Uma das coisas mais difíceis para o ser humano é reconhecer e assumir o seu erro. E não é difícil comprovar esta realidade. Dê um passeio pelas grandes favelas das grandes cidades, vá aos refúgios dos traficantes, e tenta observar a opinião dos mesmos acerca de seus atos, do seu tráfico, das suas violações à Lei. Provavelmente nenhum deles irá admitir que o que fazem seja errado.
Se quiser ir a ambientes mais “refinados”, procure a classe médica. Os erros médicos cometidos Brasil afora são conhecidos pela impunidade e pela insistência de seus praticantes de não reconhecer seus atos nem assumir as consequências pelos danos que causaram. Programas de tevê mostram exemplos de erros grosseiros e grotescos, que matam e mutilam, deixando seqüelas para toda a vida, mas que os autores ― fáceis de serem identificados através dos prontuários ― permanecem negando que cometeram algum erro.
E a classe política? Não é diferente da regra. É famosa a conduta de certo político que já teve contas descobertas em seu nome nos paraísos fiscais mundo afora, com direito a assinatura e tudo o mais, mas que permanece negando: ― Este denheiro não é méu...
No mundo “gospel” a coisa tem se mostrado similar. Primeiro, as mudanças doutrinárias de muitas lideranças são visíveis, e muitas vezes bizarras. Pastores que outrora se posicionavam contrários a certas “doutrinas”, “visões” e “moveres”, trocam misteriosamente de opinião, mesmo quando suas novas “convicções” ferem visivelmente os princípios imutáveis das Escrituras. No entanto, mesmo quando confrontados com a posição bíblica, ou confrontados com suas posturas anteriores, recusam-se veementemente a assumir a postura de humildade, reconhecer o erro e retornar à prática das primeiras obras. Preferem até ameaçar, amaldiçoar, ridicularizar e desmoralizar seus opositores, ao invés de respeitá-los, ouvi-los, exporem-se ao debate e confrontá-los com a verdade bíblica (já que afirmam serem detentores desta verdade) ou, admitindo o erro, reconhecê-lo publicamente e mudar de rumo.
O livro de Eclesiastes afirma que “Melhor é o mancebo pobre e sábio do que o rei velho e insensato, que se não deixa mais admoestar" (Ec 4:13), texto que se aplica perfeitamente a muitas lideranças eclesiásticas da atualidade. Tornaram-se reis velhos e insensatos, donos da melhor linha doutrinária e guardiões da verdade absoluta, agarrados firmemente às suas próprias idéias e convicções, e que nem mesmo se dão mais ao trabalho de “examinar, nas Escrituras, se estas coisas eram assim” (At 17:11) como bem faziam os bereianos. Não permitem que ninguém os admoeste mais. Não admitem oposição ou questionamento. O bordão “não toqueis nos meus ungidos” deixa de ser Palavra de Deus para se tornar justificativa vã e frívola para a perpetuação dos seus erros. Suas experiências de vida tornam-se mais importantes, e são o aval definitivo que o que crêem e pregam vem de Deus.
Um rei não se torna infalível, irrepreensível e intocável por causa da coroa que tem sobre sua cabeça, do trono sobre o qual se assenta e nem por causa do tamanho e poderio de seu reino. Acima de todas estas coisas, sempre estará Deus e a Sua Palavra. Tome-se como exemplo o rei Davi, que no auge de seu reinado foi severamente repreendido por Deus através do profeta Natã por ter cometido um adultério seguido de assassinato premeditado (2 Sm 11- 12). A grande diferença entre Davi e “o rei velho e insensato" é que Davi, após a terrível repreensão de Deus, baixou a cabeça e reconheceu seu pecado: "Então disse Davi a Natã: Pequei contra o Senhor" (2 Sm 12:13). Em seguida, sinceramente arrependido, sofreu pacientemente as consequências de seu pecado. Por isto ele era chamado, na Escritura, de "homem segundo o coração de Deus", ao passo que os reis velhos e insensatos do Século XXI preferem permanecer nos seus erros, soberbos e cheios de si, exibindo seus megaministérios como se crescimento numérico fosse sinal de aprovação divina às violações feitas contra a Sua Palavra!
Outros reis receberam, conforme as Escrituras, a visita e a repreensão de outros profetas. Alguns agiram muito diferente de Davi. Maltrataram os profetas. recusaram ouvir a Palavra de Deus.
Havia uma grande diferença entre o menino Samuel e os filhos do sumo sacerdote Eli. Embora Hofni e Finéias servissem a Deus em Seu culto no Tabernáculo e estivessem acostumados a oferecer os sacrifícios no altar do Senhor, não aceitavam a repreensão, quer de seu pai, quer do Senhor. Não abriam mão dos privilégios adquiridos. Não dispensavam o usufruto das ofertas do Senhor, mesmo que para isto tivessem que desrespeitar e profanar os sacrifícios (1 Sm 2:12-17). Enquanto isso, o menino Samuel servia ao Senhor humildemente, e aprendeu a ouvir a voz de Deus e a obedecê-lO. Basta continuar a leitura até o fim do capítulo 4, e vemos o fim de cada um dos protagonistas desta história... A desobediência e o desrespeito a Deus geraram morte, ao passo que a obediência e o respeito geraram vida e honra diante do Senhor e dos homens (1 Sm 2:19-21; Jr 15:1; Sl 99:6).
Aprendamos com esta história bíblica. A desobediência, o desvio consciente das diretrizes de Deus, a profanação do sagrado e a insistência em permanecer no erro, com o agravante de induzir o povo a crer nestes erros como se fossem a mais pura das verdades, têm consequências drásticas, mormente na Nova Aliança (Hb 12:25)! Não podemos nos conduzir pelo caminho que nos der na telha, ou que nos for mais conveniente, e muito menos levar a Igreja de Deus para este erro! Se assim o fizermos, não escaparemos do desprezo divino no Último Dia (Mt 7:15-23). O melhor caminho continua sendo o da humildade, do confronto das coisas com as Escrituras, do respeito pelas coisas de Deus acima de tudo.
Saiba de uma coisa, curta, grossa e certa: errar é humano; permanecer no erro é burrice!
Saiba de uma coisa, curta, grossa e certa: errar é humano; permanecer no erro é burrice!