sexta-feira, 31 de julho de 2015

AS CONTRADIÇÕES DOS DESIGREJADOS

Pr. Idauro Campos


Tenho estudado o tema dos desigrejados e procurado entender o fenômeno, suas causas e suas consequências dentro do cenário protestante brasileiro.  No que tange ao comportamento de muitos desigrejados e simpatizantes, percebi um padrão que está relacionado com o modus operandi de alguns grupos. Esse modus operandi que será exposto abaixo evidencia algumas fragilidades, inconsistências e incoerências do movimento, revelando que, por mais que se tente não se consegue despir completamente qualquer movimento restauracionista de traços institucionais, pois, tais, são inerentes e inseparáveis das experiências dos ajuntamentos. Podemos, portanto, apontar algumas expressões institucionais presentes no movimento dos desigrejados, revelando, com bom humor, algumas das contradições e das armadilhas que cometem e caem:

1 – Em uma reunião de desigrejados, há sempre alguém que dirige a mesma.  Geralmente, é o que detém, senão o monopólio, ao menos a primazia da palavra. É o mestre do grupo. Na prática é o pastor. Outros do grupo fazem algumas contribuições; contam algumas experiências; leem alguns versículos, trazem, uma vez ou outra, uma mensagem, mas a abordagem principal é daquele que tem a capacidade do ensino e da pregação. Igual nas igrejas convencionais. Compare os grupos; visite-os, assista-os na internet. O líder dos desigrejados são os que mais falam, ensinam e abordam. Há uma diferença: não são chamados de pastores, e sim de "irmão", "mentor" ou pelo nome mesmo, mas trata-se apenas de rejeição didática da nomenclatura "pastor", pois, na prática, e na dinâmica do trabalho, se comportam, agem e reagem como os pastores que conhecemos.

2 - Criticam a institucionalização da igreja, mas dão nomes aos seus projetos: EQUI (Eu Quero Uma Igreja), Caminho da Graça, Igreja Orgânica, Igreja nos Lares e etc (qual a diferença para outros nomes, como Nova Vida, Assembleia de Deus, Metodista e etc?). Tais projetos estão sistematizados (possuem encontros em dias, horários e locais marcados; estudos dirigidos que constroem o arcabouço teórico do movimento; publicam livros e artigos em sites), pois a institucionalização é inevitável aos ajuntamentos humanos.

3 -  Criticam as reuniões regulares nos templos religiosos, mas se reúnem via Skyp (hangouts), em sítios, cafeterias, salões, varandas e etc.

4 – Alguns desenvolvem espírito de Seita, pois alegam que as pessoas têm que "sair do sistema" (sair da igreja), para encontrar "o verdadeiro evangelho", ou, no melhor estilo da linguagem caiofabiana: "discernir o evangelho".  Tenho apenas uma pergunta a fazer: E se alguém não sair? O que acontecerá? Não será salvo? Quem salva é Cristo? Ou a desigrejação é o que salva? Tenho que sair da Comunidade de fé que congrego para ser salvo? Sabemos, obviamente, que a resposta é um sonoro não. Quem salva é JESUS CRISTO. Seja você Batista, Presbiteriano ou seja lá o que for. O importante é a experiência com Jesus Cristo!

5 - Criticam os compromissos institucionais, mas reclamam daqueles que não querem participar das reuniões que realizam. Chegam a dizer que na época que eram institucionalizados "iam aos cultos segunda, terça [...] sábado [...], mas agora que estão livres, não querem se reunir". Ou seja, a mesma cobrança das igrejas institucionalizadas. De uma forma mais branda, mas, ainda assim, cobrança a uma forma de compromisso.

6 - Alegam que não seguem a homens (somente a Jesus), mas escolheram Caio Fábio, Mario Persona, Pedroza, Rubens, Paulo Brabo, Frank Viola como seus gurus espirituais.

7 - Rejeitam Calvino, Lutero, Zwinglio, alegando que não precisam de mestres humanos, mas devoram o que Viola escreve. Trocam de mestres humanos por outros mestres humanos, portanto!

8 - Dizem que basta o ler o Novo Testamento para entender a irrelevância da igreja contemporânea, mas precisam do "Cristianismo Pagão" para formularem suas teses desconstrucionistas e construir o "trilho básico" do movimento.

9- Criticam o sectarismo das igrejas, mas também o são: Rubem critica Caio, que já Criticou o pessoal do EQUI, que criticam o Rubem e o Pedroza. Por aí vai!


 É Importante Entender Que

1 - Há gente de Deus dentro das comunidades chamadas Batistas, Metodistas e Presbiterianas e afins. Na verdade, a maioria das pessoas cristãos que congregam são maravilhosas e servem a Deus. Tornando desnecessária a deserção. O apóstolo Paulo ao escrever aos Coríntios (1. Co 1.2) se dirige aos mesmos como "A Igreja de Deus que está em Corinto", mesmo como todos os problemas da mesma (divisão, pecados sexuais, litígio, desordem litúrgica, heresia, discriminação social, e etc), nunca defendeu o abandono da comunidade como solução.

2 - O problema não é o sistema, CNPJ, isto é, não é a instituição (ela neutra). O que corrompe é o coração do homem. E pode se estar dentro de uma grande denominação ou reunido com pessoas em uma varanda. No Éden eram apenas dois (Adão e Eva) e deu no que deu.  Além disso, as igrejas neotestamentárias, mesmo insipientes, lideradas pelos apóstolos, pequenas e funcionando em casas, não deixaram de enfrentar seus muitíssimos e graves problemas e que levaram, inclusive, apóstolos como Paulo, a escrever cartas para tratar de suas seríssimas demandas. Heresia em Colossos, legalismo na Galácia, agitação escatológica em Tessalônica, carnalidade em Corinto e etc. A própria Igreja Primitiva não ficou sem seus dramas e crises, efeitos inevitáveis dos ajuntamentos e de nossa pecaminosidade.

3 - Conheço um grupo de irmãos que saiu de uma igreja, organizou um núcleo de desigrejados, não demorando muito para aparecer a primeira crise, pois um sujeito deu em cima da mulher do outro. Deu confusão. Não adianta ser reunir em casas, sítios ou praias. O problema não é o lugar! Não adianta se reunir em número de dois, três, de dez ou mil: o problema não é quantidade de pessoas! O problema é a PECAMINOSIDADE HUMANA que nos acompanhará sejam em uma singela reunião em uma varanda com 05 pessoas ou em uma grande comunidade com ministérios de louvor, coral, pastores e etc. É muita ingenuidade dos desigrejados acharem que saindo das quatro paredes de um templo e se enfiando dentro das quatro paredes da casa de alguém que irão revigorar a fé das pessoas. A Trindade não é claustrofóbica ou oclofóbica. Não tem, portanto, medo de lugares fechados (templos, por exemplo) ou de multidões. Quem desenvolve tais sintomas são os desigrejados, não a Trindade!

4- A reunião pode ser em varanda com 05 pessoas e ser uma bênção ou com 1000 pessoas em templo chamado "Batista" e também ser uma bênção. Qual o problema? Jesus disse que onde houver "dois ou três". Ora, se é isso, qual o problema de 200 pessoas se reunirem um lugar chamado templo presbiteriano para cultuar? As 200 pessoas da hipótese não estariam diante de Cristo? Para Cristo estar presente a reunião tem que ser com poucas pessoas em uma sala, varanda ou sítio? Sinceramente não entendo a Cruzada dos desigrejados! A igreja verdadeira é a universal / invisível, a que é constituída por todos os que se encontraram com o Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus. Sendo assim, PROVEM -ME OS DESIGREJADOS QUE NÃO HÁ CRISTÃOS VERDADEIROS DENTRO DAS COMUNIDADES INSTITUCIONALIZADAS. OU SERÁ QUE OS DESIGREJADOS ACREDITAM QUE SOMENTE ELES ESTÃO SALVOS?

5 - Os Desigrejados dizem: "a verdadeira igreja não são as quatro paredes do templo, mas sim nós, os cristãos": Nossa! Que novidade extraordinária!!!  Disso sei há mais de 20 anos, quando me converti. Até as crianças aprendem isso na Escola Dominical! Não precisamos do panelaço dos desigrejados para saber o que o Novo Testamento há mais de 2000 anos ensina. Estou na mesma denominação há 21 anos. NUNCA, NUNCA, NUNCA e NUNCA ouvi meus pastores afirmarem que o verdadeiro templo do Espírito Santo são os quatro paredes. NUNCA! Sempre disseram que a verdadeira igreja somos nós. E que o templo é apenas o lugar onde os irmãos se encontram para adorar coletivamente. Sempre disseram que devemos viver o Evangelho em casa, na vizinhança, no trabalho, na faculdade e no seio da família. Que devemos adorar a Deus em casa, ler a Bíblia e orar em casa, assim como em todos os demais lugares. Os dias de reunião é a ocasião de Celebração coletiva. Apenas isso!

6 - O problema não é dos igrejados para com os desigrejados. E sim dos desigrejados para com os igrejados. Para mim, se não tomarem o cuidado, produzirão espírito de Seita, ao insistirem no esquema “saia da igreja para encontrar a Deus”. Há desigrejados dizendo isso. A história da igreja prova o quão estão errados.

Idauro Campos é autor do livro “DESIGREJADOS – TEORIA, HISTÓRIA E CONTRADIÇÕES DO NIILISMO ECLESIÁSTICO”, o primeiro livro acadêmico publicado no Brasil sobre o movimento dos desigrejados. Prefaciado pelo Dr. Augustus Nicodemus Lopes.