante, quando nenhum dos Reformadores instituiu apóstolos para a Igreja Reformada.

Não negamos a realidade do MINISTÉRIO apostólico em todo o período da igreja, inclusive no período atual. Paulo afirma que se trata de um dom ministerial, indispensável ao crescimento da obra, e que o próprio Deus separa pessoas para desempenharem esta importante função (Ef 4:11-12). Contudo, é importante diferenciarmos MINISTÉRIO/FUNÇÃO e CARGO/TÍTULO. O dom ministerial apostólico (função) é concedido pelo Senhor a homens que abrem igrejas, organizam-lhes a estrutura, constituem-lhe a liderança e partem para um novo campo, sem abandonar as igrejas implantadas, mas dando-lhes sempre assistência. Seriam os missionários de nossos dias! Sua abrangência ministerial é ampla, e acima de tudo, o presbítero-apóstolo não é um pastor local, e sim um pastor itinerante, com atuação em todo o Corpo de Cristo, e não detentor de CARGO ou TÍTULO de apóstolo. Neste aspecto, parece que o título só é aplicável apenas aos doze escolhidos pelo Senhor Jesus. Somente estes eram conhecidos e tratados pelo título de “apóstolo”, e mesmo assim não vemos jamais eles sendo tratados como "apóstolo Fulano", e sim como "Fulano, apóstolo".

Nos dias atuais, contudo, ressuscitaram o CARGO apostólico na igreja evangélica, e muitas denominações, mormente as neopentecostais, elevam seus líderes à categoria apostólica. Até mesmo algumas denominações mais tradicionais, antes conhecidas por adotar uma linha ortodoxa, passaram a aceitar o ministério apostólico moderno. Algumas delas chegam a afirmar, por boca de seus “apóstolos” numa clara defesa de seus próprios interesses, que é necessário que o crente tenha uma “cobertura apostólica” sobre sua vida, pois sem ela não estaria devidamente protegido em certas áreas ― embora não haja qualquer base bíblica para esta afirmativa.

Os apóstolos modernos nem sempre abraçam o ministério apostólico, mas não abrem mão do título, sempre adiante de seu nome. É exatamente isto que assusta, além do amor ao status que tal título transmite e a ânsia pelo poder ilimitado sobre a igreja. Homens e mulheres se denominam e ungem a si mesmos como apóstolos, aparentemente impulsionados por uma irresistível sede de domínio, autoridade e prestígio, e passam a ser quase intocáveis no meio de suas denominações.

Permitam-me algumas considerações sobre o assunto:

1. Inicialmente, compreendemos que o número dos apóstolos escolhidos por Jesus Cristo não foi casual, e sim proposital. O número doze é especial nas Escrituras, e visivelmente há uma relação íntima entre o número de apóstolos e as tribos de Israel. No livro do Apocalipse vemos a Nova Jerusalém e seus doze fundamentos, cada um deles com o nome de um dos apóstolos do Cordeiro (Ap 21:14). Parece-nos que Jesus não desejou número de apóstolos maior que doze, o que poderia ter sido feito por Ele, no ato da escolha. Nos dias atuais, porém, são incontáveis os homens e mulheres que se denominam apóstolos. Muito mais que doze. No Brasil, já contei mais de cinquenta, entre homens e mulheres! Só no pequeno bairro do Valentina de Figueiredo, em João Pessoa (aonde fica a Igreja aonde sirvo ao Senhor) tenho conhecimento de pelo menos duas Igrejas que são dirigidas por "apóstolos"! Na internet, já encontrei uma relação dos doze principais do Brasil, e os paraibanos não constam na lista. Quantos serão no total? E onde poderemos encontrar base bíblica para a existência de número superior ao escolhido pelo próprio Senhor?

2. Na Igreja Primitiva havia treze apóstolos (os doze apóstolos e Paulo, apóstolo dos gentios), uma única Igreja e uma única “doutrina dos apóstolos” (At 2:42), na qual a Igreja como um todo perseverava em observar e preservar. Os próprios apóstolos zelavam por esta unidade doutrinária: nenhum deles tinha poder para, sozinho, modificar a doutrina ou ensiná-la de forma diversa dos demais, mas as mudanças tinham que ser de comum acordo, deles e do Espírito Santo (At 15). Eles eram os legítimos guardiões da unidade doutrinária. Nos dias de hoje, porém, há um apóstolo para cada denominação, e em cada apóstolo uma linha doutrinária completamente diversa dos demais! Guardiões de unidade nenhuma...

3. Não há nas Escrituras neotestamentárias qualquer evidência de que os apóstolos deveriam ser sucedidos por outros apóstolos. Mesmo com a morte de um deles, a Bíblia não deixa qualquer indício de necessidade ou obrigatoriedade da substituição. Apenas no caso de Judas Iscariotes o colegiado foi completado com a escolha de Matias, unicamente para que se cumprisse a Escritura. A partir daí, entretanto, a morte ou o martírio de um apóstolo não abria precedente para nova nomeação. Com a morte de Tiago (At 12:1-2), por exemplo, a Bíblia não afirma nem deixa margem de conclusão de que novo sorteio ou eleição tenha sido realizado para substituí-lo. Nem mesmo no primeiro Concílio da Igreja, em Jerusalém (At 15), quando se reuniram todos os apóstolos e presbíteros, este assunto foi tratado! Teriam eles esquecido de tão importante substituição, ou o Espírito Santo esquecido de relatá-la no texto inspirado? 

4. Observamos, nos requisitos exigidos para a escolha do substituto de Judas, que a maior razão da existência do grupo dos doze apóstolos era a presença de testemunhas oculares da vida de Cristo, sua morte, ressurreição e ascensão ao céu. Para ser candidato à substituição de Judas, esta condição de testemunha era indispensável (At 1:21-22). Obviamente, nenhum dos apóstolos modernos jamais se enquadraria neste prerrequisito, e o texto bíblico deixa claro que o cargo de apóstolo se aplica somente a homens que satisfazem a esta condição de testemunha ocular. 

5. Mesmo que o relato da escolha de Matias pudesse ser considerado como base bíblica para a escolha de substitutos para um colegiado permanente de apóstolos, a mesma fórmula utilizada para a sua escolha deveria ser seguida nos dias atuais: (a) a escolha apenas completaria um colegiado de doze, ou no máximo treze apóstolos, e não mais que este número; (b) poderiam ser apresentadas várias candidaturas; (c), o substituto seria escolhido por sorteio, e jamais por eleição ou aclamação, e (d), o colegiado apostólico deveria prezar pela unidade doutrinária da Igreja, a chamada "doutrina dos apóstolos". A coisa, porém, não ocorre assim nos nossos dias. Já vimos que o número de apóstolos modernos ultrapassa, e em muito, o número escolhido pelo próprio Senhor. Quanto aos candidatos, geralmente o Pastor Presidente ou o Bispo da igreja é candidato único, escolhido por revelação, revelação que geralmente foi dada a ele mesmo (sic!), fora dos princípios normativos da Escritura. Ademais, há apenas um apóstolo na igreja, ou no máximo dois (na maioria das vezes, coincidentemente, o marido e a esposa!); porque não doze, como era no princípio? Não nos parece uma forma de concentrar o poder na mão de poucos? Finalmente, a unidade doutrinária há muito tempo deixou de existir no meio evangélico, fragmentada entre milhares e zilhares de divisões denominacionais, e os apóstolos modernos pouco interessados estão em unificar a fé e a doutrina.

6. Após a morte dos apóstolos escolhidos pelo Senhor Jesus ninguém mais na Igreja Primitiva teve a ousadia de se elevar ao patamar apostólico, no sentido de título. Os pais apostólicos, discípulos diretos dos apóstolos, não se atreveram a reivindicar tal posição. O Didaquê (de autoria desconhecida, mas que reúne a doutrina da igreja do primeiro século) nada fala sobre a substituição. Contudo, sabemos que havia outros apóstolos nos primeiros séculos da igreja, pois a própria Bíblia o afirma. Barnabé, companheiro de Paulo em sua primeira viagem missionária, foi chamado de apóstolo no texto sagrado (At 14:14), mas em lugar algum é contado com os doze. Compreendemos a não necessidade de substituição, e que os apóstolos que não fazem parte do grupo dos doze são apóstolos no sentido ministerial, e não no sentido de cargo eclesiástico. Eram apóstolos, mas eram tratados como pastores, com desempenho ministerial apostólico. Somente os doze eram reconhecidamente apóstolos, e tratados como tal pela igreja. O próprio Paulo não foi reconhecido por muitos. 

7. O título apostólico, mesmo atribuído aos doze e a Paulo, sempre foi usado criteriosamente, Pedro, um dos principais apóstolos e chamado na Escritura de coluna da igreja (Gl 2:9) chega a não usar tal título em alguns momentos (1 Pe 5:1;), preferindo igualar-se aos presbíteros, numa demonstração inconteste de humildade cristã. Na sua segunda epístola, Pedro primeiramente se chama de "servo" antes de se chamar "apóstolo" (2 Pe 1:1). O mesmo se aplica a João: tanto em seu evangelho como em suas cartas não se proclama apóstolo, mas discípulo (Jo 13:23-25; 21:20-25) e presbítero (2 Jo 1; 3 Jo 1). Observe-se ainda que Tiago, o irmão do Senhor, era o presbítero (pastor) da igreja em Jerusalém, chegando inclusive, nesta condição, a presidir o Concílio de Jerusalém (At 15). Paulo o chamou, junto com Pedro e João, de “coluna da Igreja” (Gl 2:9). Contudo, em lugar algum das Escrituras o mesmo é chamado de apóstolo, e nem ele se chama por este título em sua epístola, antes se chama de "servo" (Tg 1:1), o que demonstra que a primazia na igreja não qualifica para o título apostólico. Mas a atual sede de títulos leva muitos a não abrirem mão do orgulho de serem chamados por nome tão pomposo. 

8. Um apóstolo não é um ser infalível e intocável. É o que se compreende na leitura das Escrituras. Paulo relata que repreendeu a Pedro de forma pública (Gl 2:14) por causa de sua conduta! Paulo, um apóstolo não reconhecido, repreendendo publicamente a um dos doze, a uma "coluna da igreja"!! Dá pra imaginar isto entre os apóstolos de hoje? Paulo, no primeiro capítulo da carta aos gálatas abre mão de qualquer intocabilidade, dizendo que mesmo ele, se ensinar Evangelho diferente, deve ser anátema (Gl 1:8-9). Os apóstolos modernos, entretanto, julgam-se intocáveis, infalíveis e irrepreensíveis, o que por si já demonstra sua arrogância e prepotência espiritual. Em relação a isto, sugiro a leitura do artigo OS INTOCÁVEIS, de minha autoria, que versa a respeito daquilo que eu chamo de "teologia da intocabilidade".

9. Somente um superior pode ordenar, reconhecer ou ungir alguém a um patamar igual ao seu, e jamais superior a si mesmo. No sentido secular, somente médicos podem reconhecer um novo médico, e o mesmo se aplica às demais funções, como enfermeiros, engenheiros, etc. No sentido eclesial, somente um pastor, ou um colegiado de pastores, pode ordenar ou reconhecer um novo pastor. Somente presbíteros e superiores podem impor as mãos e reconhecer alguém como presbítero. Basicamente, a imposição das mãos é uma transferência da autoridade que os impositores já possuem. Os primeiros apóstolos foram chamados e ordenados pelo próprio Senhor Jesus, inegavelmente superior a todos nós. Os apóstolos modernos foram ordenados ou ungidos por quais apóstolos? Pelo contrário, ungiram a si mesmos ou foram ungidos por pastores e inferiores. Seria possível alguém ungir a si mesmo, ou pessoas em nível inferior ao apostolado reconhecerem ou ungirem um apóstolo? Certa vez assistimos pela tevê a "unção" de um apóstolo paraibano, onde pastores, presbíteros e diáconos impuseram-lhe as mãos... Nesta mesma linha, questionamos: um grupo de enfermeiros pode declarar um deles médico? Seria válida a ordenação de um pastor feita por um grupo de diáconos? Por muitos anos a igreja evangélica criticou o fundador das Testemunhas de Jeová porque ele se auto intitulou “pastor Russell”, sem ser ordenado por nenhum colegiado pastoral. Hoje, porém, pastores, bispos e apóstolos se auto-intitulam pelo cargo que bem querem e almejam, sem qualquer problema, sem qualquer constrangimento. Obreiros se rebelam contra seus pastores, separam-se da igreja de origem e fundam a sua própria, dividindo ainda mais o Corpo de Cristo e declarando-se pastores presidentes como se essa fora a atitude mais normal do mundo...

10. Devemos considerar ainda os critérios para reconhecimento de título eclesial. Na igreja primitiva tais títulos não existiam, ou não eram tão valorizados e perseguidos como hoje. Hoje tornou-se fácil alguém se intitular pelo cargo que bem desejar, e não há qualquer critério adotado pelas demais igrejas para o reconhecimento deste título. Observe-se que Paulo passou grande parte de sua vida lutando pelo reconhecimento apostólico equivalente ao dos doze, já que o próprio Deus o havia elevado a este patamar. Nem todos o reconheceram, pois se havia critérios rígidos para que alguém fosse reconhecido diácono, imagine apóstolo! A igreja atual, porém, perdeu todos os critérios! Qualquer pessoa que se intitula apóstolo é quase que unanimemente e imediatamente reconhecida como tal, em nome de um falso respeito interdenominacional, que nada mais é que um desrespeito ao Cabeça da Igreja e às Escrituras. O mesmo se aplica a todas os demais cargos eclesiásticos. 

11. Finalmente, os detentores de títulos eclesiásticos se esquecem, ou fingem não ver, que os seus detentores são chamados pelo NOME e em seguida pelo TÍTULO. Jamais na Bíblia encontramos a figura do "apóstolo Paulo" e sim de "Paulo, apóstolo". É fácil se constatar isto: basta ler o primeiro versículo de cada epístola do Novo Testamento, e jamais veremos qualquer dos escritores se intitulando de "apóstolo Pedro", "apóstolo Paulo" ou "apóstolo João". Isto pode ser constatado não somente no primeiro versículo, mas em qualquer lugar das epístolas: não encontramos tal nomenclatura em lugar nenhum! Aliás, observamos que quase sempre o título só se apresenta primeiro que o nome nos casos de títulos humanos, como "faraó Fulano", "rei Sicrano" etc. Mesmo quando vemos Paulo defendendo na Escritura o seu legítimo ministério apostólico, observamos que ele jamais reivindica o direito de ser chamado de apóstolo Paulo. O próprio Pedro o chama de “irmão”, e não de “apóstolo” (2 Pe 3:15); os apóstolos e presbíteros do Concílio de Jerusalém chamaram-no de “amado” (At 15:25-26). Pedro se autodeclara "presbítero" (1 Pe 5:1) e "servo" (2 Pe 1:1). João se autodenomina discípulo (Jo 13:23-25; 21:20-25) e presbítero (2 Jo 1; 3 Jo 1). Onde vemos isto nos "apóstolos" modernos? Imaginem um deles sendo chamado de irmão, ou de presbítero, ou mesmo de pastor!!! Com certeza repreenderia o interlocutor e exigiria respeito, exigiria ser chamado pelo título apostólico, numa atitude patética e anticristã de arrogância e orgulho. 

Concluímos facilmente que na igreja do Senhor Jesus não há cargos para pessoas, e sim pessoas que desempenham funções, sem jamais esquecerem sua condição primeira e principal de servos (Rm 1:1; Fp 1:1; Tt 1:1; Fm 1:1; Tg 1:1; 2 Pe 1:1; Ap 1:1). A sede de cargos e de tratamentos pomposos que encontramos na igreja atual advém inegavelmente da sede de domínio sobre o rebanho, de poder eclesiástico, de orgulho e de pompa que os modernos "apóstolos" trazem intrinsecamente, contrariando o espírito que permeava toda a conduta da igreja primitiva. 

Finalmente, não podemos nos esquecer das palavras do Senhor Jesus em duas ocasiões: primeiro, quando ele condena as atitudes dos fariseus e demonstra a Sua opinião em relação ao tratamento dos seus seguidores e aos títulos humanos: "Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Observai, pois, e praticai tudo o que vos disserem; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem, e não praticam: Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los; E fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largas filactérias, e alargam as franjas dos seus vestidos, E amam os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas, E as saudações nas praças, e o serem chamados pelos homens — Rabi, Rabi. Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos. E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo. Porém, o maior de entre vós será vosso servo. E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado" (Mt 23:1-12), e segundo quando os seus apóstolos discutiam entre si quem era o maior: "Então Jesus, chamando-os para junto de si, disse: Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados, e que os grandes exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; mas, todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande, seja vosso serviçal; E, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo; Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos" (Mt 20:25-28).

Baseado nesta constatação, convoco os ministros e obreiros que me lêem a incentivarem em suas comunidades cristãs que os irmãos também os tratem como irmãos. Esqueçam o título, que é humano, e abracem a função e o ministério, que vos foi dado por Deus! Ultimamente, tenho orientado os irmãos da Igreja onde congrego a não mais me chamarem de "evangelista Zilton", e sim de "irmão Zilton", que serve à igreja local como evangelista (At 21:8). Não fui chamado para título nenhum, e sim para servir ao Senhor com alegria e humildade. Você também! Se você quer ser tratado por títulos pomposos e reconhecido assim pelos homens, eu sugiro o ingresso na carreira militar! Deus te ajude a chegar a General.

É inegável que a igreja moderna precisa de apóstolos, não no sentido de título, cargo e status, mas no sentido ministerial da palavra, na função. Oramos para o surgimento de mais pessoas em nosso meio que se enquadrem num ministério apostólico genuíno e bíblico. Precisamos de homens e mulheres como Pedro, Paulo, Tiago e João, que estejam dispostos a gastar suas vidas no ministério de fundar, alimentar, fortificar, estruturar e acompanhar igrejas. Pessoas que nem sempre serão reconhecidas, muitas vezes serão apedrejados e sempre perseguidas por causa da obra do Senhor. Lamentavelmente, os “apóstolos modernos” não querem desempenhar mais estas funções, e nem tampouco carregar a mesma cruz que os primitivos apóstolos carregaram (Jo 21:15-19). Abraçam apenas o título, a bajulação, as benesses, os salamaleques e as prebendas. E a nós cabe o cuidado de sermos zelosos em relação a eles, observando o alerta solene de Paulo: “Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz... o fim deles será conforme as suas obras” (2 Co 11:13-15). 

"Eu sei as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e puseste à prova os que dizem ser apóstolos, e o não são, e tu os achaste mentirosos" (Ap 2:2)

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

OS INTOCÁVEIS

Não, eu não me refiro ao filme hollywoodiano, que conta a saga do policial Elliot Ness contra o mafioso Al Capone... Refiro-me a um grupo muito especial existente na igreja evangélica moderna, que muitos afirmam ser intocáveis e inquestionáveis. Dizem que é a Palavra de Deus que assim determina, pois ela é categórica e incisiva quando Deus, no AT, ordena: “Não toqueis os meus ungidos, nem maltrateis os meus profetas” (1 Cr 16:22; Sl 105:15). Estou falando dos pastores e dos profetas, os ungidos de Deus no meio da igreja nesses últimos dias. 

Segundo aquilo que eu chamo de “Teologia da Intocabilidade”, esta classe especial de ungidos não pode ser confrontada nem questionada, e muito menos podemos exercer-lhes qualquer forma de oposição, quer doutrinária, quer governamental. Afinal, são ungidos de Deus, que governam a igreja segundo a Sua vontade e sob a Sua orientação, por meio da Sua revelação direta! Para este fim, invoca-se firmemente a experiência de Davi quando era perseguido por Saul (1 Sm 24 e 26). Por duas vezes, a Escritura relata que Davi poupou a vida de Saul, pois o considerou ungido de Deus, o que de fato ele era. Mais tarde, o próprio Davi ordenou a morte de um soldado amalequita que alegou tê-lo matado (2 Sm 1:13-16), pois ele ousou matar o ungido do Senhor!


Há muito este movimento protecionista se fomentou em nosso meio. Pregações exaltadas invocam este direito aos pastores, bispos e apóstolos modernos e aos profetas do neopentecostalismo. Já presenciei algumas destas pregações, onde vociferam-se maldições e promessas de juízo divino àqueles que se oporem às idéias, diretrizes, doutrinas e revelações dos “ungidos”, numa clara tentativa de intimidação aos contrários ― na maioria das vezes bem sucedida, pois impõe medo aos ouvintes. Numa destas “pregações”, um famoso pastor norte-americano ― você deve ter um de seus best sellers em casa! ― lança uma série de maldições a seus opositores, maldições extensivas a seus filhos e netos, num claro desconhecimento escriturístico de que os descendentes não pagarão pelos pecados dos ancestrais, segundo Jr 31:29 e Ez 18. Assim, o púlpito da igreja, que deveria ser usado para ensino, conforto e exortação na sã doutrina, está sendo usado em causa própria, para invocar um pretenso direito de intocabilidade, para garantir uma imunidade (a meu ver, seria melhor se chamada “impunidade”) plena a obreiros que não desejam questionamentos de nenhuma espécie, já que dirigem a igreja por meio de revelações inquestionáveis.

Os defensores desta ideia rotulam seus opositores como “rebeldes” e “murmuradores”. Lançam mão das inúmeras passagens bíblicas que apontam para o fim trágico dos que assim agiram no passado (os episódios de Datã, Abirão, Core, Arão e Miriã contra Moisés, e Absalão e Seba contra Davi), e com isto conseguem, na maioria das vezes, abafar as tentativas internas de questionamento. E quando a oposição se origina de fora, dentre os não crentes, os “ungidos” primeiramente trabalham em prol da desmoralização das denúncias (e principalmente dos denunciantes), enquanto assumem a piedosa postura de “perseguidos por amor ao Evangelho”, e ponto final. Por exemplo, se o dirigente de uma igreja é flagrado pela fiscalização secular desviando dinheiro, por mais que haja evidências ou provas contra ele, sua pueril defesa se baseia na afirmação de que está sendo perseguido por incrédulos e infiéis (como se o status de não-crente fosse condição desqualificante!), pelo fato de estar servindo a Deus fielmente, inclusive dando frutos em seu ministério (confundem frutos com resultados... Em breve, postarei alguma coisa acerca disto)... E a maioria engole esta bucha, principalmente as suas “ovelhas”, que partem imediatamente em defesa de seu inocente e perseguido pastor.



Antes de tudo é necessário enxergarmos as diferenças entre oposição e rebelião, pois apesar de parecer se tratar da mesma coisa, são muito diferentes. A oposição é a discordância de um ou mais pontos de vista, sempre no campo das idéias e da conduta; a rebelião transcende as idéias, e passa a ter conotações pessoais, quando, com ou sem oposição, se usurpa uma posição, conspirando contra seu detentor para afastá-lo, destituí-lo ou reduzir-lhe a autoridade. Com a oposição, busca-se convencer alguém de alguma atitude errada, visando correção e mudança de atitude; com a rebelião, não se visa correção, mas sim a tomada do poder ou a derrubada de uma autoridade. A oposição é pública e aberta; a rebelião na ampla maioria das vezes é oculta e velada, planejada na calada da noite. Os opositores não se tornam inimigos, apenas adversários; os rebeldes assumem uma postura de inimizade e disputa ferrenha. É possível conviver pacificamente com opositores; o mesmo é impossível com os rebeldes. É possível se chegar a um acordo com os opositores, mas impossível com os rebeldes. É desnecessário dizer que condenamos veemente e ferozmente qualquer tentativa de rebelião no meio da igreja.


A totalidade dos textos bíblicos usados pelos defensores dos “ungidos” trata, na verdade, de clara rebelião, e não de oposição ou questionamento. Questionar com o intuito de corrigir jamais pode ser tratado como rebelião. Observe-se que os diáconos foram instituídos pelos Apóstolos após uma murmuração dos cristãos gregos contra os judeus (At 6:1-7), o que nos mostra que nem toda murmuração é maligna e diabólica. Outro exemplo clássico de divergência ocorreu ainda no primeiro século, quando os apóstolos e anciãos da igreja se reuniram em concílio para resolver um problema entre dois grupos, em relação à obrigatoriedade da observância da Lei pelos crentes gentios (At 15); mesmo em meio às discussões, foi possível se chegar a um acordo, e a decisão conduziu a igreja a uma unidade de fé. Observamos assim que até mesmo no seio da igreja pode (e deve!) existir a chamada “crítica construtiva”, que poderá ser usada para corrigir ou melhorar condutas e formas de governo. Ainda no AT, Moisés deu ouvidos a uma crítica de seu sogro, e com isso melhorou sua forma de administrar o sistema judiciário em Israel (Ex 18:13-27). Contudo, é inegável que quando o questionamento ou a murmuração têm por objetivo destituir a liderança ou minar-lhe a autoridade de forma covarde e sumária, a situação passa a ser rebelião, tomando uma dimensão totalmente condenável em todos os seus aspectos.


Podemos considerar algumas coisas básicas a respeito da "intocabilidade", à luz da Bíblia:

Primeiro, esta condição foi originariamente dada por Deus aos Patriarcas. Os textos da Escritura que relatam a ordem divina de “não toqueis os meus ungidos” estão inegavelmente contextualizados aos primeiros Pais de Israel (Abraão, Isaque e Jacó), que por sua pouca força e número necessitavam da proteção divina para a sua sobrevivência e para a criação de uma nação. Na vida de Abraão e Isaque vemos Deus guardando a cada um contra arbitrariedades de reis e tiranos da antiguidade. Até por sonhos o Senhor repreendia os perseguidores e protegia seus ungidos (Gn 20:1ss; 31:22-24). Jacó, após a traição de Simeão e Levi contra os filhos de Siquém, recém pactuados e circuncidados como sinal deste pacto, demonstrou preocupação com uma possível represália dos povos vizinhos (Gn 34:30), já que este tipo de quebra de aliança era imperdoável na antiguidade. Mas a proteção divina estava sobre ele e sobre os seus, o que lhes garantiu a sobrevivência.

Segundo, a intocabilidade bíblica aos ungidos, se aplicada aos dias de hoje, se limita à proteção contra mal físico (e nem sempre, já que muitos foram e serão martirizados por amor ao Evangelho!), mas em momento algum concede ao ungido qualquer imunidade em relação a críticas por suas atitudes e idéias equivocadas. Davi, nas duas ocasiões que poupou a vida de Saul, não ousou tocá-lo fisicamente, machucando-o ou matando-o, mas apontou seus erros diante de todos os presentes (1 Sm 24:8-15; 26:13-25). Um ungido de Deus (e na verdade nenhum cristão, independentemente de unção) jamais deve ser morto ou agredido, mas pode ser questionado, pode ter suas ações, idéias e atitudes analisadas à luz das Escrituras e condenadas, caso estejam incorrendo em erro. Sempre no campo das ideias e do debate, e nunca além disto.

Terceiro, em nenhum momento, quer no Antigo ou no Novo Testamento, a Escritura associa a condição de ungido de Deus a qualquer característica de infalível. Somente o dogma católico romano concede ao seu líder supremo, o Papa, a condição de infalibilidade. No meio protestante, não reconhecemos tal dogma, e nem o concedemos a nenhum dos nossos líderes, por mais privilegiados que sejam. Davi compreendia que o fato de Saul ser ungido de Deus não o impedia de cometer erros, e nem proibia ninguém de chamar a sua atenção e repreendê-lo, na tentativa de levá-lo a corrigir suas atitudes erradas. E o texto sagrado o mostra por duas vezes fazendo esta correção verbal a Saul. Nem mesmo a tentativa de Abner de impedir que ele erguesse sua voz surtiu efeito (1 Sm 26:14), mas Davi não deixou de proclamar os erros do ungido, evidentemente de forma respeitosa e educada, mas contundente, chamando-lhe a atenção para seus erros e chamando-o ao arrependimento e mudança de atitudes.

Quarto, questionem-se idéias e ações, e não pessoas. Não podemos em nenhum momento nos posicionar contra o “Pastor Fulano”, e sim contra suas idéias, doutrinas e ações erradas. O maior objetivo deverá ser a correção das atitudes erradas e doutrinas estranhas pregadas pelo “Pastor Fulano”, e não a execração pública da pessoa. Ademais, não é possível que TODAS as suas atitudes estejam completamente erradas: certamente, o “Pastor Fulano” está trabalhando no Reino de Deus, ganhando almas para Jesus, etc. Seu erro pode ser o ensino de uma doutrina errada. E é exatamente contra esta doutrina que devemos nos levantar, e não contra o pastor ou a obra que ele tem desempenhado. Ressaltemos e combatamos o erro, mas analisemos os acertos. Evidentemente, acertos não justificam erros, mas igualmente erros não desqualificam acertos. Todas as facetas devem ser levadas em conta para que não desprezemos ou excomunguemos pessoas, e sim ações erradas.

Quinto, aprendamos com João Batista que não importa a posição do homem; nossa obrigação para com Deus é defender a fé que uma vez nos foi entregue (Jd 2), não importa o que tenhamos que fazer, a quem tenhamos que questionar, o que venhamos a perder, inclusive a nossa própria cabeça (Mt 14:1-12). João não se intimidou diante da posição do rei Herodes, mas corajosamente apontou-lhe os erros, mesmo sabendo que isto poderia custar-lhe a liberdade e a vida. Paulo também não se calou diante dos erros de Pedro, apesar de este ser inegavelmente uma coluna da igreja; contudo, Pedro estava agindo de forma errada, e Paulo não se omitiu em relação a este erro, antes repreendeu a Pedro na presença dos demais (Gl 2:11-14). Em relação a isto, chamamos a atenção para a omissão dos crentes nos dias de hoje. Muitos, com receio de “tocar nos ungidos” omitem-se na defesa da fé genuína. Outros, assumem a posição de Abner, defendendo os “ungidos” com unhas e dentes sem ao menos confrontarem as suas doutrinas, práticas e condutas com a Escritura, como bem faziam os crentes de Beréia (At 17.11). Com estas atitudes, os omissos demonstram que valorizam muito mais as pessoas e suas posições que a Palavra de Deus e a sã doutrina. Graças a esta omissão e/ou a esta defesa cega, os “ungidos” insistem em proliferar falsas doutrinas e práticas erradas em nosso meio. Devemos ter a mesma postura diante da defesa da sã doutrina, nos indignando contra distorções do erro e reagindo diante das falsas doutrinárias e práticas espúrias inseridas no seio da igreja.

Finalmente, nenhum “ungido” está acima das Escrituras. O próprio Paulo, o apóstolo dos gentios, escritor de quase metade dos livros do Novo Testamento, deixou-nos uma orientação clara a respeito disto: “Mas, ainda que nós mesmos, ou um anjo do céu, vos anuncie outro evangelho, além do que já vos tenho anunciado, seja anátema” (Gl 1:8-9). Ele ainda nos orientou categoricamente a não ultrapassarmos o que está escrito (1 Co 4.6). Ora, se nem mesmo Paulo poderia ensinar um Evangelho distorcido e autoriza uma maldição sobre si próprio, quem somos nós, ou quem são estes “ungidos” que se julgam no direito de distorcer as Escrituras e as regras por elas dispostas para a vida cristã, e ainda de usurpar uma intocabilidade quem nem os apóstolos buscaram para si?

Os questionamentos sempre existiram e devem continuar existindo em nosso meio, numa forma salutar e evolutiva. Os pastores devem incentivar as críticas construtivas, e não abafá-las, numa atitude ditatorial. Um dos maiores objetivos de um pastor deve ser desenvolver nas suas ovelhas a prática da liberdade de opinião e o senso crítico, e não uma postura de passividade e submissão cega. A igreja e sua liderança, afinal de contas, não são perfeitas, e qualquer crítica construtiva que sirva para melhorá-las é válida e aceitável. Moisés aceitou crítica do sogro, e por meio dela melhorou o sistema judiciário de Israel. Os apóstolos aceitaram críticas, e instituíram o diaconato.



Os críticos,por sua vez, devem criticar e julgar de conformidade com a Palavra de Deus, e também devem estar abertos às réplicas, e ambas as partes prontas para reconhecer quando estiverem equivocados, mudando sua conduta. Contudo, as rebeliões, tão comuns nos dias atuais, devem, sim, ser combatidas e extirpadas de nosso meio. E igualmente abolida esta nociva prática de tornar os pastores e líderes intocáveis e imunes a qualquer questionamento, para o bem do Corpo de Cristo.

Encerro transcrevendo as palavras do Pr. Ciro Sanches Zibordi, discorrendo sobre o mesmo tema em seu blog: “Quanto aos que, diante do exposto, preferirem continuar dizendo — presunçosamente e sem nenhuma reflexão — ‘Não toqueis nos meus ungidos’, dedico-lhes outro enunciado bíblico: ‘Não ultrapasseis o que está escrito’ (1 Co 4.6). Caso queiram aplicar a si mesmos a primeira frase, que cumpram antes a segunda!”.