Meu artigo anterior, de mesmo título, procurou demonstrar
que não é qualquer Evangelho que deve ser pregado. Não basta apenas pregar
Cristo e dissociar a continuidade da pregação (o ensino doutrinário,
subsequente à conversão), mas toda a mensagem, o "conjunto da obra"
deve ser o mesmo: o Evangelho do reino, o mesmo que foi pregado pelo Senhor
Jesus e por Seus apóstolos. Gostaria de continuar discorrendo sobre o mesmo tema,
falando agora dos evangelhos que vêm sendo pregados e a diferença entre eles e
o Evangelho genuíno.
O que não nos
falta nos dias de hoje são denominações, e em cada uma delas “evangelhos”
diferentes. Diz-se que existem igrejas para o gosto pessoal de todos, e que nos
basta encontrar o local aonde se prega um Evangelho agradável, com o qual nos
identifiquemos... Embora seja válida a escolha de uma comunidade com a qual
tenhamos algum tipo de afinidade social, não cremos que as coisas sejam assim
em relação ao Evangelho propriamente dito, a mensagem que é pregada na igreja
escolhida, pelo menos por duas razões:
Primeiro, o
Evangelho não foi trazido por Cristo e pregado pelos apóstolos para
agradar
ninguém. A primeira grande prerrogativa do Evangelho é exatamente
questionar a natureza
pecaminosa do homem, confrontando-o com seu próprio pecado e
admoestando-o a
sair da zona de conforto, reconhecendo seus pecados e rendendo-se a
Cristo. Ou
seja, nosso primeiro contato com o genuíno Evangelho não é de todo
agradável,,, O colunista Marcello Comuna já disse no blog Mulheres Sábias em
sueu artigo EVANGELHO - O DEDO NA GOELA
que o Evangelho é exatamente um purgante, que nos leva a vomitar,
expulsando toda a nossa podridão, aquilo que de mau existe dentro de
nós.
Segundo,
procurar a Igreja que nos é mais conveniente não é a prática mais
adequada. A
Igreja não é necessariamente o local aonde nos sentimos bem, pois a
Palavra de
Deus que lá é pregada ― seja nas mensagens, na liturgia, nos louvores
cantados
ou em quaisquer das suas demais atividades ― tem que nos incomodar, nos
tirar
da inércia e promover cura e transformação. Cura da alma, transformação
de
caráter. O genuíno Evangelho sempre quebra paradigmas e desfaz
sofismas, as verdades que muitas vezes eu passei toda a minha vida
crendo e confessando.
A Palavra de Deus, marreta que esmiúça a penha (Jr 23:29), é quem deve
despedaçar e desfazer meus conceitos, a fim de que eu substitua meus
conceitos
humanos pelos divinos, e jamais o contrário, meus conceitos anularem o
Evangelho e as Escrituras, obrigando o divino a se acostumar e se
acomodar com o humano! Como posso me submeter a este processo, se a
Igreja
que eu escolhi para congregar fala exatamente a minha língua, me ensina
as
coisas que eu quero ouvir e não me confronta com o que diz a Palavra?
Portanto, se
temos que procurar uma Igreja, que não seja de acordo com os meus gostos
pessoais, mas de acordo com o Evangelho que lá é pregado. Que primordialmente
eu esteja inclinado a buscar uma Igreja que pregue o Evangelho do Reino, o da
sã doutrina, o da Bíblia, por mais que isto me incomode.
Ao procurarmos uma Igreja, precisamos ver qual Evangelho que pregam por lá... E
tomar muito cuidado para que não façamos a escolha errada, pelos motivos errados.
Vejamos alguns “evangelhos” muito comuns em nossos dias, e que o encontraremos
em cada esquina.
1. O EVANGELHO DA CONVENIÊNCIA
O Evangelho da
conveniência é o “evangelho” mais pregado em nossos dias. Esta semana, fui
visitar um cliente e, quase à sua porta, passou um carro de som convidando os
ouvintes a visitar determinada “igreja”. No anúncio, o locutor falava: “Você está doente? Tem problemas de saúde
física ou espiritual? É cego, paralítico ou surdo (esta parte me chamou a
atenção: se o cara é surdo, como vai ouvir o carro de som??)? Está desempregado? Passa por perturbações
espirituais? Seus problemas acabaram (não, ele não falou isso, mas eu quase
consegui ouvir a frase slogan das Organizações Tabajara, e ela estava ali, nas
entrelinhas do texto...)! Venha visitar a
nossa Igreja, e o pastor Fulano vai abraçar a sua causa. Você receberá a bênção,
blá blá blá...” O resto, você pode concluir... Já deve ter ouvido também
coisas parecidas...
Traduzindo:
qual o motivo mais conveniente para te trazer à Igreja? Veja bem: problemas
SEUS, pessoais... Nada relacionado com sua salvação, evidentemente, porque este
tem sido s último motivo que conduz um homem à Igreja.
NÓS TEMOS A
SOLUÇÃO, apregoam os evangelistas da conveniência. Desde a cura divina,
passando pelo “sumiço” de débitos bancários e retirada miraculosa de seu nome
do SERASA e SPC. O homem é, portanto, instigado a ir à Igreja para resolver
seus problemas, e não para conhecer a Deus, o plano que Ele preparou para
salvá-lo da perdição eterna e resolver seu REAL PROBLEMA. A Igreja, por sua
vez, também é refém de satisfazer às necessidades de quem a ela se achega. Não
precisa pregar a Palavra de arrependimento, de conserto, de repreensão, que
leva o homem a refletir e mudar sua conduta, seu caráter e sua forma de viver. Basta
falar o que o homem quer ouvir. A conveniência do homem fala mais alto do que
Deus, e este é o maior motivo da sua vinda
à Igreja: o próprio homem, e não Deus.
2. O EVANGELHO DAS NOVIDADES
Um dos “evangelhos”
que muito se prega nos dias de hoje é o evangelho modernizado, ou seja, aquele
que mudou com o passar dos anos, trazendo novidades doutrinárias que não eram
conhecidas há 20, 40, 50 anos. Não sou tão velho assim, mas nos meus tempos de
jovem, aos 16 anos quando me converti ao Senhor, muitas das coisas que são
pregadas nos dias de hoje eram completamente desconhecidas na Igreja. É verdade
que havia muita pregação estranha, mas a grande maioria delas referente a usos
e costumes, e não à doutrina. Entretanto, de uns tempos para cá as pregações
estranhas que surgiram são no campo teológico-doutrinário mesmo. Por exemplo, pergunte a qualquer pessoa mais
antiga da Igreja se ele alguma vez já tinha ouvido falar que a festa do natal é
pecado... Isso é coisa recente, de menos de dez anos! O mesmo se aplica para a
“doutrina das células”, que começaram como uma boa estratégia de crescimento da
Igreja, e com o passar do tempo o modelo foi incorporado à doutrina, como se
tivesse sido uma revelação divina desde os tempos das Escrituras...
O Evangelho,
entretanto, não mudou. Permanece o mesmo que era pregado por Jesus Cristo e
pelos apóstolos no primeiro Século; Estas “grandes revelações do Século XXI”
são mais uma visão distorcida do que revelação. Até porque a revelação
encerrou-se com o fechamento das Escrituras, e depois disto apenas recebemos
luz sobre verdades existentes... Senão, porque Deus não revelou tais verdades a
Seus apóstolos, que viveram ao Seu lado, para que eles as deixassem escritas
para nós??
3. O EVANGELHO LOCAL
De abrangência
muito estreita, o “evangelho local” não pode ser pregado em todas as
culturas.
Só em determinados locais. Quando Jesus deixou o Seu Evangelho para seus
apóstolos e discípulos o disseminarem pelo mundo, a todas as etnias, não
o
deixou de forma que pudesse ser pregado a determinadas culturas, e a
outras
não. Não existem limites para a pregação do Evangelho. Entretanto, nos
dias de
hoje vemos “evangelhos” como o da prosperidade, que não podem ser
pregados em
qualquer lugar. Experimentem pregar este “evangelho da prosperidade” nos
lugares mais inóspitos dos sertões, onde o povo é tão pobre que muitas
vezes a
Igreja é que precisa levar-lhes recursos para sua sobrevivência. Tentem
pregá-lo nos países da “janela 10-40”,
aonde as dificuldades de se pregar o legítimo Evangelho de Cristo são
tão grandes que muitas vezes o pregador precisa captar recursos para que
os membros da comunidade não padeçam necessidades. Como fazer isto com o
evangelho da prosperidade, que visa extrair dinheiro, e nunca
distribui-lo aos pobres?
O que
queremos, e podemos, afirmar é que se um Evangelho só funciona em determinado
local, mas não funciona em outros, não pode ser Evangelho. A genuína mensagem
de Jesus Cristo pode ser pregada a todos os homens, a todas as culturas, sem
problemas. O verdadeiro Evangelho é pregado nos locais aonde há liberdade e
aonde há perseguição, a pregação é a mesma em comunidades ricas e comunidades à
beira da miséria financeira. O mesmo Evangelho que Felipe pregou ao eunuco etíope
há dois mil anos pode ser pregado nos dias de hoje, mas o “evangelho local” que
pregamos hoje não seria jamais pregado por Felipe, e nem por seus
companheiros...
4. O EVANGELHO MONOFACETADO
O Evangelho
genuíno é plurifacetado. Ele engloba todas as áreas humanas, trata do ser
humano em todos os aspectos. Da mesma forma, o culto a Deus é múltiplo, e são
múltiplas as operações em um culto. Paulo afirma que nas reuniões da igreja “cada um de vós tem salmo,
tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação” (1 Co 14:26). O
culto a Deus não se compõe de uma única manifestação. Há, entretanto, igrejas
“especialistas” em determinados aspectos, e se dedicam quase que integralmente
a esta faceta...
Algumas têm um
ministério de louvor belíssimo, bandas e corais, mas não pregam a palavra, e o
resultado é que este ministério de louvor distorce a doutrina. Não é de se
estranhar que grandes e famosos grupos de louvor da atualidade ensinem que devemos nos
arrastar no chão, rugindo como leões, cachorros ou ursos... A Bíblia se tornou secundária.
Outras se
dedicam quase todo o culto à libertação espiritual. A Palavra é
desprezada, e
somos surpreendidos com entrevistas diárias com demônios, como se a voz
destes
espíritos caídos tivessem algo a nos ensinar, em substituição às
Escrituras. Os demônios, cujo líder fi chamad de pai da mentira, com
suas vozes de mentira substituem estrategicamente a Palavra da
verdade...
Estamos, pois,
vivendo uma geração que não tem mais culto de doutrina, nem culto de oração,
nem exposição sincera e sistemática da Palavra, porque não há tempo para estas
coisas. O louvor, a cura, a libertação, as campanhas e correntes, os cultos da
vitória e da prosperidade, os exorcismos realizados sob holofotes tomaram a primazia. Não existe equilíbrio entre os
ministérios, deixam de pregar a Palavra para exercerem sua “obra”.
5. O EVANGELHO ANIMISTA
Há ainda o evangelho do toque, aquele
aonde a fé e o Senhor Jesus são sempre insuficientes. Faz-se necessário um
ponto de contato entre os ungidos e aqueles que precisam receber a bênção. Uma
interpretação equivocada de Atos 5:15 e 19:12 leva os “pregadores” ensinarem
que são necessários ponto de contato para que o milagre ocorra... Sal grosso, rosa ungida, lenços suados,
sabonetes, azeites e muitos outros elementos animistas se misturam num
sincretismo aonde até elementos de cultos africanos e da religião judaica são
usados.
Entendemos que
realmente algumas pessoas precisam de algo “palpável” para pôr sua fé em prática. São os
chamados na Bíblia de “meninos na fé”. São pessoas que ainda não amadureceram o
suficiente para entender a suficiência de Cristo e de Sua obra, e discernir o
bem e o mal (Hb 5:12-14). No livro de Atos vemos exemplo de pessoas se
aproveitando deste animismo: a sombra de Pedro passou a ser concorrida pelos
enfermos e endemoninhados que buscavam a libertação de seus males, mas tal
prática não é descrita no Texto Sagrado como o método bíblico para se alcançar
curas e libertações, mas como uma demonstração da intensidade do poder de Deus
presente na vida do apóstolo (At 5:15-16). Vemos também alguns objetos que eram
tocados por Paulo serem usados também para cura e libertação (At 19:12), mas a
Escritura também apenas relata o fato, mas não PRESCREVE como prática da
Igreja, e nem afirma que estas coisas eram feitas com o consentimento dos
apóstolos. Tanto no caso de Pedro quanto no de Paulo eram coisas que ocorriam
FORA DA IGREJA, nas ruas, o que nos indica que não era prática interna da
Igreja.
Paulo em dado
momento afirma: “Quando
eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino;
mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino” (1 Co
13:11). Isso se aplica perfeitamente ao animismo gospel. É coisa de menino, e não é isso que Deus deseja para Seu
povo! Mas infelizmente é a prática de muitos pastores da atualidade, que
desejam manter os crentes presos a eles, adquirindo os elementos animistas das
suas mãos e a preço alto, sempre dependentes deles, evitando ao máximo a sua
independência espiritual, a prática saudável do sacerdócio que Cristo concedeu
a cada crente na Nova Aliança.
Deus anseia que
o crente tenha plena comunhão com Ele, e exerça a fé sem a necessidade de
amuletos e patuás. Não precisamos de rosas ungidas, azeites, sal grosso, terra
de Israel ou água do rio Jordão. Precisamos da fé em Cristo, do poder que Ele
mesmo nos outorgou. Precisamos crescer, e deixar de ser meninos na fé (1 Co
3:1-2; Hb 5:12-14). Jesus Cristo e Sua obra no Calvário são suficientes! Ou o
Cristo dos pseudopentecostais é tão fraco que precisa de algo para poder operar o
milagre?
A todos estes
“evangelhos”, acrescentem mais um sem fim de outros (não dá para falar
de todos aqui; pelo menos, não eu uma só postagem...), com práticas
bizarras e
extrabíblicas, fruto de visões de uma liderança sem apego e sem respeito
às
Escrituras, visões estas que melhor seriam chamadas de “alucinações”,
pois descartam as práticas do antigo Evangelho da Igreja, e afastam o
rebanho dos
verdadeiros pilares da fé em Cristo.
A despeito
deste cenário real e preocupante, com tantos “evangelhos” sendo mais
valorizados que o genuíno, e com tantos defensores da pregação de qualquer
“evangelho” e o abandono do Evangelho genuíno, afirma-se por aí que estamos
vivendo a fase mais brilhante da Igreja... A geração da noiva... Que nunca se
pregou tanto o Evangelho, via tevê, satélite, internet e demais mídias
tecnológicas. Enquanto isso, as Escrituras mostram a quem tem olhos e os usa
corretamente que na verdade estamos vivendo a geração de Laodiceia., da igreja
pobre, cega, nua e miserável que se acha muito rica e perfeita, mas não enxerga
mais nem o verdadeiro Evangelho que deveria estar pregando... E o evangelho vem
sendo pregado... Qual deles mesmo?
Excelente! Acho uma pena, que muitos deixem de ler artigos como este, muitos vivem um grande engano hoje e estão agindo de forma ignorante, primeiro pq não conhecem a Palavra de Deus, segundo pq confiam demais em seus líderes e assim entram em suas zonas de conforto e mal sabem,que estão vivendo uma verdadeira armadilha do inimigo. Deus se compadeça e sacuda a igreja.
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