quarta-feira, 6 de agosto de 2014

CESSACIONISMO

Enquanto alguns Cessacionistas afirmam que o Continuísmo (ou Pentecostalismo) é uma das maiores heresias da Igreja evangélica moderna, um leitor sincero das Escrituras pode facilmente observar que na verdade o Cessacionismo é que se trata de um dos primeiros e mais perigosos casos de pragmatismo da história da Igreja, pois baseia sua doutrina não no que está escrito de forma clara nas Escrituras neotestamentárias, mas nas evidências históricas do desaparecimento dos dons no segundo século, ou seja, na EXPERIÊNCIA. 

O "perigo" a que me refiro está no fato de que cristãos reformados, que geralmente apresentam maior equilíbrio doutrinário e observância escriturística, abominando toda e qualquer forma de pragmatismo, adotaram uma doutrina pragmática, abrindo mão de qualquer coerência relacionada com o princípio reformado do SOLA SCRIPTURA, desprezando textos bíblicos muito mais claros que os que são usados para desmoralizar o Continuísmo...

São poucos os textos bíblicos que supostamente embasam o Cessacionismo. Eis os principais:

E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; Pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão. Ora o Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu, e assentou-se à direita de Deus. E eles, tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra com os sinais que se seguiram” (Mc 16:17-20).

O amor nunca falha, mas, havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; Porque em parte conhecemos, e em parte profetizamos; Mas, quando vier o que é perfeito, então, o que é em parte será aniquilado” (1 Co 13:8-10).

Havendo Deus antigamente falado muitas vezes e de muitas maneiras aos pais, pelos profetas, a nós, falou-nos, nestes últimos dias, pelo Filho” (Hb 1:1).

A lei e os profetas duraram até João” (Lc 16:16).

Toda a Escritura, divinamente inspirada, é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.” (2 Tm 3:16-17).

O texto da carta aos Coríntios é o mais usado, embora seja de não muito fácil entendimento; ou seja, o texto não é claro e nem conclusivo. Usá-lo para desmerecer o Continuísmo é equivalente a usar o texto de 1 Co 15:29 para justificar a doutrina mórmon de batismo por procuração em nome dos mortos, ou usar o texto de Jo 3 para justificar a reencarnação, como fazem os espíritas. É criar doutrina baseado em texto isolado de seu contexto, prática que a boa teologia desmerece e não incentiva.

Há muitos autores sérios que são adeptos do Cessacionismo, os quais respeito profundamente no universo da boa teologia. Já tive a oportunidade de ler alguns, a grande maioria homens sérios e bem intencionados teologicamente falando. Entretanto, lamento profundamente que os mesmos apresentem farta e bem elaborada argumentação lógica, mas não baseiem tal argumentação com TEXTOS BÍBLICOS NEOTESTAMENTÁRIOS que deem lastro sólido às suas crenças.

A doutrina do Espírito Santo para a Igreja evidentemente precisa se basear em textos do Novo Testamento, pois o Espírito só foi concedido após a implantação da Nova Aliança e a formação da Igreja. Querer embasar a pneumatologia da Nova Aliança com textos veterotesmanentários é como querer compilar um manual de uso de computador com textos de Galileu Galilei! A falta de base neotestamentária sólida, portanto, torna a doutrina cessacionista um exemplo de pragmatismo e eisegese sem tamanho! Como eu costumo dizer, há mais textos que afirmam ou transparecem a triunidade divina do que a cessação dos dons ao fim do primeiro século! E como eu sou adepto do princípio reformado do "Sola Scriptura", não me convenço com meros argumentos. Quero base bíblica! Estaria eu errado em pedir aos Cessacionistas o que peço igualmente aos "neopentecostais": que embasem suas crenças e práticas com textos bíblicos??

A Reforma Protestante se baseou em Cinco Solas, e todo cristão reformado tem estas Solas como um resumo de fé e crença. Dentre elas, temos o SOLA SCRIPTURA, ou só a Escritura, que demonstra claramente que o Protestante tem a Escritura como MAIOR autoridade e ÚNICA fonte de doutrina, regras e condutas da Igreja. Ou seja, diferentemente do Catolicismo, aonde os dogmas e decisões papais são superiores às Escrituras, NADA, absolutamente nada é superior a elas para os Protestantes! Não que não haja fontes externas, mas que todas estas fontes externas estão absolutamente submissas às escrituras. Não há doutrina que não precise, obrigatoriamente, ser baseada nas Escrituras, e somente nelas! Eis a pedra de tropeço do Cessacionismo: não há base bíblica neotestamentária clara para seus postulados! Abraçá-la e confessá-la, é praticamente um abandono deste princípio pétreo dos Reformados!

A Escritura É e SEMPRE SERÁ superior a qualquer Concílio, Confissão ou Credo! Não é porque um Reformador afirmou a cessação que vou considerar a palavra do Reformador superior à Escritura! Nenhum Reformador, por mais ilustre, por mais usado que tenha sido por Deus, por mais erudito, é dotado de infalibilidade. A Escritura é-lhes superior, e a tudo o mais, e em momento algum vejo ela citar de forma clara e inequívoca qualquer cessação de dons no fim do primeiro século!

É importante frisar que o Cessacionismo não afirma que TODOS os dons cessaram, mas apenas os dons revelativos ou de poder, como os dons de profecias, línguas e curas. Embora não creiam no DOM de curas, jamais deixaram de crer na cura divina. Em suas Igrejas, ou em seu dia-a-dia, oram pelos enfermos e esperam a cura com fé, submetendo-se à vontade soberana do Senhor.

Embora eu respeite muito os cessacionistas (tenho muitos amigos cessacionistas, e confesso que me dou melhor com eles do que com muitos que se dizem "pentecostais") e até entenda algumas das razões de sua crença, não me inclino a crer na cessação, e uma das principais razões é porque algumas perguntas óbvias não me são respondidas satisfatoriamente pelo cessacionismo:

1. A Escritura afirma que Deus concedeu os dons à Igreja para sua EDIFICAÇÃO, repetindo tal informação pelo menos por quatro vezes no capítulo 14 de 1 Coríntios (vv 3, 5, 12 e 26). A despeito disto, os adeptos da cessação afirmam que "os dons que cessaram não promove mais nenhuma edificação à Igreja". Como chegaram a tal conclusão, antagônica ao texto sagrado? Crer na cessação de alguns não seria uma forma de negar o que está escrito claramente em detrimento de especulações? Aonde, NA ESCRITURA (lembram do Sola Scriptura?), está claramente escrito que em dado momento certos dons não serviriam mais para edificação, e por isso cessariam?

2. Os dons desapareceram no segundo século por vontade de Deus, ou porque os homens extinguiram o Espírito, como próprio Paulo previu e preveniu a Igreja a lutar contra este acontecimento (1 Ts 5:19)? Não creio que tal desaparecimento tenha se dado por vontade ou propósito de Deus, pois Ele não deixou tal propósito claramente exposto na própria Escritura; pelo contrário, quando nos adverte que não devemos extinguir o Espírito deixa-nos transparecer que é o HOMEM, e nunca Ele, quem promove qualquer cessação!

3. A Escritura realmente afirma que “havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá” (1 Co 13:8), deixando claro que haverá uma cessação dos dons. Isso é inegável, e os próprios Continuístas admitem que um dia haverá uma cessação. Mas aonde a Escritura deixa claro que se dará tal cessação ao término do primeiro século? Aonde afirma que isto se dará com o fechamento do cânon? Aonde encontramos base clara para tais afirmativas? Observem, não peço questionamentos, argumentações e dissertações. Peço base bíblica! Coisa simples.

4. Por que a cessação dos dons extraordinários se deu com a morte do último apóstolo? Isto só teria base se apenas os apóstolos apresentassem os dons, o que a Escritura demonstra claramente que não... Paulo orienta os crentes comuns de Corinto a buscarem os melhores dons, principalmente o de profecia, embora não houvesse apóstolos entre eles, o que deixa claro que os dons de revelação não eram exclusividade dos apóstolos, mas de todo e qualquer crente! A própria Escritura menciona pessoas que não eram apóstolos que profetizavam (At 21:4, 8-11). A própria história mostra inclusive cessacionistas, como por exemplo Spurgeon, sendo usados por Deus em dons que eles mesmo afirmavam haver cessado!

5. Como podem os Cessacionistas afirmar com tanta certeza que a vinda do "perfeito" citado em 1 Co 13:10, o marco da época do desaparecimento dos dons, é o fechamento do cânon neotestamentário? Há base bíblica clara para tal conclusão? Por que o "perfeito" é o cânon, e não JESUS, na Sua vinda? Qualquer leitor sincero das Escrituras observará que não há em lugar algum do NT qualquer indício que aponte que a vinda do perfeito seja o fechamento do cânon. Entretanto, em 1 Co 1:7 Paulo afirma algo que dá para associar com a vinda do "perfeito":  “de maneira que nenhum dom vos falta, enquanto aguardais a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo”. Eis o Perfeito que está por vir, e que cessará, com a Sua vinda, todos os dons: JESUS CRISTO. Aliás, quem ler McArthur, um dos mais ferrenhos e apaixonados detratores do continuísmo, verá que NEM ELE acredita que o "perfeito" seja o fechamento do cânon. Nem Calvino, em seu comentário a 1 Co 13, afirma que seja o cânon!

6. O texto de 1 Co 13:8-10 diz que “havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará ... porque em parte conhecemos e em parte profetizamos”, e acrescenta que “quando vier o perfeito, o que é em parte será aniquilado”. O que é que é "em parte" que será aniquilado? O conhecimento, ou a profecia? A ciência, ou as línguas?  E por que estas, e não aquelas? E qual o critério de se definir o que cessará e o que permanecerá?

7. Em relação a “quando vier o que é perfeito”, o próprio texto afirma que “agora, vemos por espelho, em enigma, mas, então [quando chegar o Perfeito, e cessarem os dons], veremos face a face; agora conheço em parte, mas, então, [quando o perfeito chegar] CONHECEREI COMO TAMBÉM SOU CONHECIDO” (1 Co 13:12 - grifos e colchetes meus, para melhor compreensão). Pergunto: quando o cânon se fechou no fim do primeiro século e os dons cessaram pela chegada do "perfeito", chegamos a esta plenitude de conhecimento anunciada pelo próprio texto em questão, a ponto de conhecermos a Deus no mesmo nível que somos conhecidos por Ele? Este nível de conhecimento é possível nos dias de hoje, mesmo com o cânon devidamente fechado? Pelo contrário, observamos o cânon devidamente fechado, a Bíblia, na mão de cinco ou dez pregadores diferentes, e observamos que muitas vezes eles se contradizem entre si a respeito da verdade teológica...

8. Como se pode afirmar com tanta convicção que “os sinais seguirão os que creem” (Mc 16:17), mas só seguirão OS PRESENTES naquele evento (há argumentos que a palavra foi dirigida só aos presentes!), ou só seguirão no primeiro século, e não mais seguirão nos demais séculos, se tal informação não está clara no texto? Aonde a base bíblica neotestamentária, indicando claramente em qual(is) época(s) os sinais seguiriam os que cressem? Sem base bíblica, isso me parece puro pragmatismo, pura observação de evidências... O mesmo que fazem os neopentecostais... Ou não?? 

9. Não são os reformados que afirmam que "o que a Bíblia não fala com clareza, não pregue com firmeza"? Ora, concordamos completamente com esta afirmação, mas parece-me que há mais clareza no ensino dos dons espirituais do que no ensino da cessação!! Há mais textos bíblicos que apontam  e embasam a doutrina da Trindade, doutrina difícil de se compreender e de revelação velada nas Escrituras, do que para o Cessacionismo! Há muito mais material bíblico neotestamentário que depõe a favor da continuidade dos dons do que contra!! São TRÊS CAPÍTULOS completos na primeira carta aos coríntios (12-13-14) e outros textos em outras epístolas, ensinando pormenorizadamente sobre os dons e doutrinando a Igreja para usá-los de forma adequada. Por que então tanta "firmeza" em pregar a cessação, quando a Escritura ensina com muito mais firmeza e clareza o continuísmo?? 

10. Segundo o Cessacionismo, nem todos os dons desapareceram, mas somente os revelativos e os de poder (línguas, profecias, milagres, curas...). Baseados em quê, na Escritura, eles afirmam que o dom "A" desapareceria e o dom "B" não, ou que tal classe de dons cessaria e outra classe não?? Espero base bíblica, e não base pragmática!

11. Se os dons foram cessando com a proximidade da morte dos últimos apóstolos (à medida que estes envelheciam e o cânon era fechado), e uma das evidências disto segundo o Cessacionismo foi o fato de Paulo não conseguir mais curar a Timóteo ou a Epafrodito, como então Paulo conseguiu curar todos os enfermos da ilha de Malta, já perto do fim de sua vida (At 28)? A incapacidade de Paulo curar seus companheiros de ministério demonstra a CESSAÇÃO do dom de cura (cura esta que até os cessacionistas afirmam ser possível através da oração, independentemente do DOM DE CURA!), ou a SOBERANIA, a VONTADE DE DEUS de curar ou não um doente?

12. Se a Nova Aliança é ETERNA, se a fé foi dada aos santos de uma vez (Jd 3) e disposta no cânon neotestamentário, o que leva alguém a crer que CERTAS PARTES da Escritura neotestamentária não têm mais validade para nossos dias, mas só valeram nos primeiros anos da Igreja? É isso mesmo, ou é CONVENIÊNCIA, para excluir da doutrina aquilo que não nos é interessante ou conveniente?

13. O que levaria o Espírito Santo a inspirar textos como 1 Co 12-14 e colocá-los na Escritura neotestamentária, para meio século depois estes mesmos textos deixarem de valer? Aprendi em teologia que só foi possível substituir-se a Antiga Aliança após o estabelecimento da Nova Aliança, e somente assim pode-se tornar desnecessários e nulos todos os cerimoniais da Lei... Qual "Novíssima Aliança" foi estabelecida ao fim do primeiro Século que justificaria a anulação da pneumatologia da Nova Aliança, conforme disposta nas cartas paulinas, mormente 1 Coríntios?

14. Os cessacionistas dizem que "os dons extraordinários do Espírito Santo já não são mais necessários como no tempo dos apóstolos, e cessaram desde então". Mas, com que base bíblica os tais fundamentam tal declaração? Em que lugar da Escritura se afirma que em dado período da Igreja os dons, ou alguns deles, se tornariam desnecessários? Ou isso foi deduzido por lógica pragmática? Enquanto a Escritura afirma claramente que os dons, todos eles, foram dados à Igreja para sua EDIFICAÇÃO, os Cessacionistas afirmam que não são mais necessários, não mais edificam!! E isto sem qualquer base neotestamentária sólida!

15. Por que os Cessacionistas confundem DONS DE PROFECIA com o que eu particularmente chamo de "DOM DE INSPIRAÇÃO CANÔNICA"?

Quanto a este item, preciso fazer algumas considerações:

Há uma abissal diferença entre REVELAÇÃO (através de dons revelativos, como a profecia) e a INSPIRAÇÃO para escrever a Palavra de Deus, e é exatamente esta diferença que o Cessacionismo desconhece ou busca desconhecer para não admitir seu erro de gênese. Não podemos jamais confundir DONS REVELATIVOS com a capacidade extraordinária de ESCREVER O TEXTO INSPIRADO; a própria Escritura relata profetas que nunca escreveram UMA ÚNICA LINHA de texto inspirado, canônico! Entre estes que profetizaram (e tiveram suas profecias ou sua condição de profeta relatadas no texto inspirado) podemos citar no NT Ágabo e as filhas do diácono Felipe (At 21:8-11), que embora fossem profetas nunca produziram uma única linha de texto inspirado, nunca foram autores de nenhum livro neotestamentário. Seria muita ingenuidade pensar, por exemplo, que o ministério profético de OBADIAS tenha durado apenas algumas horas, tendo em vista que sua produção canônica foi de apenas um capítulo! O que durou um capítulo foi sua inspiração canônica veterotestamentária, mas certamente seu ministério como profeta perdurou por muitos anos! O mesmo se dá com Judas, o irmão do Senhor, cuja produção canônica neotestamentária se resume a um capítulo, mas é perfeitamente possível que Judas nem tenha sido usado por Deus em dons proféticos! Podemos concluir que a inspiração da Escritura (que se encerrou definitivamente com o Apocalipse; isto nenhum Continuista sério nega!) e o dom de profecia são coisas diferentes, o material inspirado (canônico) é absolutamente superior a qualquer profecia.

A INSPIRAÇÃO, indiscutivelmente, cessou no fim do primeiro século, com o fechamento do cânon, e nada mais pode ser-lhe acrescido. Os dons revelativos, entretanto, perduram até os nossos dias, e perdurarão durante todo o período em que a Igreja esteja na terra, sem, contudo, ter qualquer poder de gerar texto inspirado, criar ou revogar doutrina, acrescer ou decrescer o conteúdo da Escritura. Nenhum pentecostal sério considera uma profecia como superior, e nem mesmo em patamar igual ao texto inspirado. Os dons revelativos são inferiores à Escritura, e a ela estão sujeitos! Em nenhum lugar do NT uma profecia foi motivo de doutrina! As doutrinas da Igreja foram produzidas por INSPIRAÇÃO. Logo, a função das profecias, desde o dia de Pentecostes até os dias de hoje, não é doutrinar ou acrescer novas revelações à doutrina, e nem decrescer qualquer texto canônico (o que me parecem fazer os cessacionistas, querendo nos fazer acreditar que o texto A, B e C são somente válidos para o primeiro Século da Igreja), e sim no máximo trazer luz ao texto da Escritura!

16. Qual o critério para compreendermos que o texto A da Escritura neotestamentária é válido para nossos dias, e o texto B só valeu para a época dos apóstolos? De onde depreendemos isto, senão do pragmatismo do segundo século?

17. Se Deus antigamente usava profetas para falar aos homens, e com o advento do Filho passou a falar unicamente através dEle, como bem fala o texto de Hb 1:1, e tal texto depõe a favor do Cessacionismo, como é que nos tempos pós-ascensão do Filho o Espírito Santo continuou a falar através dos profetas, até o fim do primeiro Século? Após o Filho, não cessou o ministério profético? Como se justifica, então, que após a ascensão do Filho ainda tenham se levantado profetas como Ágabo, as filhas de Felipe e outros mais, citados no texto canônico? Igualmente, se "os profetas duraram até João" (Mt 11:13; Lc 16:16) como se explica, APÓS JOÃO, terem surgido estes profetas que já citamos? E por que Paulo orientaria a Igreja a buscar com zelo os melhores dons, "principalmente o de profetizar" (1 Co 14:1), se os profetas duraram até João?

Finalmente, complemento:

Não é porque o pentecostalismo ou o neopentecostalismo tenham erros em sua doutrina ou conduta que a verdadeira e bíblica doutrina continuísta deva ser negada e/ou eliminada.  Não vamos negar e desprezar a Bíblia só porque as Testemunhas de Jeová deturparam seu texto e criaram uma "tradução" repleta de erros; antes, vamos apontar os erros e buscar corrigi-los. Devemos buscar a CURA do corpo, e nunca a EUTANÁSIA.

Paulo encontrou uma bagunça generalizada na igreja de Corinto, com pecados sérios e uso incorreto dos dons. Entretanto, mesmo à vista de tais erros, muitos deles gravíssimos, ele não mandou a Igreja parar com o uso ou a busca dos dons (como provavelmente fariam os cessacionistas diante do quadro da Igreja em Corinto), mas antes os estimulou a BUSCAR NOVOS DONS, MELHORES, sem desprezar os "não-melhores", e os ensinou a usá-los de forma correta! 

Em relação aos textos usados para supostamente confirmar a cessação, faz-se necessário que os cessacionistas não somente elenquem textos bíblicos que supostamente defendam e demonstram sua crença, mas observem o seu contexto histórico e literário, além das dificuldades naturais de interpretação e compreensão dos mesmos! Vejamos:

[1] Usar Hebreus 1 como justificativa para a cessação dos dons é forçar o texto a dizer o que ele não diz, por eisegese! O escritor escreve a judeus, provando-lhes que antigamente Deus falava pelos profetas (Antiga Aliança), e hoje nos fala pelo Filho (Nova Aliança), e neste aspecto em momento algum afirma que os profetas deixaram de existir na Igreja após o nascimento, ou a morte, ou a ascensão do Senhor, e nem após a morte do último apóstolo ou o fechamento do cânon. O livro de Hebreus em si, NÃO TRATA de cessação ou de dons espirituais, e sim da superioridade da NOVA ALIANÇA sobre a Antiga, e do sacerdócio de Cristo sobre o sacerdócio aarônico. O primeiro capítulo deixa isso claro, e o restante do livro não foge a esta regra!

[2] Usar 1 Co 13:8 esquecendo do contexto imediato (vv 9-12) ensina uma falácia (assim como os espíritas usam Jo 3:3 para ENSINAR A REENCARNAÇÃO e os mórmons usam 1 Co 15:29 para ensinar o BATISMO POR PROCURAÇÃO, em nome de um parente falecido, desprezando o contexto literário imediato) e demonstra desprezo com a verdade e com a Escritura. Além do mais, a boa teologia mostra que basear doutrinas e verdades em um único versículo não é prática adequada à sã doutrina.

[3] Usar Mc 16:17-20 e tentar extrair dele a informação que os sinais acompanhariam APENAS as pessoas que faziam parte daquela geração está mais para eisegese do que para exegese! Acreditar que os sinais só acompanhariam aquela geração, ou os presentes à fala de Jesus, é o equivalente a achar que a ordem da Grande Comissão (v 15) também foi uma ordem só para aquela geração, ou para os presentes! Cremos que ambas têm a mesma amplitude, e permanecerão até a vinda do Senhor.

[4] Usar 2 Tm 3:16-17 achando que o mesmo depõe contra o Continuísmo por julgar toda a Escritura proveitosa para o ensino e, por consequência, as profecias não são mais necessárias é querer, por contorcionismo, fazer com que o texto citado concorde com o que acham, sem que o seu contexto queira dizer o que querem que digam. Exatamente o contrário ocorre: ao afirmar que a Escritura é apta para ensino significa também que qualquer profecia proferida de modo a contradizê-la deve ser rejeitada. A Escritura é apta exatamente por isso, pois é ela quem ensina, instrui e doutrina a Igreja e o crente no uso de qualquer dom. O mau uso deste texto depõe contra os cassacionistas, pois os acusa mais uma vez de eisegese.

[5] Usar Lc 16:16 achando que os profetas, e por consequência o dom profético, só existiram até João Batista é desconhecer, ou fingir desconhecer, pessoas que viveram após João Batista, como Ágabo, as filhas do diácono Filipe e outros discípulos cujos nomes não são citados na Escritura (At 21:4, 8-11), mas que foram profetas. Como seria possível ainda, diante do fato de profetas terem durado somente até João, Paulo apóstolo incentivar os coríntios a buscar tal dom (1 Co 14:1-5)? 

Na verdade, o Cessacionismo é uma doutrina embasada em poucos textos isolados, fora de seu contexto e de interpretação duvidosa, aliando-os ao pragmatismo do segundo século. Já que depois da morte do último apóstolo os dons aparentemente cessaram, é melhor crer na cessação, nem que para isto desprezam três capítulos inteiros de 1 Co (12 a 14), nos quais Deus descreve os dons e prescreve a DOUTRINA do seu uso na Igreja, no culto... Interessante isso, eu repito: Deus inspirar três capítulos doutrinários inteiros, para poucos anos depois cessar os dons, declarando tais textos como nulos e inválidos para os futuros vinte séculos de Igreja!

Agora, QUE UMA COISA FIQUE BEM CLARA: muitos dos "dons" apresentados hoje nas Igrejas ditas "carismáticas", mormente as "neopentecostais", não têm qualquer característica de dons do Espírito Santo, e muito menos são de Deus!! E que fique claro igualmente que, mesmo como continuísta que sou, não desprezo ou desmereço meus irmãos cessacionistas. Aliás, prefiro mil vezes um cessacionista sincero, zeloso em não permitir o erro no seio da Igreja, do que um continuísta não bíblico que aceita qualquer manifestação como se fora Deus, sem julgá-las à luz da Escritura e do bom senso (e olha que a igreja está cheia destes últimos!!)!

Uma outra coisa que deve ficar clara: a observação de grupos que se dizem pentecostais mas que não seguem os princípios bíblicos do verdadeiro pentecostalismo, não é um bom padrão para analisar, avaliar e julgar o movimento carismático! Seria o equivalente a desprezarmos a Bíblia porque homens inescrupulosos e apóstatas a deturparam e deturpam, ou desprezarmos a fé protestante por que as Igrejas que a professam estão cheias de erros e de falsos pastores. Bom seria aos que buscam negar o continuísmo que analisem primeiramente os textos bíblicos que tratam dos dons do Espírito, e depois a boa teologia pentecostal, e assim tirem suas conclusões, e não analisando as Igrejas apóstatas e os apóstatas do pentecostalismo ou do neopentecostalismo. Julgar os Carismáticos analisando os apóstatas é tão sábio quanto julgar a Igreja Católica e seu sacerdócio analisando a conduta de padres pedófilos, achando que a pedofilia é a norma e o ensino da ICAR.

A verdade, repetimos o que dissemos nos primeiros parágrafos, é que QUALQUER CRISTÃO que com sinceridade resolver ler o NT verá que não há qualquer embasamento escriturístico para crer ou estabelecer doutrina de cessação dos dons com o fim do 1º Século, com a morte do último apóstolo e/ou com o fechamento do cânon. A Escritura não fala e não sugere isso, exceto por eisegese. Em 1 Co 13 Paulo afirma que haverá, sim uma cessação um dia, mas não há absolutamente nada, exceto por eixegese e forçação de barra, que afirme que se dará no fim do 1º Século. Nem Calvino pensava assim! Como bem nos lembrou o irmão Clóvis Gonçalves, participante do grupo "Calvinistas Pentecostais" no Facebook, “em seus comentários à Primeira aos Coríntios ele [Calvino] diz: O apóstolo poderia ter  posto nestes termos: "Quando tivermos alcançado o ponto de chegada, então as coisas que nos ajudaram no percurso deixarão de existir.” No entanto, ele usa a  mesma forma de expressão anterior, ao pôr  a perfeição em contraste com o que é em parte. Ele está  dizendo: “Quando a perfeição chegar, tudo quanto nos auxiliou em nossas imperfeições será abolido.” Mas, quando tal perfeição virá? Em verdade, ela começa na morte, quando nos despirmos das inúmeras fraquezas juntamente com o corpo; ela, porém, não será plenamente estabelecida até que chegue o dia do juízo  final, como logo veremos. Portanto, desse fato concluímos que é algo em  extremo estúpido alguém fazer toda esta discussão aplicar-se ao período intermediário” (CALVINO, em 1 CORÍNTIOS - pp 406-407).

Basta ler a Escritura com sinceridade e desejo de enxergar a verdade, despindo-se da "lavagem cerebral" a que foi submetido, que qualquer cessacionista enxergará o óbvio. Entretanto, há uma distância abissal entre crer que o continuacionismo é bíblico e crer que o que vemos em muitas igrejas neopentecostais e pentecostais seja obra do Espírito Santo!