terça-feira, 19 de novembro de 2013

GAIOLAS NECESSÁRIAS


Numa tarde de domingo, 14/10/2012, eu assistia tevê na sala quando percebi minha esposa na cozinha, encantada com algo que estava na área de serviço! Em meio a frases do tipo “Ai, que coisa linda, meu Deus!”, ela me chamou para compartilhar a visita inesperada que recebemos.

Na grade da área de serviço, que dá para o quintal, lá estava empoleirado um periquito azul, e minha esposa encantada como uma criança dizendo que queria ficar com ele... Aproximei-me aos poucos do pássaro. Quando cheguei a uns trinta centímetros de distância ele alçou voo. Um voo tímido e curto que me fez perceber que se tratava de alguma ave nascida em gaiola, ou desde cedo confinada a uma, o que o fez desaprender a arte do voo, ou nunca ter aprendido mesmo. Percebi ali a possibilidade da captura. Não foi muito difícil chegar perto dele, pousado no chão do quintal, e pegá-lo a mão!

Sempre fui avesso à criação de pássaros, ao contrário de meu irmão Joel, que cria vários e é apaixonado por sabiás. Eu não. Para mim, os pássaros foram criados para serem livres. Sempre procuro me colocar no lugar das aves engaioladas, e sinceramente não gostaria de ter uma vida destas! Alguns passarinheiros argumentam que uma ave presa à gaiola vive entre duas e três vezes mais que uma ave solta. Posso até concordar com o dado estatístico, sei que é verdadeiro, mas sugiro aos passarinheiros que vivam 150 anos presos em uma cadeia, e concluam se tal longevidade sem liberdade pode realmente ser considerada vida... Neste aspecto, sou forçado a concordar com a frase do Cazuza: “É melhor viver dez anos a cem por hora do que cem anos a dez!”.

Mas o fato é que o periquito está aqui em casa desde a tarde de domingo. Demos-lhe o sugestivo nome (meu Deus, que falta de inspiração!) de PIU-PIU. Minha esposa esvaziou o armário da cozinha — a parte superior, que tem portas de vidro e algumas brechas laterais para entrada de ar — para que ele pudesse ser alojado temporariamente, e até o fim da semana vou comprar uma gaiola para acomodá-lo de forma mais adequada. Fazer o que? Julgo que seja o melhor a fazer, pois se ele não resistiu a uma captura manual de menos de 5 minutos, não escapará do primeiro predador que o encontrar. Não há outra saída neste caso, senão reconduzi-lo à gaiola. Questão de vida ou morte.

Não tinha como não associar o ocorrido com a nossa vida cristã.

Assim como os passarinhos, criados pelo Senhor para serem livres e voarem com agilidade suficiente para escaparem dos predadores, nós, cristãos, também fomos chamados à liberdade com Cristo. Nascemos como os pássaros. Ao nascermos, nós e eles, não sabemos voar. Aprendemos com os nossos pais. É conhecida a prática de algumas aves de empurrar seus filhotes do ninho para que aprendam a voar à força. Quando aprendem, ainda permanecem algum tempo no ninho para desenvolverem melhor esta habilidade, e só assim as zelosas mamães os soltam no mundo, pois já se encontram aptos para enfrenta-lo, em busca da sobrevivência diária.

O mesmo precisaria acontecer conosco, em nossa vida cristã. Precisamos aprender a voar com nossas próprias asas, mas dificilmente alcançamos esta habilidade, porque não temos mães e pais que nos ensine isso, na vida cristã. Pelo contrário, muitos de nós têm “pastores” e “líderes” inescrupulosos, líderes de célula comprometidos com o sistema, e não com o Reino, e somos rapidamente encerrados em gaiolas necessárias e desestimulados a voar. Provavelmente, foi isso que aconteceu com o Piu-Piu... E com você também!

Sejam bem vindos à Igreja, lugar aonde deveria, sempre e amiúde, nos ser ensinada a arte do voo, a alçar voos cada vez mais altos e com maior autonomia. Lugar aonde a liberdade em Cristo deveria ser ensinada, fomentada, estimulada e vivida em sua plenitude. Mas não acontece assim. Pelo contrário, de Norte a Sul, de Dã até Berseba, do Oiapoque ao Chuí, aprendemos na Igreja a não voarmos, a não nos rebelarmos contra os passarinheiros, a sermos mansos o suficiente para nos deixamos capturar e manipular. E absorvemos isto muito rapidamente! O Piu-Piu ainda tentou escapar de mim, pois faz parte de seu instinto animal de sobrevivência a fuga dos humanos e dos predadores. Mas nós, não. Não tentamos escapar. Confiamos por demais nos nossos passarinheiros; afinal, são nossos “pastores” e só querem o nosso bem! Somos capturados com muita facilidade, pois desde cedo somos treinados a não resistir. Como diria o filósofo Falcão em sua música ORAI E VIGIAI (que eu não recomendo ninguém a ouvir!!): “seja manso, bom e fraternal...”. Este é o ensino.

E quando, porventura, se tem a sorte grande de achegar-se a alguma Igreja que não aprisione, ou que dê relativa liberdade, as ovelhas não estão prontas para isto. Muitas não se acostumam absolutamente à liberdade. Precisam de regras, de dogmas, de leis, de “podes-e-não-podes” que os dirijam. Submissa e mansamente, abaixam a cabeça para que o jugo seja colocado à cerviz. Racionais que são, até criam argumentos que justificam sua prisão a estes jugos. Usam o cérebro não para pensar, para se libertar, mas para concordar com as gaiolas. Esta semana mesmo presenciei uma conversa sobre bebidas alcoólicas, e os interlocutores concluíram que o cristão não pode beber porque as bebidas são usadas em despachos de feitiçarias. Tiveram a sabedoria de justificar a gaiola, mas não conseguiram concluir que, segundo o seu raciocínio-gaiola, deveriam condenar também o comer frango, farofa e pipoca, que também são usados, junto com a bebida, nos despachos! Eles não conseguem entender que são LIVRES para beber e para optar por não beber... Não enxergam a liberdade. Só enxergam a gaiola, e lutam para mantê-la.

Tudo isso me chama a atenção para o fato de que eu sou GRANDEMENTE RESPONSÁVEL pelas vidas que cruzam meu caminho, enquanto formador de discípulos e de opiniões. Não posso agir como um passarinheiro. Não posso aprisionar, mas por em liberdade. Esta foi uma das múltiplas facetas do ministério do Senhor Jesus aqui na terra: “E, chegando a Nazaré [... Jesus] entrou [...] na sinagoga, e levantou-se para ler. E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração, A APREGOAR LIBERDADE AOS CATIVOS, e dar vista aos cegos; a pôr em liberdade os oprimidos; a anunciar o ano aceitável do Senhor [...] Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos.” (Lc 4:16-21). Este também deve ser o meu ministério: abrir as gaiolas dos cativos, não antes de dar-lhes condições de voarem e sobreviverem.

Assim como me será necessário comprar uma gaiola para o Piu-Piu, as gaiolas são necessárias dentro do sistema religioso, uma vez que a maioria das ovelhas-pássaros nunca aprendeu a voar. Os que tentarem fazê-lo por conta própria cairão inexoravelmente na boca dos predadores. Os líderes desestimulam freneticamente o aprendizado do voo, pois só garantem sua própria sobrevivência perpetuando o engaiolamento das ovelhas. Ovelha engaiolada não pensa, não questiona, não “toca em ungido”, não questiona a autoridade apostólica, episcopal, pastoral ou até mesmo do líder de sua célula. Apenas obedece!

Somos engaiolados quando nos afastam da Bíblia. Sei que todos nós temos uma Bíblia, alguns duas ou mais, mas não nos permitem lê-la, senão de acordo com a óptica religiosa deles. A “Visão do Ministério” é maior e mais importante que a visão de Deus! Aos poucos, aprendemos e absorvemos as táticas de manipulação das Testemunhas de Jeová, e blindamos as ovelhas contra qualquer possibilidade de analisar a Escritura, de comparar o ensino com a unidade da Bíblia, de permitir qualquer questionamento doutrinário. “Cuidado com as ovelhas negras!”, advertem aos novos convertidos. “Não dêem ouvidos aos que não obedecem à liderança, aos que se rebelam contra a visão!”, vociferam a todos.

Somos engaiolados quando nos proíbem de pensar, de analisar as coisas de acordo com as Escrituras. Os crentes de Beréia são persona non grata no meio desta liderança passarinheira. Os líderes, ao invés de criar uma geração independente, que sabe pensar, concluiu que isso na verdade é um tiro no pé. Na verdade não é. Criar uma geração pensante é investir na formação de um rebanho adulto, maduro! Um rebanho destes, bem alimentado, bem doutrinado na sã doutrina, é LUXO, não troca seus pastores por mercenários aventureiros. Não cai no laço do passarinheiro! A formação de um rebanho nestas condições não interessa à maioria dos “pastores” de hoje, que não querem investir a longo prazo, e muito menos têm interesse em investir em almas!

Somos engaiolados quando nos enganam, dizendo que a visão deles é a melhor, a mais correta, a que foi dada diretamente por Deus, por revelação! Sim, Deus se enganou, deixou de trazer esta revelação plena através de Seu Filho, e os apóstolos que O acompanharam por três anos ininterruptos se equivocaram, e transmitiram o Evangelho de forma errada. 

Somos engaiolados quando transformam a igreja em um grande circo, uma central de entretenimento, e nos encaixam estrategicamente no sistema, de forma que nos sentimos úteis, e nos damos por felizes com isso! Se você é músico, pode ser engaiolado na gaiola dos levitas. Se você gosta de dançar, está pré-selecionado para os “ministérios de danças e coreografias” e de “street dance” (embora nada disto exista nas Escrituras ou tenha nelas qualquer respaldo). Se você é engolidor de fogo, que tal o “ministério de pirofagia”? Para controlar o rebanho existe “n” tipos de gaiolas-ministérios para lhe entreter, desde os grupos etários até os “ministérios” questionáveis. E que tal um cargo entre os Oficiais da Igreja? Por que não colocar o(a) irmão(ã) Fulano(a) à frente do Círculo de Oração? Quem sabe, àqueles que aparentemente não sabem fazer nada, pode ser elevado à categoria e status de "Porteiro"? O importante é deixar cada macaco no seu galho, ou melhor, cada pássaro na sua gaiola.

Pois é... Dentro da gaiola, você só come o que lhe dão!

Às vezes tentamos quebrar as gaiolas dos pássaros que cruzam o nosso caminho, libertando-os. Na grande maioria das vezes nossa ajuda é rejeitada. Eles preferem a gaiola ao invés da liberdade em Cristo. E precisamos compreender que esta gaiola é necessária. Eles foram criados desde cedo sem o direito de voar. Colocá-los subitamente em liberdade é perigoso. Esta liberdade tem que ser um processo lento. Graças a Deus, passei por este processo e hoje alço voos de águia. Mas sei o quanto isto me custou, e ainda me custa!

Pobre Piu-Piu... Deus sabe a vontade que eu sinto de abrir agora as portas do armário da cozinha e te dar a liberdade que mereces. Mas Ele sabe também que se eu fizesse isso estaria sendo cruel e desumano com você, jogando-o indefeso aos gatos da vizinhança... Você não está pronto para a liberdade. Os homens te condenaram a prisão perpétua quando, desde teu nascimento, te prenderam em uma gaiola. Por amor eu te manterei na gaiola. Vou usufruir dos dízimos de teu canto, das ofertas da tua bela plumagem, e em troca te darei diariamente uma cuia de água e um punhado de alpiste e milho, muito pouco diante da alegria que você proporcionará ao ambiente do meu lar.

Engraçado... Estou dando conta de que conheço muitos Piu-Pius...

Em tempo: Já comprei a gaiola... E descobri que o Piu-Piu é fêmea! Agora, não sei se mantenho o nome, ou se abro uma enquete  para vocês me ajudarem a escolher um novo nome para ela...  Quem sabe até adquiro um macho, para formar um casal!
Em tempo 2  Hoje, 09/08/2013, comunico-vos que o casal já é pai de três periquitinhos... Assim que aprenderem a voar, vou soltar os três!

Em tempo 3: Hoje, 12/11, tentei soltá-los... Mas eles preferem a gaiola!!

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

FELICIANO DIZ QUE SE A IGREJA NÃO TEM CONDIÇÕES, DEUS USARÁ DEMÔNIOS.

Peguei no Blog do PJOTA


O vídeo que circula na Internet é parte da pregação de Marco Feliciano em um evento no sul do país denominado CLAMA SUL realizado no dia 02 de novembro. No vídeo, Marco Feliciano diz contar com o apoio de 600 terreiros de macumba e de suas entidades para continuar sendo o representante da “família brasileira”.

Até aqui, não me surpreende, afinal, as heresias, os desvios teológicos e o câncer do sincretismo religioso, são vistos comumente em todo movimento neopentecostal e seus pilares. A questão crucial fica por conta da declaração final de Feliciano que em alto e bom som declarou que Jesus disse-lhe: “...QUANDO A IGREJA NÃO SE LEVANTA E NÃO PODE, EU LEVANTO ATÉ DEMÔNIO…

Nesse momento, aqueles que estavam o ouvindo, o aplaudiram, celebrando umas das declarações mais desgraçada que já tive o desprazer de ouvir e comentar até o presente momento.

A Bíblia que tenho, leio e creio, diz: "Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.” Mateus 16:13-19.

O texto claramente nos apresenta que as portas do inferno não prevalecerão contra a igreja, visto que é edificada pelo Senhor. Ora, se a igreja está fundamentada e edificada em Cristo, por quais razão ela não se levantaria ou não poderia fazer algo a ponto que fosse necessária a ajuda de demônios?

Pois é, para nossa tristeza, a declaração de Feliciano, além de antibíblica, é diabólica, pois está atribuindo um poder maior ao inferno, como se a Igreja estivesse limitada aos poderes de demônios.

Prezado amigo, lamentavelmente parte da igreja relativizou as Escrituras e estão dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios.

Feliciano não é o único, nem o primeiro, e infelizmente não será o ultimo homem a se desviar e influenciar a apostasia em massa, cabe a nós, buscar em Deus sabedoria, conhecimento e principalmente discernimento para nos afastar de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência e consequentemente nos aproximar de Deus através da Graça, do Amor em Cristo.

Isto posto, concluo parafraseando Carlos Bregantim, a Igreja de Jesus vai muito bem, pois, ela existe nEle. Quanto às instituições religiosas e o mercado religioso, bem, estes vivem segundo as intempéries do próprio mercado, cujas regras são outras.

A Igreja de Jesus tem a ver com o Evangelho e as pessoas. As instituições religiosas e o mercado religioso tem a ver com o próprio mercado e suas regras mercadológicas e seus consumidores ou clientes.

Feliciano sabe disso, eu sei disso e muitas pessoas sabem disso. E você?

Minha oração é que Deus abençoe a todos!

Paulo Alves de Melo Júnior

O EsquiZilton acrescenta:
Em Filipos, Paulo também teve o auxílio de um demônio, que dizia a que quisesse ouvir que Paulo era homem de Deus e que pregava o caminho da salvação! Mas Paulo não aceitou tais auxílios dos demônios... O ocorrido, relatado em At 16:16-17, demonstra que os "paulos" modernos precisam, sim, da ajuda do demônio e seus asseclas!

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

COLOCANDO DEUS NA CAIXINHA

Sou um insistente. Um causador de problemas, um questionador das coisas que acontecem nas Igrejas, principalmente as neopentecostais ― ou mesmo fora delas, nos “cultos nas casas”, nos montes, nas vigílias ou nas reuniões diversas ― comparando todos os acontecimentos, ensinos e fenômenos à luz das Escrituras. Como crente reformado, creio no princípio do Sola Scriptura, creio que a fé e a vida cristã são regidas pela Bíblia. Faço parte de um grupo conhecido como “os crentes de Bereia”, que submetem todas as coisas, quer doutrinárias quer os costumes, ao crivo da Bíblia, como faziam os irmãos da região de Bereia (At 17:11) mesmo diante das palavras e ensinos de Paulo apóstolo. 

A versão moderna dos bereianos são constantemente acusados de “colocar Deus em uma caixinha”, de limitar o Seu poder e Sua forma de agir na Igreja. Afinal, Deus pode fazer tudo, como Ele quiser! Embora a Bíblia afirme que Ele age com ordem e decência, os não-bereianos afirmam que Ele faz o que quer, como quer, inclusive sem ordem e decência! 

Não há teólogo, ou crente reformado, ou mesmo neopentecostal, que tenha o poder de colocar Deus em caixas. Até mesmo os neopentecostais, quando afirmam que esta será a “segunda-feira da prosperidade financeira”, não pode limitar o poder de Deus apenas a agir na vida financeira das pessoas nas segundas-feiras! Logo, não são somente os “Reformados” que tentam limitar Deus, mas também aqueles que fazem uma verdadeira “escala” de cultos, dizendo que na Igreja Deus vai fazer isso na segunda, aquilo na terça e aquiloutro na quarta!

A única coisa que limita Deus é a Escritura. E foi Ele mesmo Quem a inspirou, e a deixou para nossas gerações, para que compreendamos a Sua Pessoa, e entendamos como Ele age em nosso meio! Deixou escrito, para que não pudéssemos nos enganar! O homem não limita Deus, pois não tem poder para isto; o próprio Deus limita Sua ação entre os homens, pela Escritura, e por amor de nós!

Não foi por acaso que Deus inspirou e preservou as Escrituras. O  livro mais amado e o mais odiado de nosso planeta precisou da Mão divina para que chegasse até nós, tendo em vista a multidão de seus inimigos que no decorrer da História tentaram aniquilá-la e arrebatá-la da mão do crente fiel. Lamentavelmente, até mesmo em arraiais “cristãos” a mesma é sistematicamente desmoralizada, e seu estudo é desestimulado, suas porções são ridicularizadas.

Entretanto, creio eu na Palavra de Deus!! Ela é inspirada por Deus, infalível, inerrante. É a revelação escrita que Ele nos deixou acerca das coisas que Ele mesmo revelou de Si. Nela, está contida toda a revelação necessária para conhecê-lO e, por meio deste conhecimento, encontrar a salvação.

A expressão “Palavra de Deus” é usada em dois sentidos na Bíblia: [1] os escritos sagrados, tanto os do Antigo como os do Novo Testamentos, [2] e a própria pessoa de Jesus. No Antigo Testamento, a Palavra de Deus foi escrita apontando para Jesus, a Palavra de Deus (Verbo) que se faria carne e habitaria entre nós. Em outras palavras, as Escrituras são a Palavra de Deus escrita, revelada ao homem; Jesus é a Palavra de Deus feita carne, cumprindo toda a Escritura da Velha Aliança e anunciando, em Si mesmo, a Nova Aliança.

Para que possamos entender como Deus se limita a Si mesmo pelas Escrituras, quero que você pense nEle agora. Em Jesus Cristo, Filho de Deus, que Se fez carne e habitou entre nós. Mas não peço que pense nEle no formato que comumente O imaginamos. Não O imagine ensinando sentado em um barquinho, ou à mesa ceando com Seus discípulos, nem na cruz agonizando por nós, nem subindo aos céus na Sua ascensão  nem sentado à destra do Pai. Quero que pense nele com dias de nascido... Alguma vez você já tentou imaginá-lO desta forma?

Quero que imagine o Criador, o Eterno, Aquele que a Escritura revela que por meio dEle tudo o que existe foi feito, e sem Ele nada foi criado, nos primeiros meses de vida. Completamente dependente. O Rei do Universo chorando, aos berros, enquanto sua mãe acorda e expõe-lhe o seio, para que Ele possa se alimentar. Quero que pense no Deus Todo Poderoso dependendo de seu pai ou mãe para ter sua fralda trocada.

Sinceramente: você já tinha pensado em Jesus desta forma? O Deus Todo Poderoso, que Se fez carne em Jesus, e passou a ser completamente limitado, sujeito às leis da criação, dependente do alimento e dos cuidados do homem? Me desculpe as palavras que uso, mas você já tinha pensado que Ele, Eterno Criador, precisou das mãos de sua mãe para se livrar de uma fralda cheia de xixi e cocô??

Por amor de nós Ele se limitou! Por muito nos amar, submeteu-se às leis físicas. Chorou, teve fome, sede, sentiu dor. Limitou-se à “caixinha” da carne, e humilhou-se até a morte, e morte de cruz! Um dia, extenuado desta limitação, Ele exclamou em desabafo: “Ó geração incrédula! até quando estarei convosco? até quando vos sofrerei ainda?” (Mc 9:19). Igualmente, por amor de nós, para que não sejamos enganados pelos falsos profetas e falsos cristos, Ele continua limitando-Se à Sua Palavra! Não é que Ele NÃO PODE fazer o que quer; Ele NÃO FAZ por amor de nós!!

Não me imagine como um chato, que insiste em colocar Deus em uma caixinha e limitar Seu poder... De jeito nenhum!! Nem eu, e nenhuma outra criatura neste Universo, por mais poder que possua, tem o poder de limitar o Eterno Senhor Todo Poderoso, exceto Ele mesmo! E Ele o fez.. Limitou-se às Escrituras, por amor a mim, e a você!

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

PEQUENAS LAGOAS, GRANDES ENGANOS

(ou, JESUS, SEU JUMENTINHO E OS JUMENTOS DA ATUALIDADE)

Certa vez, presenciei um diálogo interessante travado entre dois homens, sentados na mesa ao lado da minha em um restaurante de minha cidade. Conversavam sobre música, e em dado momento entraram no assunto da música clássica. Um deles, aparentando maior erudição e com ares de intelectualidade, em dado momento disse que Mozart e Beethoven chegaram a compor juntos, e que inclusive a ideia de Beethoven compor a sua 5ª sinfonia (aquela famosa, do TCHAN TCHAN TCHAN TCHAN!!) foi dada por Mozart. Ri discretamente, pois sabia com quase absoluta certeza que os dois grandes compositores não tinham sido contemporâneos... Em casa, com o auxílio da internet, pude comprovar mais detalhes desta desinformação...  Mozart viveu entre 1756 e 1781, ao passo que Beethoven viveu entre 1770 e 1827. Logo, se os dois chegaram a travar algum diálogo, foi no máximo quando Beethoven tinha apenas 11 anos de idade... Entretanto, ele só se mudou para Viena, cidade aonde vivia Mozart, em 1791, após a morte deste, que se deu dez anos antes...

O que mais me chamou a atenção foi a firmeza da informação dada pelo homem que se dizia conhecedor da história da música clássica. Deu até certa impostura na voz para ganhar mais credibilidade! E é muito provável que o segundo homem da conversa tenha saído convencido da informação prestada pelo instruído amigo, e que passe esta informação adiante...

No âmbito da teologia e da doutrina cristãs, a coisa não é muito diferente... Temos muitas pessoas em nosso meio que pegam informações de terceiros, de fontes não confiáveis, e passam esta informação adiante, como se fora a mais sublime das verdades.

O assunto de que me refiro foi uma entrevista dada por alguns integrantes da família Valadão, que ganhou espaço nos blogs e nas redes sociais com debates acalorados, defesas apaixonadas e coisas assim. Segundo eles, Jesus foi um homem rico, vestia-se de roupas finas e caras, possuía uma grande casa em Jerusalém e andava de jumento, um animal que na época correspondia a um BMW, um carro de luxo dos nossos dias. José e Maria, pais do Senhor, também eram ricos, pois José era um carpinteiro bem sucedido, e a carpintaria equivaleria, nos dias de hoje, à engenharia....

Estas informações, lamentavelmente, podem ser perfeitamente comparadas ao diálogo sobre música clássica que presenciei... Sem fundamento ─ ou pelo menos sem qualquer fundamento bíblico.

A origem desta ideia é da chamada “Teologia da Prosperidade”, mais precisamente  de um pregador americano chamado Kenneth Hagin, um dos seus expoentes. Ele disse em seu livro A AUTORIDADE DO CRENTE (p. 32): “Muitos crentes confundem humildade com pobreza. Um pregador certa vez me disse que fulano possuía humildade, porque andava num carro muito velho. Repliquei: ‘Isso não é ser humilde ─ isto é ser ignorante’. A ideia que o pregador tinha de humildade era a de dirigir um carro velho. Um outro observou: ‘Sabe, Jesus e os discípulos nunca andaram num Cadillac’. Não havia Cadillac naquela época. Mas Jesus andou num jumento. Era o ‘Cadillac’ da época ─ o melhor meio de transporte existente”. Já a afirmativa de que Jesus tinha uma casa em Jerusalém pertence a John Avanzini, outro expoente da citada “Teologia”, que afirma que Jesus e os apóstolos eram ricos. “Não consigo identificar onde essas tradições bobas entraram, porém a mais estúpida de todas é a de que Jesus e seus discípulos eram pobres. Nada existe na Bíblia que dê base a esta afirmação [...] Jesus tinha uma grande e bela casa em Jerusalém” (AVANZINI, Citado em H. HANEGRAAFF, Cristianismo em Crise, Rio de Janeiro, CPAD, 1996, p. 202). Do Cadillac para o BMW, foi só uma adaptaçãozinha lacustre...

Gostaria de deixar alguns comentários acerca do assunto em pauta...

Em primeiro lugar, informações precisam ser devidamente checadas antes de serem passadas adiante, senão poderemos ser chamados de divulgadores de inverdades, mesmo que as façamos com a melhor das intenções. Conheço pessoas que afirmam que existem 365 vezes na Bíblia a expressão “não temas”, mas qualquer pessoa que tenha uma Bíblia eletrônica em seu computador pode fazer uma pesquisa e constatar que nem 100 vezes tal expressão é repetida no texto sagrado! Por melhor que seja a intenção de quem divulga tal dado, trata-se de uma inverdade. A mentira, mesmo quando apresentada para o bem, não deixa de ser mentira, e o cristão deve ter compromisso com a verdade!

Não podemos acreditar em tudo o que ouvimos sem nos darmos ao trabalho de checar a informação, principalmente no âmbito da doutrina e da teologia. Era isto que os crentes de Beréia faziam, e por este zelo em confirmar as informações nas Escrituras foram elogiados: Ora estes [judeus de Beréia] foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, EXAMINANDO CADA DIA, NAS ESCRITURAS, SE ESTAS COISAS ERAM ASSIM (At 17:11 – colchetes e grifos meus). Portanto, antes de disseminar uma ideia de Kenneth Hagin, John Avanzini, do seu pastor ou de quem quer que seja, até mesmo uma ideia MINHA, a obrigação de qualquer cristão é de verificar na Bíblia se as coisas são mesmo assim. Portanto, vamos verificar juntos...

Jesus não era rico ─ ou pelo menos não há nenhuma referência bíblica que indique isto. Ele mesmo chamou a atenção para o perigo das riquezas, e seria um grande hipócrita se, sendo rico, falasse contra a riqueza! Paulo afirma que Ele, o Senhor, “...sendo rico, por amor de vós se fez pobre, para que pela sua pobreza enriquecêsseis” (2 Co 8:9). Se Ele fosse tão rico como apregoam os expoentes da prosperidade, como precisava de mulheres abastadas que financiassem Seu ministério (Lc 8:1-3)? Por que então Ele não sacou de sua própria bolsa as didracmas de seu imposto, mas mandou Pedro pescar um peixe e recolher uma moeda de suas entranhas para fazer tal pagamento (Mt 17:24-27)?

Os pais de Jesus não eram ricos. A maior prova disto é que, na apresentação de Jesus por ocasião de sua circuncisão ao oitavo dia de vida, eles trouxeram a oferta do pobre prevista na Lei de Moisés. Vejamos: “E, quando os oito dias foram cumpridos, para circuncidar o menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, que pelo anjo lhe fora posto, antes de ser concebido. E, cumprindo-se os dias da purificação, segundo a lei de Moisés, o levaram a Jerusalém, para o apresentarem ao Senhor (Segundo o que está escrito na lei do Senhor: Todo o macho primogênito será consagrado ao Senhor); E para darem a oferta segundo o disposto na lei do Senhor: UM PAR DE ROLAS OU DOIS POMBINHOS.” (Lc 2:21-24 – grifos meus). Comparemos com o texto da Lei: “E, quando forem cumpridos os dias da sua purificação, por filho ou por filha, trará um cordeiro de um ano por holocausto, e um pombinho ou uma rola para expiação do pecado, diante da porta da tenda da congregação, ao sacerdote, o qual o oferecerá perante o Senhor, e por ela fará propiciação; e será limpa do fluxo do seu sangue; esta é a lei da que der à luz varão ou fêmea. MAS, SE SUAS POSSES NÃO LHE PERMITIREM TRAZER UM CORDEIRO [OU SEJA, SE FOR POBRE], ENTÃO TOMARÁ DUAS ROLAS, OU DOIS POMBINHOS, um para o holocausto e outro para a expiação do pecado; assim o sacerdote, por ela, fará propiciação, e será limpa” (Lv 12:6-8 – grifos e colchetes meus). Por que José e Maria, sendo ricos (como afirmam os “expoentes da TP) deram a oferta dos pobres?

Em momento algum a Bíblia menciona que Jesus era dono de algum jumento, embora a Escritura também não diga que não era. Mas dá uma dica: quando o Mestre precisou de um jumento para entrar em Jerusalém, tomou-o emprestado (Mt 21:1-5). O próprio profeta que profetizou a vinda do Messias montado em um jumento dá testemunho de sua pobreza, ao afirmar: “Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis que o teu rei virá a ti, justo e Salvador, POBRE, e montado sobre um jumento, sobre um asninho, filho de jumenta” (Zc 9:9 – grifo meu).

Qualquer pessoa de bom senso e equilíbrio saberá que, mesmo considerando os tempos de Jesus, não dá para comparar um jumento como uma BMW dos dias atuais. Os ricos não andavam de jumento, e sim de carruagens (At 8:26-28). No máximo, forçando muito a barra, poderíamos comparar o jumento a um fusquinha 1966... E repetimos: o jumento era emprestado!

Em relação à grande e luxuosa casa que pertencia a Jesus em Jerusalém, não sabemos de onde se tirou esta informação, já que não está na Bíblia... À vista desta afirmativa, não entendemos duas coisas: primeiro, porque Jesus solicitou emprestado um cenáculo em Jerusalém para realizar a sua última ceia com os seus discípulos (Mateus 26.17-19), já que Ele possuía esta bela e grande casa e poderia muito bem fazer esta última reunião no conforto do Seu lar? Segundo, com que base bíblica (ou mesmo extrabíblica) Avanzini e os demais “profetas da prosperidade” afirmam isto com tanta convicção? Alguma “revelação” do alto??

Não estou aqui para denegrir qualquer pessoa, principalmente os membros da família citada, nem a Igreja onde são membros. Estou aqui para combater a disseminação do erro na Igreja do Senhor Jesus, principalmente o  joio nocivo da “teologia da prosperidade”. Estou aqui para aconselhar a todos, envolvidos ou não nesta infeliz entrevista, que não disseminem doutrinas estranhas na Igreja do Senhor, não acrescentem às Escrituras o que lá não está, não se ponha debaixo de maldição ao alterar a Bíblia e assim ensiná-la aos pequeninos do Senhor (Mt 5:19; Ap 22:18-19). Antes de abrir sua boca para difundir qualquer doutrina, revelação ou modismo a Igreja, veja se as Escrituras concordam com o que você vai ensinar!

Não estou aqui para afirmar que Jesus era miserável, mendigo. A Bíblia não afirma isto, da mesma forma que não afirma que Ele e os seus apóstolos eram ricos.

sábado, 28 de setembro de 2013

NÃO, CAIO FÁBIO, JESUS NÃO É SUA CHAVE HERMENÊUTICA!

Texto do Yago Martins, coletado de seu BLOG.


Nas primeiras vezes que eu li o texto da Grande Comissão e vi Cristo dizendo que deveríamos ensinar os discípulos a obedecer tudo o que Ele ordenou, eu fiquei me perguntando onde o resto do Novo Testamento entrava nisto. Não bastaria ficarmos com aquilo que Cristo falou, e só? Se temos os ensinos do próprio Deus-Filho registrados, para que mais palavras de homens mortais? Com pouco tempo de fé, pude encontrar boas respostas para meus questionamentos infantis. Porém, muitas pessoas ainda estão confundidas com este assunto. Um exemplo de promotor deste tipo de confusão é Caio Fábio, que hoje tem arrebanhado para sua religião muitos seguidores e fiéis:
Eu estou em Jesus, eu não estou na Bíblia. [...] O cara que quiser que Jesus e a Bíblia toda deem certo tá danado. [...] Pela Bíblia é melhor a gente acabar esse programa porque está todo mundo danado. [...] eu não ando [conforme o texto bíblico], tanto quanto Jesus [...]. Quem quer andar com Jesus, é assim. Quem quer base bíblica, vira fariseu, joga pedra.[1]
Em outro lugar, Caio Fábio diz que aquilo na Escritura que não está afirmando ou que 1. Jesus é Deus, ou que 2. somos pecadores, não passa de capricho ignorando pelo Cristo:

É estranho como Jesus e os apóstolos não usaram a Bíblia como argumento de fé [...] Afinal, a Bíblia jamais seria a apologia de Jesus; posto que Jesus fosse o Verbo vivo e falando o que a Bíblia nem poderia sonhar em falar, revelar e dizer… Cristãos que vivem para defender a Bíblia ainda não conheceram Jesus mesmo! [...] Da Bíblia o que se pode dizer é que ela é fiel como Palavra apenas porque afirma que Jesus é Deus e eu sou dos pecadores o principal! O mais é um diletantismo ao qual Jesus jamais teria tempo e animo para se dar… Depois que o Evangelho entrou em mim a Bíblia passou a ser apenas um Testemunho, mas não o Testemunho! Sim, pois em mim o Testemunho é o do Espírito! [2]

Em outro momento, concordando que o Jesus dos evangelhos não se parece nada com o Jesus que Paulo apresenta em Romanos 9-11, chamando esta posição de “simples, sábia e sensata”, Caio Fábio diz que estes capítulos são “um apêndice de um surto paulino” que não se parece com nenhum outro escrito ou com a prática de Paulo. “Na minha opinião, Romanos 9, 10 e 11 são totalmente dispensáveis. Sabe porque? A descrição de Paulo, tentando explicar o inexplicável, criou uma bananosa filosófica”. Ele ainda diz que as palavras negativas do texto, como “odiou”, não cabem, pois “não parecem com o todo de Jesus”. “Eu prefiro ficar com Jesus, que não sendo Paulo”, pregou coisas diferentes. “Isso é o poder dessa chave hermenêutica”, diz ele. ”Meu amigo Paulo, eu lamento muito que você tenha tentado fazer essa viagem. Você não tinha nem linguagem. Você não tinha adequação”. ”É uma conversa que tem a ver com a dimensão de um homem judeu, psicologicamente maltratado, frustrado, perseguido, magoado”. Ele diz que vê, neste texto, “o surto do Paulo judeu”. Ele chama ainda, esta atitude de Paulo de uma “gafe” que empobreceu e enfeiou Deus. “quando Paulo coincide com Jesus, Paulo tá com tudo, quando Paulo fala como Paulo, eu olho um homem, um tempo, uma relatividade, uma circunstância”. Ele, literalmente, lança várias repreensões e conselhos ao apóstolo Paulo em vários momentos do vídeo [3].

A prerrogativa que ele e seus discípulos usam para tal posição é que eles possuem Jesus como chave-hermenêutica. Para eles, isso significa que só deve ser aceito como verdade Bíblica aquilo que for semelhante à imagem que eles possuem de Cristo. Se qualquer outro trecho da Escritura ensinar algo que, porventura, não pareça pertencer ao Cristo, então deve ser considerado anátema.


O que Caio Fábio e seus pupilos não conseguem perceber é que ter Jesus como nossa chave hermenêutica significa que nós vamos ler toda a Escritura procurando como cada ensino, cada doutrina e cada livro se relaciona com o Plano maior de Deus na redenção de Cristo, e não que vamos solapar tudo aquilo que não gostamos na Escritura com a desculpa de que “Jesus não pregaria isso”. Assim, uma constatação torna-se inegável: praticamente todos que advogam ter Jesus como chave hermenêutica são ímpios que leem a Escritura desconsiderando tudo aquilo que suas mentes carnais odeiam. Você encontra esta loucura nos blogs e comentários de tais homens. Ter Cristo como chave hermenêutica deveria nos motivar a encontrar como a história do Evangelho está prefigurada, confirmada, anunciada, ilustrada ou ensinada em cada página da Bíblia, e não nos fazer arrancar da Escritura tudo aquilo que a gente acha que Jesus não diria. Aqueles que dizem que as palavras de Jesus são mais importantes que as de Paulo, não entenderam as palavras de Jesus.


Eu, sinceramente, não entendo como uma pessoa inteligente pode cair em erro tão crasso. A igreja está fundamentada na doutrina dos Apóstolos (Ef 2:20). Nós não vimos Jesus pessoalmente, eles sim. Por isso que Pedro e João podiam falar sobre “as coisas que vimos e ouvimos”, pois eles estavam lá, e atestaram com sangue o que pregaram. Assim, como alguém comentou no meu Facebook certa vez, só pode ser um louco aquele que cisma em separar o ensino Bíblico do ensino de Jesus, a autoridade bíblica da autoridade de Jesus e a visão bíblica da visão de Jesus. Os discípulos precisam de toda a Escritura, e não de parte dela. É um verdadeiro insulto a Jesus dizer que nada, a não ser parte do que foi registrado de Sua Revelação ao longo da história bíblica – a encarnação – vale a pena considerar como Palavra do Senhor. É como se dissessem que amam tanto suas esposas que não se importa com as mães, amigos, família, conversa ou qualquer coisa que não seja ela própria. Estes caem na condenação de Jesus, através de Paulo, quando condena aqueles que, dizendo ser apenas de Cristo, se recusavam a ouvir o que diziam os apóstolos (ver 1 Co 1:10-17).


Cristo prometeu aos seus apóstolos não apenas que o Espírito Santo os faria “lembrar de tudo o que vos tenho dito” (Jo 14:26), mas também que o Espírito Santo “vos ensinará todas as coisas” (Jo 14:26) e “vos guiará a toda a verdade” (Jo 16:13). Os apóstolos receberam de Cristo, através do Espírito, mais daquilo que o Senhor desejou que soubéssemos. O próprio Jesus deixou claro que ensinaria mais aos Apóstolos mesmo após Sua morte e ascensão. Paulo deixa isso claro aos Gálatas: “Irmãos, quero que saibam que o evangelho por mim anunciado não é de origem humana. Não o recebi de pessoa alguma nem me foi ele ensinado; pelo contrário, eu o recebi de Jesus Cristo por revelação” (Gl 1:11-12). É por isso que o apóstolo Pedro podia dizer que “o mandamento do Senhor e Salvador” foi “ensinado pelos vossos apóstolos” (2 Pe 3:2), além de dizer que os escritos de Paulo estavam equiparados com todo o Antigo Testamento, chamando-os de “Escritura” (2 Pe 3:16). Paulo podia dizer: “Se alguém se considera profeta ou espiritual, reconheça ser mandamento do Senhor o que vos escrevo” (1 Co 14.37). O apóstolo agradecia a Deus sem cessar pelos Tessalonicenses: “ao receberem de nossa parte a palavra de Deus, vocês a aceitaram não como palavra de homens, mas segundo verdadeiramente é, como palavra de Deus” (1 Ts 2:13). Paulo ensinava “não com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito” (1 Co 2:13). Paulo não poderia ser mais claro: “Cristo fala por meu intermédio” (2 Co 13:3).


Outros livros também entram neste escopo. O próprio Paulo, em 1 Timóteo 5:17,18 diz fazer uma citação da “Escritura”, e segue fazendo duas referências: uma a Deuteronômio 25:4 e outra a Lucas 10:7 (usando até o mesmo fraseado grego)! Para o apóstolo, os escritos neotestamentários dos evangelhos também eram Palavra de Deus. Tanto os Evangelhos como as Epístolas no Novo Testamento vêm a nós com a autoridade de Jesus, e Ele quer que nós ensinemos essas coisas aos discípulos.


“Somos seguidores de Cristo ou de Paulo?”, podem perguntar alguns. “Como podemos seguir o ensino de outros homens além de Jesus?”, já me foi questionado. Respondo, com sinceridade, que Cristo é meu único Senhor. No entanto, tudo o que sabemos sobre Cristo vem de Paulo e dos outros discípulos de Cristo. Se não acreditarmos nestes, não nos sobra nada dAquele. Como alguém pode dizer que só segue Jesus, e não os apóstolos, se todos os registros que possuímos sobre Jesus provêm dos apóstolos e de seus companheiros? Cristo nunca escreveu sobre si. Tudo o que temos sobre Ele passou pela mão de seus discípulos primitivos.


Crer em Jesus está definitivamente ligado a crer nos Apóstolos e em seus companheiros. Se você não acredita na doutrina de Paulo, de Tiago, de Pedro, de Lucas, de Marcos, de Mateus, de João e de Judas, como você pode acreditar nos registros que alguns deles fizeram do Messias? Se Paulo disse algo em Romanos ou aos Coríntios que foi fruto de seus preconceitos ou de sua criação judaica, por que ele não poderia ter feito o mesmo ao instruir Lucas em seu registro do Evangelho? Se Pedro não é digno de toda a nossa confiança, ou se sua doutrina é inferior ou secundária, como podemos dar tanta atenção àquilo que Marcos aprendeu dele e registrou no Evangelho? Se Tiago poderia errar, por que não Mateus? Se João se enganou em suas epístolas ou no Apocalipse, por que acreditamos em seu registro da vida do Logos? A verdade que muitos tolos ignoram é que, ou você aceita o Novo Testamento por completo, até a última letra, ou você não tem Jesus, não tem cristianismo, não tem Bíblia, não tem fé e não tem salvação. Ou temos o Novo Testamento por completo ou não temos Testamento nenhum.


Deve-se admitir, então, que se vamos ter uma religião não doutrinária, ou uma religião doutrinária fundamentada meramente em verdades gerais, isso significa que não somente temos que nos livrar de Paulo, da igreja primitiva de Jerusalém, mas também de Jesus:


Infelizmente, ainda há, em pleno século XXI, quem tente opor Jesus aos outros escritores bíblicos. Como disse Gresham Machen, tem-se a impressão que o liberal substitui a autoridade da Bíblia pela autoridade de Cristo. Tal homem diz que não pode aceitar o que ele considera um ensino imoral do Antigo Testamento ou um argumento sofisticado de Paulo, em oposição os simples e morais ensinos de Jesus. Assim, ele se considera o mais puro verdadeiro cristão, uma vez que, rejeitando todo o restante da Bíblia, ele só depende de Cristo[4].


Paulo deixa claro que as suas epístolas também são coisas que Jesus agora nos ordena, de tal modo que “aquele que rejeita estas coisas não está rejeitando o homem, mas a Deus” (1 Ts 4:8). Você entendeu bem o que acabou de ler? Você nega a Deus se ignora todo o escopo do Novo Testamento! Como comenta Thomas Edwards: “Quem se recusa a ouvir os apóstolos de Cristo recusa-se a ouvir o próprio Cristo e atrai sobre si seu descontentamento”[5]. Homens como Caio Fábio e sua corja, que tratam o que é revelado após Jesus como contaminado com o machismo, judaísmo ou o diabo que for de Paulo estão, na verdade, negando a Deus. O destino dos que tal coisa fazem é certo e inequívoco, a menos que se arrependam de sua blasfêmia. Parafraseando o que o Dr. Jay E. Adams diz sobre Paul Tillich, durante uma das suas preleções na Conferência Fiel para Pastores e Líderes, em 1989: “Ler ou ouvir um sermão de Caio Fábio é ouvir o que o inimigo tem a dizer”[6].


[1] FÁBIO, Caio. Pra eles, sou um herege, pois eles estão na bíblia, e eu estou em Jesus! Disponível em: <http://youtu.be/GuCjSuACYMc>. Acesso em: 3 jun. 2013.
[2] FÁBIO, Caio. A Bíblia serve a Jesus, não Jesus à Bíblia! Disponível em: <http://www.caiofabio.net/conteudo.asp?codigo=05222>. Acesso em 5 jun. 2013.
[3] FÁBIO, Caio. Caio, esse trecho da carta de Paulo não parece com Jesus. Por isso odeio a Jesus! Disponível em: <http://vimeo.com/75018092>. Acesso em 28 set. 2013.
[4] MACHEN, Gresham. Cristianismo e Liberalismo. São Paulo, SP: Sheed Publicações, 2012, p. 43,68.
[5] EDWARDS, Thomas. A commentary on the first epistle to the Corinthians. London: Hodder & Stoughton, 1903, p. 384.

[6] Referência muito bem lembrada por Alan Rennê Alexandrino Lima, no Facebook.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O EVANGELHO DOS BEM INTENCIONADOS

Ou, como dizia a minha avó, "DE BOAS INTENÇÕES, O INFERNO ESTÁ CHEIO!"

Davi, homem segundo o coração de Deus, cometeu muitos e gravíssimos erros em sua vida. E a Escritura não os oculta, para que possamos aprender com os erros dele, não os repetindo nos dias atuais.

Gostaria de analisar um deles, bem grave... Por causa deste pecado, um homem perdeu a sua vida...

Não, não... Não é o adultério com Bate-Seba... E nem o assassinato de Urias... 

"Ajuntou, pois, Davi, a todo o Israel, desde Sior do Egito até chegar a Hamate, para trazer a arca de Deus de Quiriate-Jearim ... E levaram a arca de Deus sobre um carro novo, da casa de Abinadabe: e Uzá e Aiô guiavam o carro .. E, chegando à eira de Chidon, estendeu Uzá a sua mão, para ter mão na arca; porque os bois tropeçavam. Então se acendeu a ira do Senhor contra Uzá, e o feriu, por ter estendido a sua mão à arca: e morreu ali perante Deus. E Davi se encheu de tristeza de que o Senhor houvesse aberto brecha em Uza ... Assim ficou a arca de Deus com a família de Obede-Edom, três meses, em sua casa: e o Senhor abençoou a casa de Obede-Edom, e tudo quanto tinha ... Então disse Davi: Ninguém pode levar a arca de Deus, senão os levitas; porque o Senhor os elegeu para levar a arca de Deus, e para o servirem, eternamente ... E chamou Davi os sacerdotes Zadoque e Abiatar, e os levitas Uriel, Asaias, Joel, Semaias, Eliel, e Aminadabe e disse-lhes: Vós sois os chefes dos pais entre os levitas: santificai-vos, vós e vossos irmãos, para que façais subir a arca do Senhor, Deus de Israel, ao lugar que lhe tenho preparado. Pois que, porquanto primeiro vós assim o não fizestes, o Senhor fez rotura em nós, PORQUE NÃO O BUSCAMOS SEGUNDO A ORDENANÇA. Santificaram-se, pois, os sacerdotes e levitas, para fazerem subir a arca do Senhor, Deus de Israel. E os filhos dos levitas trouxeram a arca de Deus aos ombros, COMO MOISÉS TINHA ORDENADO, CONFORME A PALAVRA DO SENHOR, com as varas que tinha sobre si." - 1 Cr 13:5-14; 15:2-15 - grifos meus). 

A história é conhecida... Davi, em sua boa vontade de trazer a Arca do Senhor para Jerusalém, a trouxe em lombos de boi, conduzida por Aiô e Uzá. Com o tropeço dos bois e a queda iminente da Arca, Uzá, CHEIO DE BOAS INTENÇÕES, estendeu a mão para apará-la e não permitir que fosse ao chão. Entretanto, o Senhor o matou por tocar na Arca...

Já dizia a minha avó: "de boas intenções, o inferno está cheio"!

Então Davi foi à Escritura e descobriu que Deus DEIXOU CLARO, escrito, para que não se cometessem erros, como Ele deveria ter a Sua Arca conduzida... Então, resolveu ele mais uma vez trazer a Arca, mas desta vez FAZENDO A COISA CERTA: deixando a condução da mesma sob os cuidados dos sacerdotes e levitas, CONFORME ESTAVA ESCRITO. 

Davi é chamado na Escritura de "homem segundo o coração de Deus"; e não é chamado assim por ser perfeito, mas por ter seu coração inclinado a reconhecer seus erros e se arrepender! Ele chegou à seguinte conclusão: "o Senhor fez rotura em nós, PORQUE NÃO O BUSCAMOS SEGUNDO A SUA ORDENANÇA" (1 Cr 15:13). Davi descobriu o segredo de como se deve servir ao Senhor: de acordo com o que ELE MESMO ordenou que fizéssemos!!

Como rei em Israel, Davi comandava o povo. Partiu dele a condução errada da Arca do Senhor. E por causa de seu erro, a vida de Uzá foi ceifada, mesmo com a melhor das intenções em ambas as partes: Davi queria trazer a Arca para Jerusalém, e Uzá queria preservá-la da queda. Ambos estavam errados, e com estes erros aprendemos que por causa de um erro do líder, o povo cai.

Jesus ensinou que um cego não pode guiar outro cego, senão para o buraco (Lc 6:39), ou seja um errado não pode conduzir ninguém, pois estando errado inexoravelmente o levará para o erro! Assim, o seu líder ou pastor pode estar muito bem intencionado em te conduzir ao céu, mas se ele, como Davi, segue suas próprias conclusões, e não o que a Escritura ensina, não é ao céu que ele chegará, e com ele seus seguidores!

Eu sei da sua boa intenção de servir a Deus. Provavelmente, seu líder espiritual também é um bem intencionado... Mas nenhuma boa intenção é suficiente! Sirva a Deus conforme Ele mesmo determinou através da Sua Palavra. Não tente reinventar a roda!! NÃO INVENTE novas e extravagantes formas de adorá-lO, não invente liturgias!...  Ele, Deus, já deixou tudo escrito!!Cuidado com o "servir a Deus do seu jeito". Ele só aceita DO JEITO DELE... E você encontra O JEITO DELE na BÍBLIA!! Não na sua cabeça, ou nos seus gostos pessoais, ou nos meus!!! E não se esqueça que estamos na NOVA ALIANÇA!! Guie-se, em seu serviço a Deus, pelo Novo Testamento! Não tente restaurar rituais antigos, da antiga aliança, que foi completamente cumprida em Cristo.

"Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam, E NÃO QUEREIS VIR A MIM para terdes vida. Não cuideis que eu vos hei-de acusar para com o Pai. Há um que vos acusa, Moisés, em quem vós esperais. Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele. Mas, se não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?"  (Jo 5:39-47).

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

LENÇOS E AVENTAIS

Levantou-se um questionamento provocado por um dos meus artigos, mais precisamente UNÇÃO COM ÓLEO, que trata sobre a prática de ungir não só enfermos, mas qualquer pessoa. Respeitosamente, fui perguntado (já que o texto pode dar a entender que não creio na unção com óleo) acerca de objetos "ungidos" citados pela Bíblia. O texto em questão é:

"E Deus, pelas mãos de Paulo, fazia maravilhas extraordinárias, de sorte que até os lenços e aventais se levavam, do seu corpo, aos enfermos, e as enfermidades fugiam deles, e os espíritos malignos saíam" (At 19:11-12).

Um dos questionamentos levantados foi se estes lenços e aventais não seriam "ungidos"... E aí??

Primeiramente, quero deixar claro (mais uma vez!) que sou Pentecostal, não cessacionista, 100% adepto do SOLA SCRIPTURA. Creio na cura divina. Creio no dom espiritual de CURAS (1 Co 12:9b), mas 
creio que, a despeito de possuir ou não este dom espiritual, QUALQUER CRENTE pode orar pelos enfermos, e que Deus, por Sua misericórdia e de conformidade com a Sua vontade, pode curar qualquer doença, de uma simples dor na unha até um câncer em estado terminal (e isto até cessacionistas também creem)! Creio na unção com óleo, restrita AOS ENFERMOS e ministrada unicamente pelos PRESBÍTEROS, o que pode ser visto no artigo citado acima. Ou seja, creio naquilo que a Bíblia prescreve. Somente. E mais nada! Não creio nas invenções humanas de sair ungindo tudo, pessoas, animais e objetos, indiscriminadamente, fora do que a Escritura prescreve e orienta.

Segundo, quero parabenizar ao irmão (que não citarei seu nome, por questões éticas) pela educação com que se dirigiu a mim em seu justo questionamento, e pelo seu interesse bereiano de contestar, julgar, inquirir e prescrutar qualquer ensino à luz das Escrituras. Isto é bíblico, e louvável (At 17:11). Que o amado continue assim, e que outros se inspirem em sua conduta, e façam o mesmo!

Isto posto, voltemos ao caso!

O texto bíblico em questão retrata o poder do Espírito Santo na vida dos Apóstolos. Tal poder emanava de tal forma que lenços e aventais usados por Paulo ERAM LEVADOS AOS ENFERMOS, e a simples presença do tecido, ou o colocar do tecido sobre os enfermos e endemoninhados (suposição, visto que o texto não afirma tal at
itude), trazia-lhes a cura e a libertação. Isto é fato. Está narrado nas Escrituras, e não pode ser absolutamente questionado.

Entretanto, alguns detalhes devem ser apresentados, para que não haja dúvida sobre o ocorrido, e se o mesmo era prática comum na Igreja, se era tratado como norma de conduta na Igreja Primitiva.


Em primeiro lugar, o livro de Atos é um livro histórico, e não uma epístola doutrinária, de sorte que não vemos nestas práticas razão para doutrina. Muitos tomam certas passagens do livro de Atos e estabelecem doutrina, como por exemplo "o conselho de Gamaliel", relatado em Atos 5:34ss.
"Mas, levantando-se no conselho um certo fariseu, chamado Gamaliel, doutor da lei, venerado por todo o povo, mandou que, por um pouco, levassem para fora os apóstolos, e disse-lhes: Varões israelitas, acautelai-vos a respeito do que haveis de fazer a estes homens, porque antes destes dias, levantou-se Teudas, dizendo ser alguém: a este se ajuntou o número de uns quatrocentos homens; o qual foi morto, e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos e reduzidos a nada. Depois deste, levantou-se Judas, o galileu, nos dias do alistamento, e levou muito povo após si; mas, também, este pereceu, e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos. E agora, digo-vos: DAI DE MÃO A ESTES HOMENS, E DEIXAI-OS, porque, SE ESTE CONSELHO E ESTA OBRA É DE HOMENS, SE DESFARÁ, MAS SE É DE DEUS, NÃO PODEREIS DESFAZÊ-LA, PARA QUE NÃO ACONTEÇA SERDES TAMBÉM ACHADOS COMBATENDO CONTRA DEUS. E concordaram com ele" (At 5:34-40 - grifos meus).

De acordo com Gamaliel, douto fariseu, qualquer grupo que não pudesse ser detido era sinal da aprovação de Deus. Ora, Gamaliel não era nem crente! Assim, como levar uma palavra dita por um incrédulo como fonte de de doutrina? Como entender que alguém só poderia doutrinar se falasse pelo Espírito Santo, enquanto Gamaliel, não cristão, não tinha o Espírito? Trata-se, portanto, de uma NARRATIVA. Assim como a Bíblia relata até as palavras de satanás, ou de homens maus como Pilatos, Herodes e outros mais, também relatou as palavras de Gamaliel, JAMAIS dando a elas qualquer status de palavras divinas.

Ademais, o que dizer de falsas seitas que crescem a olhos vistos, até mais que o Evangelho verdadeiro, e que nunca puderam ser detidos, à luz do conselho de Gamaliel, como Espíritas. Mórmons, Testemunhas de Jeová, Budistas. Muçulmanos etc?
 Todas estas são campeãs de crescimento, nunca foram detidas, mas nem por isso têm a aprovação divina... Ou tem???

Outro exemplo de "doutrina" extraída de Atos é o "batismo em nome de Jesus". Algumas igrejas, mormente as Unicistas (que não creem na Trindade) não batizam de conformidade com a fórmula disposta em Mateus 28:19 por interpretarem erroneamente os textos de Atos que supostamente ensinam uma fórmula batismal "em nome de Jesus". Entretanto, os escritos dos pais da Igreja demonstram que a Igreja Primitiva NUNCA usou fórmula batismal diferente da que foi prescrita pelo próprio Senhor no evangelho de Mateus.

Repetimos: o livro de Atos NÃO É DOUTRINÁRIO, nas narrativo. Apenas conta a história da Igreja no 1º Século, sem se preocupar em prescrever doutrina.


Em segundo lugar, QUAL ERA O CONTEXTO SÓCIO-RELIGIOSO DA COMUNIDADE EM QUESTÃO? Analisemos o próprio texto bíblico, sem esquecermos de ANALISAR O CONTEXTO!!

Os fatos em questão se passaram em Éfeso, região extremamente mergulhada em misticismo e idolatria, adoradores da deusa Diana (ou Artemis). A continuação da leitura do capítulo deixa muito bem transparecer esta condição espiritual:

"E muitos dos que tinham crido vinham, confessando e publicando os seus feitos. Também muitos dos que seguiam artes mágicas trouxeram os seus livros, e os queimaram na presença de todos, e, feita a conta do seu preço, acharam que montava a cinquenta mil peças de prata. Assim a palavra do Senhor crescia poderosamente e prevalecia" (Atos 19:18-20). 
O que vemos no texto imediatamente posterior da narrativa acerca do uso dos lenços e aventais é que se tratava de uma comunidade imersa em feitiçarias e práticas ocultistas. Ou seja, a prática de levar tais lenços e aventais muito provavelmente adveio da sua cultura ocultista e animista. Não nos parece, absolutamente, uma boa ideia mesclar a doutrina cristã da cura com práticas pagãs!

Em terceiro lugar, observamos pelo texto em questão (At 19:11-12) que os enfermos não iam à Igreja BUSCAR tais lenços e aventais; era algo que as pessoas levavam até eles, a pedido do enfermo ou por sua própria iniciativa, já que almejavam a cura e libertação do amigo ou parente. O texto parece-me muito mais nos mostrar [1] pessoas doentes, impossibilitadas de ir à Igreja buscar cura ou [2] pessoas não cristãs, que deliberadamente não iam à Igreja, e por estes motivos seus parentes cristãos levavam tais peças de vestuário às suas casas.

Em quarto lugar, em momento algum, em lugar algum, a Escritura afirma que estes lenços e aventais passavam por qualquer "unção" com óleo, ou que os apóstolos oravam sobre eles, impunham-lhes as mãos ou promoviam qualquer ritual com o intuito de transferir-lhes poderes de cura. 

Em quinto lugar, tais lenços e aventais eram levados MAS NÃO ERAM VENDIDOS pelos apóstolos ou por qualquer outro representante da Igreja! Ou seja, não havia comércio dos lenços ou dos aventais ungidos, como acontece clara e abertamente nos dias de hoje. Os Apóstolos levavam a sério o princípio do "de graça recebestes, de graça dai" (Mt 10:8). Tomemos como exemplo o caso de Simão, o mágico, que tentou comprar o poder do Espírito Santo, e foi severamente repreendido por Pedro (At 8:18-24).

Não podemos jamais dizer que Deus não age através de um lenço ou avental. Mas também não podemos dizer que tais curas, ocorridas com a "ajuda" de objetos, seja algo divino. Conhecemos inúmeros casos de curas através deste expediente, mas tais curas NÃO SÃO privilégio das "igrejas evangélicas". Já vimos católicos, e até candomblecistas, serem curados através de objetos, o que nos mostra o poder curativo da sugestão. A cura não significa a aprovação divina!

Observemos alguns pontos importantes sobre o uso de aventais e lenços...

[1] Os lenços e aventais de Paulo não eram "ungidos". Eram peças de seu uso pessoal, que sem qualquer unção com óleo eram levados aos enfermos. Paulo não os usava com a intenção de enviá-los aos doentes (pelo menos, o texto bíblico nada afirma sobre isso), como muitos "curandeiros" fazem nos dias de hoje.

[2] Os lenços e aventais não eram vendidos! Não há nas Escrituras NENHUM relato de venda de qualquer objeto que emanasse poder! Se eu estiver errado, que me apresentem textos bíblicos relatando algum objeto sendo vendido, tendo da boca dos apóstolos qualquer indicação de que detinham poder.

[3] Não se fala na Escritura que os apóstolos ungiam, ou consagravam, ou transferiam poder para objetos ou peças de vestuário, para serem posteriormente usados em cura ou exorcismo. O texto apenas relata o que as pessoas comuns faziam, e não prescreve tal ato como prática recomendada.

[4] Tal ato não se transformou em DOUTRINA para a Igreja. Paulo ou qualquer apóstolo não INCENTIVAVA tal ato. Simplesmente as pessoas faziam, mas não havia ensino apostólico para que isso fosse feito, e o fato de "dar certo" não fez com que tal prática fosse recomendada em local nenhum das Escrituras. É pecado fazer? Não. É pecado considerar como doutrina e prática comum? Acredito que sim.

É importante ainda lembrar que, na ocasião em que tal costume era praticado, a Igreja estava "engatinhando", em seus primeiros anos de vida... Não havia ainda a Escritura, que se tornou no futuro a regra de fé e prática para a Igreja. A regra, antes do fechamento do cânon, era o ensino unificado dos Apóstolos, a Doutrina dos Apóstolos (At 2:42), e em momento algum vemos os apóstolos ensinando ou fomentando a prática de usar lenços e aventais como "auxiliares" na cura. É de se esperar que, num momento aonde a Escritura não existia para ensinar e prescrever doutrina, pessoas supersticiosas associassem suas superstições à fé cristã, o que mais adiante, nas Escrituras, é corrigido, com o ensino do certo a se fazer. Sobre o assunto, pessoas enfermas, mais tarde a Escritura prescreve: "Está alguém entre vós doente? chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite, em nome do Senhor; E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados" (Tg 5:14-15), deixando -- agora sim! -- DOUTRINA para toda a Igreja!

No Antigo Testamento, vemos uma história aonde um "objeto catalisador de poder" não funcionou, embora tenha sido enviado pelo próprio profeta Eliseu (2 Rs 4).  O texto relata:

"E ele [Eliseu] disse a Geazi: Cinge os teus lombos, e toma o meu bordão na tua mão, e vai; se encontrares alguém, não o saúdes, e se alguém te saudar, não lhe respondas: e põe o meu bordão sobre o rosto do menino ... E Geazi passou adiante deles, e pôs o bordão sobre o rosto do menino; porém não havia nele voz nem sentido: e voltou a encontrar-se com ele, e lhe trouxe aviso, dizendo: Não despertou o menino" (2 Rs 4:29-31).
Devia-nos servir de exemplo para não confiarmos em "objetos de poder"...

A orientação de Tiago, observada no âmbito da REVELAÇÃO PROGRESSIVA, diz-nos o seguinte: "
Está alguém entre vós doente? [Ao invés de levar um lenço ou um avental até ele] chame os presbíteros da igreja...". Uma visita pastoral traz, além da cura, uma palavra de salvação, ao doente e aos seus familiares, que muitas vezes não vão à Igreja... Assim, transforma-se uma visita de cura em uma visita de pregação da Palavra e de salvação...

Acima de tudo, trata-se de MATURIDADE entender o que é um texto narrativo e um texto prescritivo na Escritura, e perceber quando um texto é literal ou simbólico. Ora, observemos:
  • Jesus disse claramente: "Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o, e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno. E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a, e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca, do que seja o teu corpo lançado no inferno" (Mt 5:29-30). Entretanto, não vejo mutilados nas Igrejas, e nem vejo ninguém incentivando estas automutilações, embora esteja escrito, tenham sido palavras do próprio Jesus!
  • Paulo mandou Timóteo beber um pouco de vinho para obter a cura para os seus problemas gástricos (1 Tm 5:23), e nem por isso tomou-se tal texto como doutrinário, e nem vemos nenhum "pastor" em nossos dias prescrevendo o uso de vinho para a cura, embora a Escritura mencione o conselho de Paulo!
  • Jesus cuspiu no chão, fez lodo, e com este lodo curou um cego (Jo 9:6), e nem por isso fazemos isso para curar cegos nas Igrejas!
  • Naamã foi ensinado, para ser curado de lepra, a mergulhar sete vezes no Jordão (2 Rs 5), e nem por isso se estabeleceu que para se obter cura para problemas dermatológicos são necessários sete mergulhos em um rio, mar, piscina ou açude! 

Assim, observamos que o bom senso continua sendo uma máxima oculta sempre presente no texto da Bíblia!

Não discordo do poder de Deus, e nem da multiforme operação do Senhor. Por Sua vontade, o milagre pode ocorrer por diversos meios, inclusive por meio de lenços, aventais e peças de roupa usados por homens e mulheres de Deus. Entretanto, essa NÃO É a prática prescrita nas Escrituras. E O CRENTE MADURO SEMPRE IRÁ PREFERIR A FORMA BÍBLICA, e desprezar a forma comum e sincrética! Funciona? Em muitos casos, sim. Mas não seguimos O QUE FUNCIONA, mas o que DEUS deixou escrito!

Finalmente, DISCORDO VEEMENTEMENTE de qualquer ofício religioso que seja praticado por dinheiro. Discordo do uso da unção com óleo fora dos propósitos da Escritura. Discordo que obreiros do Senhor estimulem o "animismo gospel", enxugando o suor com toalhinhas de forma proposital, para vendê-las como objetos de poder. Sigamos a Escritura e o bom senso! Voltemos ao Evangelho!!