quinta-feira, 29 de agosto de 2013

CURA DIVINA



O ministério do Senhor Jesus na terra, embora curto na óptica humana ― apenas 3 anos ― foi pautado por tantos milagres e maravilhas na esfera da cura que as pessoas que o rodeavam constantemente se impressionavam e exclamavam “Nunca tal se viu em Israel!” (Mt 9:33). Este mesmo poder e autoridade para curar Ele deu primeiramente aos Seus apóstolos e discípulos (Lc 10:1-9) e depois estendeu tal autoridade, após Sua morte e ressurreição, a toda a Igreja. Sua importância é tão grande que o Senhor estabeleceu um dom espiritual específico para cura (1 Co 12:9), no mesmo patamar da profecia, línguas, interpretação de línguas...

Como pentecostal e não-cessacionista, creio que a cura divina é para os nossos dias, em sua plenitude. Independentemente de possuir ou não o dom espiritual da cura, qualquer crente tem o poder de orar pelos enfermos e ministrar-lhes a cura pelo poder do nome de Jesus, ao passo que os presbíteros da igreja devem proceder um ritual bíblico ― descrito por Tiago, irmão carnal do Senhor e pastor da igreja de Jerusalém ― ungindo os enfermos com óleo e orando para que sejam curados (Tg 5:14-15). Aqueles que possuem o dom espiritual, conforme descrito pelo apóstolo Paulo (1 Co 12:9, 28-30), desempenham este ministério de uma forma muito mais poderosa, pois a sua missão no Reino é especificamente na área da cura divina, para testemunho do Evangelho e do poder de Deus.

Preocupa-me, entretanto, a ênfase na cura em detrimento dos demais ministérios da Igreja. Entendemos que a Igreja necessita de uma “engrenagem ministerial” perfeita, equilibrada e com todos os ministérios presentes e funcionais. Mas o que vemos nos dias de hoje são denominações que adotam uma única faceta ministerial (a cura, ou a libertação de endemoninhados, ou o trabalho social, ou o louvor etc), procuram desempenhá-la da melhor maneira possível, e se esquecem dos demais ministérios, menosprezando-os ou colocando-os em segundo ou terceiro plano...

Em relação à cura e à ênfase exagerada que lhe dão em muitas denominações atuais, penso em Jesus Cristo que ao chegar ao tanque de Betesda encontrou “grande multidão de enfermos: cegos, mancos e ressicados”, que aguardavam pela cura (Jo 5:3-4). Quantos foram curados pela intervenção do Senhor? Apenas um paralítico! Por que Ele não curou a todos, ou pelo menos algumas dezenas, como supostamente acontece nas reuniões de cura de nossos dias? 


O mesmo problema de "escassez de curas" ocorreu com os apóstolos Pedro e João, que ao chegarem à porta Formosa do templo certamente encontraram muitos doentes a esmolar naquele lugar; entretanto, apenas um coxo foi curado na ocasião (At 3).

O que aprendo nestas duas ocasiões? Que a ênfase principal do Evangelho do Senhor Jesus não é e nunca foi a cura, e sim a salvação do homem. A cura sempre foi o meio de chamar a atenção de todos que o poder de Deus estava presente, abrindo as portas para a pregação eficaz do Evangelho. Observe-se que, graças à cura de UM paralítico através de Pedro e João, mais de cinco mil homens deram ouvidos à pregação do Evangelho e aceitaram a Jesus Cristo como Senhor e salvador (At 4:4). Quantos destes cinco mil foram curados? Apenas um!

Quando Jesus nos ordenou que fôssemos ao mundo todo anunciar o Evangelho, deu-nos autoridade sobre as enfermidades, mas não nos deu autoridade para mudarmos a ênfase do Evangelho, que é a salvação. Se a ênfase da igreja fosse a cura, teria Ele nos mandado às portas de hospitais, onde nem seria necessário que os enfermos entrassem; antes de entrar para que lhes fossem ministrados os primeiros socorros, seriam curados.

Talvez você esteja pensando: “O que tem este irmão, que se posiciona contra as curas?” E eu te respondo: absolutamente nada! Se dependesse de mim, em todos os cultos haveria curas, sinais e maravilhas em nosso meio. Se o Senhor Jesus, através de algum dos seus servos, curar a todos em uma reunião da igreja, só temos que dar-Lhe glória e nos alegrarmos com as maravilhas que Ele operou diante dos nossos olhos. Na verdade, posiciono-me apenas contra a ênfase exagerada, contra os cultos que se afastam da Palavra ― elemento indispensável à salvação, santificação e fortificação do crente ― pois só há tempo para a cura, ou os dirigentes a consideram mais importante. Levanto-me contra as igrejas que menosprezam os demais ministérios, ou os consideram inferiores, relegando-os a uma posição de menos destaque.

Não posso aceitar que cultos inteiros sejam dedicados à cura, e não haja a pregação de uma palavra transformadora, sólida e nutritiva. E o mesmo pode ser aplicado a qualquer outra faceta ministerial: cultos só dedicados ao louvor, sem palavra; cultos dedicados à prosperidade, sem palavra; cultos dedicados à libertação de endemoninhados, sem palavra. Afinal, é a palavra de Deus que traz a salvação para o homem, que o limpa dos seus pecados, dá-lhe firmeza para suportar as adversidades da vida e armas para lutar contra as hostes espirituais e defender-se dos desvios doutrinários.

Sabemos que nem todos serão curados. Muitos morrerão com as enfermidades que carregam ao chegar à igreja, mas poderão morrer salvos, com a alma transformada e fortalecidos com o genuíno Evangelho, com a pregação da sã doutrina. Ademais, a autoridade dada por Jesus a seus discípulos foi “Curai enfermos, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expeli demônios; de graça recebestes, de graça daí” (Mt 10:8). Infelizmente, não temos visto ressurreições e nem leprosos instantaneamente purificados nos nossos dias... E nem vamos entrar no mérito da questão do de graça recebestes, de graça daí, que cada dia tem se extinguido mais de nosso meio... E também não podemos nos esquecer das falsas curas que ocorrem em meio evangélico. Algumas delas já foram alvo de reportagens na tevê...

Deus me livre de me posicionar contra a cura divina! Sou pentecostal, creio no poder de Deus atuante nos dias de hoje. A igreja da qual sou Membro foi fundada através do ministério do missionário Manoel de Mello, com a operação de muitas curas e maravilhas. Eu mesmo já fui beneficiado por esta bênção do Evangelho. Mas acreditem: fui muito mais beneficiado pelo ouvir da Palavra de Deus, em uma pregação centrada, equilibrada e direcionada para que eu pudesse através dela modificar minha conduta e meu caráter. Sou o que sou hoje não graças às curas recebidas, mas à palavra de Deus, martelo que esmiúça a penha, que penetrou fundo em meu ser, esmiuçou todos os meus conceitos e transformou-me de dentro para fora. 

Sabemos que muitos só se chegam à igreja para receberem a cura, a libertação, a prosperidade e outras benesses mais, e após a obtenção daquilo que desejam, abandonam o Senhor. É a Palavra, e não nenhuma destas outras coisas secundárias,, quem afasta o homem do pecado e da condenação. Não que eu rejeite a cura ou outras bênçãos, mas eu prefiro morrer doente e entrar no céu curado, do que morrer curado e não ser achado inscrito no Livro da Vida!

2 comentários:

  1. Muito coerente Nilton! Um brinde ao bom senso!

    Abraços meu chapa!

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  2. Obrigado, Comuna, pelo elogio... Mas se me permite uma correção... meu nome é Zilton... Kkkkk Fica frio, brow!

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