“Então chegaram ao pé de Jesus uns escribas e fariseus de Jerusalém,
dizendo: por que transgridem os teus discípulos a tradição dos
anciãos? Pois não lavam as mãos, quando comem pão. Ele, porém,
respondendo, disse-lhes: Por que transgredis vós, também, o mandamento de Deus,
pela vossa tradição? Porque Deus ordenou, dizendo: Honra a teu
pai e a tua mãe; e: Quem maldisser ao pai ou à mãe, morra de morte. Mas
vós dizeis: Qualquer que disser ao pai ou à mãe: É oferta ao Senhor o que
poderias aproveitar de mim, esse não precisa honrar nem a seu pai nem a sua
mãe, e assim invalidastes, pela vossa tradição, o mandamento de
Deus. Hipócritas, bem profetizou Isaías a vosso respeito,
dizendo: este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está
longe de mim” (Mt 15:1-9).
Há momentos
em que as doutrinas de homens traspassam a Palavra de Deus. Este caso da lei do
Corbã é um deles, o mais clássico. Embora as Escrituras deixem muito claro que
os filhos têm a obrigação de honrar pai e mãe, os religiosos da época deram um
jeitinho nas coisas. A questão tratada na lei não era a mera honra, respeito
etc, mas a garantia do sustento dos mais velhos, que por não poderem mais se
sustentar pelo seu próprio trabalho deveriam ser sustentados pelos filhos, ou
seja, honrados. Mas como um bom advogado tributarista que encontra brechas na
lei tributária e faz com que seus clientes deixem de pagar determinados
impostos, o líder religioso também buscava as mesmas brechas na lei divina.
Assim nasceu a lei do Corbã.
Para se livrar da
obrigação de sustentar seus pais na velhice, um religioso podia fazer um voto a
Deus e consagrar-lhe tudo que gastaria no sustento dos velhos pais. Assim,
jogava seus genitores no abandono e doava ao Templo o valor correspondente aos
gastos. Para o sacerdote, era uma mão na roda, pois garantia uma gorda oferta
para os cofres do Templo. Para o filho ingrato, era uma economia certa, pois não
precisaria dar-lhes de comer, cuidar de sua saúde, higiene, vestuário...
Evitava-se assim o transtorno de ter dois velhos debaixo do seu teto e debaixo
dos seus cuidados. Mesmo que os pais exigissem a honra devida pelo filho, ele
poderia lhes dizer: aquilo que eu podia fazer por vocês, fiz voto ao Senhor e
vou dá-lo no Templo!
Esta
é apenas uma das facetas do desrespeito às Escrituras, que ocorriam nos tempos
de Jesus. A tradição se torna superior ao que está escrito, e o que está
escrito se torna descartável diante da experiência humana. Na a igreja atual, a
coisa não mudou, ou se mudou foi para pior! Hoje, entre optar pelo que está
escrito e pelo que a nossa experiência diz ser a verdade, a Bíblia é
imediatamente descartada, pois a cada dia se torna um livro obsoleto, que inibe
a liberdade do Espírito Santo em nosso meio, atrapalha o crescimento da Igreja
e limita os pastores a seguir o que lá está escrito. Faz-se necessário ou
abandonar este livro, ou criar doutrinas que o complementem e o tornem mais
“moderno”, mais fácil de ser observado.
Em
um recente debate sobre o mau uso dos dons espirituais na Igreja, comparando o
que acontece nos cultos neopentecostais de nossos dias e o que está escrito nos
capítulos doze e quatorze da primeira carta aos Coríntios, um defensor da
desordem e da indecência no culto citou o seguinte, precedido por um sonoro
“kkkkkkk”, risada característica das redes sociais, acerca do suposto “mover do
Espírito Santo” nas reuniões de “fogo e poder”: “Você pode não gostar, irmão fulano, mas tem gente que gosta!”.
Esquece-se
este incauto irmão que a questão não é gostar ou deixar de gostar de alguma
coisa, prática ou doutrina da Igreja. A questão é a obediência às Escrituras.
Ou o irmão acha que os católicos prostram-se diante dos ídolos porque são
obrigados a fazê-lo, ou fazem isso porque gostam? Sempre combatemos a doutrina
católica da veneração de santos, relíquias e imagens, pois a mesma é
severamente condenada na Bíblia. Entretanto, outras práticas igualmente
condenadas são abraçadas pela Igreja, de forma incoerente e acintosa contra a
Palavra. Enquanto católicos se prostram diante de um ídolo porque gostam de
fazer isto, nós crentes temos o mesmo costume de abraçar as coisas que nos são
agradáveis, embora as Escrituras não concordem com elas e até mesmo as
condenam.
Que
este irmãozinho abençoado me perdoe, mas as Escrituras não deixam margem para
segundas interpretações, nem mesmo para novas edições da lei do Corbã. Os textos
aonde O PRÓPRIO DEUS inspira o apóstolo Paulo acerca de Sua vontade em relação
ao uso dos dons espirituais na Igreja são claros:
“Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem
salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo
para edificação. E, se alguém falar língua estranha, faça-se
isso por dois, ou, quando muito, três, e por sua vez, e haja intérprete. Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale
consigo mesmo e com Deus. E falem dois ou três profetas, e os
outros julguem. Mas, se a outro, que estiver assentado, for
revelada alguma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos podereis
profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam e todos sejam
consolados. E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos
profetas. Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como
em todas as igrejas dos santos [...] Porventura saiu de entre
vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós? Se alguém
cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são
mandamentos do Senhor. Mas, se alguém ignora isto, que seja
também ignorado. Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar,
e não proibais falar línguas. Mas, faça-se tudo decentemente e
com ordem” (1 Co 14:26-40).
Portanto, antes de
criticar os católicos que se prostram diante dos ídolos porque gostam disto e
se recusam a observar o que está escrito, lembra-te que tu também fazes igual a
ele, quando promoves exatamente o oposto daquilo que Deus prescreveu para a
ação do Espírito Santo na Igreja, a ordem e a decência, somente porque gostas
daquilo que chamas de “mover do Espírito” mesmo quando a Bíblia não o menciona
nem o aceita. Mas, para que se preocupar com isso? A Bíblia e suas prescrições
são meros detalhes, e assim como os escribas do tempo de Jesus que criaram a
lei do Corbã você também pode encontrar as brechas que bem quiser no texto
sagrado, a fim de adequá-lo ao que você gosta. Se isto vai colar no Último Dia,
não sei. Creio que não! Ou você nunca leu as palavras do Mestre, que disse “Nem todo o que me diz:
Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade do meu
Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor,
Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos
demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então
lhes direi, abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que
praticais a iniqüidade” (Mt 7:21-23). Ou tem brecha para isto também?
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5. Não toque no passado das pessoas, seja o meu ou de quem quer que seja, com o intuito de tentar desmoralizar, mesmo que sejam as pessoas que eu estou criticando!. Eu tenho um passado podre, se vc não sabe, mas ele está debaixo do sangue de Jesus, e nenhuma condenação há para mim. O mesmo se aplica a qualquer um, mormente aqueles que já afirmaram ter se arrependido.
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