sexta-feira, 8 de março de 2013

ENCONTREI MEU NOME!

Neste Dia Internacional da Mulher, revirando os meus e-mails antigos, encontrei este, que compartilho com vocês... Linda história!! Preparem os lenços!

Eu tinha apenas 14 anos, e já notava o quanto as pessoas consideravam aquela senhora repulsiva. Seu nome era Conceição. Trajava uma blusa azul rasgada, uma muleta metálica toda esfolada, um prendedor de cabelos amassado, um vestido até os joelhos e sempre se sentava no último banco.

Sabíamos que nunca a igreja ficaria fechada, fosse no Carnaval, com os retiros, fosse no dia de Ano Novo, Natal, Dia da Pátria ou qualquer outro evento em que quase todos viajassem. A irmã Conceição não faltaria. Isso era tão certo quanto dizer que Belo Horizonte fica em Minas Gerais.

Mulher pobre, morava com uma filha solteirona. Notava-se que tinha pouca higiene, não por ser suja, mas por ser idosa e não haver pessoas que cuidassem dela. Seus outros filhos eram todos já sessentões e haviam seguido caminhos tortuosos, alguns eram bêbados, outros vagabundos, enfim, não era o que se esperava de uma família cristã.

Ah, mas isso fora resultado de uma vida sem Deus em outros tempos. Vinda de Portugal, Conceição não tinha o temor do Senhor. Viúva precoce, lutou como poucas para sustentar os seus filhos. Lavou roupas, foi doméstica, fez salgadinhos, ela foi uma heroína. Agora, idosa, já pelos 90 anos, estava na época de usufruir da gratidão dos filhos que, infelizmente, não acontecia.

Há alguns anos Conceição conhecera a Cristo durante um culto ao ar livre. O irmão Idelino Lopes de Oliveira, hoje Pr. Idelino, pregava num culto da pracinha. Conceição o ouvia com atenção, até que, não podendo mais evitar a emoção e o desejo, entregou-se a Cristo, tornando-se naquela tarde mais uma remida pelo Cordeiro de Deus. Foi batizada e tornou-se membro de nossa Igreja (Batista de Sumarezinho, São Paulo, SP). Eu, convertido aos 14 anos, já a encontrei com anos de igreja.

Mas eu percebia algo impressionante: Conceição nunca fora eleita para cargo algum. Seu nome nunca fora cogitado para nada, nunca compôs qualquer comissão, jamais estivera à frente de qualquer atividade da igreja. Aliás, as pessoas nem gostavam muito dela, principalmente de pedir-lhe que orasse. Suas orações eram longas, comovidas, sua voz era trêmula, suas palavras difíceis de se entender, com mistura de sotaques.

Geralmente ela entrava muda e saía calada, apesar de alguns a cumprimentarem quando não tinham outra opção. Pela manhã e à tarde, ao abrir os portões, a zeladora contemplava Conceição, a primeira a chegar. E ao término das atividades, quando a bênção era impetrada, Conceição ia embora, descendo a ladeira, mancando com sua velha bengala.

Quantos problemas nossa igreja passara em 4 anos! Problemas com membros, problemas entre igreja e pastor, problemas de saúde, problemas de assalto, problemas de toda espécie. Mas, miraculosamente, no meio das aflições e da expectativa de estarmos no final da estrada, sem a mínima possibilidade de solução, sem futuro, uma bênção inesperada acontecia, um novo caminho e uma brilhante solução despontava ante os olhos estarrecidos e estupefatos de toda a congregação. E, ao darmos graças, lá estava Conceição, quietinha, lágrimas nos olhos e sempre uma palavra de Conforto para nos dar.

Deixei a igreja para congregar em outra. Foi lá na outra que recebi a notícia: "Conceição adoeceu e quer vê-lo". Meu Deus, ela adoecera mais ainda? E agora? Fui visitá-la. Tadinha, sofria tanto naquela cama, sem cuidados, mas estava tão feliz e alegre! Ela orava, e orava, e orava!!! Não havia o que confortá-la. Eu é que saí confortado! Certa noite, o pastor disse que ela pediu para que deixassem-na partir para a Glória Celestial, pois Jesus a chamava. E Jesus a levou.

Passados os primeiros dias, a igreja tomou conhecimento de um tesouro inigualável, algo assustador, maravilhoso, celestial, impressionante. Entre os seus míseros e parcos pertences (um móvel velho, sua cama quebrada, seus farrapos de vestir, seus velhos objetos e bíblia), encontraram vários cadernos. Eram cadernos e mais cadernos, cadernos surrados, cadernos velhos, rotos, costurados, amarelados, com letras tão mal-escritas, à lápis, à caneta, à pena, cadernos escritos por dentro e por fora. Eram os seus CADERNOS DE ORAÇÃO.

Descobrimos que Conceição era muito mais do que qualquer um de nós poderia imaginar.

Encontrei o meu nome naquele caderno. Encontrei quando entrei na igreja como visitante, encontrei quando adoeci mortalmente em 1982, encontrei anotações de agradecimento por minha cura e pelo futuro ministério que um dia teria. Encontramos os nossos nomes todos ali.

Aos poucos começamos a entender porque Sumarezinho nunca sucumbira ante os ferrenhos ataques terroristas do diabo: Conceição não dormia, ela orava! Ela clamava!

Vi naqueles cadernos o nome de quem nunca a cumprimentou! Vi o nome de pessoas que a chamavam de "velha fedida"! Vi o nome de gente granfina que nunca imaginou ser alvo das orações de alguém.

Ali estava um tesouro incomensurável, em "vasos de barro", em papel velho e amarelo, que representava muito mais do que todos nós um dia já havíamos oferecido a alguém ou a Deus.

O meu nome estava lá. Cada situação, cada dificuldade, cada desafio. Conceição orava por mim. E por que? O que eu havia feito para merecer as suas orações? O que os pastores que nunca a recomendavam para cargo algum faziam para figurar em suas constantes súplicas? Cada presidente da República, cada artista de TV, cada pregador visitante, cada criancinha que nascia, estávamos todos lá, sendo apresentados a Deus pela Conceição.

Minhas palavras na época foram: "Meu Deus, quem ocupará o lugar dela?" Ninguém. Aliás, ninguém de que se tenha notícia, pois pode bem acontecer de outra Conceição ter se colocado "na brecha" e esteja orando, orando, orando...

Como sinto vergonha, dor, rubor de faces, ante a grandeza da Conceição e a minha pequenez! Ela nunca pediu NADA para si, nada havia em seus cadernos por si própria, mas pedia tudo para os outros! Que resignação, que vida em prol do próximo, que abnegação desmedida!

Conceição é uma das heroínas da fé que passearão com Cristo com vestes resplandecentes e coroa na cabeça. Em lugar da muleta terá palmas para saudar o Rei por quem viveu o tempo todo em que foi crente. Seu nome está não em um caderninho, mas no Livro da Vida do Cordeiro!

E eu me pergunto: quem, além da Conceição, foi tão esquecido quanto ela? Nós não éramos dignos de uma mulher de sua qualidade e coração! Ela foi "um dom de Deus" para nós, foi a nossa intercessora.

O que eu tenho sido nas mãos de Deus? O que nós temos sido diante d’Aquele que um dia teve aos Seus serviços uma serva como Conceição?

Quisera eu que mais Conceições surgissem hoje. Talvez pela falta delas é que nossas igrejas estão tão pobres espiritualmente, ainda que muitas tenham tesouros que a traça corrói e os ladrões roubam! As riquezas que Conceição buscava as nossas igrejas hoje têm esquecido, por isso cambaleiam ante os "Boeings" que o Diabo-Terrorista atira contra as nossas estruturas interiores.

"Senhor, obrigado porque um dia houve uma Conceição que orou por mim". Obrigado porque as orações dela foram atendidas. Ajuda-me, Senhor, a seguir o exemplo daquela tua serva, há tantos anos dormindo em Cristo, para que novos heróis e heroínas na fé se apresentem para ocupar a brecha que ficou vazia. Em nome de Jesus. Amém."

(Pr. Wagner Antonio de Araújo)

terça-feira, 5 de março de 2013

O QUE O NOVO TESTAMENTO NOS ENSINA SOBRE O "GUARDAI-VOS" - 5/7


Continuamos a saga de nossos artigos sobre o “GUARDAI-VOS”, e acabamos de sair dos Evangelhos, das citações de Jesus para que nos guardássemos de coisas más, e entramos  nas cartas do Novo Testamento. Chegamos à primeira admoestação epistolar sobre o assunto, que foi feita por Paulo. É uma admoestação tripla. “Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da circuncisão” (Fp 3:2) é a orientação da vez. Embora pareça que Paulo nos adverte contra três coisas distintas, na verdade se trata da mesma coisa. GUARDAI-VOS DOS MAUS OBREIROS. A redundância nos remete a um cuidado triplicado!

Nem é preciso ser um gênio para observar que em nossos dias esta admoestação é de extrema utilidade para a Igreja. Vivemos em uma época em que obreiros fraudulentos se proliferam por todos os lados. Não há mais qualquer exigência para que alguém se torne “obreiro”, “pastor”, “bispo” ou “apóstolo”. Até mesmo as exigências mínimas aos aspirantes do episcopado e presbiterato descritas em 1 Tm 3:1-16 e Tt 1:5-16, que deveriam ser os primeiros parâmetros, condição sine qua non, são sumariamente desprezadas, demonstrando o total desprezo que a Igreja atual devota ao ministério, ao abandonar critérios mínimos para a aceitação de seus obreiros. Ora, para escolhermos um profissional nos para prestar qualquer serviço somos extremamente criteriosos; seja uma empregada doméstica, um pedreiro, um encanador ou um eletricista, ou um funcionário para a nossa Empresa, exigimos referências, cursos e atestados de idoneidade, mas para conduzir a Igreja do Senhor, entregamos o cajado nas mãos do primeiro aventureiro que aparece, e nem procuramos saber de onde veio! O ministério se tornou uma fonte de renda, lucro e enriquecimento,  e não mais a responsabilidade de conduzir o rebanho de Deus com amor e desprendimento. 

GUARDAI-VOS DOS CÃES

A boa hermenêutica nos ensina que precisamos compreender o que a expressão quer dizer quando foi escrita, como os seus ouvintes e leitores iniciais a compreendiam. 

A palavra “cão” na Bíblia é oriunda das palavras hebraica keleb’ e grega kuon’, e não tem absolutamente o mesmo significado que tem para nós em nossos dias. Para nós, brasileiros, o cão é o melhor amigo do homem, talvez o mais útil de todos os animais domésticos, pois dá ao seu dono amizade, proteção e até auxílio na caça. O nome “cão” pode significar também para nós, em sentido pejorativo, uma alusão ao diabo, como se pode observar na frase “Fulano age como um filho do cão”. Mas não significava a mesma coisa na época bíblica. Para os judeus, seu significado era completamente diferente. 

Primeiramente, o cão era um animal desprezado na sociedade judaica. Quando se queria demonstrar desprezo, usava-se esta palavra, como vemos nas palavras de Golias, quando vociferou a Davi: “Sou eu algum cão, para tu vires a mim com paus?” (1 Sm 17:43), e de Mefibosete: “Quem é teu servo, para tu teres olhado para um cão morto tal como eu?” (2 Sm 9:8). Assim, a palavra sempre teve sentido pejorativo e humilhante. A palavra hebraica, além de ter significado literal de ‘cão’, ‘cachorro’, traz ainda o sentido figurado de desprezo, coisa imunda e desprezível, humilhação, e ainda é usada em referência ao sacrifício pagão ou a prostitutos cultuais e ‘sodomitas’. No Antigo Testamento, Moisés orienta ao povo: “Não trarás salário de rameira, nem preço de cão, à casa do Senhor, teu Deus, por qualquer voto; porque ambos estes são igualmente abominação ao Senhor, teu Deus” (Dt 23:18), fazendo menção à prostituição masculina ou feminina, e proibindo que ofertas e votos a serem pagos com ganhos ilícitos, originados na prostituição, não deveriam ser dados na casa do Senhor.

Assim sendo, quando Paulo nos orienta a nos guardarmos dos cães se refere a pessoas com estas características. Prostitutos da fé.

Os cães são exatamente aqueles que, na obra de Deus, se comportam como prostitutos. São os amantes do mundo e de suas facilidades. Acendem uma vela para Deus, e outra pro diabo. Utilizam-se de qualquer expediente, por mais imundo que seja, para se promoverem e supostamente promoverem a Igreja. Na verdade, a promoção é pessoal. Promovem-se a si mesmos, e se beneficiam desta promoção.

A "prostituição gospel", infelizmente, infesta e empesta a Igreja dos nossos dias. Pastores e líderes se dobram ao mundo e às suas imoralidades, com a justificativa que "o importante é ganhar almas", não importando a que preço. Logo, a lógica dos cães é que "os fins justificam os meios". Assim, "obreiros" não se constrangem em abraçar o ecumenismo televisivo. Aparecem sem qualquer constrangimento em programas escarnecedores, muitos destes programas que antes eles condenavam veementemente. Artistas "gospel" se dobram aos programas mundanos, submetem-se às obrigações contratuais, pois o que vale é VENDER e FATURAR com os cachês, venda de CDs, DVDs, livros... Tudo em nome das suas próprias conveniências! O Evangelho não é pregado;o que é pregado é o evangelicanismo, na mais podre das suas versões!

Não pode haver entre os crentes genuínos comunhão com obreiros que têm a Igreja como Noiva de Cristo, mas a tornam amante do mundo! É mister que a separação com o mundo seja enfatizada em todos os tempos da Igreja, independentemente dos tempos modernos que vivemos. Tiago exorta severamente os que querem se prostituir com o mundo: "Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus" (Tg 4:4). É impossível conciliar as duas coisas, pois são antagônicas e ferem a santidade de Deus. Como bem disse Paulo, "Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus" (Rm 8:7-8).

Nossa tarefa primordial, uma vez que somos guardiães da fé que nos foi dada (Jd 3-4), é identificar atitudes de cão, de prostituto(a), e não aceitar tais atitudes em nosso meio. Da mesma forma que na lei as ofertas oriunda dos pagamentos da prostituição deviam ser sumariamente rejeitadas, devemos fazer o mesmo na dispensação da Graça. Não podemos aceitar as "ofertas" que são frutos da prostituição dos maus obreiros com o mundo! Ao aceitarmos passivamente tal prostituição, ao fazermos vista grossa diante de tais incongruências da vida cristã em nossos obreiros, estamos sendo coniventes com o erro e nos tornamos tão prostituídos quanto os líderes que se prostituem sem escrúpulos.

Em vários livros dos profetas antigos, a apostasia de Israel e Judá é tratada como prostituição. Por exemplo, o texto que encontramos em Ezequiel 16 é um retrato fiel da Igreja prostituída que temos em nossos dias. Sugiro a leitura; vocês vão se espantar com a riqueza de detalhes e de semelhanças. Mas ainda é tempo de se arrepender e voltar.

GUARDAI-VOS DOS MAUS OBREIROS

Paulo dá agora nome ao centro da questão: os maus obreiros. Na verdade, nem é preciso ser prostituto, basta ser MAU. Entretanto, o bom obreiro não se caracteriza pelo fato de nos fazer bondades, e sim de nos fazer o que é certo, de nos conduzir, custe o que custar, pelo caminho correto. Assim como um pai e uma mãe que vão aplicar vacinas em seus filhos pequenos (aparentemente, uma maldade), o bom pastor preserva-lhes a alma, por mais dolorosa que seja esta preservação. Portanto,o mesmo não é identificado pela sua bondade humana, pelos princípios humanos de bondade, mas pelos princípios de Deus, como a correção, a admoestação, o ensino da obediência à Palavra de Deus

No Evangelho de João, Jesus mostra a diferença abissal entre o bom pastor (Ele mesmo, e os que seguem Seu exemplo de pastoreio) e o mercenário ladrão:

"Na verdade, na verdade vos digo que, aquele que não entra pela porta, no curral das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador. Aquele, porém, que entra pela porta, é o pastor das ovelhas. A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz para fora. E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz; Mas, de modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos. Jesus disse-lhes esta parábola; mas eles não entenderam o que era que lhes dizia. Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade vos digo que eu sou a porta das ovelhas. Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram. Eu sou a porta: se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens. O ladrão não vem senão a roubar, a matar e a destruir: eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância. Eu sou o bom Pastor: o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas. Mas, o mercenário, e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas e foge; e o lobo as arrebata e dispersa. Ora, o mercenário foge porque é mercenário, e não tem cuidado das ovelhas" (Jo 10:1-13).

O mau obreiro é aquele que negligencia o ensino da Palavra, pois ele tem prazer em manter a ovelha dependente das suas "mediações sacerdotais". O mau obreiro é aquele que se serve da ovelha, mas não quer servi-la; sustenta-se dela, mas não a sustenta. O mau obreiro é aquele que foge ou se omite diante das ameaças que atacam o rebanho, mormente as heresias e erros. Vê o lobo e foge! Ouve seus uivos, e se cala!

É lamentável vermos as massas humanas que seguem os maus pastores. Digno de pena, de pranto. Ovelhas enganadas, sendo levadas ao matadouro e à tosquia, como se estivessem sendo levadas ao céu. Cegos guiando cegos, conduzindo a si mesmos e a seus seguidores à perdição (Lc 6:39). E quando surge alguém que tenta alertar para o perigo iminente e inexorável, esse é o que é lançado fora do aprisco!

Quando Paulo nos orienta sobre nos guardarmos dos maus obreiros, ele sabia muito bem do que falava! Já aos anciãos de Éfeso ele alertou: "Porque eu sei isto, que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não perdoarão ao rebanho; e que, de entre vós mesmos, se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si" (At 20:29-30). Somos enganados porque QUEREMOS, e GOSTAMOS de sermos enganados. O próprio Senhor Jesus avisou (Mt 24:24-25), os apóstolos avisaram. Engana-se quem quer!

O mau obreiro cuida em fazer seu nome, edificar seu império, alargar suas tendas ministeriais e, principalmente, pessoais. Enriquecem a olhos vistos, e não se constrangem em ostentar esta riqueza e opulência. Se dizem superiores, intocáveis e inquestionáveis. São a sombra de Deus na terra,e não podem ser sequer ter suas palavras ou ações postas em dúvida, por menor que seja!

Somos chamados por Deus a nos guardar destes "obreiros". Acatá-los, reconhecê-los, honrá-los e mantermos comunhão com eles equivale a fazer o oposto para com Deus. Afinal, não podemos servir a dois senhores. João, o chamado "apóstolo do amor", nos dá uma orientação, à primeira vista nem um pouco amorosa: "Todo aquele que prevarica, e não persevera na doutrina de Cristo, não tem Deus; quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto o Pai como o Filho.Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tão-pouco o saudeis. Porque, quem o saúda tem parte nas suas más obras" (2 Jo 9-11).

Cabe a cada um de nós nos posicionarmos em relação à obediência a Deus, e no desprezo aos maus obreiros!

GUARDAI-VOS DA CIRCUNCISÃO

Paulo agora se direciona aos “obreiros” que confessam a doutrina da circuncisão, ou seja, aqueles que tentam reintroduzir princípios judaizantes no meio da Igreja. Guardai-vos deles! Em outra ocasião, falando igualmente sobre maus obreiros, ele fala: "Porque há muitos desordenados, faladores vãos e enganadores, principalmente os da circuncisão, aos quais convém tapar a boca, homens que transtornam casas inteiras, ensinando o que não convém, por torpe ganância" (Tt 1:10-11). A carta aos Gálatas, Paulo escreve direcionada ao combate destes judaizantes, que se achegaram às Igrejas da Galácia, induzindo os cristãos a se circuncidarem e obrigando-os a guardar a lei mosaica.

É incrível que crentes que têm uma Bíblia nas mãos, sabem ler e leem as cartas aos Gálatas e aos Hebreus ainda caiam no erro de aceitar os princípios judaizantes dentro da Igreja. Aliás, não sei também como os judaizantes conseguem manter em suas Bíblias estas duas cartas, pois são claríssimas em afirmar que a lei e a graça são antagônicas. Aquele que abraça a graça, precisa largar a lei, e vice-e-versa. Paulo afirma aos Gálatas que "separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído" (Gl 5:4). Poderíamos ficar horas citando textos,mormente os encontrados nas cartas paulinas aos Romanos e aos Gálatas, e da carta aos Hebreus, que deixam claro que a lei foi substituída pela graça. Em Atos 15, vemos os apóstolos, em comum acordo com o Espírito Santo, concluindo que nenhum encargo da lei seria exigido à igreja gentílica, exceto poucos pontos. Por que, então, querer retornar aos rudimentos da lei?

Para nos livrarmos de um possível retorno à lei, é preciso, pois, guardar-se dos obreiros da circuncisão. Aqueles que querem reintroduzir elementos da lei no culto, como a presença de shofar, arca da aliança, menorah etc. Aqueles que julgam a língua hebraica mais santa que as demais, a ponto de só chamar Jesus de Yehoshua, Paulo de "Rabino Shaul" e outros absurdos. Aqueles que querem ressuscitar rituais que foram cumpridos plenamente em Cristo e substituídos por Ele na Nova Aliança.

Paulo passou sua vida lutando contra estes judaizantes, e nos alerta a que prossigamos na mesma batalha. Devemos nos guardar deles! Aceitá-los significa preferir a sombra ao invés da Pessoa de Cristo, que cumpriu a lei. Voltar à lei equivale a cair da graça.

Pensem nisso, e se guardem destes três tipos de "obreiros"! Para seu próprio bem!

segunda-feira, 4 de março de 2013

ESCRITURAS X CORBÃ


Então chegaram ao pé de Jesus uns escribas e fariseus de Jerusalém, dizendo: por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos, quando comem pão. Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Por que transgredis vós, também, o mandamento de Deus, pela vossa tradição? Porque Deus ordenou, dizendo: Honra a teu pai e a tua mãe; e: Quem maldisser ao pai ou à mãe, morra de morte. Mas vós dizeis: Qualquer que disser ao pai ou à mãe: É oferta ao Senhor o que poderias aproveitar de mim, esse não precisa honrar nem a seu pai nem a sua mãe, e assim invalidastes, pela vossa tradição, o mandamento de Deus. Hipócritas, bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim” (Mt 15:1-9).

Há momentos em que as doutrinas de homens traspassam a Palavra de Deus. Este caso da lei do Corbã é um deles, o mais clássico. Embora as Escrituras deixem muito claro que os filhos têm a obrigação de honrar pai e mãe, os religiosos da época deram um jeitinho nas coisas. A questão tratada na lei não era a mera honra, respeito etc, mas a garantia do sustento dos mais velhos, que por não poderem mais se sustentar pelo seu próprio trabalho deveriam ser sustentados pelos filhos, ou seja, honrados. Mas como um bom advogado tributarista que encontra brechas na lei tributária e faz com que seus clientes deixem de pagar determinados impostos, o líder religioso também buscava as mesmas brechas na lei divina. Assim nasceu a lei do Corbã.

Para se livrar da obrigação de sustentar seus pais na velhice, um religioso podia fazer um voto a Deus e consagrar-lhe tudo que gastaria no sustento dos velhos pais. Assim, jogava seus genitores no abandono e doava ao Templo o valor correspondente aos gastos. Para o sacerdote, era uma mão na roda, pois garantia uma gorda oferta para os cofres do Templo. Para o filho ingrato, era uma economia certa, pois não precisaria dar-lhes de comer, cuidar de sua saúde, higiene, vestuário... Evitava-se assim o transtorno de ter dois velhos debaixo do seu teto e debaixo dos seus cuidados. Mesmo que os pais exigissem a honra devida pelo filho, ele poderia lhes dizer: aquilo que eu podia fazer por vocês, fiz voto ao Senhor e vou dá-lo no Templo!

Esta é apenas uma das facetas do desrespeito às Escrituras, que ocorriam nos tempos de Jesus. A tradição se torna superior ao que está escrito, e o que está escrito se torna descartável diante da experiência humana. Na a igreja atual, a coisa não mudou, ou se mudou foi para pior! Hoje, entre optar pelo que está escrito e pelo que a nossa experiência diz ser a verdade, a Bíblia é imediatamente descartada, pois a cada dia se torna um livro obsoleto, que inibe a liberdade do Espírito Santo em nosso meio, atrapalha o crescimento da Igreja e limita os pastores a seguir o que lá está escrito. Faz-se necessário ou abandonar este livro, ou criar doutrinas que o complementem e o tornem mais “moderno”, mais fácil de ser observado.

Em um recente debate sobre o mau uso dos dons espirituais na Igreja, comparando o que acontece nos cultos neopentecostais de nossos dias e o que está escrito nos capítulos doze e quatorze da primeira carta aos Coríntios, um defensor da desordem e da indecência no culto citou o seguinte, precedido por um sonoro “kkkkkkk”, risada característica das redes sociais, acerca do suposto “mover do Espírito Santo” nas reuniões de “fogo e poder”: “Você pode não gostar, irmão fulano, mas tem gente que gosta!”.

Esquece-se este incauto irmão que a questão não é gostar ou deixar de gostar de alguma coisa, prática ou doutrina da Igreja. A questão é a obediência às Escrituras. Ou o irmão acha que os católicos prostram-se diante dos ídolos porque são obrigados a fazê-lo, ou fazem isso porque gostam? Sempre combatemos a doutrina católica da veneração de santos, relíquias e imagens, pois a mesma é severamente condenada na Bíblia. Entretanto, outras práticas igualmente condenadas são abraçadas pela Igreja, de forma incoerente e acintosa contra a Palavra. Enquanto católicos se prostram diante de um ídolo porque gostam de fazer isto, nós crentes temos o mesmo costume de abraçar as coisas que nos são agradáveis, embora as Escrituras não concordem com elas e até mesmo as condenam.

Que este irmãozinho abençoado me perdoe, mas as Escrituras não deixam margem para segundas interpretações, nem mesmo para novas edições da lei do Corbã. Os textos aonde O PRÓPRIO DEUS inspira o apóstolo Paulo acerca de Sua vontade em relação ao uso dos dons espirituais na Igreja são claros:

Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação. E, se alguém falar língua estranha, faça-se isso por dois, ou, quando muito, três, e por sua vez, e haja intérprete. Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo e com Deus. E falem dois ou três profetas, e os outros julguem. Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam e todos sejam consolados. E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos [...] Porventura saiu de entre vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós? Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor. Mas, se alguém ignora isto, que seja também ignorado. Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar, e não proibais falar línguas. Mas, faça-se tudo decentemente e com ordem” (1 Co 14:26-40).

Portanto, antes de criticar os católicos que se prostram diante dos ídolos porque gostam disto e se recusam a observar o que está escrito, lembra-te que tu também fazes igual a ele, quando promoves exatamente o oposto daquilo que Deus prescreveu para a ação do Espírito Santo na Igreja, a ordem e a decência, somente porque gostas daquilo que chamas de “mover do Espírito” mesmo quando a Bíblia não o menciona nem o aceita. Mas, para que se preocupar com isso? A Bíblia e suas prescrições são meros detalhes, e assim como os escribas do tempo de Jesus que criaram a lei do Corbã você também pode encontrar as brechas que bem quiser no texto sagrado, a fim de adequá-lo ao que você gosta. Se isto vai colar no Último Dia, não sei. Creio que não! Ou você nunca leu as palavras do Mestre, que disse “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade do meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi, abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade” (Mt 7:21-23). Ou tem brecha para isto também?

sexta-feira, 1 de março de 2013

ORA, (NÃO) VÁ TOMAR BANHO!

A Bíblia é o livro onde a vontade de Deus se revela ao homem. Somente nela podemos encontrar base segura para todos os nossos caminhos, e o único Caminho seguro para se chegar a Deus. Mas não podemos nos esquecer das palavras de Pedro, falando sobre as Escrituras "...tende por salvação a longanimidade do nosso Senhor, como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição" (2 Pe 3:15-16). Ou seja, é fácil (e em nossos dias se tornou muito comum) distorcer a Bíblia para fazer com que ela pareça corroborar com nossas próprias conclusões.

Posso dar exemplos...

Alguns amigos meus sabem da clássica brincadeira que eu sempre uso, para dizer que não gosto de tomar banho, que a minha religião não permite.  Vou discorrer, portanto, sobre este importante tema à luz da Bíblia.

Banho não tem qualquer base bíblica. Pelo contrário, onde vemos banho na Bíblia, sempre temos junto o pecado, ou a porta aberta para ele, como no caso de Bate Seba, que ao banhar-se foi vista por Davi e começou ali toda a ruína na vida do rei de Israel (2 Sm 11:1-4).

Desde os primórdios da Bíblia, não vemos exemplos de pessoas ligadas a Deus tomando banho. Pelo contrário, se analisarmos a vida de José, prisioneiro na masmorra do Egito, que quando foi chamado à presença de Faraó para lhe interpretar os sonhos, mesmo assim não tomou banho. A Escritura diz: "Então enviou Faraó, e chamou a José, e o fizeram sair logo da cova; e barbeou-se e mudou os seus vestidos, e veio a Faraó" (Gn 41:14). Nem mesmo para ir à presença do rei do Egito, José se dobrou ao pecado de tomar banho. Antes, apenas fez a barba e trocou de roupa!

O mesmo podemos afirmar do profeta Jeremias. Em dado momento, por causa das muitas perseguições de seu ministério profético, ele foi lançado em um calabouço cheio de lama: "Então tomaram a Jeremias, e o lançaram no calabouço de Malquias, filho do rei, que estava no átrio da guarda; e desceram a Jeremias com cordas; mas no calabouço não havia água, senão lama; e atolou-se Jeremias na lama... Então deu ordem o rei a Obede-Meleque, o etíope, dizendo: Toma contigo daqui trinta homens, e tira a Jeremias, o profeta, do calabouço, antes que morra. E tomou ele os homens consigo, e foi à casa do rei, por debaixo da tesouraria, e tomou dali uns trapos velhos e rotos, e roupas velhas em bocados, e desceu-os a Jeremias no calabouço, por meio de cordas. E disse Obede-Meleque, o etíope, a Jeremias: Põe agora estes trapos velhos e rotos, já apodrecidos, nas covas dos teus braços, por debaixo das cordas. E Jeremias o fez assim. E puxaram a Jeremias com as cordas, e o tiraram do calabouço; e ficou Jeremias no átrio da guarda" (Jr 38:6-13). Observem que a Escritura não afirma que, mesmo tendo sido tirado da lama, Jeremias se submeteu a algum banho!

Deus sempre preservou Seu povo dos pecados do banho. No episódio da passagem do Mar Vermelho Ele fez questão de abrir o mar para que nem os pés de Seu povo se molhasse! O mesmo se deu com a passagem do Rio Jordão, e o próprio Senhor Jesus andou sobre as águas para nos mostrar uma grande verdade: devemos evitar que nos molhemos.

Onde vemos na Bíblia Jesus tomando um banho, ou mandando os seus discípulos a fazerem o mesmo? Pelo contrário, Ele recusou-se a lavar Pedro, limitando-se somente a lavar-lhe os pés e dos demais discípulos. 

Analisando as Escrituras como um todo, só encontramos a expressão "tomar banho" ou suas variantes no Antigo Testamento, principalmente nos livros de Levítico e Números, todos eles ou a franca maioria vinculados a rituais da Antiga Aliança, e no Novo Testamento em nenhum lugar encontramos (senão em simbolismos) tal expressão ou tal ordem. Concluímos, pois, que o banho é algo da Antiga Aliança, e que não deve ser imposta aos crentes da Nova Aliança.

Assim sendo, é conveniente que o cristão deixe o mau costume de tomar banho, pois além de ser antibíblico, a Escritura deixa claro que muitos homens de Deus não o fizeram.

Viram como é fácil distorcer as Escrituras?