sábado, 11 de fevereiro de 2012

PREGANDO O EVANGELHO ― QUAL DELES? (2)


Meu artigo anterior, de mesmo título, procurou demonstrar que não é qualquer Evangelho que deve ser pregado. Não basta apenas pregar Cristo e dissociar a continuidade da pregação (o ensino doutrinário, subsequente à conversão), mas toda a mensagem, o "conjunto da obra" deve ser o mesmo: o Evangelho do reino, o mesmo que foi pregado pelo Senhor Jesus e por Seus apóstolos. Gostaria de continuar discorrendo sobre o mesmo tema, falando agora dos evangelhos que vêm sendo pregados e a diferença entre eles e o Evangelho genuíno.
O que não nos falta nos dias de hoje são denominações, e em cada uma delas “evangelhos” diferentes. Diz-se que existem igrejas para o gosto pessoal de todos, e que nos basta encontrar o local aonde se prega um Evangelho agradável, com o qual nos identifiquemos... Embora seja válida a escolha de uma comunidade com a qual tenhamos algum tipo de afinidade social, não cremos que as coisas sejam assim em relação ao Evangelho propriamente dito, a mensagem que é pregada na igreja escolhida, pelo menos por duas razões:
Primeiro, o Evangelho não foi trazido por Cristo e pregado pelos apóstolos para agradar ninguém. A primeira grande prerrogativa do Evangelho é exatamente questionar a natureza pecaminosa do homem, confrontando-o com seu próprio pecado e admoestando-o a sair da zona de conforto, reconhecendo seus pecados e rendendo-se a Cristo. Ou seja, nosso primeiro contato com o genuíno Evangelho não é de todo agradável,,, O colunista Marcello Comuna já disse no blog Mulheres Sábias em sueu artigo EVANGELHO - O DEDO NA GOELA que o Evangelho é exatamente um purgante, que nos leva a vomitar, expulsando toda a nossa podridão, aquilo que de mau existe dentro de nós.
Segundo, procurar a Igreja que nos é mais conveniente não é a prática mais adequada. A Igreja não é necessariamente o local aonde nos sentimos bem, pois a Palavra de Deus que lá é pregada ― seja nas mensagens, na liturgia, nos louvores cantados ou em quaisquer das suas demais atividades ― tem que nos incomodar, nos tirar da inércia e promover cura e transformação. Cura da alma, transformação de caráter. O genuíno Evangelho sempre quebra paradigmas e desfaz sofismas, as verdades que muitas vezes eu passei toda a minha vida crendo e confessando. A Palavra de Deus, marreta que esmiúça a penha (Jr 23:29), é quem deve despedaçar e desfazer meus conceitos, a fim de que eu substitua meus conceitos humanos pelos divinos, e jamais o contrário, meus conceitos anularem o Evangelho e as Escrituras, obrigando o divino a se acostumar e se acomodar com o humano! Como posso me submeter a este processo, se a Igreja que eu escolhi para congregar fala exatamente a minha língua, me ensina as coisas que eu quero ouvir e não me confronta com o que diz a Palavra?
Portanto, se temos que procurar uma Igreja, que não seja de acordo com os meus gostos pessoais, mas de acordo com o Evangelho que lá é pregado. Que primordialmente eu esteja inclinado a buscar uma Igreja que pregue o Evangelho do Reino, o da sã doutrina, o da Bíblia, por mais que isto me incomode.

Ao procurarmos uma Igreja, precisamos ver qual Evangelho que pregam por lá... E tomar muito cuidado para que não façamos a escolha errada, pelos motivos errados. Vejamos alguns “evangelhos” muito comuns em nossos dias, e que o encontraremos em cada esquina.
1. O EVANGELHO DA CONVENIÊNCIA
O Evangelho da conveniência é o “evangelho” mais pregado em nossos dias. Esta semana, fui visitar um cliente e, quase à sua porta, passou um carro de som convidando os ouvintes a visitar determinada “igreja”. No anúncio, o locutor falava: “Você está doente? Tem problemas de saúde física ou espiritual? É cego, paralítico ou surdo (esta parte me chamou a atenção: se o cara é surdo, como vai ouvir o carro de som??)? Está desempregado? Passa por perturbações espirituais? Seus problemas acabaram (não, ele não falou isso, mas eu quase consegui ouvir a frase slogan das Organizações Tabajara, e ela estava ali, nas entrelinhas do texto...)! Venha visitar a nossa Igreja, e o pastor Fulano vai abraçar a sua causa. Você receberá a bênção, blá blá blá...” O resto, você pode concluir... Já deve ter ouvido também coisas parecidas...
Traduzindo: qual o motivo mais conveniente para te trazer à Igreja? Veja bem: problemas SEUS, pessoais... Nada relacionado com sua salvação, evidentemente, porque este tem sido s último motivo que conduz um homem à Igreja.
NÓS TEMOS A SOLUÇÃO, apregoam os evangelistas da conveniência. Desde a cura divina, passando pelo “sumiço” de débitos bancários e retirada miraculosa de seu nome do SERASA e SPC. O homem é, portanto, instigado a ir à Igreja para resolver seus problemas, e não para conhecer a Deus, o plano que Ele preparou para salvá-lo da perdição eterna e resolver seu REAL PROBLEMA. A Igreja, por sua vez, também é refém de satisfazer às necessidades de quem a ela se achega. Não precisa pregar a Palavra de arrependimento, de conserto, de repreensão, que leva o homem a refletir e mudar sua conduta, seu caráter e sua forma de viver. Basta falar o que o homem quer ouvir. A conveniência do homem fala mais alto do que Deus, e este é o maior motivo da  sua vinda à Igreja: o próprio homem, e não Deus.
2. O EVANGELHO DAS NOVIDADES
Um dos “evangelhos” que muito se prega nos dias de hoje é o evangelho modernizado, ou seja, aquele que mudou com o passar dos anos, trazendo novidades doutrinárias que não eram conhecidas há 20, 40, 50 anos. Não sou tão velho assim, mas nos meus tempos de jovem, aos 16 anos quando me converti ao Senhor, muitas das coisas que são pregadas nos dias de hoje eram completamente desconhecidas na Igreja. É verdade que havia muita pregação estranha, mas a grande maioria delas referente a usos e costumes, e não à doutrina. Entretanto, de uns tempos para cá as pregações estranhas que surgiram são no campo teológico-doutrinário mesmo.  Por exemplo, pergunte a qualquer pessoa mais antiga da Igreja se ele alguma vez já tinha ouvido falar que a festa do natal é pecado... Isso é coisa recente, de menos de dez anos! O mesmo se aplica para a “doutrina das células”, que começaram como uma boa estratégia de crescimento da Igreja, e com o passar do tempo o modelo foi incorporado à doutrina, como se tivesse sido uma revelação divina desde os tempos das Escrituras...
O Evangelho, entretanto, não mudou. Permanece o mesmo que era pregado por Jesus Cristo e pelos apóstolos no primeiro Século; Estas “grandes revelações do Século XXI” são mais uma visão distorcida do que revelação. Até porque a revelação encerrou-se com o fechamento das Escrituras, e depois disto apenas recebemos luz sobre verdades existentes... Senão, porque Deus não revelou tais verdades a Seus apóstolos, que viveram ao Seu lado, para que eles as deixassem escritas para nós??
3. O EVANGELHO LOCAL
De abrangência muito estreita, o “evangelho local” não pode ser pregado em todas as culturas. Só em determinados locais. Quando Jesus deixou o Seu Evangelho para seus apóstolos e discípulos o disseminarem pelo mundo, a todas as etnias, não o deixou de forma que pudesse ser pregado a determinadas culturas, e a outras não. Não existem limites para a pregação do Evangelho. Entretanto, nos dias de hoje vemos “evangelhos” como o da prosperidade, que não podem ser pregados em qualquer lugar. Experimentem pregar este “evangelho da prosperidade” nos lugares mais inóspitos dos sertões, onde o povo é tão pobre que muitas vezes a Igreja é que precisa levar-lhes recursos para sua sobrevivência. Tentem pregá-lo nos países da “janela 10-40”, aonde as dificuldades de se pregar o legítimo Evangelho de Cristo são tão grandes que muitas vezes o pregador precisa captar recursos para que os membros da comunidade não padeçam necessidades. Como fazer isto com o evangelho da prosperidade, que visa extrair dinheiro, e nunca distribui-lo aos pobres?
O que queremos, e podemos, afirmar é que se um Evangelho só funciona em determinado local, mas não funciona em outros, não pode ser Evangelho. A genuína mensagem de Jesus Cristo pode ser pregada a todos os homens, a todas as culturas, sem problemas. O verdadeiro Evangelho é pregado nos locais aonde há liberdade e aonde há perseguição, a pregação é a mesma em comunidades ricas e comunidades à beira da miséria financeira. O mesmo Evangelho que Felipe pregou ao eunuco etíope há dois mil anos pode ser pregado nos dias de hoje, mas o “evangelho local” que pregamos hoje não seria jamais pregado por Felipe, e nem por seus companheiros...
4. O EVANGELHO MONOFACETADO
O Evangelho genuíno é plurifacetado. Ele engloba todas as áreas humanas, trata do ser humano em todos os aspectos. Da mesma forma, o culto a Deus é múltiplo, e são múltiplas as operações em um culto. Paulo afirma que nas reuniões da igreja “cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação” (1 Co 14:26). O culto a Deus não se compõe de uma única manifestação. Há, entretanto, igrejas “especialistas” em determinados aspectos, e se dedicam quase que integralmente a esta faceta...
Algumas têm um ministério de louvor belíssimo, bandas e corais, mas não pregam a palavra, e o resultado é que este ministério de louvor distorce a doutrina. Não é de se estranhar que grandes e famosos grupos de louvor da atualidade ensinem que devemos nos arrastar no chão, rugindo como leões, cachorros ou ursos... A Bíblia se tornou secundária.
Outras se dedicam quase todo o culto à libertação espiritual. A Palavra é desprezada, e somos surpreendidos com entrevistas diárias com demônios, como se a voz destes espíritos caídos tivessem algo a nos ensinar, em substituição às Escrituras. Os demônios, cujo líder fi chamad de pai da mentira, com suas vozes de mentira substituem estrategicamente a Palavra da verdade...
Estamos, pois, vivendo uma geração que não tem mais culto de doutrina, nem culto de oração, nem exposição sincera e sistemática da Palavra, porque não há tempo para estas coisas. O louvor, a cura, a libertação, as campanhas e correntes, os cultos da vitória e da prosperidade, os exorcismos realizados sob holofotes tomaram a primazia. Não existe equilíbrio entre os ministérios, deixam de pregar a Palavra para exercerem sua “obra”.
5. O EVANGELHO ANIMISTA
Há ainda o evangelho do toque, aquele aonde a fé e o Senhor Jesus são sempre insuficientes. Faz-se necessário um ponto de contato entre os ungidos e aqueles que precisam receber a bênção. Uma interpretação equivocada de Atos 5:15 e 19:12 leva os “pregadores” ensinarem que são necessários ponto de contato para que o milagre ocorra...  Sal grosso, rosa ungida, lenços suados, sabonetes, azeites e muitos outros elementos animistas se misturam num sincretismo aonde até elementos de cultos africanos e da religião judaica são usados.
Entendemos que realmente algumas pessoas precisam de algo “palpável” para pôr sua fé em prática. São os chamados na Bíblia de “meninos na fé”. São pessoas que ainda não amadureceram o suficiente para entender a suficiência de Cristo e de Sua obra, e discernir o bem e o mal (Hb 5:12-14). No livro de Atos vemos exemplo de pessoas se aproveitando deste animismo: a sombra de Pedro passou a ser concorrida pelos enfermos e endemoninhados que buscavam a libertação de seus males, mas tal prática não é descrita no Texto Sagrado como o método bíblico para se alcançar curas e libertações, mas como uma demonstração da intensidade do poder de Deus presente na vida do apóstolo (At 5:15-16). Vemos também alguns objetos que eram tocados por Paulo serem usados também para cura e libertação (At 19:12), mas a Escritura também apenas relata o fato, mas não PRESCREVE como prática da Igreja, e nem afirma que estas coisas eram feitas com o consentimento dos apóstolos. Tanto no caso de Pedro quanto no de Paulo eram coisas que ocorriam FORA DA IGREJA, nas ruas, o que nos indica que não era prática interna da Igreja.

Paulo em dado momento afirma: “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino; mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino” (1 Co 13:11). Isso se aplica perfeitamente ao animismo gospel. É coisa de menino, e não é isso que Deus deseja para Seu povo! Mas infelizmente é a prática de muitos pastores da atualidade, que desejam manter os crentes presos a eles, adquirindo os elementos animistas das suas mãos e a preço alto, sempre dependentes deles, evitando ao máximo a sua independência espiritual, a prática saudável do sacerdócio que Cristo concedeu a cada crente na Nova Aliança.
Deus anseia que o crente tenha plena comunhão com Ele, e exerça a fé sem a necessidade de amuletos e patuás. Não precisamos de rosas ungidas, azeites, sal grosso, terra de Israel ou água do rio Jordão. Precisamos da fé em Cristo, do poder que Ele mesmo nos outorgou. Precisamos crescer, e deixar de ser meninos na fé (1 Co 3:1-2; Hb 5:12-14). Jesus Cristo e Sua obra no Calvário são suficientes! Ou o Cristo dos pseudopentecostais é tão fraco que precisa de algo para poder operar o milagre?
A todos estes “evangelhos”, acrescentem mais um sem fim de outros (não dá para falar de todos aqui; pelo menos, não eu uma só postagem...), com práticas bizarras e extrabíblicas, fruto de visões de uma liderança sem apego e sem respeito às Escrituras, visões estas que melhor seriam chamadas de “alucinações”, pois descartam as práticas do antigo Evangelho da Igreja, e afastam o rebanho dos verdadeiros pilares da fé em Cristo.
A despeito deste cenário real e preocupante, com tantos “evangelhos” sendo mais valorizados que o genuíno, e com tantos defensores da pregação de qualquer “evangelho” e o abandono do Evangelho genuíno, afirma-se por aí que estamos vivendo a fase mais brilhante da Igreja... A geração da noiva... Que nunca se pregou tanto o Evangelho, via tevê, satélite, internet e demais mídias tecnológicas. Enquanto isso, as Escrituras mostram a quem tem olhos e os usa corretamente que na verdade estamos vivendo a geração de Laodiceia., da igreja pobre, cega, nua e miserável que se acha muito rica e perfeita, mas não enxerga mais nem o verdadeiro Evangelho que deveria estar pregando... E o evangelho vem sendo pregado... Qual deles mesmo?

Um comentário:

  1. Excelente! Acho uma pena, que muitos deixem de ler artigos como este, muitos vivem um grande engano hoje e estão agindo de forma ignorante, primeiro pq não conhecem a Palavra de Deus, segundo pq confiam demais em seus líderes e assim entram em suas zonas de conforto e mal sabem,que estão vivendo uma verdadeira armadilha do inimigo. Deus se compadeça e sacuda a igreja.

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