A
guerra está declarada! Mais uma guerra santa se deflagra entre as duas principais
igrejas “evangélicas” neopentecostais brasileiras, e a maior estratégia de
ataque tem sido a tentativa de desmoralizar uma a outra, uma atribuindo ao
diabo e aos demônios o que acotece na outra e vice e versa. Esta guerra sem fim
se trava entre igrejas que são idênticas em condutas e doutrinas, mas que uma insiste
em dizer que é melhor que a outra, e pode ser presenciada pela tevê e pela
internet, em embates quase diários.
A
maior batalha desta guerra se dá no “campo espiritual”. Pessoas endemoninhadas
são entrevistadas ao vivo, em exorcismos estranhos e questionáveis, aonde o demônio
dá seu depoimento a respeito da outra igreja, sempre atribuindo a si a condução
litúrgica, doutrinária e até a direção dos líderes da outra igreja...
O
mundo espiritual existe desde os primórdios da humanidade, quando o próprio
Satanás, utilizando-se da serpente, enganou o primeiro casal e levou-o à queda.
No Antigo Testamento, pouco ou quase nada se fala acerca dos demônios, mas
somente no advento de Cristo este mundo espiritual começou a ser desvendado,
com sinais e maravilhas manifestos através de exorcismos feitos pelo Senhor
Jesus e pelos seus discípulos (Mt 10:8; Mc 1:34; Lc 10:17).
O
livro de Atos relata uma experiência vivida por Paulo, quando o mesmo se viu
frente a frente com o demônio e precisou tomar uma atitude em relação ao
ocorrido: “E aconteceu
que, indo nós à oração, nos saiu ao encontro uma jovem, que tinha espírito de
adivinhação, a qual, adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores. Esta, seguindo a Paulo e a nós, clamava, dizendo: Estes homens, que
nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo. E
isto fez ela por muitos dias. Mas Paulo, perturbado, voltou-se, e disse ao
espírito: Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias dela. E na mesma hora
saiu.” (At 16:16-18).
De
acordo com o texto bíblico, Paulo passou por uma situação ímpar. Por mais que
os demônios busquem afastar o homem perdido do caminho da salvação e desmoralizar
a Palavra de Deus, o espírito que possuía e dominava aquela jovem dava
testemunho de que Paulo e seus companheiros eram homens de Deus e pregavam a
mensagem da salvação eterna. Mas o que mais chama a atenção no ocorrido é a
reação do apóstolo diante do que a endemoninhada falava, já por vários dias a
fio. Paulo não entrevistou o demônio. Paulo nem deu atenção ao que ele dizia
pela boca da jovem possessa. Paulo não se utilizou da valiosa ajuda demoníaca à
pregação do Evangelho. Ele simplesmente expulsou o demônio, conforme mandou o
Senhor Jesus Cristo (Mt 10:8).
O
apóstolo aos gentios age de forma completamente oposta aos “pastores”, “bispos”
e “apóstolos” da atual igreja “evangélica” tupiniquim. Ele dispensa ao demônio
um tratamento totalmente diferente do que é dispensado aos demônios em
determinadas igrejas que alegam praticar exorcismos. Basta ligar a tevê nos
programas patrocinados por estas igrejas para vermos exorcismos acompanhados de
entrevistas com os demônios, aonde todo o tempo do mundo é dado a estes seres
caídos para que falem o que bem entenderem, e suas declarações são recebidas
como a mais pura expressão da verdade!
Imagino
se o que aconteceu com Paulo em Filipos acontecesse em nossos dias, nestas
citadas igrejas neopentecostais. Se um endemoninhado entrasse em uma destas
igrejas e o demônio afirmasse que os pastores, líderes, bispos, apóstolos e
semideuses que conduzem aquele ministério “...anunciam
o caminho da salvação, e são servos do Deus Altíssimo”, qual seria a
atitude em relação a este acontecimento? Não tenho dúvidas que o endemoninhado
seria conduzido ao “palco” e o demônio seria extensamente sabatinado sob a luz
dos holofotes e o foco das câmeras, entre gritos ufanos de “Está vendo, Igreja?? Ele está dando
testemunho acerca de nossa Igreja e de nossa liderança!! Quero ver quem depois
disso vai dizer ainda que Deus não está em nosso meio”, e outras frases do
mesmo quilate...
O
fato é que o diabo e seus demônios têm ganhado um grande e valioso espaço no
suposto culto a Deus — muitas vezes um espaço muito maior que o espaço dado ao
próprio Deus! Além de serem valorizados, suas palavras nas “entrevistas” concedidas
a exorcistas inescrupulosos são acatadas no mesmo patamar de autoridade que a
Bíblia. A voz dos demônios transformou-se na voz da verdade que se deseja
propagar no meio da Igreja.
Em
primeiro lugar, vemos que o ato de entrevistar o demônio em si é uma conduta
não embasada pela Bíblia. Não vemos tais entrevistas serem conduzidas pelo
Senhor Jesus ou pelos apóstolos. Jesus não mandou que entrevistássemos os
demônios, mas que os expulsássemos! Além disso, observamos nas Escrituras que o
Senhor Jesus pautava muito mais pela expulsão dos demônios sem que eles
dissessem qualquer palavra, mandando muitas vezes que se calassem (Mc 1:25;
1:34).
Observamos
ainda que estes tele-exorcistas se estribam no texto de Lucas 8:26-34, quando
Jesus supostamente entrevista uma legião de demônios que dominavam o gadareno,
julgando que a Escritura dá-lhes autoridade e liberdade para CONVERSAR com os
demônios durante e expulsão dos mesmos. Entretanto, o texto não é permissivo
para esta conduta, e sim instrutivo. Como já explanamos, o Antigo Testamento
pouco ou quase nada ensina acerca de demônios, de sorte que os discípulos
precisavam ser instruídos no assunto, tomar conhecimento de quantos demônios
era possível de se alojar em um único ser humano. Na ocasião, Jesus faz UMA,
somente uma pergunta aos demônios que possuíam o gadareno para que os presentes
pudessem compreender que não há limites em uma possessão demoníaca em relação à
quantidade de espíritos malignos. O Senhor Jesus limita-se a perguntar-lhe o
nome; não há longas entrevistas, as palavras do demônio não são levadas em
consideração para ensino, e sim o fato de serem muitos atormentando um único
homem, assim como em
Maria Madalena havia sete demônios (Lc 8:2), assim como após
a expulsão de um demônio o mesmo pode retornar ao mesmo homem acompanhado de
outros sete piores (Lc 11:24-26). Aqui temos ensino, e não o modus operandi de um exorcismo.
O
fato de darmos atenção ao que os demônios afirmam e considerarmos suas falas como
se fossem verdades absolutas é terrivelmente perigoso, e afasta o homem dos
verdadeiros fins da Igreja: o louvor a Deus, a oração e a pregação da Palavra.
Parece que os que praticam tais exorcismos pirotécnicos se esquecem que o diabo
é o pai da mentira (Jo 8:44), e os demônios por conseqüência seguem o mesmo
padrão do seu pai. Entretanto, ao se dar ouvidos à voz de espíritos enganadores
e permitir que eles tenham voz e vez na Igreja, estamos subtraindo tempo que
poderia e deveria estar sendo dedicado ao ensino da Palavra verdadeira.
Finalmente, o próprio
diabo está sendo exposto na Igreja a ridículos que a Bíblia não autoriza que
façamos. Judas, o irmão do Senhor, fala em sua curta epístola acerca de “homens ímpios,
que convertem em dissolução a graça de Deus, e negam a Deus, único dominador e
Senhor nosso, Jesus Cristo... estes, semelhantemente adormecidos, contaminam a
sua carne, e rejeitam a dominação, e vituperam as dignidades. Mas
o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo
de Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele; mas disse: O
Senhor te repreenda. Estes, porém, dizem mal do que não sabem;
e, naquilo que naturalmente conhecem, como animais irracionais se corrompem”
(Jd 1:4-10). Ora, se nem mesmo um arcanjo submeteu Satanás a entrevistas e
expedientes humilhantes, qual a autoridade que possuímos para tal? Estamos,
porventura, insatisfeitos com o poder de expulsar o demônio, e queremos fazer
desta expulsão um espetáculo pirotécnico dentro da Igreja?
O
exorcismo é tarefa da Igreja, ou de qualquer crente, que detém autoridade sobre
os espíritos imundos. Entretanto, não podemos jamais levar o exorcismo para
níveis não permitidos ou não dispostos nas Escrituras. Às Igrejas que o usam
para promoverem-se a si mesmas, conduzindo os demônios mentirosos a vociferarem
contra as suas igrejas desafetas e seus líderes, deveriam acima de tudo
abandonar as práticas antibíblicas e voltar ao Evangelho de Jesus Cristo e dos
apóstolos, que em nenhum momento davam espaço aos demônios, mas tão somente à
Palavra de Deus!
Caro irmão Zilton,
ResponderExcluirObrigado pela visita no meu espaço. Gostei muito do teu blog e dos assuntos abordados. Estou seguindo a partir de agora. Forte abraço.
Ev. Samuel Eudóxio