terça-feira, 5 de março de 2013

O QUE O NOVO TESTAMENTO NOS ENSINA SOBRE O "GUARDAI-VOS" - 5/7


Continuamos a saga de nossos artigos sobre o “GUARDAI-VOS”, e acabamos de sair dos Evangelhos, das citações de Jesus para que nos guardássemos de coisas más, e entramos  nas cartas do Novo Testamento. Chegamos à primeira admoestação epistolar sobre o assunto, que foi feita por Paulo. É uma admoestação tripla. “Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da circuncisão” (Fp 3:2) é a orientação da vez. Embora pareça que Paulo nos adverte contra três coisas distintas, na verdade se trata da mesma coisa. GUARDAI-VOS DOS MAUS OBREIROS. A redundância nos remete a um cuidado triplicado!

Nem é preciso ser um gênio para observar que em nossos dias esta admoestação é de extrema utilidade para a Igreja. Vivemos em uma época em que obreiros fraudulentos se proliferam por todos os lados. Não há mais qualquer exigência para que alguém se torne “obreiro”, “pastor”, “bispo” ou “apóstolo”. Até mesmo as exigências mínimas aos aspirantes do episcopado e presbiterato descritas em 1 Tm 3:1-16 e Tt 1:5-16, que deveriam ser os primeiros parâmetros, condição sine qua non, são sumariamente desprezadas, demonstrando o total desprezo que a Igreja atual devota ao ministério, ao abandonar critérios mínimos para a aceitação de seus obreiros. Ora, para escolhermos um profissional nos para prestar qualquer serviço somos extremamente criteriosos; seja uma empregada doméstica, um pedreiro, um encanador ou um eletricista, ou um funcionário para a nossa Empresa, exigimos referências, cursos e atestados de idoneidade, mas para conduzir a Igreja do Senhor, entregamos o cajado nas mãos do primeiro aventureiro que aparece, e nem procuramos saber de onde veio! O ministério se tornou uma fonte de renda, lucro e enriquecimento,  e não mais a responsabilidade de conduzir o rebanho de Deus com amor e desprendimento. 

GUARDAI-VOS DOS CÃES

A boa hermenêutica nos ensina que precisamos compreender o que a expressão quer dizer quando foi escrita, como os seus ouvintes e leitores iniciais a compreendiam. 

A palavra “cão” na Bíblia é oriunda das palavras hebraica keleb’ e grega kuon’, e não tem absolutamente o mesmo significado que tem para nós em nossos dias. Para nós, brasileiros, o cão é o melhor amigo do homem, talvez o mais útil de todos os animais domésticos, pois dá ao seu dono amizade, proteção e até auxílio na caça. O nome “cão” pode significar também para nós, em sentido pejorativo, uma alusão ao diabo, como se pode observar na frase “Fulano age como um filho do cão”. Mas não significava a mesma coisa na época bíblica. Para os judeus, seu significado era completamente diferente. 

Primeiramente, o cão era um animal desprezado na sociedade judaica. Quando se queria demonstrar desprezo, usava-se esta palavra, como vemos nas palavras de Golias, quando vociferou a Davi: “Sou eu algum cão, para tu vires a mim com paus?” (1 Sm 17:43), e de Mefibosete: “Quem é teu servo, para tu teres olhado para um cão morto tal como eu?” (2 Sm 9:8). Assim, a palavra sempre teve sentido pejorativo e humilhante. A palavra hebraica, além de ter significado literal de ‘cão’, ‘cachorro’, traz ainda o sentido figurado de desprezo, coisa imunda e desprezível, humilhação, e ainda é usada em referência ao sacrifício pagão ou a prostitutos cultuais e ‘sodomitas’. No Antigo Testamento, Moisés orienta ao povo: “Não trarás salário de rameira, nem preço de cão, à casa do Senhor, teu Deus, por qualquer voto; porque ambos estes são igualmente abominação ao Senhor, teu Deus” (Dt 23:18), fazendo menção à prostituição masculina ou feminina, e proibindo que ofertas e votos a serem pagos com ganhos ilícitos, originados na prostituição, não deveriam ser dados na casa do Senhor.

Assim sendo, quando Paulo nos orienta a nos guardarmos dos cães se refere a pessoas com estas características. Prostitutos da fé.

Os cães são exatamente aqueles que, na obra de Deus, se comportam como prostitutos. São os amantes do mundo e de suas facilidades. Acendem uma vela para Deus, e outra pro diabo. Utilizam-se de qualquer expediente, por mais imundo que seja, para se promoverem e supostamente promoverem a Igreja. Na verdade, a promoção é pessoal. Promovem-se a si mesmos, e se beneficiam desta promoção.

A "prostituição gospel", infelizmente, infesta e empesta a Igreja dos nossos dias. Pastores e líderes se dobram ao mundo e às suas imoralidades, com a justificativa que "o importante é ganhar almas", não importando a que preço. Logo, a lógica dos cães é que "os fins justificam os meios". Assim, "obreiros" não se constrangem em abraçar o ecumenismo televisivo. Aparecem sem qualquer constrangimento em programas escarnecedores, muitos destes programas que antes eles condenavam veementemente. Artistas "gospel" se dobram aos programas mundanos, submetem-se às obrigações contratuais, pois o que vale é VENDER e FATURAR com os cachês, venda de CDs, DVDs, livros... Tudo em nome das suas próprias conveniências! O Evangelho não é pregado;o que é pregado é o evangelicanismo, na mais podre das suas versões!

Não pode haver entre os crentes genuínos comunhão com obreiros que têm a Igreja como Noiva de Cristo, mas a tornam amante do mundo! É mister que a separação com o mundo seja enfatizada em todos os tempos da Igreja, independentemente dos tempos modernos que vivemos. Tiago exorta severamente os que querem se prostituir com o mundo: "Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus" (Tg 4:4). É impossível conciliar as duas coisas, pois são antagônicas e ferem a santidade de Deus. Como bem disse Paulo, "Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus" (Rm 8:7-8).

Nossa tarefa primordial, uma vez que somos guardiães da fé que nos foi dada (Jd 3-4), é identificar atitudes de cão, de prostituto(a), e não aceitar tais atitudes em nosso meio. Da mesma forma que na lei as ofertas oriunda dos pagamentos da prostituição deviam ser sumariamente rejeitadas, devemos fazer o mesmo na dispensação da Graça. Não podemos aceitar as "ofertas" que são frutos da prostituição dos maus obreiros com o mundo! Ao aceitarmos passivamente tal prostituição, ao fazermos vista grossa diante de tais incongruências da vida cristã em nossos obreiros, estamos sendo coniventes com o erro e nos tornamos tão prostituídos quanto os líderes que se prostituem sem escrúpulos.

Em vários livros dos profetas antigos, a apostasia de Israel e Judá é tratada como prostituição. Por exemplo, o texto que encontramos em Ezequiel 16 é um retrato fiel da Igreja prostituída que temos em nossos dias. Sugiro a leitura; vocês vão se espantar com a riqueza de detalhes e de semelhanças. Mas ainda é tempo de se arrepender e voltar.

GUARDAI-VOS DOS MAUS OBREIROS

Paulo dá agora nome ao centro da questão: os maus obreiros. Na verdade, nem é preciso ser prostituto, basta ser MAU. Entretanto, o bom obreiro não se caracteriza pelo fato de nos fazer bondades, e sim de nos fazer o que é certo, de nos conduzir, custe o que custar, pelo caminho correto. Assim como um pai e uma mãe que vão aplicar vacinas em seus filhos pequenos (aparentemente, uma maldade), o bom pastor preserva-lhes a alma, por mais dolorosa que seja esta preservação. Portanto,o mesmo não é identificado pela sua bondade humana, pelos princípios humanos de bondade, mas pelos princípios de Deus, como a correção, a admoestação, o ensino da obediência à Palavra de Deus

No Evangelho de João, Jesus mostra a diferença abissal entre o bom pastor (Ele mesmo, e os que seguem Seu exemplo de pastoreio) e o mercenário ladrão:

"Na verdade, na verdade vos digo que, aquele que não entra pela porta, no curral das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador. Aquele, porém, que entra pela porta, é o pastor das ovelhas. A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz para fora. E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz; Mas, de modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos. Jesus disse-lhes esta parábola; mas eles não entenderam o que era que lhes dizia. Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade vos digo que eu sou a porta das ovelhas. Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram. Eu sou a porta: se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens. O ladrão não vem senão a roubar, a matar e a destruir: eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância. Eu sou o bom Pastor: o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas. Mas, o mercenário, e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas e foge; e o lobo as arrebata e dispersa. Ora, o mercenário foge porque é mercenário, e não tem cuidado das ovelhas" (Jo 10:1-13).

O mau obreiro é aquele que negligencia o ensino da Palavra, pois ele tem prazer em manter a ovelha dependente das suas "mediações sacerdotais". O mau obreiro é aquele que se serve da ovelha, mas não quer servi-la; sustenta-se dela, mas não a sustenta. O mau obreiro é aquele que foge ou se omite diante das ameaças que atacam o rebanho, mormente as heresias e erros. Vê o lobo e foge! Ouve seus uivos, e se cala!

É lamentável vermos as massas humanas que seguem os maus pastores. Digno de pena, de pranto. Ovelhas enganadas, sendo levadas ao matadouro e à tosquia, como se estivessem sendo levadas ao céu. Cegos guiando cegos, conduzindo a si mesmos e a seus seguidores à perdição (Lc 6:39). E quando surge alguém que tenta alertar para o perigo iminente e inexorável, esse é o que é lançado fora do aprisco!

Quando Paulo nos orienta sobre nos guardarmos dos maus obreiros, ele sabia muito bem do que falava! Já aos anciãos de Éfeso ele alertou: "Porque eu sei isto, que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não perdoarão ao rebanho; e que, de entre vós mesmos, se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si" (At 20:29-30). Somos enganados porque QUEREMOS, e GOSTAMOS de sermos enganados. O próprio Senhor Jesus avisou (Mt 24:24-25), os apóstolos avisaram. Engana-se quem quer!

O mau obreiro cuida em fazer seu nome, edificar seu império, alargar suas tendas ministeriais e, principalmente, pessoais. Enriquecem a olhos vistos, e não se constrangem em ostentar esta riqueza e opulência. Se dizem superiores, intocáveis e inquestionáveis. São a sombra de Deus na terra,e não podem ser sequer ter suas palavras ou ações postas em dúvida, por menor que seja!

Somos chamados por Deus a nos guardar destes "obreiros". Acatá-los, reconhecê-los, honrá-los e mantermos comunhão com eles equivale a fazer o oposto para com Deus. Afinal, não podemos servir a dois senhores. João, o chamado "apóstolo do amor", nos dá uma orientação, à primeira vista nem um pouco amorosa: "Todo aquele que prevarica, e não persevera na doutrina de Cristo, não tem Deus; quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto o Pai como o Filho.Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tão-pouco o saudeis. Porque, quem o saúda tem parte nas suas más obras" (2 Jo 9-11).

Cabe a cada um de nós nos posicionarmos em relação à obediência a Deus, e no desprezo aos maus obreiros!

GUARDAI-VOS DA CIRCUNCISÃO

Paulo agora se direciona aos “obreiros” que confessam a doutrina da circuncisão, ou seja, aqueles que tentam reintroduzir princípios judaizantes no meio da Igreja. Guardai-vos deles! Em outra ocasião, falando igualmente sobre maus obreiros, ele fala: "Porque há muitos desordenados, faladores vãos e enganadores, principalmente os da circuncisão, aos quais convém tapar a boca, homens que transtornam casas inteiras, ensinando o que não convém, por torpe ganância" (Tt 1:10-11). A carta aos Gálatas, Paulo escreve direcionada ao combate destes judaizantes, que se achegaram às Igrejas da Galácia, induzindo os cristãos a se circuncidarem e obrigando-os a guardar a lei mosaica.

É incrível que crentes que têm uma Bíblia nas mãos, sabem ler e leem as cartas aos Gálatas e aos Hebreus ainda caiam no erro de aceitar os princípios judaizantes dentro da Igreja. Aliás, não sei também como os judaizantes conseguem manter em suas Bíblias estas duas cartas, pois são claríssimas em afirmar que a lei e a graça são antagônicas. Aquele que abraça a graça, precisa largar a lei, e vice-e-versa. Paulo afirma aos Gálatas que "separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído" (Gl 5:4). Poderíamos ficar horas citando textos,mormente os encontrados nas cartas paulinas aos Romanos e aos Gálatas, e da carta aos Hebreus, que deixam claro que a lei foi substituída pela graça. Em Atos 15, vemos os apóstolos, em comum acordo com o Espírito Santo, concluindo que nenhum encargo da lei seria exigido à igreja gentílica, exceto poucos pontos. Por que, então, querer retornar aos rudimentos da lei?

Para nos livrarmos de um possível retorno à lei, é preciso, pois, guardar-se dos obreiros da circuncisão. Aqueles que querem reintroduzir elementos da lei no culto, como a presença de shofar, arca da aliança, menorah etc. Aqueles que julgam a língua hebraica mais santa que as demais, a ponto de só chamar Jesus de Yehoshua, Paulo de "Rabino Shaul" e outros absurdos. Aqueles que querem ressuscitar rituais que foram cumpridos plenamente em Cristo e substituídos por Ele na Nova Aliança.

Paulo passou sua vida lutando contra estes judaizantes, e nos alerta a que prossigamos na mesma batalha. Devemos nos guardar deles! Aceitá-los significa preferir a sombra ao invés da Pessoa de Cristo, que cumpriu a lei. Voltar à lei equivale a cair da graça.

Pensem nisso, e se guardem destes três tipos de "obreiros"! Para seu próprio bem!

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