Dizer "deixemos a teologia, e vamos pregar!" é tão inteligente quanto dizer "deixemos os pedreiros, os engenheiros e os arquitetos, as plantas e os cálculos, e vamos construir a casa!"
A cada dia que se passa, com o aumento dos "mestres" no mundo (previsto por Cristo e pelos Seus apóstolos), que procuram guiar suas ovelhas por suas revelações, e não pelos princípios imutáveis da Palavra de Deus, vemos proliferar uma onda anti-teologia em nossas igrejas que é de estarrecer. Dizem que a teologia anula a unção de Deus, desprezando completamente qualquer preparo acadêmico de pastores e líderes.
A cada dia que se passa, com o aumento dos "mestres" no mundo (previsto por Cristo e pelos Seus apóstolos), que procuram guiar suas ovelhas por suas revelações, e não pelos princípios imutáveis da Palavra de Deus, vemos proliferar uma onda anti-teologia em nossas igrejas que é de estarrecer. Dizem que a teologia anula a unção de Deus, desprezando completamente qualquer preparo acadêmico de pastores e líderes.
As pessoas chegam ao extremo de discriminar estudantes de teologia. Lembro-me que certa vez, aproximando-me de uma igreja existente no meu bairro, de renome nacional, com o intuito de me tornar membro, quando informei ao pastor, uma pessoa aparentemente centrada e equilibrada, que já fora estudante de Teologia no passado, vi suas feições serem momentaneamente dominadas por um discreto sinal de asco e desprezo.
Não venho, absolutamente, defender neste espaço a teologia em detrimento da unção. É evidente que a unção de Deus é a principal ferramenta que Ele concede aos seus no trabalho de edificação do Reino. Mas não é a única. O preparo teológico também é ferramenta importante.
Eu imagino estas duas ferramentas como os meus dois braços. Sou destro, mas por favor não me amputem o braço esquerdo! Desta forma, ficarei mutilado e incapaz de fazer muitas coisas que faço obrigatoriamente com ambos os braços, como por exemplo tocar meu violão. A unção de Deus faz-nos o papel do braço principal (para os destros, o braço direito; para os canhotos, o esquerdo), e a teologia faz o papel do braço secundário. Não resta dúvida que teologia sem unção é mera retórica, mas a unção sem a teologia não me parece nem de longe espiritualidade (como muitos querem fazer parecer), e sim irresponsabilidade, incompetência e falta de respeito com a igreja de Deus.
Hoje, muitos pastores e líderes falam de púlpito seu nojo pela teologia, chegam a se gloriar da própria ignorância. Menosprezam assim uma importante ferramenta que Deus deixou, e que nos serve para impedir a proliferação de doutrinas estranhas no seio da igreja. Menosprezam os pais da igreja, os apóstolos, os reformadores... Menosprezam, a meu ver, o próprio Deus, que capacitou homens santos para fazer o compêndio teológico maior, a Bíblia, da forma que Ele a fez e preservou para nós. Menospreza Jesus Cristo, o primeiro a debater teologia cristã, aos doze anos de idade, com os doutores da lei em Jerusalém...
Compreendo que há alguns pensamentos teológicos que são duros de engolir, e muitas vezes são estes tipos de teologia que fazem com que os que se autodenominam "espirituais" se afastem da letra. Contudo, a generalização é perigosa. Não podemos menosprezar a Teologia Bíblica ou a Teologia Sistemática somente porque determinadas vertentes teológicas não nos agradam.
Ademais, muitos se afastam estrategicamente da boa teologia exatamente porque é ela quem limita as ações errôneas de quem quer dominar a Igreja sob o cajado de seus achismos e suas revelações.
Com o gradativo desprezo e abandono da teologia, mormente a bíblica e a sistemática, a igreja tem se tornado vulnerável, distante da Palavra de Deus, a ponto de surgirem a cada dia novas doutrinas estranhas em nosso meio, tudo em nome da revelação, da unção e da espiritualidade, mas não passa de uma prática irresponsável, de pessoas que falam muitas vezes do que pouco (ou nada) entendem. Se os "anti-teologia" conseguissem enxergar esta verdade, seriam os primeiros a defender a sã doutrina contra os ataques desta nefasta onda de "teologiofobia".
A letra mata - o espírito vivifica
Lamentavelmente, a teologia é letra. Não há outra opção, pois a teologia é o ensino de matérias acerca de Deus. E não podemos desprezar a letra somente porque é letra. Se assim fora, jogaríamos fora as nossas Bíblias, pois também são letras, e necessitamos da unção de Deus para compreendê-la, aliando com um pouco de conhecimento.
Desde os tempos do AT, já existiam os "seminários", que eram as escolas de profetas de antigamente (nos tempos de Samuel, Elias e Eliseu), que nos mostram que até os profetas devem aprender a "dominar" o dom que Deus lhes deu, a fim de exercer corretamente o seu ministério (aliás, a quantidade de profetas modernos que não sabem como usar o dom que lhe foi dado por Deus assusta! Meu amigo pr. Wanderlei chama o domínio dos dons do Espírito Santo de "educação espiritual"). Apolo era um homem cheio da unção de Deus, mas quando Priscila e Áquila o conheceram vendo-o pregar aos judeus, perceberam a unção de Deus existente em sua vida, mas observaram a ausência da teologia. Imediatamente o levaram para o "seminário", para que aprendesse mais pontualmente acerca das coisas de Deus (At 18.24 ss). Mero detalhe, ou condição importante para se exercer um ministério frutífero?
Não podemos, absolutamente, colocar nenhum curso teológico acima da unção de Deus. Mas é exatamente a ausência da Teologia que gera esta onda de falsas doutrinas dentro da igreja em nossos dias.
Contudo, quando menciono este assunto não me refiro unicamente aos seminários. A igreja em si deveria valorizar mais a teologia. Eu sei que existem muitas vertentes teológicas estranhas por aí, mas eu me contentaria com a igreja valorizando e ensinando em suas EBD pelo menos a Teologia Sistemática e a Teologia Bíblica.
Como se tornar um Pastor sem fazer força
Em 1986 eu entrei para o Seminário (Instituto Bíblico Betel Brasileiro, em João Pessoa, PB, um dos mais antigos e conceituados do Brasil) com a pretensão de ser pastor. Para início de conversa, eram necessários quatro anos de curso para poder se formar no curso de Bacharel em Teologia (e até hoje qualquer seminário sério não tem este curso em menos de 3 ou 4 anos). Após o curso, ainda havia uma monografia que precisava ser apresentada perante uma banca de professores, para se poder colar o grau. Após a aprovação da monografia e colação de grau, as denominações da época só aceitavam ordenar um pastor após uma avaliação perante uma banca examinadora de pastores, onde toda a bagagem doutrinária e teológica era avaliada pormenorizadamente. Conheço muitos que não passaram de primeira! Muitos tremiam de medo ante a ideia da banca examinadora...
Só para termos noção de como a teologia é valorizada na ICAR, um padre, se não me falha a memória, estuda teologia, obrigatoriamente, por 6 anos! Já nas vertentes neo-pentecostais, não precisa nem ser alfabetizado... Como bem diz o pr. Estevam Fernandes (não é o Hernandez!), da Primeira Igreja Batista de João Pessoa, são "pessoas que aprendem a dar um nó de gravata e já se autodenominam e auto-ordenam pastores".
O que se buscava com tamanha rigidez nos tempos mais antigos? Exatamente evitar a todo custo o que vemos por aí nos dias atuais: uma penca de "pastores" despreparados, que desconhecem e desprezam a teologia, que não conhecem nem mesmo a língua portuguesa e que não sabem nem mesmo explicar as doutrinas básicas do Cristianismo. Acreditem: conheço pastores que, em relação à Ceia do Senhor, adotam a mesma doutrina Católica da transubstanciação...
Hoje, já existem cursos de Doutorado em Telogia por correspondência, e com menos de seis meses de estudo! Nem preciso comentar...
Associado à onda de anti-teologia, o que vemos em relação aos cursos teológicos modernos? Falta de vergonha de muita gente por aí, e a falta de uma legislação séria que regularize não somente o curso teológico, mas também a "profissão" de pastor evangélico (sim, irmãos, profissão... Pequenas Igrejas, Grandes Negócios...), assim como a abertura de igrejas a bel prazer dos seus "pastores-fundadores", a grande maioria dissidentes de ministérios, após discordarem da sua liderança, rebelarem-se e darem vazão à sua ânsia de poder eclesiástico.
Há algum tempo um diácono conhecido meu fundou sua própria igreja. Nada de pessoal contra o irmão. Contudo, ele é semi-analfabeto, não sabe pregar, nem cantar sabe... Já ouvi ele pregando barbaridades no púlpito, tudo em nome de uma pretensa unção vinda do alto e de uma revelação onde Deus o orientou a fundar a nova igreja... Como se o Evangelho não estivesse esfacelado o suficiente... Ah, e antes que eu me esqueça: ele em pouquíssimo tempo encontrou um amigo que o ungiu pastor! Sei que alguém vai dizer: " - Meu irmão, ele está ganhando almas para Jesus!". E eu respondo: não tenho tanta certeza assim, embora a cada dia aumente o número de membros de sua igreja... Basta comparar a situação à parábola do guia cego: "E dizia-lhes uma parábola: Pode porventura o cego guiar o cego? Não cairão ambos na cova?" (Lc 6:39). Ganhar almas para Jesus e desencaminhá-las para o erro teológico cabe perfeitamente nesta carapuça! Santa anti-teologia, Batman!
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