sexta-feira, 4 de novembro de 2011

CONSIDERAÇÕES SOBRE O "CRESCIMENTO" DA IGREJA BRASILEIRA

Por Fábio Bauab - Adaptado - Coletado em CONSCIÊNCIA E FÉ

A igreja evangélica brasileira tem vivido um período muito peculiar. De um lado verifica-se um aparente crescimento numérico, com verdadeiras multidões afluindo para seus templos. Basta uma rápida olhada nos templos da IURD, da Igreja da Graça e, recentemente, da Igreja Mundial do Poder de Deus para constatar este fato. Porém, de outro lado, verifica-se uma perigosa relativização de valores e princípios doutrinários fundamentados sob as Escrituras Sagradas.

Vamos ponderar, primeiramente, sobre o crescimento da igreja. O fato de vermos grandes concentrações de pessoas em determinadas reuniões não implica, necessariamente, um crescimento real da Igreja de Cristo. Explico porque:

(1) Esta multidão é composta, basicamente, por pessoas em busca de solução para os seus problemas e que foram atraídas pela esperança de uma resposta fácil e rápida. Nem sempre elas são atraídas pela mensagem do arrependimento ou pela mensagem da cruz, mas sim pela expectativa da superação das mazelas, ou seja, estão à procura de milagres. Mas o milagre não substitui a necessidade do arrependimento e do comprometimento. É possível pertencer a uma igreja (denominação) sem passar pelo arrependimento, porém, é impossível pertencer a Igreja (Corpo) de Cristo sem passar pelo arrependimento. O mesmo se dá em relação ao comprometimento. Nas Escrituras, vemos o episódio da cura dos dez leprosos, onde somente um mostra real comprometimento com Jesus. Daí o grande problema em substituirmos a mensagem do arrependimento pelas mensagens motivacionais.

(2) É difícil precisar qual o percentual de pessoas deste grupo permanecem fiéis ao Evangelho ou não. Porém, o dia-a-dia, da atividade pastoral mostra que muitos ficam pelo caminho. Tenho encontrado algumas pessoas que não frequentam mais nenhuma igreja porque se sentiram lesados, enganados, se decepcionaram com lideranças etc. É uma triste realidade que as igrejas da mídia fazem questão de esconder.

(3) O terceiro elemento a ser considerado nesta análise refere-se ao crescimento qualitativo. Até que ponto esta expressão numérica é revertida em qualidade? Acredito que a probabilidade de que este grupo viva uma vida cristã desprovida dos princípios rudimentares da fé cristã é muito grande. Tudo, nestes movimentos, se resume a espíritos demoníacos, campanhas de libertação e campanhas de prosperidade financeira. Como poderão aprender sobre Amor Incondicional, Perdão que nos conduz a perdoar, Graça Divina? Vivem apenas na superficialidade da fé, não criam raízes profundas. São ensinados que ter fé é receber milagres, mas não são ensinados a desenvolver um relacionamento com Deus que os mantenha firmes na fé mesmo em tempo difíceis. São como as sementes caídas sobre as pedras ou sobre os espinhos: têm vida curta.

(4) Finalmente, um último aspecto que precisa ser destacado é o vetor migratório. Este aglomerado de pessoas não é composto unicamente por não cristãos. Há na sua base um elevado percentual de pessoas já “cristãs”, pertencentes a outras denominações, que em uma atitude de desespero, ou de curiosidade, partem em direção ao foco dos milagres. Assim percebemos que nem sempre este ajuntamento de multidões significa um crescimento numérico real. Aliás, o próprio "apóstolo" Valdemiro incentivava o proselitismo com frases de efeito, tais como: “se na tua igreja não tem poder de Deus, vem pra cá, pois aqui tem a mão de Deus”.

Diante destas considerações eu fico me perguntando: O que estamos vendo neste segmento evangélico é realmente um crescimento genuíno? Penso que não. Na verdade, acredito que esta realidade produz um efeito negativo no processo de evangelização, pois o ser humano tende a se afastar daquilo que um dia lhe causou frustração ou dor. O olhar de desconfiança não é voltado para Deus, e sim, para as instituições religiosas. E infelizmente, nesta hora, todas são colocadas dentro do mesmo saco (usando a expressão popular), não há distinção entre elas.

Estas são as razões que não me permitem compactuar com a euforia de alguns líderes evangélicos quanto ao crescimento da igreja. Acredito que o crescimento autêntico passa pelo crivo da qualidade. Ademais, o crescimento do Corpo precisa ser proporcional e dentro dos padrões da normalidade, assim como em um corpo humano. Nascemos muito pequeninos, crescemos aos poucos e demoramos quase vinte anos neste processo! Todo crescimento desordenado, rápido demais e desproporcional está mais para anomalia, aberração e tumor (câncer) que para crescimento genuíno.

Neste sentido, a declaração do apóstolo Paulo sobre o objetivo da igreja é indispensável: “Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo. Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em caridade, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo. Do qual todo o corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor” (Ef 4:13-16).

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