No próximo "Evento" em que eu
participar, talvez passe antes em uma mercearia e leve dali alguns grãos, quem
sabe milho ou feijão, talvez um tubérculo, e quando algum propagador da
"Teologia das Sementes" começar a apelar para meu emocional, eu as deposite na sacolinha ou no envelope para ver se eles vão aceitá-las ou jogá-las no lixo. Mas já sei que na Lei da
Semeadura deles só se aceita dinheiro vivo, cartão de crédito, cheque, carro,
moto, jóias, escritura de imóveis e dente de ouro.
Esses homens já não querem mais viajar em
ônibus de linha ou em voos comerciais. Querem seus próprios ônibus
personalizados, com sua imagem estampada e seu nome em letras garrafais, para
serem muito bem conhecidos pelos homens. Querem seu jatinho particular, pois
não querem se submeter aos atropelos das perdas de tempo, atrasos e outros
entraves dos voos comerciais ― gastamos dinheiro, mas "remimos o tempo"... Querem mansões e carros luxuosos importados, querem hotéis de cinco
estrelas, querem ternos de alta costura, querem cruzeiros e viagens para a
Terra Santa, querem tardes de autógrafos, sessões de fotos, bajulação, e querem
que eu me cale, pois se eu me levantar contra tais coisas estarei tocando no
ungido de Deus. São homens de elevada sapiência, Doutores em Divindade,
indubitavelmente ungidos por Deus e que, por isso, devem comer o melhor desta
terra, mas que tripudiam sobre os "fracos na fé", porque não são
obrigados a suportá-los.
Então, quero entender. Para estes
doutores, no livro de Malaquias deveria ser rasurada, ou melhor, rasgada a
parte em que admoesta os sacerdotes (leia-se ungidos) ao arrependimento e ao
bom proceder, ficando somente a parte em que chama a atenção do povão (leia-se
não ungidos) a permanecerem fieis nos dízimos e ofertas, ou melhor, nas
"sementes". O que passar disso, o que questionar, o que inquirir, o
que desconfiar e que for à Bíblia ver se as coisas são mesmo assim, o que
publicar qualquer coisa em blogs e sites, seja ANÁTEMA, pois
ousou tocar no ungido de Deus.
Se é assim, o profeta Natã deveria ter
sido silenciado por falar palavras duras ao "ungido" rei Davi no caso
do adultério. O próprio Davi deveria tê-lo silenciado, impondo sua posição de
rei e ungido e mandando-o para a mais "acolhedora" masmorra... E
quanto a Joabe? Ele praticamente manda o pai "ungido" Davi engolir o
choro e tocar a vida pra frente, quando da morte de Absalão. O que dizer dos
profetas que tinham a petulância de confrontar reis "ungidos",
apontar-lhes os erros e chamá-los ao arrependimento? E o que falar do
“sem-ter-onde-cair-morto” João Batista, que combatia asperamente a prática
deturpada de alguns "ungidos"?
Deixem-me entender isso melhor. Os
primeiros cristãos eram homens de fé porque vendiam propriedades e depositavam
suas sementes aos pés dos apóstolos, porém os apóstolos eram
"trouxas" porque não as pegavam para seu próprio deleite, bancando
uma vida confortável e abastada, mas "repartiam
a cada um, conforme a necessidade que cada um tinha". É isso mesmo?
Mas, então, na verdade, os primeiros
cristãos também eram “trouxas”, pois semeavam sem colher. Nunca tiveram carro
com cabine dupla, motor 4.2, trio elétrico, ar condicionado, GPS, air bag
duplo, freio a disco, rodas de liga leve, pneus radiais, DVD player, sensor de
estacionamento. Aquelas mulheres nunca fizeram lipoaspirações, nem cirurgias
plásticas no nariz, nem covinha no queixo, nem aplicação de botox, nem turbinaram seus seios com
silicone. Ah, é verdade... Naquela época não existiam estes
"mimos"... Mas porque eles não usufruíam dos "mimos"
existentes na época, como riquezas, casas, campos e vida regalada? Porque eram
"trouxas", óbvio!
Vai entender o eunuco etíope, mordomo-mor
de Candace, superintendente de todos os tesouros da Etiópia, “trouxa” por
abraçar uma doutrina de “trouxas”. Quem sabe o carro em que seguia era de placa
branca, e estivesse na hora de ele semear uma oferta de qualidade para
determinar a bênção do carro próprio. Talvez deveria partir para a iniciativa
privada. Quem sabe uma frota de camelos-táxi. Apostaria num resort cinco
estrelas no meio do deserto, com cassino, piscinas, centro de convenções e toda
a infraestrutura para os apóstolos promoverem seus confortáveis congressos
lucrativos e cruzadas milionárias, com espaço para os pregadores... ops,
Conferencistas Internacionais top de linha, como Apolo e Barnabé, e para os
estandes de venda dos artistas... ops, levitas.
Na Bíblia dos GRANDES da atual
dispensação, alguns textos deveriam ser complementados, como o de Deuteronômio
15.11: Pois nunca deixará de haver pobre na terra, “porque sempre haverá os que
não semeiam”. Estevão provavelmente semeou grãos de areia, porque colheu
pedras. Os Heróis da Fé de Hebreus 11.4-11 deveriam ser chamados "Trouxas
sem Fé", pois "morreram na fé, sem terem recebido as promessas"
e, resignados, "confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na
terra".
Falando em trouxas, o que dizer de alguém
que anda na contramão desse pensamento dominante? Quem deixa o esplendor de sua
glória para nascer como filho de um pai carpinteiro e de uma mãe "do
lar" é "trouxa"? E se nascer em "Belém Efrata, pequena
entre milhares de Judá", é "trouxa"? E se nascer num curral é
"trouxa"? Se, recém-nascido, for posto numa cocheira, é
"trouxa"? Se seus pais tiverem que fugir às pressas (coisa de crente
fraco) para o Egito (de onde os pais de seus pais já haviam fugido no passado,
e Deus havia orientado a não mais voltar para lá) e não para Miami ou Orlando,
é "trouxa"? Se exercer a profissão do pai a pontro de ser chamado de
"carpinteiro" pelas pessoas de sua cidade, é "trouxa"? Se
formar um corpo ministerial com pessoas despreparadas, com a ralé, é
"trouxa"? Se não tiver onde reclinar a cabeça, é "trouxa"?
Se for um “manteiga derretida”, sempre movido de íntima compaixão pelos
doentes-fracos-pobretões, é “trouxa”? Se sua entrada triunfal for montado em um
jumentinho sem tração nas quatro patas, é “trouxa”? Se viver cercado do
"Zé Povinho", é “trouxa"?
Se for hospedado na casa do chefe dos
cobradores de impostos, se andar sobre as águas, se ordenar à tempestade que se
acalme, se multiplicar o peixe e o pão, opa, é super como eles. Mas se usar o
peixe e o pão multiplicado para alimentar o “Zé Povinho” de graça, sem cobrar
nada, é “trouxa" novamente? Se não pedir uma "oferta de fé" é
“trouxa"? Se não pedir que invistam em seu ministério sob a alcunha de
colaboradores, patrocinadores, Gideões da fé, Neemias reconstrutores, é
"trouxa"? Se for preso e açoitado, é “trouxa"? Se for condenado
sendo inocente, é "trouxa"? Se for pregado na cruz, é “trouxa"?
Pregado entre dois ladrões, é "trouxa"? E se prometer levar um dos
ladrões direto para o Paraíso, sem que este ladrão tenha plantado pelo menos
uma semente de R$ 911,00 em seu ministério, é "trouxa"? Se morrer
jovem sem usufruir do primeiro mandamento com promessa, é "trouxa"?
Se for sepultado em túmulo emprestado, é “trouxa"? E se depois de tudo
isso ressuscitar e ainda voltar para deixar as últimas instruções, é “trouxa ao
quadrado"?
O que estamos vendo é que homens ditos
“de Deus" estão promovendo a desinformação. Já não se pede ofertas no
mesmo intuito de Paulo e seus companheiros, que pediam para o sustento dos
pobres. E a própria palavra "companheiro" deles não provém
etimologicamente do latim vulgar companio, que por sua vez vem do latim
clássico cum panis (com pão, aquele que conosco divide o pão
disponível), porque o pão deles não é repartido, mas conservado em suas
próprias despensas, pois, no dizer deles, ao alimentarem os famintos estarão
fomentando a indolência. Estão pervertendo o direito das viúvas que são
verdadeiramente viúvas, e dos órfãos que são verdadeiramente órfãos.
E o que dizer do direito dos
estrangeiros? Estes têm o direito de permanecer calados, se já não foram
“deportados" da nação eleita e do sacerdócio real, à revelia, sem o devido
processo. A todo momento nos lembram que somos suas ovelhas, e como
ovelhas disciplinadas devemos permanecer resignados, confinados em seu aprisco,
mudos, pastando onde não há capim, pois nos amedrontam com fábulas de lobos
maus. E nem percebemos que quando tratam nossas feridas o verdadeiro objetivo é
não danificar a lã, porque sempre somos tosquiados quando o inverno chega, para
que eles, os pastores, possam tecer belos casacos para seu próprio uso..
Que estas coisas não venham a
desestimular “os trouxas de plantão", porque já sabemos que estaríamos
sujeitos a tudo isto, alertados pelo próprio Senhor Jesus Cristo: “E
surgirão muitos falsos profetas e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a
iniquidade, o amor de muitos esfriará. Mas aquele que perseverar até o fim será
salvo" (Mc 24.11-13).
Lembre-se: enquanto Cristo "semeava" na cruz, Ele não contemplava os reinos deste mundo e sua glória, porque almejava uma colheita muito mais preciosa: você e eu. O interessante da Lei da Semeadura e da Colheita é que ela funciona sim, mas sabe qual a melhor semente que você tem? Você mesmo. Então mãos à obra, lavrador!
Caro irmão,lendo esta publicação percebi que você, me permita essa intimidade, lê a mesma Bíblia que eu tenho lido nestes últimos cincoenta anos.
ResponderExcluirSó gostaria de fazer um reparo: o irmão esqueceu-se de mencionar os relógios de ouro que esses sevandijas adoram ostentar, eles devem adotar o lema. Time is money...ou seria, gold?
Deus te abençoe, venho todos os dias dar uma passadinha neste porto, e me alimentar
V.D.M.I.Ae.
Caro Barão, muito obrigado pelo elogio. O texto, como está creditado, não é meu (isto me lembra muito o Maluf...), mas aqui só escrevo ou publico coisas deste quilate! Continuo agarrado à Bíblia. Sou um teimoso, mais um idiota e mais um otário, como são taxados os bereianos pelos atuais e famosos profetas tupiniquins da prosperidade... Permita-me publicar coisas suas também, devidamente creditadas, pois o que vi no Blog do Barão é coisa fina!
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