Nestas férias, minhas meninas apareceram um dia com um ninho em suas mãos. O ninho fora encontrado no chão após uma chuva. Elas estavam elétricas diante da possibilidade de pegarem o filhote de passarinho para criá-lo.
- Pai, a tia disse que a gente poderia criá-lo. Pode?
- Creio que não - disse, jogando logo um balde de água fria em suas intenções infantis – até mesmo, porque acho que não vai sobreviver sem a mãe. Acho que o melhor seria retornar com o ninho e colocá-lo na árvore em que vocês o encontraram...
- Meninas, não fiquem pegando assim não - disse a Lu – porque eu ouvi dizer que na natureza, quando os filhotes ficam com outro cheiro, a mãe rejeita e não cuida mais...
- Mas, pai - insistiu Aninha - a gente pega e leva para nossa casa, cuida dele e ele vai crescer...
- Aí, você vai colocar esse passarinho em que lugar?
- Na gaiola, pai, aí ele fica cantando para nós!
Criança é assim mesmo: tudo simples, claro, objetivo, mas, quando eu ouvi Aninha dizer sobre colocar o passarinho na gaiola e que ele iria crescer e ficar cantando para gente, deu-me um estalo e lá do fundo das minhas memórias, emergiram algumas imagens: vi-me criancinha, vestido com aquela camisa amarela e o short azul do antigo colégio Maristinha; eu estava sentado numa cadeira da biblioteca com um livro na mão, lendo pela primeira vez na minha vida uma história completa, deliciando-me com as imagens diferentes, a história fascinante e aquelas letras que já não me ofereciam mais quaisquer dificuldades. Era o meu primeiro livro! Então, perguntei para Ana:
- Será que é simples assim, Ana? Acabei de lembrar de uma história que li quando eu era bem pequeno, acho que da idade da sua irmã, uns 6 anos. Venham aqui. Quero contar essa história, a história do pássaro da chuva... Pelo que me lembro, é uma história passada na África, numa tabanca (nome dado às aldeias africanas). Havia um menino e seu avô. Eles estavam aguardando o canto do pássaro da chuva. O tempo da seca já havia se estendido demais e, certamente, faltaria pouco para ouvirem o pássaro da chuva, cujo canto trazia as águas do céu sobre a terra. O seu avô dizia que o canto era o mais belo que se poderia ouvir, não havia nada igual. Contudo, o menino resolveu que iria capturar o pássaro da chuva e prendê-lo para que o pássaro cantasse somente a ele. Dito e feito, armadilha preparada, menino na tocaia, finalmente, o pássaro lhe caiu nas mãos. O menino colocou o pássaro dentro da gaiola em sua casa. Os dias passaram e nada do pássaro cantar. As pessoas na aldeia já estavam muito preocupadas, porque tardava a chuva e toda a plantação estava ameaçada e a fome já começava a fazer suas vítimas.
- Ele prendeu o pássaro numa gaiola? - interrompeu Gisele.
- Sim, filha. O pássaro estava preso numa gaiola e ninguém sabia disso. Mas a chuva não veio e veio a fome e a seca piorou. O avô do menino, velho muito sábio, observara a mudança do seu neto naquelas semanas e resolveu ir até à casa dele para visitá-lo. Qual não foi a surpresa do avô quando viu o pássaro da chuva triste e de cabeça baixa preso numa gaiola na casa do neto.
- O avô soltou o pássaro? Perguntou Aninha.
- Que eu me lembre, não. Ele saiu dali, procurou o neto dele, puxou-o à força e o trancou dentro da casa junto com o pássaro da chuva. E o menino ficou ali dentro na escuridão, porta fechada e sem poder sair. No dia seguinte, o avô voltou e se aproximou da casa e pode ouvir o neto chorando. Então, ele disse: “Meu neto, vovô está aqui. Canta, canta para mim, que eu quero ouvir”! O menino sem entender respondeu: “Como posso cantar, vovô, se estou preso. Só tenho vontade de chorar. Eu não nasci para ficar preso, nasci para ser livre”! Naquele momento, o avô abriu a porta e seu neto correu para os seus braços, dizendo: “Eu entendi, vovô, eu entendi. O pássaro não cantou todos esses dias, porque ele foi feito para voar, para ser livre”. O menino pegou a gaiola, levou para fora da sua casa e soltou o pássaro, que voou. E lá no alto do céu, livre e feliz, ele começou a cantar o canto mais lindo que jamais o menino poderia pensar existir. E o menino chorou e junto com as lágrimas do menino a chuva finalmente veio também!
- Uau! Que história linda! Foi assim mesmo que o senhor leu, papai?
- Acho que não, Ana. Floreei um pouquinho, mas a mensagem certamente é essa.
- Entendi, pai. Vou já pegar o ninho do passarinho e colocá-lo no lugar. Ele não nasceu para gaiola... Entendi, pai.
- Mas, filhas, eu não contei essa história só por causa do filhote que vocês queriam colocar na gaiola.
- ?!!!
- Eu contei essa história para dizer que o pecado é uma gaiola! E Deus não criou vocês para viverem dentro dessa gaiola, mas para serem livres, livres em Jesus. O diabo enganou a todos nós e todos caímos dentro da gaiola dele, mas Jesus pode nos libertar verdadeiramente. E tem mais: um dia, estaremos totalmente libertos dos nossos pecados e voaremos altaneiramente e livres juntamente com Jesus. Vocês entenderam? Fiz da história uma parábola, a parábola da nossa liberdade em Cristo. Papai quer que vocês sejam livres e há uma saída da gaiola: Jesus.
Terminei de contar tudo isso a elas e oramos. Naquela tarde gostosa de férias, deitados na rede, um beija-flor nos visitou e ficamos ali, os três vendo a beleza da Criação de Deus, enquanto conversávamos sobre a nossa liberdade em Cristo Jesus.
Adorei!
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