quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

UNÇÃO COM ÓLEO

"Está ALGUÉM entre vós DOENTE? CHAME os PRESBÍTEROS da igreja, e OREM sobre ele, ungindo-o com azeite, em nome do Senhor; E A ORAÇÃO DA FÉ salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados" (Tg 5:14-15).

Estes dias , um dos debates mais acalorados que vi em uma Comunidade de rede social foi a respeito da unção com óleo. Esta prática se tornou muito comum nos meios pentecostais e neopentecostais, de sorte que se tornou costume ungir a todos no culto, ou mesmo nas reuniões. Ungem-se as mãos, os pés, a cabeça, partes específicas do corpo aonde se deseja "abençoar" ou "quebrar maldições". Outros, derramam LITROS de óleo sobre si mesmos ou sobre outras pessoas, e até sobre objetos como CDs e DVDs, na ânsia de que esta "unção" faça com que vendam mais... Há muito tempo a coisa saiu da esfera bíblica!

Permitam-me expor minha opinião a respeito...


O texto de Tiago 5:14-15 é o ÚNICO TEXTO prescritivo no Novo Testamento, que nos manda ungir alguém. A boa hermenêutica ensina que não se deve basear doutrina em texto isolado. Portanto, muito cuidado em relação à unção praticada indiscriminadamente por aí (já soube de pessoas que ungem até os animais domésticos!!), fora do padrão prescrito nas Escrituras. Outro texto, presente em Marcos 6:13, mostra que os discípulos também ungiam os enfermos, curando-os, mas não é texto prescritivo, e sim narrativo. Entretanto, não podemos simplesmente ignorar que a Bíblia prescreve a unção com óleo, e devemos buscar na Escritura o padrão deixado por Deus para esta prática.

A primeira coisa que precisamos entender sobre o assunto é que a "doutrina das unções" é veterotestamentária, e a maioria das pessoas que pratica tal "unção" o faz igualmente de acordo com os princípios do Antigo Testamento, e não do Novo, ignorando que vivemos de conformidade com a Nova Aliança, e não com a Antiga. 

Se observarmos bem, perceberemos que a revelação progressiva deixa muito claro que Deus foi ensinando, com o passar das alianças estabelecidas por Ele com Seu povo, como esta unção deveria ser ministrada. Antes da lei, podemos ver pessoas, como Jacó, derramando óleo sobre objetos -- mais precisamente uma pedra, consagrando o lugar ao Senhor (Gn 28:18). Já na Lei de Moisés, vemos claramente que o azeite não mais era derramado sobre objetos, EXCETO na consagração de objetos que seriam usados no culto do Templo, e ungia os sacerdotes, como sinal da descida do Espírito Santo sobre suas vidas. Inclusive, é importante observar que a fabricação e o uso do óleo de unção foi PROIBIDA POR DEUS, sob pena de morte na desobediência, como está escrito: "E falarás aos filhos de Israel, dizendo: Este me será o azeite da santa unção, nas vossas gerações. Não se ungirá com ele a carne do homem, nem fareis outro semelhante, conforme à sua composição: santo é, e será santo para vós. O homem que compuser tal perfume como este, ou que, dele, puser sobre um estranho, será extirpado dos seus povos" (Ex 30:31-33).

Com o advento da monarquia israelita, o azeite passou a ser derramado também sobre alguns reis, simbolizando igualmente a descida do Espírito Santo sobre eles. Observe-se que quando Davi foi ungido, o Espírito passou a habitar nele, ao passo que abandonou Saul (1 Sm 16:13-14). Entretanto, é bom lembrar que a iniciativa da unção nunca partia do profeta, mas de Deus! Vejam que o profeta Samuel NÃO QUERIA ungir Davi, mas só o fez porque Deus ordenou (1 Sm 16:1). Outro fato que não pode ser desprezado é que pelo relato bíblico poucos reis de Israel foram ungidos com óleo. Saul, Davi e Jeú são alguns que a Palavra mostra que foram ungidos. Outros, não se menciona nenhuma unção.


Outra coisa que não vemos na Bíblia, em lugar nenhum, é a AUTO-UNÇÃO, que muitos praticam em nossos dias, mas não tem qualquer amparo escriturístico! E muito menos pedir ou mandar que outros nos unjam, exceto no caso de unção para enfermos.

Na Nova Aliança em Cristo, o Espírito Santo foi derramado sobre toda a Igreja no dia de Pentecostes. A Lei se cumpriu integralmente em Cristo, de sorte que o SIMBOLISMO das unções veterotestamentárias (a unção com azeite para recebimento do Espírito) se materializou no Senhor Jesus, não mais necessitando de unção com óleo. Quem se achega a Cristo por meio do novo nascimento recebe, inexoravelmente, o Espírito Santo, sem exceção! Mesmo que não haja sinais, ou manifestação de dons, o Espírito é recebido no ato do Novo Nascimento. 

Podemos afirmar, à luz dos textos bíblicos da Nova Aliança, que:

1) O Novo Testamento não prescreve unção com óleo na consagração de diáconos ou presbíteros (pastores, evangelistas, missionários etc). Os mesmos são consagrados com IMPOSIÇÃO DE MÃOS (At 6:6; 13:3; 1 Tm 4:14). Caso haja discordância, peço que sejam apresentados textos bíblicos neotestamentários que indiquem tal unção ministerial usando óleo ou azeite.

2) O Novo Testamento não prescreve unção com óleo para "batismo" do Espírito Santo. No livro de Atos, vemos casos aonde os apóstolos impunham as mãos, e os crentes recebiam o DOM do Espírito Santo (At 19:6). Caso haja discordância, insisto em pedir textos bíblicos que comprovem.

3) O Novo Testamento não prescreve a unção para consagrar objetos. Aos que discordam, peço que me enviem os textos neotestamentários que mostrem qualquer objeto sendo "ungido", consagrado a Deus, no Novo Testamento.

4) Não há, em nenhum texto do Novo Testamento, a orientação de que TODOS os participantes de uma reunião da Igreja devam ser ungidos (se houver, que se me apresentem, por favor). O único texto que pode deixar isso transparecer, o relato da mulher pecadora que ungiu os pés de Jesus (Lc 7:44-46), quando Jesus lançou no rosto de SImão que ele não lhe ungiu a cabeça com azeite; isto demonstra não uma norma doutrinária para a Igreja, mas um costume judaico de higiene e respeito ao se receber uma visita. Os que acham que este texto justifica que todas as pessoas sejam ungidas na entrada do culto (ou mesmo durante o culto), devem também oferecer A TODOS água para lavar os pés e beijar, um por um, com ósculo santo, pois Jesus reclamou a ausência de todas estas coisas!

Mas Tiago, irmão do Senhor, menciona a UNÇÃO DOS ENFERMOS. Sobre isso, falamos:

Como já dissemos anteriormente, repetimos: trata-se de TEXTO ÚNICO, isolado, sobre o assunto, e por isso não deve ser usado como base doutrinária para a Igreja, assim como 1 Co 15:29, texto ÚNICO e ISOLADO que fala sobre BATISMO PELOS MORTOS, e que foi tomado por algumas seitas como justificativa para batizar por procuração uma pessoa morta, não pode ser usado para definir uma doutrina de batismo pelos mortos.

Sigamos, passo a passo, o que diz o texto de Tiago, analisando as palavras gregas nele presentes:

a) “Está ALGUÉM?...” (τις tis pronome indefinido enclítico; alguém, uma certa pessoa) - O uso da unção com óleo é para pessoas, e não para objetos! O próprio fato deste ALGUÉM estar DOENTE demonstra isso, pois objetos não adoecem...

b) “Está ALGUÉM entre vós DOENTE?...” (ασθενεω astheneo - 1) ser fraco, débil, estar sem força, sem energia -2) estar debilitado, doente) - O uso da unção com óleo é para pessoas DOENTES. Para que eles adquiram CURA. E não para que sejam consagrados, separados, santificados, cheios do Espírito, abençoados etc. É para DOENTES. Se você não está doente, mas quer ser ungido para alcançar vitória, para receber bênçãos, afastar mau olhado gospel etc, não é por aí... A unção é só para doentes!

c) “Está ALGUÉM entre vós DOENTE? CHAME...” (προσκαλεομαι proskaleomai - 1) convocar 2) chamar para si 3) ordenar a vir) - O "alguém" que está doente é quem deve CHAMAR, ou alguém que o represente. Deve ser um ato voluntário, manifesto pelo doente, familiares diretos ou amigos, CHAMANDO alguém.

d) O ato de "chamar" dá a entender que tal ritual não deve ser feito na Igreja, e sim na casa do enfermo, provavelmente nos casos em que a pessoa esteja impossibilitada de ir à casa de reunião da Igreja. Entretanto, os doentes que puderem ir à casa de reunião podem, creio, solicitar a unção na Igreja...

e) “Está ALGUÉM entre vós DOENTE? CHAME os PRESBÍTEROS...” (πρεσβυτερος presbuteros 1) ancião, de idade, 1a) líder de dois povos 1b) avançado na vida, ancião, sênior 1b1) antepassado 2) designativo de posto ou ofício)  - São os PRESBÍTEROS, e não os diáconos, e não os dirigentes círculo de oração, e não o presidente da Mocidade, e não os profetas, e não os "vasos" quem devem ser chamados, quem devem promover tal unção com óleo... SÃO OS PRESBÍTEROS. 

f) “Está ALGUÉM entre vós DOENTE? CHAME os PRESBÍTEROS da igreja, e OREM...” (προσευχομαι proseuchomai 1) oferecer orações, orar) - Deve haver oração. Não é a unção que é o fundamental, mas a ORAÇÃO. Lamentavelmente, um famoso “telepastor” certa vez ofereceu à igreja um frasquinho de óleo que, segundo ele, bastava ungir o doente e ele seria curado, SEM ORAÇÃO. Não é isso que a Bíblia ensina...

g) “...E A ORAÇÃO DA FÉ salvará o doente, e o Senhor o levantará...” - Não é o óleo, com seus poderes mágicos, místicos, especiais... É A ORAÇÃO quem traz a cura. E não é a pessoa que ora quem o levanta, através de seus poderes e dons, mas O SENHOR.

h) Finalmente, NÃO EXISTE ÓLEO UNGIDO. Para haver óleo ungido, seria necessário pegar um óleo não-ungido, e ungi-lo com óleo ungido, derramando óleo ungido sobre o óleo não-ungido, tornando o óleo não ungido em óleo ungido pelo contato com óleo ungido... Ai, que confusão!! O máximo que pode haver é óleo consagrado, sobre o qual os Presbíteros oraram, impondo as mãos e separando-o para o uso exclusivo na unção dos enfermos. E este óleo não é nenhuma poção mágica para curar pessoas.

Isto posto, se você tem feito a coisa errada este tempo todo, nunca é tarde para aprender pelas Escrituras, compreender os erros, dar meia volta e tornar à prática das primeiras obras (Ap 2:5)! 

5 comentários:

  1. Muito Esclarecedor irmão. Estou sempre aqui aprendendo.

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  2. Olá irmão, estou buscando esclarecimento a respeito desse tema e vi esse comentário :" No Antigo Testamento, além dos propósitos descritos, a unção adquiriu uma relevância distintivamente religiosa. Ungir com óleo separava determinadas pessoas e objetos, dedicando-os ao serviço divino. Havia na legislação (Ex 30.22-­33 e 40.10-11) óleos que eram usados para dedicar o tabernáculo, seus móveis e seus vasos, assim como os membros da classe sacerdotal de Levi que deviam ali servir. Eventualmente há menções à unção dos profetas (1 Rs 19.6 e SI 105.15), porém o maior número diz respeito à unção dos reis ( 1Sm 10.1; 16.13 ). Até os utensílios de guerra passavam por consagração (2Sm 1.21 e Is 21.5)." No tocante a consagração de armas qual é a sua resposta? Não tinha encarado isso dessa forma, li os textos e na versão que li consta o termo "untar com óleo" e isso me despertou a curiosidade que originou essa pergunta. Ele não recomenda que o ato de ungir seja feito pelas irmãs. E a respeito disso o que me responde? Paz do Senhor e que Deus continue te abençoando!!!

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    1. A paz, Fernando.

      A unção das armas se dava, evidentemente, porque o povo de Israel tinha suas guerras como um ato de juízo divino sobre seus inimigos. Eles matavam sob as ordens de Deus, e eis porque as próprias armas eram ungidas. É clatro que não podemos esquecer que eles viviam na Antiga Aliança. A Nova Aliança em cristo, suponho não ter mais sentido o matar os inimigos.

      E quanto à unção feita pelas irmãs, sua observação é perfeita. Elas não podem ungir, e nem os irmãos, mas somente OS Presbíteros, homens que detêm ministério ordenado.

      Deus te abençoe.

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    2. Zilton sou membro de uma igreja pequena, aqui não temos toda essa "subdivisão", essa nomenclatura, então eu perguntei ao Pastor e ele me disse que os pastores são equivalentes aos presbíteros. Perguntei a respeito do assunto do tópico e ele me disse que alguém que sendo membro da igreja e recebendo a autorização do pastor pode ungir. Vc concorda? Obrigado e Paz do Senhor!!!

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    3. Caro Fernando, seu pastor tem razão em um aspecto: os pastores são presbíteros sim. Na verdade, são presbíteros que desempenham ministério pastoral.

      Quanto à autoridade para ungir, a Bíblia só prescreve autoridade para unção de enfermos ao PRESBÍTERO. Portanto, não concordo que alguém, mesmo autorizado para tal, promova tais unções.

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