Antes que se apaguem as luzes de 2011, dirijo-me diretamente aos prezados cristãos legalistas. Afinal, vocês, insatisfeitos com os meus artigos sobre o Natal, me enviaram inúmeros impropérios, acompanhados de razões para não celebrarmos o nascimento de Cristo. Sinceramente, tais motivos são risíveis, a despeito de eu ter chorado diante de tamanha ignorância!
Vocês têm afirmado, caros fariseus do século XXI, que o Natal “traz em seu bojo um clima de angústia e tristeza”, e que isso ocorre por causa de “um espírito de opressão que está camuflado, escondido atrás da tradição romana que se infiltrou na igreja evangélica, e que precisamos expulsar em nome de Jesus”. Meu Deus! Desde a minha infância aprendi a celebrar o Natal de Cristo. Lembro-me com muita alegria das peças, poesias e cantatas natalinas, além das maravilhosas mensagens de Natal, ministradas por homens de Deus como Valdir Bícego. A lembrança da encarnação do Senhor propicia alegria na alma, e não tristeza! Prova disso que vários hinos daHarpa Cristã, hinário oficial das Assembleias de Deus, nos estimulam a celebrar o Natal de Cristo: 21, 120, 366, 481 e 489.
Receio que vocês tenham se deixado influenciar por outro espírito, o do Anticristo, que já está no mundo (1 Jo 4.3). Vivemos em uma época em que o Diabo deseja a todo custo fazer com que o nome de Jesus desapareça da face da terra. E uma de suas estratégias é apresentar “outro evangelho”, fanatizante, farisaico, legalista, que procura desviar os salvos da verdade, carregando-os de ordenanças, como: “não toques, não proves, não manuseies”, as quais “perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens” (Cl 2.20-22).
Vocês dizem que a Bíblia não apresenta um mandamento para celebrar o Natal... O que vocês queriam, que ela ordenasse: “Celebrai com júbilo o Natal de Cristo, todos os moradores da terra”? Nem tudo, nas Escrituras, é tratado por meio de mandamentos. Ela é também um Livro de princípios, doutrinas, tipos, símbolos, parábolas, metáforas, profecias, provérbios, exemplos, etc. E um grande exemplo foi dado pelos anjos de Deus, que celebraram o Natal de Cristo, dizendo: “Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens!” (Lc 2.14). Mas, se vocês são fanáticos a ponto de se apegarem a questiúnculas que a nada levam, parem de comemorar o Dia do Pastor, o Dia da Bíblia, o Dia da Escola Dominical, o Dia de Missões, etc. Ah, e também parem de receber presentes de aniversário, pois não há nenhum mandamento bíblico do tipo: “Eis que presentes receberás no dia do teu aniversário”.
O fanatismo de vocês é tão grande que os leva a seguir pensamentos extremistas, como este: “O Natal é uma festa que centraliza a visão do palpável e esquece do que é espiritual. Para Jesus o mais importante é o Reino de Deus, que não é comida e bebida, mas justiça e paz no espírito”. Dá-me paciência, Senhor! Vocês nunca aprenderam que o cristão é diferente do mundo, a despeito de estar no mundo? Conquanto o Reino de Cristo seja preponderantemente espiritual, somos pessoas normais. Precisamos trabalhar, estudar, nos alimentar... O cristão que se preza conhece o verdadeiro sentido do Natal e sabe distingui-lo do Natal secular, sincrético, consumista. Estudem 1 Coríntios 10.23-32, a fim de que abandonem, enquanto há tempo, esse legalismo farisaico e fanatizante.
Vocês argumentarão: “a igreja do Senhor está vivendo a época profética da festa dos tabernáculos, que significa a preparação do caminho do Senhor, e, se você prepara o caminho para Ele nascer, não o prepara para Ele voltar”. Onde vocês aprenderam isso? Tenho certeza de que não foi na Escola Dominical nem em uma instituição de ensino que preza a ortodoxia. A celebração do Natal é ignorada por vocês em razão de não haver um mandamento específico... Mas, ao mesmo tempo, se apegam a uma aplicação forçada da festa dos tabernáculos para se opor ao Natal de Cristo? Haja incoerência!
Uma das doutrinas fundamentais da Palavra de Deus é o nascimento do Senhor Jesus, isto é, a sua gloriosa encarnação (Jo 1.14; 1 Tm 3.16). Aliás, a obra da expiação está em um tripé: nascimento do Senhor, sua morte e sua ressurreição (Gl 4.4; 1 Co 15.1-4). Ignorar o Natal de Cristo é negar parte de sua obra salvífica.
Vocês também alegam que o nascimento de Jesus não tem mais nenhum sentido profético, pois todas as profecias que apontavam para sua primeira vinda ao mundo já se cumpriram... É mesmo? Então, para vocês, a Bíblia é apenas um tratado de escatologia, que se ocupa exclusivamente de assuntos relativos ao futuro? Ora, as Escrituras apresentam muitas doutrinas escatológicas, mas elas também contêm teologia, cristologia, pneumatologia, antropologia, hamartiologia, soteriologia, eclesiologia e angelologia. O Natal de Cristo está ligado diretamente à cristologia e à soteriologia. Entretanto, como todas as doutrinas bíblicas são intercambiáveis, em Apocalipse 12 há uma menção ao Menino Jesus! Será que vocês, sapientíssimos fariseus do século XXI, já atentaram para isso?
Outro motivo alegado para não comemorarmos o Natal de Cristo é o dia 25 de dezembro. Vocês dizem que essa data foi estabelecida pela Igreja Católica Romana. Mas, à época, a intenção foi boa! Considerando que já havia uma grande comemoração pagã no mesmo dia, o imperador obrigou a todos a se lembrarem do dia natalício de Cristo. Se um dia ocorrer um grande avivamento no Brasil, e todos os poderes se converterem ao Evangelho, e ficar estabelecido que 12 de outubro é o Dia de Louvor a Jesus Cristo, vocês se oporão a isso, sob a alegação de que essa data fora outrora consagrada à Senhora Aparecida?
“Ah, mas o Natal se tornou um culto comercial que visa render muito dinheiro. Tirar dos pobres e engordar os ricos. É uma festa de ilusão onde muitos se desesperam porque não podem comprar um presentinho para os filhos”, vocês argumentarão. O que isso tem a ver com o verdadeiro sentido do Natal de Cristo? A Páscoa também é aproveitada pelo mundo capitalista para explorar o consumismo. Vamos ignorar a Páscoa por causa disso? Se há uma celebração de Natal que prioriza o comércio, existe, também, uma celebração que prioriza Cristo! Segue-se que esse motivo alegado para não celebrar o Natal de Cristo é reducionista, generalizante e preconceituoso.
Vocês acusam, ainda, o Natal de ser uma festividade “baseada em culto a falsos deuses nascidos na Babilônia. Então, se recebemos o Natal pela igreja católica romana, e esta por sua vez recebeu do paganismo, de onde receberam os pagãos? Qual a origem verdadeira?” Quanta ignorância! O Natal de Cristo precede e transcende o paganismo da Igreja Católica Romana. Lembrar do nascimento de Cristo, descrito na Bíblia, e glorificar a Deus por ter nos dado o seu Filho Unigênito é lícito e conveniente. Isso nada tem a ver com Roma, Babilônia, etc.
Extrapolando todos os limites do bom senso, vocês, legalistas cristãos (cristãos?), dizem que o Natal é uma festa idolátrica, que não glorifica a Jesus, pois quem a inventou foi o romanismo. Ora, o fato de o Natal ser celebrado também pela Igreja Católica Romana não torna o Natal de Cristo idolátrico. Caso contrário, a missa, com a sua hóstia, tornaria a Ceia do Senhor igualmente idolátrica, não é mesmo? Vocês pensam que sabem muito, mas estão redondamente enganados! Idolatria é condição do coração. Ela não é um pecado praticado de modo subjetivo.
Caros fariseus do século XXI, vocês reprovam e até proíbem a celebração do Natal de Cristo, por causa de Papai Noel, duendes, gnomos, decorações natalinas e outras coisas mundanas. Mas cometem um grande pecado, ao se mostrarem mais santos do que os outros. Coam mosquitos e engolem camelos. Além disso, interferem na liberdade que Cristo outorgou aos seus seguidores e exigem um padrão de santidade que nem a Palavra de Deus exige! Meditem em Eclesiastes 7.16,17.
Graças a Deus, a maioria dos seguidores de Cristo não aceita essa interferência fanatizante em sua liberdade. Caso contrário, o cristianismo se transformaria em uma religião extremista, fanática, sectária, e tudo passaria a ser pecaminoso: bolo de aniversário, vestido de noiva, terno, gravata, calça jeans, passeio no shopping, rádio, TV, Internet, redes sociais, blogs... Aliás, já houve um tempo em que o rádio era a caixa do Diabo, e o crente não podia usar perfume! Que Deus nos guarde do legalismo farisaico!
Ciro Sanches Zibordi