quarta-feira, 28 de setembro de 2011

ENTENDENDO COMO A BANDA TOCA...

Em uma época em que a música está banalizada e vulgarizada, onde composições no estilo de “pocotó, pocotó, pocotó, pocotó, / minha eguinha pocotó”, ou “ vem, neném, nenem, /  vem, neném, nenem, / vem, neném, nenem, /  vem...”  são consideradas como música, e onde a música chamada evangélica segue por caminhos parecidos (considerando-se que até versões gospel para “músicas” do tipo “CRÉU” são gravadas e cantadas no nosso meio), faz-se necessário discutir os rumos que a música cristã tem tomado.
Por décadas se discute no meio da Igreja o que é música sacra, qual o limite entre o sacro e o profano.  Eu que sou músico (violonista) já sofri na pele a discriminação do crente para com a música “do mundo”, já que eu tocava MPB em restaurantes da minha cidade. “― Nossa! Um crente tocando e cantando música do mundo?! Que absurdo!” Sempre fui criticado por um punhado de irmãos na igreja, e até “posto de lado” por isso, já que eu trabalhava no meio do pecado, cantando este tipo de música, entretendo bêbados e adúlteros. Mas fiquem tranquilos: os meus dízimos e ofertas, ganhos com esta “atividade prorfissional pecaminosa”, eram recebidos com um sorriso nos lábios por meus pastores preconceituosos.
Em nosso meio, procura-se muito mais classificar a música como sacra ou mundana, quando deveríamos classificá-la como música de boa qualidade ou música de má qualidade. Há excelentes músicas no meio popular (que os crentes chamam de mundano), e músicas terríveis no meio cristão. As músicas clássicas que o digam. As instrumentais, não compreendo porque algumas pessoas ainda as desprezam, já que a MÚSICA em si é criação divina; não havendo letra, o que criticar?
O cantor e compositor Chico Buarque, ícone da música brasileira, falou em uma entrevista sobre amigos compositores que lhe enviam músicas para que ele ponha letra, afirmou que se tratava de tarefa não muito fácil. Era necessário, segundo ele, respeitar a métrica da canção, colocar uma letra que coincida com esta métrica e com as suas sílabas tônicas. Aliado a isto, faz-se ainda necessário que a letra tenha uma mensagem compreensível e agradável, o que fará com que seja bem aceita e assimilada pelo público, tornando-se um sucesso.
Com a música sacra, deve se acrescentar mais uma preocupação, que na maioria das vezes limita ou elimina a chamada liberdade poética: a exatidão doutrinária (ou teológica). Não basta apenas ter uma melodia agradável ao ouvinte, uma composição que seja coincidente à linha melódica, uma letra compreensível, e que o conjunto letra e música agrade ao público, tornando-o um sucesso. Há o compromisso com a transmissão exata dos conceitos bíblicos e, acima de tudo, quem deve ser primordialmente agradado com o hino é o próprio Deus.
E é esta exatidão doutrinária, ou melhor, a sua ausência, que tem sido o ponto nevrálgico das músicas cristãs de nossa época. A cada dia, nos distanciamos mais dela!
A música tem uma função profunda no culto: além de ser um dos meios através do qual o cristão adora a Deus, é um instrumento de assimilação doutrinária poderoso. Há registro de hinos na Bíblia, como os Salmos e alguns outros cânticos no AT e outros inda no NT, como os registrados em 1 Tm 3:16 e Rm 11:33-36, que trazem em seu âmago verdades profundas, e que cantá-los faz com que ouvintes e cantantes as assimilem.
Entretanto, o dispensar da Bíblia e da sã doutrina como principais fontes de inspiração na composição dos hinos tem produzido uma leva de hinos pobres, medíocres de música e letra. Alguns que têm até uma linha melódica agradável e moderna, mas trazem ideias doutrinárias distanciadas ou distorcidas dos princípios dispostos na Palavra de Deus. A inspiração principal se torna o bel-prazer do compositor, que afastando-se da Bíblia expõe a igreja a erros grosseiros, preferindo compor o que é mais agradável e mais assimilável a uma igreja que não procura mais assimilar a mente de Cristo. Alguns destes erros até adquirem status de doutrina após algum tempo. É o caso, por exemplo, da chamada “teologia da restituição”, que penetrou em nosso meio a partir de alguns hinos da mesma linha de “ Restitui... eu quero de volta o que é meu”.
Existe a “inspiração” da vez. De repente, um compositor recebe um insigt do alto, uma frase de efeito, um chavão ou uma novo conceito doutrinário, e prontamente esta inspiração se torna o mote principal de uma leva de hinos, seus e de outros compositores contagiados pelo poder apelativo da composição. Um exemplo disso são os “hinos dos apaixonados por Deus” (como se a paixão fosse um sentimento digno de confiança!), os “hinos de chuva”, os “hinos da restituição”, os “hinos dos sonhos de Deus” (que na verdade são os sonhos de quem canta!), os !hinos das gerações" (geração de adoradores, geração de Samuel... e por aí vai... Sóo nome, e nada de conduta real!) etc. Pronto! Daqui pra frente, todo mundo só quer compor em cima deste mesmo tema, geralmente extraído de uma fonte extra bíblica, como “revelação”, modismo, experiência ou o desejo explícito de querer com que suas vontades e seus egos sejam satisfeitos e massageados. Podem até produzir letras bonitas, mas nem sempre comprometidas com a verdade. Este é o grande perigo da liberdade poética nos hinos. Ela sempre manifesta o sentimento humano, e dificilmente a vontade divina, pois não tem nenhum compromisso com a doutrina.
Ainda temos que considerar aquilo que eu chamo de “mantras gospel”. Sobre uma base melódica pobre (dois, três ou quatro acordes simples, que se repetem infinitamente), em um ritmo frenético, acrescenta-se uma letra mais pobre ainda, sem profundidade, apenas com o objetivo de levar os ouvintes e cantantes a um êxtase por repetição. Se você pega alguns CDs de determinados(as) cantores(as) da atualidade, que fazem extremo sucesso no meio das igrejas, percebe claramente que não há grande diferença entre um hino e outro. São praticamente iguais, mudando apenas a letra, que por sua vez uma é tão pobre quanto a anterior!
A maioria destes erros se derivam de erros principais no nascedouro de cada hino:
Primeiro, qual o motivo de se compor uma música sacra? Adoração ou comércio? Tocar o altar de Deus, ou tocar um cantor famoso, que a incluirá em seu próximo CD ou DVD? Ao que parece, a questão “adoração” tornou-se secundária ou terciária em nosso meio. Hoje, compõe-se o que o público quer ouvir e consumir, pois é isso que dá dinheiro!
Segundo, onde está o cuidado com a exatidão doutrinária, ou o compromisso cristão de zelar por ela? Vemos “compositores” apenas comprometidos com a rima ou a construção musical. Pouco interessa se o que cantamos corresponde com o que a Bíblia ensina. A liberdade poética é o que importa! Compreendo e aceito em parte a liberdade poética, mas no sacro isto tem limites rígidos. Algumas coisas até são passíveis de ser aceitos, como no caso de alguns hinos que afirmam que Jesus caiu no percurso do Calvário. Isto até é possível, apesar de o texto bíblico não afirmar tal coisa. Mas há certas “liberdades poéticas” que não transmitem qualquer verdade doutrinária, e ainda afastam o crente da sã doutrina.
É hora de os compositores de nossas igrejas tomarem uma decisão a favor da doutrina e da verdade: não mais comporem hinos extra-bíblicos, feitos sob encomenda para vender ou para agradar à maioria. Ao receber uma inspiração, um mote, corram para as Escrituras, para ver se as coisas são mesmo assim (At 14:11), antes de lançarem ao vento inverdades que comprometem a verdade bíblica e a unidade da Doutrina dos Apóstolos.
Tenho saudades do Cantor Cristão, da Harpa Cristã, dos Salmos e Hinos... Seus compositores não se preocupavam com os motivos que levam os compositores de hoje a se inspirar: dinheiro, fama, holofotes. A preocupação era a pregação do Evangelho de Cristo e a exatidão doutrinária, e por estas coisas se esforçavam para compor. Você pode até não gostar destes hinos velhos, cheirando a mofo. Mas se analisar-lhes a letra, verá uma cópia quase perfeita da Bíblia e dos seus ensinos.

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