sexta-feira, 20 de abril de 2012

MARCO FELICIANO PRESIDENTE — OU QUEM MAIS ?


Aos poucos surge na Internet uma nova campanha encabeçada por evangélicos — pastor Marco Feliciano para Presidente! Como era de se esperar, duas principais vertentes se apresentam neste instante: os favoráveis à candidatura, e os contrários, todos eles apresentando suas razões... Chamou-me a atenção um dos principais argumentos pró-candidatura: se um torneiro mecânico chegou à presidência do nosso país, porque não um pastor evangélico?

A princípio, concordo inteiramente com a argumentação. De acordo com a nossa Constituição, qualquer brasileiro que não possua restrições políticas pode ser Presidente da República, seja ele sacerdote, torneiro mecânico ou catador de materiais recicláveis. É direito legal de todo cidadão. Portanto, nada existe contra a candidatura de um evangélico para o cargo máximo do Executivo de nosso país, e muito menos contra a candidatura do pr. Marco Feliciano, ou de qualquer outro pastor que lance seu nome.

Recentemente, correu em todas as redes sociais a notícia de que na Alemanha um pastor luterano havia sido escolhido para ocupar tal posto naquele país europeu, o que foi amplamente louvado pelos crentes brasileiros. Bem, qual a diferença entre um crente na Alemanha ocupar o cargo presidencial, e o mesmo ocorrer nas terras brasileiras? Por que tamanho levante contra uma candidatura “evangélica”? E qual é o grande agravante que existe no nome de Marco Feliciano, senão as diferenças teológicas? Por acaso “diferenças teológicas” são critérios políticos para escolha ou descarte de um nome para uma pré-candidatura?

As únicas restrições devem ser políticas. Estaria o Marco Feliciano capacitado para ocupar tal cargo? Ou qual “evangélico” tupiniquim estaria igualmente capacitado? Afinal de contas, o cargo presidencial em nosso país é sério, e exige preparo político de seu ocupante. Não é um mero cargo que primeiramente e mormente enobrece seu possuidor, como os cargos “apostólicos” e “episcopais” tão comuns em nosso meio, que têm por maior objetivo conceder poder religioso ao seu possuidor... 

Lamentavelmente, embora completamente plausível e possível, tal pré-candidatura soa-nos a princípio como mais um caso de “salvadorismo da pátria”. Os “atos proféticos” (muito melhor qualificados se chamados de “patéticos”) que declaram que “o Brasil é do Senhor Jesus” e que “feliz é a nação cujo Deus é o Senhor” tentam associar a vertente política (os que governam nossa pátria) a grupos “evangélicos”, como se dentre nós viesse o candidato perfeito, o melhor líder executivo, que resolveria todos os problemas da nossa cidade, estado ou país, porque Deus está com ele. Há muito tempo corre em nosso meio que “irmão vota em irmão”, em uma interpretação distorcida e equivocada de Dt 14:14-15 e de Sl 33:12.

Entretanto, uma rápida olhada no cenário político-religioso de nossa nação mostra que ainda estamos MUITO LONGE da plena capacidade de governar um estado laico, como se denomina o Brasil. Na verdade, os “evangélicos” brasileiros gostariam muito mais de impor suas posições a toda a nação do que buscar um consenso político. Se como cristãos evangélicos temos posições bíblicas sobre temas polêmicos (como aborto, homossexualidade etc), queremos instituí-las e impô-las como verdades absolutas, e não estamos nem um pouco dispostos a abrir tais temas ao diálogo e à discussão pública, numa postura claramente política e democrática. Somos teocráticos, e queremos impor tal posição à democracia, independentemente das posições religiosas ou arreligiosas dos demais cidadãos. Entretanto, qualquer cargo político desempenhado em um estado democrático e laico foge destas características religiosas radicais e xiitas. Podemos defender nossas posturas religiosas, mas devemos estar abertos ao diálogo democrático... 

E quando encontramos algum político "evangélico" que procura pautar sua conduta política sob estas premissas laicas, a Igreja é a primeira a se levantar contra ele, que está legislando ou abrindo debates de coisas que a Bíblia condena... Na última campanha presidencial, a assembleiana Marina Silva foi duramente criticada por se posicionar a favor de plebiscito sobre o aborto... 

Observem: não estamos descartando as posturas bíblicas acerca de tais assuntos, e sim mostrando que um Presidente da República não busca tratar toda a nação como se toda a sua população professasse a fé cristã “evangélica”. O Presidente não governa um estado “evangélico”, e nem busca transformá-lo em algo assim. Ele governa evangélicos, católicos, ateus, espíritas, candomblecistas e demais vertentes religiosas POR IGUAL, trabalhando em prol dos interesses comuns de TODOS, e não somente dos de seu gueto religioso.

Repito: não sou contrário a uma candidatura “evangélica”, muito menos contra a pré-candidatura de Marco Feliciano ou de qualquer outro pastor. Quem sabe, não é mais uma opção em uma completa falta de bons nomes para a sucessão presidencial. Aqui aonde moro, nem mesmo temos boas opções para candidaturas a prefeito e governador... Nomes como o de Marco Feliciano podem ser bem vindos neste cenário atual...

Mas sou contra a “teologia do irmão-que-vota-em-irmão”, sou contra a idéia de “salvador da pátria gospel”, a idéia tabajariana de que com um presidente crente todos os nossos problemas vão se acabar! Sou contra a idéia de votar em um crente despreparado, achando que o simples fato de ser crente o torna melhor que um ímpio preparado e capacitado.

Àqueles que discordam deste meu último ponto de vista, sugiro uma questão: se você estivesse com uma doença grave, com indicação cirúrgica imediata, com qual cirurgião você se submeteria a tal intervenção: um cirurgião crente, mas inapto e despreparado, ou um cirurgião ímpio e ateu, mas capacitado e preparado???

Entendam: a política não difere tanto assim da cirurgia! Já afirmou Berthold Brecht, discorrendo sobre o analfabeto político, que o bom e o mau político (seja ele cristão, ateu, ou professo de qualquer outra religião) são responsáveis pela condução de nossa vida social, pelo preço do feijão, da carne e da gasolina. O mau político se torna facilmente um lacaio de multinacionais e de grupos escusos —  e um político "cristão" está igualmente sujeito a tais subserviências políticas. Se escolhemos com critério e cuidado quem vai nos extrair uma verruga em um procedimento cirúrgico, porque escolher qualquer um para conduzir a nação, usando apenas por critério o fato de ele professar a nossa fé religiosa???

É pra se pensar...

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