quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

OBREIROS DESPREPARADOS

Hoje, em uma conversa profissional, por acaso o assunto tomou um rumo religioso. Eu evangélico, e meu interlocutor católico. Não se tratava de debates, mas de algumas constatações acerca do primeiro milagre de Jesus (que alguém já teve a audácia de dizer que foi inútil). Mas o assunto chegou até a questão de que o meu interlocutor, bom católico (e pelo que observei, praticante) já foi convidado para ser diácono da sua igreja. Entretanto, disse-me ele, os afazeres o impediam, pois tomavam quase todo o seu tempo (ele é dono de um pequeno mas extremamente organizado e asseado restaurante) e ele precisaria de tempo para o preparo, os estudos. Segundo ele, um diácono católico para ser reconhecido precisa de pelo menos QUATRO ANOS de estudo teológico, filosófico etc. Um padre, de muito mais.

Confidenciei a ele que esta era uma faceta que os católicos têm que deveriam causar vergonha aos evangélicos: a seriedade que dão ao sacerdócio, inclusive o sacerdócio de leigos (diáconos). Como diz o pr. Estevam Fernandes (não é o após-tolo!), da PIB de João Pessoa, “em nossos dias, em nossas Igrejas, basta aprender a dar um nó de gravata, e já se é 'ungido' 'pastor'”. Se tanta facilidade encontramos para a 'unção' de um pastor, imagina um diácono! Eu conheço alguns diaconos, completamente despreparados, que foram 'ungidos' poucos dias após ser recebido como Membro!

Na realidade, temos uma excelente desculpa para tamanho desprezo ao preparo ministerial: "a obra tem urgência". É uma meia verdade. Mas a urgência da obra não elimina a necessidade de preparo e instrução dos obreiros, assim como a urgência da contratação de um piloto de avião para a Companhia Aérea não autoriza o RH a contratar um piloto inexperiente, que colocará em risco a própria vida e a de muitos outros. Esta meia verdade é a mãe de inúmeras outras. O primeiro a usá-la parece ter sido Saul, que sacrificou ao Senhor usando a desculpa que Samuel estava demorando (1 Sm 13:8ss). O sacrifício tem urgência, a igreja tem urgência, a obra tem urgência; então, despreparados mesmo, arregacemos as mangas! Fazemos com a Igreja o que não fazemos com as nossas casas! O Senhor, através do profeta Ageu, alertou ao povo, dizendo: “É para vós tempo de habitardes nas vossas casas estucadas, e esta casa há-de ficar deserta?” (Ag 1:4), dizendo, em outras palavras, "vocês cuidam muito bem das suas casas, mas são relapsos no cuidado com a casa de Deus". Não temos coragem de contratar um pedreiro meia-boca para fazer uma reforma, nem um eletricista fuleiro pra fazer nossas instalações, mas damos à Igreja obreiros meia boca, e achamos que Deus se agrada dos tais, e de nós!

Não quero enumerar as inúmeras outras meias-verdades ou citá-las, mas deixar claro que somos relapsos e negligenciamos, tratamos com desdém, os ministérios que Deus deixou para a Igreja. o preparo é INDISPENSÁVEL! Entregar uma Igreja a um Diácono e/ou Presbítero sem preparo é, grosso modo, comparável a entregar um carro a uma pessoa não habilitada. Pode dar certo? Claro! Conheço não habilitados aptos no volante, e conheço habilitados "barbeiros". Mas a regra é que um desabilitado ao volante termina em desastre. 

É atribuída ao  Dr. Donald Barnhouse uma famosa frase, divulgada pelo pastor e evangelista Billy Graham: “Se me fossem dados apenas três anos para servir ao Senhor, eu passaria dois desses três anos estudando e me preparando”. O fato é que não adianta trabalhar sem preparo, sem habilidade com as ferramentas. Em qualquer local em que formos trabalhar, temos um período para aprender a desempenhar nossas funções conhecer as ferramentes e aprender a usá-las com eficiência e segurança. A depender da complexidade e da periculosidade do serviço, somente após estarmos completamente treinados e preparados seremos colocados na linha de montagem! E o Evangelho não devia ser diferente, embora seja tratado relaxadamente, como se fosse. Tratamos com almas, que mal ensinadas poderão se apegar ao erro com tanta força que seja impossível aceitarem a verdade quando alguém a pregar para eles!

Vemos uma multidão de obreiros despreparados, neófitos, prestando mais desserviços ao Evangelho genuíno que serviços! Se Jesus disse que a seara era grande e poucos os eram os ceifeiros (Mt 9:37), não sei se hoje podemos dizer esta verdade bíblica considerando o número dos ceifeiros, pois vemos que são milhares, talvez dezenas ou centenas de milhares espalhados pelo mundo, mas a grandíssima maioria absolutamente despreparada! Parece-nos que nos dias atuais a frase do Mestre se aplica mais à qualidade do que à quantidade. É como se Jesus tivesse dito “A seara é realmente grande, muitos são os ceifeiros, mas pouquíssimos são preparados! Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande ceifeiros preparados, e dê aos ceifeiros despreparados o desejo de se preparar!”. Nunca tivemos nas milhares das igrejas e denominações tantos diáconos, presbíteros, evangelistas, missionários, pastores, bispos e até apóstolos (sic!), em suas versões de calças e de saias! Entretanto, nunca tivemos tão poucos obreiros realmente preparados para pregar o genuíno Evangelho. Estou me referindo, obviamente, ao Verdadeiro Evangelho de Cristo!

Nem mesmo os critérios básicos para a escolha diaconal e pastoral, dispostos em 1 Tm 3 e Tt 1, são sequer considerados! O que se dirá do critério do preparo intelectual? Ora, se exigimos credenciais aos professores de nossos filhos, do Jardim da Infância, cuidando que eles tenham uma educação correta e de boa qualidade, porque entregaríamos as ovelhas que pertencem ao Senhor Jesus a professores inexperientes?

Quando Samuel se sentiu rejeitado por ocasião de o povo pedir um rei, Deus foi enfático: “não te têm rejeitado a ti, antes a mim me têm rejeitado, para eu não reinar sobre eles” (1 Sm 8:7). Na verdade, quando desprezamos o conhecimento, o estudo e o preparo não estamos desprezando tais coisas, mas ao próprio Deus, pois optamos por servi-lO de qualquer maneira, fazendo a Sua obra relaxadamente, fraudulosamente (Jr 48:10).

Somos especialistas em zombar, desprezar e ridicularizar a ICAR, mas precisamos aprender com ela a valorizar os ministérios da Igreja. Presbíteros (pastores) e Diáconos não são cargos e funções pelas quais os líderes se impõem sobre o rebanho, e sim ministérios através dos quais seus detentores servem a Igreja e ao rebanho. É serviço, e não servir-se. É fardo, e não diversão. É necessário preparo ou, NO MÍNIMO, reconhecimento que não basta receber um título, mas desempenhar uma função com o melhor de nós!