segunda-feira, 30 de setembro de 2013

PEQUENAS LAGOAS, GRANDES ENGANOS

(ou, JESUS, SEU JUMENTINHO E OS JUMENTOS DA ATUALIDADE)

Certa vez, presenciei um diálogo interessante travado entre dois homens, sentados na mesa ao lado da minha em um restaurante de minha cidade. Conversavam sobre música, e em dado momento entraram no assunto da música clássica. Um deles, aparentando maior erudição e com ares de intelectualidade, em dado momento disse que Mozart e Beethoven chegaram a compor juntos, e que inclusive a ideia de Beethoven compor a sua 5ª sinfonia (aquela famosa, do TCHAN TCHAN TCHAN TCHAN!!) foi dada por Mozart. Ri discretamente, pois sabia com quase absoluta certeza que os dois grandes compositores não tinham sido contemporâneos... Em casa, com o auxílio da internet, pude comprovar mais detalhes desta desinformação...  Mozart viveu entre 1756 e 1781, ao passo que Beethoven viveu entre 1770 e 1827. Logo, se os dois chegaram a travar algum diálogo, foi no máximo quando Beethoven tinha apenas 11 anos de idade... Entretanto, ele só se mudou para Viena, cidade aonde vivia Mozart, em 1791, após a morte deste, que se deu dez anos antes...

O que mais me chamou a atenção foi a firmeza da informação dada pelo homem que se dizia conhecedor da história da música clássica. Deu até certa impostura na voz para ganhar mais credibilidade! E é muito provável que o segundo homem da conversa tenha saído convencido da informação prestada pelo instruído amigo, e que passe esta informação adiante...

No âmbito da teologia e da doutrina cristãs, a coisa não é muito diferente... Temos muitas pessoas em nosso meio que pegam informações de terceiros, de fontes não confiáveis, e passam esta informação adiante, como se fora a mais sublime das verdades.

O assunto de que me refiro foi uma entrevista dada por alguns integrantes da família Valadão, que ganhou espaço nos blogs e nas redes sociais com debates acalorados, defesas apaixonadas e coisas assim. Segundo eles, Jesus foi um homem rico, vestia-se de roupas finas e caras, possuía uma grande casa em Jerusalém e andava de jumento, um animal que na época correspondia a um BMW, um carro de luxo dos nossos dias. José e Maria, pais do Senhor, também eram ricos, pois José era um carpinteiro bem sucedido, e a carpintaria equivaleria, nos dias de hoje, à engenharia....

Estas informações, lamentavelmente, podem ser perfeitamente comparadas ao diálogo sobre música clássica que presenciei... Sem fundamento ─ ou pelo menos sem qualquer fundamento bíblico.

A origem desta ideia é da chamada “Teologia da Prosperidade”, mais precisamente  de um pregador americano chamado Kenneth Hagin, um dos seus expoentes. Ele disse em seu livro A AUTORIDADE DO CRENTE (p. 32): “Muitos crentes confundem humildade com pobreza. Um pregador certa vez me disse que fulano possuía humildade, porque andava num carro muito velho. Repliquei: ‘Isso não é ser humilde ─ isto é ser ignorante’. A ideia que o pregador tinha de humildade era a de dirigir um carro velho. Um outro observou: ‘Sabe, Jesus e os discípulos nunca andaram num Cadillac’. Não havia Cadillac naquela época. Mas Jesus andou num jumento. Era o ‘Cadillac’ da época ─ o melhor meio de transporte existente”. Já a afirmativa de que Jesus tinha uma casa em Jerusalém pertence a John Avanzini, outro expoente da citada “Teologia”, que afirma que Jesus e os apóstolos eram ricos. “Não consigo identificar onde essas tradições bobas entraram, porém a mais estúpida de todas é a de que Jesus e seus discípulos eram pobres. Nada existe na Bíblia que dê base a esta afirmação [...] Jesus tinha uma grande e bela casa em Jerusalém” (AVANZINI, Citado em H. HANEGRAAFF, Cristianismo em Crise, Rio de Janeiro, CPAD, 1996, p. 202). Do Cadillac para o BMW, foi só uma adaptaçãozinha lacustre...

Gostaria de deixar alguns comentários acerca do assunto em pauta...

Em primeiro lugar, informações precisam ser devidamente checadas antes de serem passadas adiante, senão poderemos ser chamados de divulgadores de inverdades, mesmo que as façamos com a melhor das intenções. Conheço pessoas que afirmam que existem 365 vezes na Bíblia a expressão “não temas”, mas qualquer pessoa que tenha uma Bíblia eletrônica em seu computador pode fazer uma pesquisa e constatar que nem 100 vezes tal expressão é repetida no texto sagrado! Por melhor que seja a intenção de quem divulga tal dado, trata-se de uma inverdade. A mentira, mesmo quando apresentada para o bem, não deixa de ser mentira, e o cristão deve ter compromisso com a verdade!

Não podemos acreditar em tudo o que ouvimos sem nos darmos ao trabalho de checar a informação, principalmente no âmbito da doutrina e da teologia. Era isto que os crentes de Beréia faziam, e por este zelo em confirmar as informações nas Escrituras foram elogiados: Ora estes [judeus de Beréia] foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, EXAMINANDO CADA DIA, NAS ESCRITURAS, SE ESTAS COISAS ERAM ASSIM (At 17:11 – colchetes e grifos meus). Portanto, antes de disseminar uma ideia de Kenneth Hagin, John Avanzini, do seu pastor ou de quem quer que seja, até mesmo uma ideia MINHA, a obrigação de qualquer cristão é de verificar na Bíblia se as coisas são mesmo assim. Portanto, vamos verificar juntos...

Jesus não era rico ─ ou pelo menos não há nenhuma referência bíblica que indique isto. Ele mesmo chamou a atenção para o perigo das riquezas, e seria um grande hipócrita se, sendo rico, falasse contra a riqueza! Paulo afirma que Ele, o Senhor, “...sendo rico, por amor de vós se fez pobre, para que pela sua pobreza enriquecêsseis” (2 Co 8:9). Se Ele fosse tão rico como apregoam os expoentes da prosperidade, como precisava de mulheres abastadas que financiassem Seu ministério (Lc 8:1-3)? Por que então Ele não sacou de sua própria bolsa as didracmas de seu imposto, mas mandou Pedro pescar um peixe e recolher uma moeda de suas entranhas para fazer tal pagamento (Mt 17:24-27)?

Os pais de Jesus não eram ricos. A maior prova disto é que, na apresentação de Jesus por ocasião de sua circuncisão ao oitavo dia de vida, eles trouxeram a oferta do pobre prevista na Lei de Moisés. Vejamos: “E, quando os oito dias foram cumpridos, para circuncidar o menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, que pelo anjo lhe fora posto, antes de ser concebido. E, cumprindo-se os dias da purificação, segundo a lei de Moisés, o levaram a Jerusalém, para o apresentarem ao Senhor (Segundo o que está escrito na lei do Senhor: Todo o macho primogênito será consagrado ao Senhor); E para darem a oferta segundo o disposto na lei do Senhor: UM PAR DE ROLAS OU DOIS POMBINHOS.” (Lc 2:21-24 – grifos meus). Comparemos com o texto da Lei: “E, quando forem cumpridos os dias da sua purificação, por filho ou por filha, trará um cordeiro de um ano por holocausto, e um pombinho ou uma rola para expiação do pecado, diante da porta da tenda da congregação, ao sacerdote, o qual o oferecerá perante o Senhor, e por ela fará propiciação; e será limpa do fluxo do seu sangue; esta é a lei da que der à luz varão ou fêmea. MAS, SE SUAS POSSES NÃO LHE PERMITIREM TRAZER UM CORDEIRO [OU SEJA, SE FOR POBRE], ENTÃO TOMARÁ DUAS ROLAS, OU DOIS POMBINHOS, um para o holocausto e outro para a expiação do pecado; assim o sacerdote, por ela, fará propiciação, e será limpa” (Lv 12:6-8 – grifos e colchetes meus). Por que José e Maria, sendo ricos (como afirmam os “expoentes da TP) deram a oferta dos pobres?

Em momento algum a Bíblia menciona que Jesus era dono de algum jumento, embora a Escritura também não diga que não era. Mas dá uma dica: quando o Mestre precisou de um jumento para entrar em Jerusalém, tomou-o emprestado (Mt 21:1-5). O próprio profeta que profetizou a vinda do Messias montado em um jumento dá testemunho de sua pobreza, ao afirmar: “Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis que o teu rei virá a ti, justo e Salvador, POBRE, e montado sobre um jumento, sobre um asninho, filho de jumenta” (Zc 9:9 – grifo meu).

Qualquer pessoa de bom senso e equilíbrio saberá que, mesmo considerando os tempos de Jesus, não dá para comparar um jumento como uma BMW dos dias atuais. Os ricos não andavam de jumento, e sim de carruagens (At 8:26-28). No máximo, forçando muito a barra, poderíamos comparar o jumento a um fusquinha 1966... E repetimos: o jumento era emprestado!

Em relação à grande e luxuosa casa que pertencia a Jesus em Jerusalém, não sabemos de onde se tirou esta informação, já que não está na Bíblia... À vista desta afirmativa, não entendemos duas coisas: primeiro, porque Jesus solicitou emprestado um cenáculo em Jerusalém para realizar a sua última ceia com os seus discípulos (Mateus 26.17-19), já que Ele possuía esta bela e grande casa e poderia muito bem fazer esta última reunião no conforto do Seu lar? Segundo, com que base bíblica (ou mesmo extrabíblica) Avanzini e os demais “profetas da prosperidade” afirmam isto com tanta convicção? Alguma “revelação” do alto??

Não estou aqui para denegrir qualquer pessoa, principalmente os membros da família citada, nem a Igreja onde são membros. Estou aqui para combater a disseminação do erro na Igreja do Senhor Jesus, principalmente o  joio nocivo da “teologia da prosperidade”. Estou aqui para aconselhar a todos, envolvidos ou não nesta infeliz entrevista, que não disseminem doutrinas estranhas na Igreja do Senhor, não acrescentem às Escrituras o que lá não está, não se ponha debaixo de maldição ao alterar a Bíblia e assim ensiná-la aos pequeninos do Senhor (Mt 5:19; Ap 22:18-19). Antes de abrir sua boca para difundir qualquer doutrina, revelação ou modismo a Igreja, veja se as Escrituras concordam com o que você vai ensinar!

Não estou aqui para afirmar que Jesus era miserável, mendigo. A Bíblia não afirma isto, da mesma forma que não afirma que Ele e os seus apóstolos eram ricos.

sábado, 28 de setembro de 2013

NÃO, CAIO FÁBIO, JESUS NÃO É SUA CHAVE HERMENÊUTICA!

Texto do Yago Martins, coletado de seu BLOG.


Nas primeiras vezes que eu li o texto da Grande Comissão e vi Cristo dizendo que deveríamos ensinar os discípulos a obedecer tudo o que Ele ordenou, eu fiquei me perguntando onde o resto do Novo Testamento entrava nisto. Não bastaria ficarmos com aquilo que Cristo falou, e só? Se temos os ensinos do próprio Deus-Filho registrados, para que mais palavras de homens mortais? Com pouco tempo de fé, pude encontrar boas respostas para meus questionamentos infantis. Porém, muitas pessoas ainda estão confundidas com este assunto. Um exemplo de promotor deste tipo de confusão é Caio Fábio, que hoje tem arrebanhado para sua religião muitos seguidores e fiéis:
Eu estou em Jesus, eu não estou na Bíblia. [...] O cara que quiser que Jesus e a Bíblia toda deem certo tá danado. [...] Pela Bíblia é melhor a gente acabar esse programa porque está todo mundo danado. [...] eu não ando [conforme o texto bíblico], tanto quanto Jesus [...]. Quem quer andar com Jesus, é assim. Quem quer base bíblica, vira fariseu, joga pedra.[1]
Em outro lugar, Caio Fábio diz que aquilo na Escritura que não está afirmando ou que 1. Jesus é Deus, ou que 2. somos pecadores, não passa de capricho ignorando pelo Cristo:

É estranho como Jesus e os apóstolos não usaram a Bíblia como argumento de fé [...] Afinal, a Bíblia jamais seria a apologia de Jesus; posto que Jesus fosse o Verbo vivo e falando o que a Bíblia nem poderia sonhar em falar, revelar e dizer… Cristãos que vivem para defender a Bíblia ainda não conheceram Jesus mesmo! [...] Da Bíblia o que se pode dizer é que ela é fiel como Palavra apenas porque afirma que Jesus é Deus e eu sou dos pecadores o principal! O mais é um diletantismo ao qual Jesus jamais teria tempo e animo para se dar… Depois que o Evangelho entrou em mim a Bíblia passou a ser apenas um Testemunho, mas não o Testemunho! Sim, pois em mim o Testemunho é o do Espírito! [2]

Em outro momento, concordando que o Jesus dos evangelhos não se parece nada com o Jesus que Paulo apresenta em Romanos 9-11, chamando esta posição de “simples, sábia e sensata”, Caio Fábio diz que estes capítulos são “um apêndice de um surto paulino” que não se parece com nenhum outro escrito ou com a prática de Paulo. “Na minha opinião, Romanos 9, 10 e 11 são totalmente dispensáveis. Sabe porque? A descrição de Paulo, tentando explicar o inexplicável, criou uma bananosa filosófica”. Ele ainda diz que as palavras negativas do texto, como “odiou”, não cabem, pois “não parecem com o todo de Jesus”. “Eu prefiro ficar com Jesus, que não sendo Paulo”, pregou coisas diferentes. “Isso é o poder dessa chave hermenêutica”, diz ele. ”Meu amigo Paulo, eu lamento muito que você tenha tentado fazer essa viagem. Você não tinha nem linguagem. Você não tinha adequação”. ”É uma conversa que tem a ver com a dimensão de um homem judeu, psicologicamente maltratado, frustrado, perseguido, magoado”. Ele diz que vê, neste texto, “o surto do Paulo judeu”. Ele chama ainda, esta atitude de Paulo de uma “gafe” que empobreceu e enfeiou Deus. “quando Paulo coincide com Jesus, Paulo tá com tudo, quando Paulo fala como Paulo, eu olho um homem, um tempo, uma relatividade, uma circunstância”. Ele, literalmente, lança várias repreensões e conselhos ao apóstolo Paulo em vários momentos do vídeo [3].

A prerrogativa que ele e seus discípulos usam para tal posição é que eles possuem Jesus como chave-hermenêutica. Para eles, isso significa que só deve ser aceito como verdade Bíblica aquilo que for semelhante à imagem que eles possuem de Cristo. Se qualquer outro trecho da Escritura ensinar algo que, porventura, não pareça pertencer ao Cristo, então deve ser considerado anátema.


O que Caio Fábio e seus pupilos não conseguem perceber é que ter Jesus como nossa chave hermenêutica significa que nós vamos ler toda a Escritura procurando como cada ensino, cada doutrina e cada livro se relaciona com o Plano maior de Deus na redenção de Cristo, e não que vamos solapar tudo aquilo que não gostamos na Escritura com a desculpa de que “Jesus não pregaria isso”. Assim, uma constatação torna-se inegável: praticamente todos que advogam ter Jesus como chave hermenêutica são ímpios que leem a Escritura desconsiderando tudo aquilo que suas mentes carnais odeiam. Você encontra esta loucura nos blogs e comentários de tais homens. Ter Cristo como chave hermenêutica deveria nos motivar a encontrar como a história do Evangelho está prefigurada, confirmada, anunciada, ilustrada ou ensinada em cada página da Bíblia, e não nos fazer arrancar da Escritura tudo aquilo que a gente acha que Jesus não diria. Aqueles que dizem que as palavras de Jesus são mais importantes que as de Paulo, não entenderam as palavras de Jesus.


Eu, sinceramente, não entendo como uma pessoa inteligente pode cair em erro tão crasso. A igreja está fundamentada na doutrina dos Apóstolos (Ef 2:20). Nós não vimos Jesus pessoalmente, eles sim. Por isso que Pedro e João podiam falar sobre “as coisas que vimos e ouvimos”, pois eles estavam lá, e atestaram com sangue o que pregaram. Assim, como alguém comentou no meu Facebook certa vez, só pode ser um louco aquele que cisma em separar o ensino Bíblico do ensino de Jesus, a autoridade bíblica da autoridade de Jesus e a visão bíblica da visão de Jesus. Os discípulos precisam de toda a Escritura, e não de parte dela. É um verdadeiro insulto a Jesus dizer que nada, a não ser parte do que foi registrado de Sua Revelação ao longo da história bíblica – a encarnação – vale a pena considerar como Palavra do Senhor. É como se dissessem que amam tanto suas esposas que não se importa com as mães, amigos, família, conversa ou qualquer coisa que não seja ela própria. Estes caem na condenação de Jesus, através de Paulo, quando condena aqueles que, dizendo ser apenas de Cristo, se recusavam a ouvir o que diziam os apóstolos (ver 1 Co 1:10-17).


Cristo prometeu aos seus apóstolos não apenas que o Espírito Santo os faria “lembrar de tudo o que vos tenho dito” (Jo 14:26), mas também que o Espírito Santo “vos ensinará todas as coisas” (Jo 14:26) e “vos guiará a toda a verdade” (Jo 16:13). Os apóstolos receberam de Cristo, através do Espírito, mais daquilo que o Senhor desejou que soubéssemos. O próprio Jesus deixou claro que ensinaria mais aos Apóstolos mesmo após Sua morte e ascensão. Paulo deixa isso claro aos Gálatas: “Irmãos, quero que saibam que o evangelho por mim anunciado não é de origem humana. Não o recebi de pessoa alguma nem me foi ele ensinado; pelo contrário, eu o recebi de Jesus Cristo por revelação” (Gl 1:11-12). É por isso que o apóstolo Pedro podia dizer que “o mandamento do Senhor e Salvador” foi “ensinado pelos vossos apóstolos” (2 Pe 3:2), além de dizer que os escritos de Paulo estavam equiparados com todo o Antigo Testamento, chamando-os de “Escritura” (2 Pe 3:16). Paulo podia dizer: “Se alguém se considera profeta ou espiritual, reconheça ser mandamento do Senhor o que vos escrevo” (1 Co 14.37). O apóstolo agradecia a Deus sem cessar pelos Tessalonicenses: “ao receberem de nossa parte a palavra de Deus, vocês a aceitaram não como palavra de homens, mas segundo verdadeiramente é, como palavra de Deus” (1 Ts 2:13). Paulo ensinava “não com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito” (1 Co 2:13). Paulo não poderia ser mais claro: “Cristo fala por meu intermédio” (2 Co 13:3).


Outros livros também entram neste escopo. O próprio Paulo, em 1 Timóteo 5:17,18 diz fazer uma citação da “Escritura”, e segue fazendo duas referências: uma a Deuteronômio 25:4 e outra a Lucas 10:7 (usando até o mesmo fraseado grego)! Para o apóstolo, os escritos neotestamentários dos evangelhos também eram Palavra de Deus. Tanto os Evangelhos como as Epístolas no Novo Testamento vêm a nós com a autoridade de Jesus, e Ele quer que nós ensinemos essas coisas aos discípulos.


“Somos seguidores de Cristo ou de Paulo?”, podem perguntar alguns. “Como podemos seguir o ensino de outros homens além de Jesus?”, já me foi questionado. Respondo, com sinceridade, que Cristo é meu único Senhor. No entanto, tudo o que sabemos sobre Cristo vem de Paulo e dos outros discípulos de Cristo. Se não acreditarmos nestes, não nos sobra nada dAquele. Como alguém pode dizer que só segue Jesus, e não os apóstolos, se todos os registros que possuímos sobre Jesus provêm dos apóstolos e de seus companheiros? Cristo nunca escreveu sobre si. Tudo o que temos sobre Ele passou pela mão de seus discípulos primitivos.


Crer em Jesus está definitivamente ligado a crer nos Apóstolos e em seus companheiros. Se você não acredita na doutrina de Paulo, de Tiago, de Pedro, de Lucas, de Marcos, de Mateus, de João e de Judas, como você pode acreditar nos registros que alguns deles fizeram do Messias? Se Paulo disse algo em Romanos ou aos Coríntios que foi fruto de seus preconceitos ou de sua criação judaica, por que ele não poderia ter feito o mesmo ao instruir Lucas em seu registro do Evangelho? Se Pedro não é digno de toda a nossa confiança, ou se sua doutrina é inferior ou secundária, como podemos dar tanta atenção àquilo que Marcos aprendeu dele e registrou no Evangelho? Se Tiago poderia errar, por que não Mateus? Se João se enganou em suas epístolas ou no Apocalipse, por que acreditamos em seu registro da vida do Logos? A verdade que muitos tolos ignoram é que, ou você aceita o Novo Testamento por completo, até a última letra, ou você não tem Jesus, não tem cristianismo, não tem Bíblia, não tem fé e não tem salvação. Ou temos o Novo Testamento por completo ou não temos Testamento nenhum.


Deve-se admitir, então, que se vamos ter uma religião não doutrinária, ou uma religião doutrinária fundamentada meramente em verdades gerais, isso significa que não somente temos que nos livrar de Paulo, da igreja primitiva de Jerusalém, mas também de Jesus:


Infelizmente, ainda há, em pleno século XXI, quem tente opor Jesus aos outros escritores bíblicos. Como disse Gresham Machen, tem-se a impressão que o liberal substitui a autoridade da Bíblia pela autoridade de Cristo. Tal homem diz que não pode aceitar o que ele considera um ensino imoral do Antigo Testamento ou um argumento sofisticado de Paulo, em oposição os simples e morais ensinos de Jesus. Assim, ele se considera o mais puro verdadeiro cristão, uma vez que, rejeitando todo o restante da Bíblia, ele só depende de Cristo[4].


Paulo deixa claro que as suas epístolas também são coisas que Jesus agora nos ordena, de tal modo que “aquele que rejeita estas coisas não está rejeitando o homem, mas a Deus” (1 Ts 4:8). Você entendeu bem o que acabou de ler? Você nega a Deus se ignora todo o escopo do Novo Testamento! Como comenta Thomas Edwards: “Quem se recusa a ouvir os apóstolos de Cristo recusa-se a ouvir o próprio Cristo e atrai sobre si seu descontentamento”[5]. Homens como Caio Fábio e sua corja, que tratam o que é revelado após Jesus como contaminado com o machismo, judaísmo ou o diabo que for de Paulo estão, na verdade, negando a Deus. O destino dos que tal coisa fazem é certo e inequívoco, a menos que se arrependam de sua blasfêmia. Parafraseando o que o Dr. Jay E. Adams diz sobre Paul Tillich, durante uma das suas preleções na Conferência Fiel para Pastores e Líderes, em 1989: “Ler ou ouvir um sermão de Caio Fábio é ouvir o que o inimigo tem a dizer”[6].


[1] FÁBIO, Caio. Pra eles, sou um herege, pois eles estão na bíblia, e eu estou em Jesus! Disponível em: <http://youtu.be/GuCjSuACYMc>. Acesso em: 3 jun. 2013.
[2] FÁBIO, Caio. A Bíblia serve a Jesus, não Jesus à Bíblia! Disponível em: <http://www.caiofabio.net/conteudo.asp?codigo=05222>. Acesso em 5 jun. 2013.
[3] FÁBIO, Caio. Caio, esse trecho da carta de Paulo não parece com Jesus. Por isso odeio a Jesus! Disponível em: <http://vimeo.com/75018092>. Acesso em 28 set. 2013.
[4] MACHEN, Gresham. Cristianismo e Liberalismo. São Paulo, SP: Sheed Publicações, 2012, p. 43,68.
[5] EDWARDS, Thomas. A commentary on the first epistle to the Corinthians. London: Hodder & Stoughton, 1903, p. 384.

[6] Referência muito bem lembrada por Alan Rennê Alexandrino Lima, no Facebook.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O EVANGELHO DOS BEM INTENCIONADOS

Ou, como dizia a minha avó, "DE BOAS INTENÇÕES, O INFERNO ESTÁ CHEIO!"

Davi, homem segundo o coração de Deus, cometeu muitos e gravíssimos erros em sua vida. E a Escritura não os oculta, para que possamos aprender com os erros dele, não os repetindo nos dias atuais.

Gostaria de analisar um deles, bem grave... Por causa deste pecado, um homem perdeu a sua vida...

Não, não... Não é o adultério com Bate-Seba... E nem o assassinato de Urias... 

"Ajuntou, pois, Davi, a todo o Israel, desde Sior do Egito até chegar a Hamate, para trazer a arca de Deus de Quiriate-Jearim ... E levaram a arca de Deus sobre um carro novo, da casa de Abinadabe: e Uzá e Aiô guiavam o carro .. E, chegando à eira de Chidon, estendeu Uzá a sua mão, para ter mão na arca; porque os bois tropeçavam. Então se acendeu a ira do Senhor contra Uzá, e o feriu, por ter estendido a sua mão à arca: e morreu ali perante Deus. E Davi se encheu de tristeza de que o Senhor houvesse aberto brecha em Uza ... Assim ficou a arca de Deus com a família de Obede-Edom, três meses, em sua casa: e o Senhor abençoou a casa de Obede-Edom, e tudo quanto tinha ... Então disse Davi: Ninguém pode levar a arca de Deus, senão os levitas; porque o Senhor os elegeu para levar a arca de Deus, e para o servirem, eternamente ... E chamou Davi os sacerdotes Zadoque e Abiatar, e os levitas Uriel, Asaias, Joel, Semaias, Eliel, e Aminadabe e disse-lhes: Vós sois os chefes dos pais entre os levitas: santificai-vos, vós e vossos irmãos, para que façais subir a arca do Senhor, Deus de Israel, ao lugar que lhe tenho preparado. Pois que, porquanto primeiro vós assim o não fizestes, o Senhor fez rotura em nós, PORQUE NÃO O BUSCAMOS SEGUNDO A ORDENANÇA. Santificaram-se, pois, os sacerdotes e levitas, para fazerem subir a arca do Senhor, Deus de Israel. E os filhos dos levitas trouxeram a arca de Deus aos ombros, COMO MOISÉS TINHA ORDENADO, CONFORME A PALAVRA DO SENHOR, com as varas que tinha sobre si." - 1 Cr 13:5-14; 15:2-15 - grifos meus). 

A história é conhecida... Davi, em sua boa vontade de trazer a Arca do Senhor para Jerusalém, a trouxe em lombos de boi, conduzida por Aiô e Uzá. Com o tropeço dos bois e a queda iminente da Arca, Uzá, CHEIO DE BOAS INTENÇÕES, estendeu a mão para apará-la e não permitir que fosse ao chão. Entretanto, o Senhor o matou por tocar na Arca...

Já dizia a minha avó: "de boas intenções, o inferno está cheio"!

Então Davi foi à Escritura e descobriu que Deus DEIXOU CLARO, escrito, para que não se cometessem erros, como Ele deveria ter a Sua Arca conduzida... Então, resolveu ele mais uma vez trazer a Arca, mas desta vez FAZENDO A COISA CERTA: deixando a condução da mesma sob os cuidados dos sacerdotes e levitas, CONFORME ESTAVA ESCRITO. 

Davi é chamado na Escritura de "homem segundo o coração de Deus"; e não é chamado assim por ser perfeito, mas por ter seu coração inclinado a reconhecer seus erros e se arrepender! Ele chegou à seguinte conclusão: "o Senhor fez rotura em nós, PORQUE NÃO O BUSCAMOS SEGUNDO A SUA ORDENANÇA" (1 Cr 15:13). Davi descobriu o segredo de como se deve servir ao Senhor: de acordo com o que ELE MESMO ordenou que fizéssemos!!

Como rei em Israel, Davi comandava o povo. Partiu dele a condução errada da Arca do Senhor. E por causa de seu erro, a vida de Uzá foi ceifada, mesmo com a melhor das intenções em ambas as partes: Davi queria trazer a Arca para Jerusalém, e Uzá queria preservá-la da queda. Ambos estavam errados, e com estes erros aprendemos que por causa de um erro do líder, o povo cai.

Jesus ensinou que um cego não pode guiar outro cego, senão para o buraco (Lc 6:39), ou seja um errado não pode conduzir ninguém, pois estando errado inexoravelmente o levará para o erro! Assim, o seu líder ou pastor pode estar muito bem intencionado em te conduzir ao céu, mas se ele, como Davi, segue suas próprias conclusões, e não o que a Escritura ensina, não é ao céu que ele chegará, e com ele seus seguidores!

Eu sei da sua boa intenção de servir a Deus. Provavelmente, seu líder espiritual também é um bem intencionado... Mas nenhuma boa intenção é suficiente! Sirva a Deus conforme Ele mesmo determinou através da Sua Palavra. Não tente reinventar a roda!! NÃO INVENTE novas e extravagantes formas de adorá-lO, não invente liturgias!...  Ele, Deus, já deixou tudo escrito!!Cuidado com o "servir a Deus do seu jeito". Ele só aceita DO JEITO DELE... E você encontra O JEITO DELE na BÍBLIA!! Não na sua cabeça, ou nos seus gostos pessoais, ou nos meus!!! E não se esqueça que estamos na NOVA ALIANÇA!! Guie-se, em seu serviço a Deus, pelo Novo Testamento! Não tente restaurar rituais antigos, da antiga aliança, que foi completamente cumprida em Cristo.

"Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam, E NÃO QUEREIS VIR A MIM para terdes vida. Não cuideis que eu vos hei-de acusar para com o Pai. Há um que vos acusa, Moisés, em quem vós esperais. Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele. Mas, se não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?"  (Jo 5:39-47).

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

LENÇOS E AVENTAIS

Levantou-se um questionamento provocado por um dos meus artigos, mais precisamente UNÇÃO COM ÓLEO, que trata sobre a prática de ungir não só enfermos, mas qualquer pessoa. Respeitosamente, fui perguntado (já que o texto pode dar a entender que não creio na unção com óleo) acerca de objetos "ungidos" citados pela Bíblia. O texto em questão é:

"E Deus, pelas mãos de Paulo, fazia maravilhas extraordinárias, de sorte que até os lenços e aventais se levavam, do seu corpo, aos enfermos, e as enfermidades fugiam deles, e os espíritos malignos saíam" (At 19:11-12).

Um dos questionamentos levantados foi se estes lenços e aventais não seriam "ungidos"... E aí??

Primeiramente, quero deixar claro (mais uma vez!) que sou Pentecostal, não cessacionista, 100% adepto do SOLA SCRIPTURA. Creio na cura divina. Creio no dom espiritual de CURAS (1 Co 12:9b), mas 
creio que, a despeito de possuir ou não este dom espiritual, QUALQUER CRENTE pode orar pelos enfermos, e que Deus, por Sua misericórdia e de conformidade com a Sua vontade, pode curar qualquer doença, de uma simples dor na unha até um câncer em estado terminal (e isto até cessacionistas também creem)! Creio na unção com óleo, restrita AOS ENFERMOS e ministrada unicamente pelos PRESBÍTEROS, o que pode ser visto no artigo citado acima. Ou seja, creio naquilo que a Bíblia prescreve. Somente. E mais nada! Não creio nas invenções humanas de sair ungindo tudo, pessoas, animais e objetos, indiscriminadamente, fora do que a Escritura prescreve e orienta.

Segundo, quero parabenizar ao irmão (que não citarei seu nome, por questões éticas) pela educação com que se dirigiu a mim em seu justo questionamento, e pelo seu interesse bereiano de contestar, julgar, inquirir e prescrutar qualquer ensino à luz das Escrituras. Isto é bíblico, e louvável (At 17:11). Que o amado continue assim, e que outros se inspirem em sua conduta, e façam o mesmo!

Isto posto, voltemos ao caso!

O texto bíblico em questão retrata o poder do Espírito Santo na vida dos Apóstolos. Tal poder emanava de tal forma que lenços e aventais usados por Paulo ERAM LEVADOS AOS ENFERMOS, e a simples presença do tecido, ou o colocar do tecido sobre os enfermos e endemoninhados (suposição, visto que o texto não afirma tal at
itude), trazia-lhes a cura e a libertação. Isto é fato. Está narrado nas Escrituras, e não pode ser absolutamente questionado.

Entretanto, alguns detalhes devem ser apresentados, para que não haja dúvida sobre o ocorrido, e se o mesmo era prática comum na Igreja, se era tratado como norma de conduta na Igreja Primitiva.


Em primeiro lugar, o livro de Atos é um livro histórico, e não uma epístola doutrinária, de sorte que não vemos nestas práticas razão para doutrina. Muitos tomam certas passagens do livro de Atos e estabelecem doutrina, como por exemplo "o conselho de Gamaliel", relatado em Atos 5:34ss.
"Mas, levantando-se no conselho um certo fariseu, chamado Gamaliel, doutor da lei, venerado por todo o povo, mandou que, por um pouco, levassem para fora os apóstolos, e disse-lhes: Varões israelitas, acautelai-vos a respeito do que haveis de fazer a estes homens, porque antes destes dias, levantou-se Teudas, dizendo ser alguém: a este se ajuntou o número de uns quatrocentos homens; o qual foi morto, e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos e reduzidos a nada. Depois deste, levantou-se Judas, o galileu, nos dias do alistamento, e levou muito povo após si; mas, também, este pereceu, e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos. E agora, digo-vos: DAI DE MÃO A ESTES HOMENS, E DEIXAI-OS, porque, SE ESTE CONSELHO E ESTA OBRA É DE HOMENS, SE DESFARÁ, MAS SE É DE DEUS, NÃO PODEREIS DESFAZÊ-LA, PARA QUE NÃO ACONTEÇA SERDES TAMBÉM ACHADOS COMBATENDO CONTRA DEUS. E concordaram com ele" (At 5:34-40 - grifos meus).

De acordo com Gamaliel, douto fariseu, qualquer grupo que não pudesse ser detido era sinal da aprovação de Deus. Ora, Gamaliel não era nem crente! Assim, como levar uma palavra dita por um incrédulo como fonte de de doutrina? Como entender que alguém só poderia doutrinar se falasse pelo Espírito Santo, enquanto Gamaliel, não cristão, não tinha o Espírito? Trata-se, portanto, de uma NARRATIVA. Assim como a Bíblia relata até as palavras de satanás, ou de homens maus como Pilatos, Herodes e outros mais, também relatou as palavras de Gamaliel, JAMAIS dando a elas qualquer status de palavras divinas.

Ademais, o que dizer de falsas seitas que crescem a olhos vistos, até mais que o Evangelho verdadeiro, e que nunca puderam ser detidos, à luz do conselho de Gamaliel, como Espíritas. Mórmons, Testemunhas de Jeová, Budistas. Muçulmanos etc?
 Todas estas são campeãs de crescimento, nunca foram detidas, mas nem por isso têm a aprovação divina... Ou tem???

Outro exemplo de "doutrina" extraída de Atos é o "batismo em nome de Jesus". Algumas igrejas, mormente as Unicistas (que não creem na Trindade) não batizam de conformidade com a fórmula disposta em Mateus 28:19 por interpretarem erroneamente os textos de Atos que supostamente ensinam uma fórmula batismal "em nome de Jesus". Entretanto, os escritos dos pais da Igreja demonstram que a Igreja Primitiva NUNCA usou fórmula batismal diferente da que foi prescrita pelo próprio Senhor no evangelho de Mateus.

Repetimos: o livro de Atos NÃO É DOUTRINÁRIO, nas narrativo. Apenas conta a história da Igreja no 1º Século, sem se preocupar em prescrever doutrina.


Em segundo lugar, QUAL ERA O CONTEXTO SÓCIO-RELIGIOSO DA COMUNIDADE EM QUESTÃO? Analisemos o próprio texto bíblico, sem esquecermos de ANALISAR O CONTEXTO!!

Os fatos em questão se passaram em Éfeso, região extremamente mergulhada em misticismo e idolatria, adoradores da deusa Diana (ou Artemis). A continuação da leitura do capítulo deixa muito bem transparecer esta condição espiritual:

"E muitos dos que tinham crido vinham, confessando e publicando os seus feitos. Também muitos dos que seguiam artes mágicas trouxeram os seus livros, e os queimaram na presença de todos, e, feita a conta do seu preço, acharam que montava a cinquenta mil peças de prata. Assim a palavra do Senhor crescia poderosamente e prevalecia" (Atos 19:18-20). 
O que vemos no texto imediatamente posterior da narrativa acerca do uso dos lenços e aventais é que se tratava de uma comunidade imersa em feitiçarias e práticas ocultistas. Ou seja, a prática de levar tais lenços e aventais muito provavelmente adveio da sua cultura ocultista e animista. Não nos parece, absolutamente, uma boa ideia mesclar a doutrina cristã da cura com práticas pagãs!

Em terceiro lugar, observamos pelo texto em questão (At 19:11-12) que os enfermos não iam à Igreja BUSCAR tais lenços e aventais; era algo que as pessoas levavam até eles, a pedido do enfermo ou por sua própria iniciativa, já que almejavam a cura e libertação do amigo ou parente. O texto parece-me muito mais nos mostrar [1] pessoas doentes, impossibilitadas de ir à Igreja buscar cura ou [2] pessoas não cristãs, que deliberadamente não iam à Igreja, e por estes motivos seus parentes cristãos levavam tais peças de vestuário às suas casas.

Em quarto lugar, em momento algum, em lugar algum, a Escritura afirma que estes lenços e aventais passavam por qualquer "unção" com óleo, ou que os apóstolos oravam sobre eles, impunham-lhes as mãos ou promoviam qualquer ritual com o intuito de transferir-lhes poderes de cura. 

Em quinto lugar, tais lenços e aventais eram levados MAS NÃO ERAM VENDIDOS pelos apóstolos ou por qualquer outro representante da Igreja! Ou seja, não havia comércio dos lenços ou dos aventais ungidos, como acontece clara e abertamente nos dias de hoje. Os Apóstolos levavam a sério o princípio do "de graça recebestes, de graça dai" (Mt 10:8). Tomemos como exemplo o caso de Simão, o mágico, que tentou comprar o poder do Espírito Santo, e foi severamente repreendido por Pedro (At 8:18-24).

Não podemos jamais dizer que Deus não age através de um lenço ou avental. Mas também não podemos dizer que tais curas, ocorridas com a "ajuda" de objetos, seja algo divino. Conhecemos inúmeros casos de curas através deste expediente, mas tais curas NÃO SÃO privilégio das "igrejas evangélicas". Já vimos católicos, e até candomblecistas, serem curados através de objetos, o que nos mostra o poder curativo da sugestão. A cura não significa a aprovação divina!

Observemos alguns pontos importantes sobre o uso de aventais e lenços...

[1] Os lenços e aventais de Paulo não eram "ungidos". Eram peças de seu uso pessoal, que sem qualquer unção com óleo eram levados aos enfermos. Paulo não os usava com a intenção de enviá-los aos doentes (pelo menos, o texto bíblico nada afirma sobre isso), como muitos "curandeiros" fazem nos dias de hoje.

[2] Os lenços e aventais não eram vendidos! Não há nas Escrituras NENHUM relato de venda de qualquer objeto que emanasse poder! Se eu estiver errado, que me apresentem textos bíblicos relatando algum objeto sendo vendido, tendo da boca dos apóstolos qualquer indicação de que detinham poder.

[3] Não se fala na Escritura que os apóstolos ungiam, ou consagravam, ou transferiam poder para objetos ou peças de vestuário, para serem posteriormente usados em cura ou exorcismo. O texto apenas relata o que as pessoas comuns faziam, e não prescreve tal ato como prática recomendada.

[4] Tal ato não se transformou em DOUTRINA para a Igreja. Paulo ou qualquer apóstolo não INCENTIVAVA tal ato. Simplesmente as pessoas faziam, mas não havia ensino apostólico para que isso fosse feito, e o fato de "dar certo" não fez com que tal prática fosse recomendada em local nenhum das Escrituras. É pecado fazer? Não. É pecado considerar como doutrina e prática comum? Acredito que sim.

É importante ainda lembrar que, na ocasião em que tal costume era praticado, a Igreja estava "engatinhando", em seus primeiros anos de vida... Não havia ainda a Escritura, que se tornou no futuro a regra de fé e prática para a Igreja. A regra, antes do fechamento do cânon, era o ensino unificado dos Apóstolos, a Doutrina dos Apóstolos (At 2:42), e em momento algum vemos os apóstolos ensinando ou fomentando a prática de usar lenços e aventais como "auxiliares" na cura. É de se esperar que, num momento aonde a Escritura não existia para ensinar e prescrever doutrina, pessoas supersticiosas associassem suas superstições à fé cristã, o que mais adiante, nas Escrituras, é corrigido, com o ensino do certo a se fazer. Sobre o assunto, pessoas enfermas, mais tarde a Escritura prescreve: "Está alguém entre vós doente? chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite, em nome do Senhor; E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados" (Tg 5:14-15), deixando -- agora sim! -- DOUTRINA para toda a Igreja!

No Antigo Testamento, vemos uma história aonde um "objeto catalisador de poder" não funcionou, embora tenha sido enviado pelo próprio profeta Eliseu (2 Rs 4).  O texto relata:

"E ele [Eliseu] disse a Geazi: Cinge os teus lombos, e toma o meu bordão na tua mão, e vai; se encontrares alguém, não o saúdes, e se alguém te saudar, não lhe respondas: e põe o meu bordão sobre o rosto do menino ... E Geazi passou adiante deles, e pôs o bordão sobre o rosto do menino; porém não havia nele voz nem sentido: e voltou a encontrar-se com ele, e lhe trouxe aviso, dizendo: Não despertou o menino" (2 Rs 4:29-31).
Devia-nos servir de exemplo para não confiarmos em "objetos de poder"...

A orientação de Tiago, observada no âmbito da REVELAÇÃO PROGRESSIVA, diz-nos o seguinte: "
Está alguém entre vós doente? [Ao invés de levar um lenço ou um avental até ele] chame os presbíteros da igreja...". Uma visita pastoral traz, além da cura, uma palavra de salvação, ao doente e aos seus familiares, que muitas vezes não vão à Igreja... Assim, transforma-se uma visita de cura em uma visita de pregação da Palavra e de salvação...

Acima de tudo, trata-se de MATURIDADE entender o que é um texto narrativo e um texto prescritivo na Escritura, e perceber quando um texto é literal ou simbólico. Ora, observemos:
  • Jesus disse claramente: "Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o, e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno. E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a, e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca, do que seja o teu corpo lançado no inferno" (Mt 5:29-30). Entretanto, não vejo mutilados nas Igrejas, e nem vejo ninguém incentivando estas automutilações, embora esteja escrito, tenham sido palavras do próprio Jesus!
  • Paulo mandou Timóteo beber um pouco de vinho para obter a cura para os seus problemas gástricos (1 Tm 5:23), e nem por isso tomou-se tal texto como doutrinário, e nem vemos nenhum "pastor" em nossos dias prescrevendo o uso de vinho para a cura, embora a Escritura mencione o conselho de Paulo!
  • Jesus cuspiu no chão, fez lodo, e com este lodo curou um cego (Jo 9:6), e nem por isso fazemos isso para curar cegos nas Igrejas!
  • Naamã foi ensinado, para ser curado de lepra, a mergulhar sete vezes no Jordão (2 Rs 5), e nem por isso se estabeleceu que para se obter cura para problemas dermatológicos são necessários sete mergulhos em um rio, mar, piscina ou açude! 

Assim, observamos que o bom senso continua sendo uma máxima oculta sempre presente no texto da Bíblia!

Não discordo do poder de Deus, e nem da multiforme operação do Senhor. Por Sua vontade, o milagre pode ocorrer por diversos meios, inclusive por meio de lenços, aventais e peças de roupa usados por homens e mulheres de Deus. Entretanto, essa NÃO É a prática prescrita nas Escrituras. E O CRENTE MADURO SEMPRE IRÁ PREFERIR A FORMA BÍBLICA, e desprezar a forma comum e sincrética! Funciona? Em muitos casos, sim. Mas não seguimos O QUE FUNCIONA, mas o que DEUS deixou escrito!

Finalmente, DISCORDO VEEMENTEMENTE de qualquer ofício religioso que seja praticado por dinheiro. Discordo do uso da unção com óleo fora dos propósitos da Escritura. Discordo que obreiros do Senhor estimulem o "animismo gospel", enxugando o suor com toalhinhas de forma proposital, para vendê-las como objetos de poder. Sigamos a Escritura e o bom senso! Voltemos ao Evangelho!!

terça-feira, 24 de setembro de 2013

ENTREVISTAS E ENTREVISTADOS


A guerra está declarada! Mais uma guerra santa se deflagra entre as duas principais igrejas “evangélicas” neopentecostais brasileiras, e a maior estratégia de ataque tem sido a tentativa de desmoralizar uma a outra, uma atribuindo ao diabo e aos demônios o que acotece na outra e vice e versa. Esta guerra sem fim se trava entre igrejas que são idênticas em condutas e doutrinas, mas que uma insiste em dizer que é melhor que a outra, e pode ser presenciada pela tevê e pela internet, em embates quase diários.

A maior batalha desta guerra se dá no “campo espiritual”. Pessoas endemoninhadas são entrevistadas ao vivo, em exorcismos estranhos e questionáveis, aonde o demônio dá seu depoimento a respeito da outra igreja, sempre atribuindo a si a condução litúrgica, doutrinária e até a direção dos líderes da outra igreja...

O mundo espiritual existe desde os primórdios da humanidade, quando o próprio Satanás, utilizando-se da serpente, enganou o primeiro casal e levou-o à queda. No Antigo Testamento, pouco ou quase nada se fala acerca dos demônios, mas somente no advento de Cristo este mundo espiritual começou a ser desvendado, com sinais e maravilhas manifestos através de exorcismos feitos pelo Senhor Jesus e pelos seus discípulos (Mt 10:8; Mc 1:34; Lc 10:17).

O livro de Atos relata uma experiência vivida por Paulo, quando o mesmo se viu frente a frente com o demônio e precisou tomar uma atitude em relação ao ocorrido: E aconteceu que, indo nós à oração, nos saiu ao encontro uma jovem, que tinha espírito de adivinhação, a qual, adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores. Esta, seguindo a Paulo e a nós, clamava, dizendo: Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo. E isto fez ela por muitos dias. Mas Paulo, perturbado, voltou-se, e disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias dela. E na mesma hora saiu.” (At 16:16-18).

De acordo com o texto bíblico, Paulo passou por uma situação ímpar. Por mais que os demônios busquem afastar o homem perdido do caminho da salvação e desmoralizar a Palavra de Deus, o espírito que possuía e dominava aquela jovem dava testemunho de que Paulo e seus companheiros eram homens de Deus e pregavam a mensagem da salvação eterna. Mas o que mais chama a atenção no ocorrido é a reação do apóstolo diante do que a endemoninhada falava, já por vários dias a fio. Paulo não entrevistou o demônio. Paulo nem deu atenção ao que ele dizia pela boca da jovem possessa. Paulo não se utilizou da valiosa ajuda demoníaca à pregação do Evangelho. Ele simplesmente expulsou o demônio, conforme mandou o Senhor Jesus Cristo (Mt 10:8).

O apóstolo aos gentios age de forma completamente oposta aos “pastores”, “bispos” e “apóstolos” da atual igreja “evangélica” tupiniquim. Ele dispensa ao demônio um tratamento totalmente diferente do que é dispensado aos demônios em determinadas igrejas que alegam praticar exorcismos. Basta ligar a tevê nos programas patrocinados por estas igrejas para vermos exorcismos acompanhados de entrevistas com os demônios, aonde todo o tempo do mundo é dado a estes seres caídos para que falem o que bem entenderem, e suas declarações são recebidas como a mais pura expressão da verdade!

Imagino se o que aconteceu com Paulo em Filipos acontecesse em nossos dias, nestas citadas igrejas neopentecostais. Se um endemoninhado entrasse em uma destas igrejas e o demônio afirmasse que os pastores, líderes, bispos, apóstolos e semideuses que conduzem aquele ministério “...anunciam o caminho da salvação, e são servos do Deus Altíssimo”, qual seria a atitude em relação a este acontecimento? Não tenho dúvidas que o endemoninhado seria conduzido ao “palco” e o demônio seria extensamente sabatinado sob a luz dos holofotes e o foco das câmeras, entre gritos ufanos de “Está vendo, Igreja?? Ele está dando testemunho acerca de nossa Igreja e de nossa liderança!! Quero ver quem depois disso vai dizer ainda que Deus não está em nosso meio”, e outras frases do mesmo quilate...

O fato é que o diabo e seus demônios têm ganhado um grande e valioso espaço no suposto culto a Deus — muitas vezes um espaço muito maior que o espaço dado ao próprio Deus! Além de serem valorizados, suas palavras nas “entrevistas” concedidas a exorcistas inescrupulosos são acatadas no mesmo patamar de autoridade que a Bíblia. A voz dos demônios transformou-se na voz da verdade que se deseja propagar no meio da Igreja.

Em primeiro lugar, vemos que o ato de entrevistar o demônio em si é uma conduta não embasada pela Bíblia. Não vemos tais entrevistas serem conduzidas pelo Senhor Jesus ou pelos apóstolos. Jesus não mandou que entrevistássemos os demônios, mas que os expulsássemos! Além disso, observamos nas Escrituras que o Senhor Jesus pautava muito mais pela expulsão dos demônios sem que eles dissessem qualquer palavra, mandando muitas vezes que se calassem (Mc 1:25; 1:34).

Observamos ainda que estes tele-exorcistas se estribam no texto de Lucas 8:26-34, quando Jesus supostamente entrevista uma legião de demônios que dominavam o gadareno, julgando que a Escritura dá-lhes autoridade e liberdade para CONVERSAR com os demônios durante e expulsão dos mesmos. Entretanto, o texto não é permissivo para esta conduta, e sim instrutivo. Como já explanamos, o Antigo Testamento pouco ou quase nada ensina acerca de demônios, de sorte que os discípulos precisavam ser instruídos no assunto, tomar conhecimento de quantos demônios era possível de se alojar em um único ser humano. Na ocasião, Jesus faz UMA, somente uma pergunta aos demônios que possuíam o gadareno para que os presentes pudessem compreender que não há limites em uma possessão demoníaca em relação à quantidade de espíritos malignos. O Senhor Jesus limita-se a perguntar-lhe o nome; não há longas entrevistas, as palavras do demônio não são levadas em consideração para ensino, e sim o fato de serem muitos atormentando um único homem, assim como em Maria Madalena havia sete demônios (Lc 8:2), assim como após a expulsão de um demônio o mesmo pode retornar ao mesmo homem acompanhado de outros sete piores (Lc 11:24-26). Aqui temos ensino, e não o modus operandi de um exorcismo.

O fato de darmos atenção ao que os demônios afirmam e considerarmos suas falas como se fossem verdades absolutas é terrivelmente perigoso, e afasta o homem dos verdadeiros fins da Igreja: o louvor a Deus, a oração e a pregação da Palavra. Parece que os que praticam tais exorcismos pirotécnicos se esquecem que o diabo é o pai da mentira (Jo 8:44), e os demônios por conseqüência seguem o mesmo padrão do seu pai. Entretanto, ao se dar ouvidos à voz de espíritos enganadores e permitir que eles tenham voz e vez na Igreja, estamos subtraindo tempo que poderia e deveria estar sendo dedicado ao ensino da Palavra verdadeira.

Finalmente, o próprio diabo está sendo exposto na Igreja a ridículos que a Bíblia não autoriza que façamos. Judas, o irmão do Senhor, fala em sua curta epístola acerca de “homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus, e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo... estes, semelhantemente adormecidos, contaminam a sua carne, e rejeitam a dominação, e vituperam as dignidades. Mas o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele; mas disse: O Senhor te repreenda. Estes, porém, dizem mal do que não sabem; e, naquilo que naturalmente conhecem, como animais irracionais se corrompem” (Jd 1:4-10). Ora, se nem mesmo um arcanjo submeteu Satanás a entrevistas e expedientes humilhantes, qual a autoridade que possuímos para tal? Estamos, porventura, insatisfeitos com o poder de expulsar o demônio, e queremos fazer desta expulsão um espetáculo pirotécnico dentro da Igreja?

O exorcismo é tarefa da Igreja, ou de qualquer crente, que detém autoridade sobre os espíritos imundos. Entretanto, não podemos jamais levar o exorcismo para níveis não permitidos ou não dispostos nas Escrituras. Às Igrejas que o usam para promoverem-se a si mesmas, conduzindo os demônios mentirosos a vociferarem contra as suas igrejas desafetas e seus líderes, deveriam acima de tudo abandonar as práticas antibíblicas e voltar ao Evangelho de Jesus Cristo e dos apóstolos, que em nenhum momento davam espaço aos demônios, mas tão somente à Palavra de Deus!

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

ELIAS, O TISBITA, E SILAS, O MALAFAIA


(Ou, minha resposta ao desafio do pr. Silas Malafaia, lançado aos "blogueiros filhos do diabo", para que provem que ele está errado em abraçar a "teologia" da prosperidade)

Primeiramente, antecipo: s
ou uma pessoa avessa aos desafios, mormente os religiosos. Eles não são fruto de pessoas inteligentes, pois os desafios são vias de mão dupla, e os desafiadores ignoram esta verdade. O prerrequisito de um bom desafio é que ambas as partes deveriam estar prontas e dispostas a ouvir, analisar os argumentos e refutações, e a parte errada deve estar disposta a mudar, retratar-se. Ou seja, uma espécie de aposta: quem perder, perde! Não parece ser o caso do ilustre televangelista, que descobriu uma mina de ouro na teologia da prosperidade e está muito mais disposto a enfrentar qualquer Zé Bobão que esteja firme no propósito de permanecer fiel às Escrituras e à Doutrina dos Apóstolos... Portanto, qualquer blogueiro que aceitar o desafio saiba de antemão: mesmo que sejam dadas TODAS AS REFUTAÇÕES BÍBLICAS, o desafiante demonstra que não está nem um pouco disposto a reconhecer a falácia desta “teologia”, e muito menos abandoná-la. Eu, entretanto, se me provarem nas Escrituras que a minha postura está equivocada, não vejo nenhum problema em me retratar. 

Nunca vi um destes desafios produzir qualquer mudança, pois o desafiante jamais admite estar errado, mesmo quando refutado à luz da Escritura e esclarecidas todas as dúvidas pertinentes. Perde o desafio, mas não se convence! É refutado, mas não se arrepende! Vê que está errado, mas não muda de atitudes e opiniões! Não tem como contra-argumentar ou replicar, mas não se entrega! Lembro-me de uma Testemunha de Jeová com quem debati na minha juventude. Mostrei na Bíblia dele, na "Tradução do Novo Mundo", que a Trindade existe e que não somente 144 mil iriam para o céu, mas todos os salvos. Ele, atônito, me disse ao fim do debate (quando não dispunha de mais argumentos): “Estou lendo na minha Bíblia, mas ainda não acredito!”. Mudar de direção quando confrontado com a verdade é para poucos, e para grandes.

A maioria dos desafios são burros em sua gênese! Lembro-me de alguns deles, lançados ao Senhor Jesus: “E, chegando-se a ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães [...] Então o diabo o transportou à cidade santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo, E disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque está escrito: Que aos seus anjos dará ordens a teu respeito, e tomar-te-ão nas mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra [...] Novamente o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles, E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares” (Mt 4:1-9). “E os que iam passando blasfemavam dele, meneando a cabeça  e dizendo: Tu, que destróis o santuário e em três dias o reedificas, salva-te a ti mesmo; SE ÉS FILHO DE DEUS, DESCE DA CRUZ.   De igual modo também os principais sacerdotes, com os escribas e anciãos, escarnecendo, diziam: a outros salvou; a si mesmo não pode salvar. Se é Rei de Israel, DESÇA AGORA DA CRUZ, E CREREMOS NELE” (Mt 27:39-42 – grifos meus). Agradeço a Deus por Jesus não ter se perturbado com a ignorância dos desafiantes. O propósito de Deus em Cristo não era convencer o diabo ou os judeus de que Ele era Filho de Deus, e sim levar a cabo o propósito de sacrificar-Se a Si mesmo para salvar toda a humanidade.

O único desafio que julgo digno de menção e de atenção foi o lançado por Elias, descrito no primeiro livro dos Reis:

Então disse Elias ao povo: Eu, só, fiquei, por profeta do Senhor, e os profetas de Baal são quatrocentos e cinquenta homens. Dêem-se-nos, pois, dois bezerros, e eles escolham para si um dos bezerros, e o dividam em pedaços, e o ponham sobre a lenha, porém, não lhe metam fogo; e eu prepararei o outro bezerro, e o porei sobre a lenha, e não lhe meterei fogo. Então invocai o nome do vosso deus, e eu invocarei o nome do Senhor: e há de ser que, o deus que responder por fogo, esse será Deus. E todo o povo respondeu, e disseram; É boa esta palavra....” (1 Rs 18:22-24).

Elias representava a minoria. Só ele (pelo menos até então ele ainda não sabia da existência de outros sete mil homens fieis, que talvez representassem no máximo 1% da população do país) permanecera firme no propósito de servir ao Senhor, ao passo que todos os outros O deixaram e seguiram outros deuses, pois lhes era mais conveniente. Qualquer semelhança com a igreja de nossos dias não e mera coincidência, aonde a “teologia da prosperidade”, que nunca foi pregada por Cristo, pelos apóstolos ou pelos pais da Igreja, se alastra pelos quatro cantos da terra. Não há UMA ÚNICA RELIGIÃO do mundo que prega a riqueza material e a prosperidade financeira como bênção absoluta de Deus; somente os cristãos adeptos da teologia da prosperidade! E os que se levantam contra esta teologia antibíblica são a minoria, a escória, os incrédulos, os Manés e os Zé-Bobões. A Igreja se tornou uma multidão de profetas de Mamon, e contra esta multidão uns poucos fieis precisam lutar diuturnamente.

Elias condenou o coxear de toda uma nação, indecisa entre dois pensamentos: servir a Yahweh ou servir a Baal. Subentende-se que Elias era uma pessoa firme em um único pensamento! Quanto aos pregadores da atualidade, há tempos atrás pregavam CONTRA esta doutrina nefasta, mas ao usufruírem de suas benesses financeiras deram as mãos a ela. Negaram a fé original e primitiva, assim como os falsos profetas de Baal e Asera, que deixaram o Senhor, abraçaram outros deuses e não tinham o menor interesse de voltarem a servir ao Deus verdadeiro, pois dispunham do sustento e da proteção de Jezabel (1 Rs 18:19). São até piores que os sacerdotes de Baal e Asera, que abandonaram o Senhor e assumiram sua apostasia, enquanto que os modernos querem servir a Deus e a Mamom ao mesmo tempo, acender uma vela para Deus e outra para o diabo, conciliar o inconciliável (Mt 6:24; 1 Jo 2:15-17)! Se o Senhor é Deus, sigamo-nO; se Baal é deus, sigamo-no; se Mamon é deus, sigamo-no. Faz-se mister parar de coxear entre dois ou mais deuses, mas não dá para seguir a todos ao mesmo tempo, pois são antagônicos! Infelizmente, a teologia da prosperidade tenta unir os Yahweh e Mamon, que a Bíblia categorica e definitivamente afirma não se unirem...

Elias conclamava a nação inteira a servir a Deus, e somente a Ele.  Jesus deixou claro que não era possível servir a Deus e a Mamom, mas a teologia da prosperidade quer afirmar exatamente o contrário. O centro do culto, o fim das ofertas, dos louvores, das campanhas e de tudo mais se tornou o RECEBER, o GANHAR, o SER ABENÇOADO, o PROSPERAR. Ao se ofertar R$ 911 para um determinado Ministério, ganhamos não somente uma bela Bíblia, mas também a ABSOLUTA CERTEZA de que Deus irá nos abençoar financeiramente.

Elias não chamava ninguém a uma nova fé, uma nova visão de Deus, e sim à visão antiga.  Sua batalha contra os profetas falsos era mostrar ao povo que os seguia que só o Senhor é Deus, e reconduzi-los ao antigo, e não ao novo! Eis o grande problema dos predadores, digo, pregadores da teologia da prosperidade: trazer o novo, aquilo que nem Cristo e nem os seus imediatos trouxeram ao mundo. Não há registros históricos de que a Igreja primitiva e os pais da Igreja dos primeiros Séculos, ou mesmo os Reformadores, pregavam qualquer coisa sequer PARECIDA com o que se prega hoje através da teologia da prosperidade! Trata-se de uma nova visão, capitalista e consumista, que tem por objetivo ofuscar e eliminar a antiga, a visão bíblica. Desde a antiguidade Deus admoesta seu povo: “Assim diz o Senhor: Ponde-vos nos caminhos, e vede e perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele, e achareis descanso para as vossas almas; mas eles dizem: Não andaremos” (Jr 6:16; 18:15). A teologia da prosperidade é a antítese do chamamento dos profetas, que sempre conclamaram o povo a retornar às veredas antigas e praticar as primeiras obras. É a negação da volta ao primeiro amor cobrado por Cristo à igreja de Éfeso (Ap 2:4) e da admoestação ao anjo da igreja de Laodiceia (Ap 3:17), que se gabava: “rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta”, mas o Senhor deixou claro que na verdade ele era “desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu”. Não existe comparação melhor a se fazer a muitos pastores e igrejas da atualidade, uma vez que seu maior objetivo é enriquecer, e muitas vezes sob o argumento de pregar o Evangelho com esta riqueza, mas as mansões, os jatinhos, os carrões e as fazendas mostram outra realidade!.

Elias restaurou o altar de Deus que estava quebrado. Em completo desuso, qualquer objeto tende a se deteriorar. Naquela época, ninguém o usava, e nos dias de hoje permanece sem usá-lo, pois os maiores altares são os gazofilácios, os boletos e os débitos bancários. Há muito se deixou de se servir a Deus para servir-se a si mesmos! Ninguém dá mais uma oferta; semeia-se, esperando de antemão receber cem vezes mais! Blasfema-se assim do Senhor, julgando que Ele se compra por dinheiro!!

Desculpa, pr. Silas. Não vou perder meu tempo assistindo seu programa para ver se a teologia da prosperidade que pregas é bíblica (as evidências, a Bíblia, a história da Igreja e o bom senso demonstram claramente que não é, embora te recuses a enxergar o óbvio que enxergavas perfeitamente há alguns anos). Não tenho o menor interesse de aceitar seu desafio. Ele é somente mais um desafio de tolos, como a grande maioria dos desafios, como os que foram lançados ao Senhor Jesus pelo diabo e pelos principais sacerdotes. Muitas pessoas boas dentre os “blogueiros endemoninhados e hereges”, como chamas os profetas que Deus levantou para te admoestar e conduzir ao caminho antigo, te darão a resposta que pedes e mereces, te mandarão refutação bíblica e histórica para esta execrável teologia que abraçastes. Lamento que, como é de teu costume, não darás ouvidos a eles, nem considerarás a misericórdia divina revelada através das admoestações que eles te fazem. Antes, darás ouvidos a falsos profetas (estrangeiros e nativos), à concupiscência pela riqueza e à soberba da vida. E por mais que esta concupiscência e esta soberba sejam cheias de boas intenções (pregar o evangelho — qual deles mesmo?), de boas intenções o inferno está cheio! Os fins não justificam os meios! Mateus 7:21-23 que o diga!!

Permaneço orando por ti e por teu Ministério, na esperança que te deixes alcançar pelas Escrituras, pelo bom senso e pelo arrependimento. Este é o meu desafio para ti.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

SE É DE DEUS, VAI SE CUMPRIR!

Você já deve ter ouvido esta frase nos círculos pentecostais e neopentecostais... Embora soe precisamente como um versículo extraído da 2ª Epístola do profeta Erezias, torna-se pouco a pouco mais uma das verdades gospel de nossos dias, daquelas que não estão na Bíblia por uma falha de Deus, pois deveriam estar!

Você acaba de receber uma profecia vinda da boca de um dos muitos “profetas” que pululam por aí. Ainda um pouco cético acerca do que lhe foi entregue em nome do Senhor, você cria coragem e diz: “― Se é de Deus, vai se cumprir!”, e se sente como se tivesse dado uma tapa no rosto do “profeta” caso a mensagem entregue não tenha sido de Deus...

Não canso de repetir: sou Pentecostal bíblico (daqueles que creem firmemente que o Espírito que nos foi dado no Pentecostes não contradiz o que está escrito, daqueles que, à moda de Beréia, vão às Escrituras para ver se as coisas são mesmo assim!), creio em profecias e respeito os profetas. Já fui alvo de muitas mensagens vindas de Deus, as quais se cumpriram para a glória do Senhor. Mas já fui também “vítima” de outro tanto, que não se cumpriram. Perdi as contas das chaves de carro que já recebi “das mãos do Senhor”, e nenhuma me chegou às mãos até hoje... Certo “profeta” me mandou certa vez cavar um buraco de uns 3 metros de profundidade em minha sala de visitas, pois havia um tesouro enterrado lá! Será?? Pelo sim, pelo não, nem me dei ao trabalho de tal escavação!!

Não podemos fechar os nossos olhos para o FATO de que falsos profetas existem. Desde os tempos do Antigo Testamento eles são citados; Já nos tempos de Samuel, inquestionável profeta do Senhor, as Escrituras mostram que seus filhos e naturais sucessores no ofício sacerdotal e profético não andavam pelos mesmos caminhos que o pai (1 Sm 8:5). A Bíblia relata ainda que nos tempos do profeta Mica havia muitos falsos profetas, e nos dá inclusive seu número: quase quatrocentos (1 Rs 22:1-28), todos profetizando vitória, mas só Mica trouxe a verdadeira Palavra do Senhor, contrariando a todos. A palavra de um profeta do Senhor nem sempre é agradável...

Nos tempos de Jeremias também havia falsos profetas que profetizavam libertação do jugo da Babilônia, a ponto de ele precisar enfrentar um de nome Hananias (Jr 28). Após o relato deste confronto e a morte do falso profeta, o Senhor fala por sua boca, dizendo: “Não vos enganem os vossos profetas que estão no meio de vós, nem os vossos adivinhos, nem deis ouvidos aos vossos sonhos, que sonhais: Porque eles vos profetizam falsamente em meu nome: não os enviei, diz o Senhor” (Jr 29:8-9).

No Novo Testamento não é diferente, e embora raramente sejam citados nomes, tanto o Senhor como os apóstolos alertaram que muitos falsos profetas já se espalhavam pelo mundo (Mt 24:3-11; 1 Jo 4:1; Ap 2:20), exortando-nos à vigilância constante.

A frase “se é de Deus, vai se cumprir” além de ser extrabíblica é antibíblica e extremamente perigosa! É da mesma origem herética de “se a cura vier, é de Deus”, ou “se cair e levantar transformado, foi Deus”, esta última defendida por um famoso telepastor tupiniquim no polêmico caso da “unção do cai-cai”. A coisa não é bem assim! Pode haver cura, e não ser de Deus! Pode haver transformação pós-cai-cai, e não ser Deus! Pode se cumprir a palavra profética, e não ser de Deus!

Um grande exemplo disso eu tenho no seio de minha família. Um irmão consanguíneo buscou em médicos e até mesmo em Igrejas a cura de um glaucoma sério, que o estava levando à perda da visão. Encontrou a cura em um centro espírita kardecista. Cura total, através de uma “cirurgia espiritual”! Conheço outros exemplos de curas em ambientes católicos romanos e até mesmo candomblecistas. Obviamente, estas curas não vieram de Deus, e ainda conseguiram a façanha de afastar os beneficiários das curas do Evangelho da Graça de Deus... E aí?? Se a cura vier, é de Deus mesmo??

Ainda nos tempos de Moisés, o Senhor já alertava Seu povo: “Quando profeta ou sonhador de sonhos se levantar no meio de ti, e te der um sinal ou prodígio, e AO SUCEDER O TAL SINAL OU PRODÍGIO, de que te houver falado, lhe disser: Vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los; NÃO OUVIRÁS AS PALAVRAS DESTE PROFETA ou sonhador de sonhos; porquanto O SENHOR, VOSSO DEUS, VOS PROVA, para saber se amais o Senhor, vosso Deus, com todo o vosso coração, e com toda a vossa alma. Após o Senhor, vosso Deus, andareis, e a ele temereis, e os seus mandamentos guardareis, e a sua voz ouvireis, e a ele servireis, e a ele vos achegareis. E AQUELE PROFETA ou sonhador de sonhos MORRERÁ, pois falou REBELDIA CONTRA O SENHOR vosso Deus, que vos tirou da terra do Egito, e vos resgatou da casa da servidão, PARA TE AFASTAR DO CAMINHO que te ordenou o Senhor, teu Deus, para andares nele: assim TIRARÁS O MAL DO MEIO DE TI” (Dt 13:1-5 grifos meus).

A verdade é que se for de Deus se cumpre, mas nem tudo o que se cumpre prova que era de Deus! Principalmente quando:

1.     A PROFECIA VAI DE ENCONTRO ÀS ESCRITURAS, CONTRARIANDO-AS – Certa vez um profeta “profetizou” que eu e minha esposa iríamos viajar, mas para locais diferentes, para fazermos a obra de Deus, só que separados! Só nos reencontraríamos depois de um ano! Ora, conhecendo muito bem a minha natureza carnal e meu apetite sexual, e considerando mais ainda as Escrituras que prescrevem acerca do casamento que “Não vos afasteis um ao outro, senão por consentimento mútuo, por algum tempo, para vos aplicardes à oração; e, depois, ajuntai-vos outra vez, para que Satanás vos não tente pela vossa incontinência” (1 Co 7:5), rejeitei rapidinho aquela “palavra profética”!

2.     A PROFECIA NOS LEVA A FAZER ALGO CONTRA A VONTADE DE DEUS – Conheço muitos casamentos fracassados, casais que moram debaixo do mesmo teto cheios de amargura porque deram ouvidos a “profetas” que profetizaram que um era o escolhido para o outro. Casaram com as pessoas erradas, sem ao menos se darem ao trabalho de namorar e noivar por um tempo suficiente para se conhecerem um ao outro... É bem possível que você, que lê este artigo, se enquadre nesta situação terrível...

3.     A PROFECIA NOS AFASTA DE DEUS – É o caso típico do “profeta” citado por Moisés... A profecia se cumpre e o “profeta” ganha fama e status... Com a autoridade que este status lhe confere, começa a ensinar doutrinas e práticas estranhas à Bíblia. Passamos a dar mais ouvidos à voz do “profeta” do que à voz do Senhor, principalmente a disposta nas Escrituras; afinal, o cara profetiza e se cumpre! É a prova de que Deus está com ele!! Ledo engano! Este é o caso mais comum em nosso meio. Um sinal dado por um falso profeta, quando se cumpre, concede a glória ao PROFETA, e não a Deus, e ele passa a ensinar e passar para a Igreja aquilo que as Escrituras não ensinam, ou exatamente aquilo que as Escrituras nos mandam evitar a todo custo! Não é exatamente isso que mais tem ocorrido em nossos dias?

A postura de um crente não é falar tal frase, e sim, ao menor sinal de quaisquer destas características confrontar o “profeta” com as Escrituras! Fazê-lo passar vergonha mesmo! Talvez assim, após pagar um mico-leão-dourado do tamanho do King Kong, os falsos profetas criem um pouco de temor de Deus, tomem vergonha na cara e deixem de falar bobagens e mentiras em nome do Senhor!

Os DETRANs de todo o Brasil já ensinam há muitos anos, em placas nos acostamentos das nossas rodovias: “NA DÚVIDA, NÃO ULTRAPASSE”. Isto nos remete inexoravelmente à orientação paulina de que “não ultrapasseis o que está escrito” (1 Co 4:6). A verdade é que SE É DE DEUS, PRIMEIRO VAI CONCORDAR COM AS ESCRITURAS;  DEPOIS, SE CUMPRIRÁ. Simples assim!