terça-feira, 24 de setembro de 2013

ENTREVISTAS E ENTREVISTADOS


A guerra está declarada! Mais uma guerra santa se deflagra entre as duas principais igrejas “evangélicas” neopentecostais brasileiras, e a maior estratégia de ataque tem sido a tentativa de desmoralizar uma a outra, uma atribuindo ao diabo e aos demônios o que acotece na outra e vice e versa. Esta guerra sem fim se trava entre igrejas que são idênticas em condutas e doutrinas, mas que uma insiste em dizer que é melhor que a outra, e pode ser presenciada pela tevê e pela internet, em embates quase diários.

A maior batalha desta guerra se dá no “campo espiritual”. Pessoas endemoninhadas são entrevistadas ao vivo, em exorcismos estranhos e questionáveis, aonde o demônio dá seu depoimento a respeito da outra igreja, sempre atribuindo a si a condução litúrgica, doutrinária e até a direção dos líderes da outra igreja...

O mundo espiritual existe desde os primórdios da humanidade, quando o próprio Satanás, utilizando-se da serpente, enganou o primeiro casal e levou-o à queda. No Antigo Testamento, pouco ou quase nada se fala acerca dos demônios, mas somente no advento de Cristo este mundo espiritual começou a ser desvendado, com sinais e maravilhas manifestos através de exorcismos feitos pelo Senhor Jesus e pelos seus discípulos (Mt 10:8; Mc 1:34; Lc 10:17).

O livro de Atos relata uma experiência vivida por Paulo, quando o mesmo se viu frente a frente com o demônio e precisou tomar uma atitude em relação ao ocorrido: E aconteceu que, indo nós à oração, nos saiu ao encontro uma jovem, que tinha espírito de adivinhação, a qual, adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores. Esta, seguindo a Paulo e a nós, clamava, dizendo: Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo. E isto fez ela por muitos dias. Mas Paulo, perturbado, voltou-se, e disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias dela. E na mesma hora saiu.” (At 16:16-18).

De acordo com o texto bíblico, Paulo passou por uma situação ímpar. Por mais que os demônios busquem afastar o homem perdido do caminho da salvação e desmoralizar a Palavra de Deus, o espírito que possuía e dominava aquela jovem dava testemunho de que Paulo e seus companheiros eram homens de Deus e pregavam a mensagem da salvação eterna. Mas o que mais chama a atenção no ocorrido é a reação do apóstolo diante do que a endemoninhada falava, já por vários dias a fio. Paulo não entrevistou o demônio. Paulo nem deu atenção ao que ele dizia pela boca da jovem possessa. Paulo não se utilizou da valiosa ajuda demoníaca à pregação do Evangelho. Ele simplesmente expulsou o demônio, conforme mandou o Senhor Jesus Cristo (Mt 10:8).

O apóstolo aos gentios age de forma completamente oposta aos “pastores”, “bispos” e “apóstolos” da atual igreja “evangélica” tupiniquim. Ele dispensa ao demônio um tratamento totalmente diferente do que é dispensado aos demônios em determinadas igrejas que alegam praticar exorcismos. Basta ligar a tevê nos programas patrocinados por estas igrejas para vermos exorcismos acompanhados de entrevistas com os demônios, aonde todo o tempo do mundo é dado a estes seres caídos para que falem o que bem entenderem, e suas declarações são recebidas como a mais pura expressão da verdade!

Imagino se o que aconteceu com Paulo em Filipos acontecesse em nossos dias, nestas citadas igrejas neopentecostais. Se um endemoninhado entrasse em uma destas igrejas e o demônio afirmasse que os pastores, líderes, bispos, apóstolos e semideuses que conduzem aquele ministério “...anunciam o caminho da salvação, e são servos do Deus Altíssimo”, qual seria a atitude em relação a este acontecimento? Não tenho dúvidas que o endemoninhado seria conduzido ao “palco” e o demônio seria extensamente sabatinado sob a luz dos holofotes e o foco das câmeras, entre gritos ufanos de “Está vendo, Igreja?? Ele está dando testemunho acerca de nossa Igreja e de nossa liderança!! Quero ver quem depois disso vai dizer ainda que Deus não está em nosso meio”, e outras frases do mesmo quilate...

O fato é que o diabo e seus demônios têm ganhado um grande e valioso espaço no suposto culto a Deus — muitas vezes um espaço muito maior que o espaço dado ao próprio Deus! Além de serem valorizados, suas palavras nas “entrevistas” concedidas a exorcistas inescrupulosos são acatadas no mesmo patamar de autoridade que a Bíblia. A voz dos demônios transformou-se na voz da verdade que se deseja propagar no meio da Igreja.

Em primeiro lugar, vemos que o ato de entrevistar o demônio em si é uma conduta não embasada pela Bíblia. Não vemos tais entrevistas serem conduzidas pelo Senhor Jesus ou pelos apóstolos. Jesus não mandou que entrevistássemos os demônios, mas que os expulsássemos! Além disso, observamos nas Escrituras que o Senhor Jesus pautava muito mais pela expulsão dos demônios sem que eles dissessem qualquer palavra, mandando muitas vezes que se calassem (Mc 1:25; 1:34).

Observamos ainda que estes tele-exorcistas se estribam no texto de Lucas 8:26-34, quando Jesus supostamente entrevista uma legião de demônios que dominavam o gadareno, julgando que a Escritura dá-lhes autoridade e liberdade para CONVERSAR com os demônios durante e expulsão dos mesmos. Entretanto, o texto não é permissivo para esta conduta, e sim instrutivo. Como já explanamos, o Antigo Testamento pouco ou quase nada ensina acerca de demônios, de sorte que os discípulos precisavam ser instruídos no assunto, tomar conhecimento de quantos demônios era possível de se alojar em um único ser humano. Na ocasião, Jesus faz UMA, somente uma pergunta aos demônios que possuíam o gadareno para que os presentes pudessem compreender que não há limites em uma possessão demoníaca em relação à quantidade de espíritos malignos. O Senhor Jesus limita-se a perguntar-lhe o nome; não há longas entrevistas, as palavras do demônio não são levadas em consideração para ensino, e sim o fato de serem muitos atormentando um único homem, assim como em Maria Madalena havia sete demônios (Lc 8:2), assim como após a expulsão de um demônio o mesmo pode retornar ao mesmo homem acompanhado de outros sete piores (Lc 11:24-26). Aqui temos ensino, e não o modus operandi de um exorcismo.

O fato de darmos atenção ao que os demônios afirmam e considerarmos suas falas como se fossem verdades absolutas é terrivelmente perigoso, e afasta o homem dos verdadeiros fins da Igreja: o louvor a Deus, a oração e a pregação da Palavra. Parece que os que praticam tais exorcismos pirotécnicos se esquecem que o diabo é o pai da mentira (Jo 8:44), e os demônios por conseqüência seguem o mesmo padrão do seu pai. Entretanto, ao se dar ouvidos à voz de espíritos enganadores e permitir que eles tenham voz e vez na Igreja, estamos subtraindo tempo que poderia e deveria estar sendo dedicado ao ensino da Palavra verdadeira.

Finalmente, o próprio diabo está sendo exposto na Igreja a ridículos que a Bíblia não autoriza que façamos. Judas, o irmão do Senhor, fala em sua curta epístola acerca de “homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus, e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo... estes, semelhantemente adormecidos, contaminam a sua carne, e rejeitam a dominação, e vituperam as dignidades. Mas o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele; mas disse: O Senhor te repreenda. Estes, porém, dizem mal do que não sabem; e, naquilo que naturalmente conhecem, como animais irracionais se corrompem” (Jd 1:4-10). Ora, se nem mesmo um arcanjo submeteu Satanás a entrevistas e expedientes humilhantes, qual a autoridade que possuímos para tal? Estamos, porventura, insatisfeitos com o poder de expulsar o demônio, e queremos fazer desta expulsão um espetáculo pirotécnico dentro da Igreja?

O exorcismo é tarefa da Igreja, ou de qualquer crente, que detém autoridade sobre os espíritos imundos. Entretanto, não podemos jamais levar o exorcismo para níveis não permitidos ou não dispostos nas Escrituras. Às Igrejas que o usam para promoverem-se a si mesmas, conduzindo os demônios mentirosos a vociferarem contra as suas igrejas desafetas e seus líderes, deveriam acima de tudo abandonar as práticas antibíblicas e voltar ao Evangelho de Jesus Cristo e dos apóstolos, que em nenhum momento davam espaço aos demônios, mas tão somente à Palavra de Deus!

Um comentário:

  1. Caro irmão Zilton,

    Obrigado pela visita no meu espaço. Gostei muito do teu blog e dos assuntos abordados. Estou seguindo a partir de agora. Forte abraço.

    Ev. Samuel Eudóxio

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