quinta-feira, 10 de maio de 2012

RECOSTURANDO O VÉU DO TEMPLO


Um parente meu aderiu a esta recostura, e eu confesso que estou admirado com estes “evangelhos velhos” impostos à igreja gentia, que querem nos reconduzir à lei. Contra este “evangelho”, o “rabino” (???) Paulo se levantou muitas vezes no decorrer de sua vida e ministério. Foi inclusive muito perseguido pelos judaizantes da época, como escreveu o autor dos Atos dos Apóstolos: “E, no dia seguinte [após chegar a Jerusalém], Paulo entrou conosco em casa de Tiago, e todos os anciãos vieram ali; E, havendo-os saudado, contou-lhes por miúdo o que, por seu ministério, Deus fizera entre os gentios. E, ouvindo-o eles, glorificaram ao Senhor, e disseram-lhe: Bem vês, irmão, quantos milhares de judeus há que crêem, e todos são zeladores da lei. E já acerca de ti foram informados de que ensinas todos os judeus, que estão entre os gentios, a apartarem-se de Moisés, dizendo que não devem circuncidar seus filhos, nem andar segundo o costume da lei. Que faremos pois?...” (At 21:18-22 – grifos e acréscimos meus). Entretanto, os judaizantes modernos preferem esquecer isso...

Admiram-me muitas coisas nestes evangelhos judaizantes que se espalham mundo afora. Ressuscitaram o uso de quipás, shofares, menorás e outros elementos judaicos, que os escritos neotestamentários jamais prescrevem seu uso para nós, e nem mesmo relatam que a Igreja Primitiva os usava. Até a Arca da Aliança, objeto “intocável” e “invisível”, símbolo máximo da presença divina, já pode ser visto e tocado por quem quiser, em réplicas de todos os tamanhos, num vergonhoso desrespeito à fé judaica e a seus símbolos sagrados.

Há uma série de novidades que não encontro base bíblica ou mesmo coerência para que sejam adotadas. Algumas até bizarras. Um exemplo é o uso da expressão “D’us” para se referir a Deus. Não entendo o porquê disto. Segundo eles, evita-se tomar o Nome “Deus” em vão, substituindo-o estrategicamente. Este apóstrofo dá ao verbete alguma característica de permissão de repeti-lo quantas vezes eu quiser? Qual a diferença se eu usá-lo indiscriminadamente, ou usar o nome completo? Não estaríamos igualmente violando o mandamento de não tomar o Santo Nome em vão? Porventura Jesus não nos ensinou que a letra é insuficiente, e que Deus olha a intenção do coração? A Escritura ensina que eu, ao chamar meu irmão de “Raca” sou réu de sinédrio, e se eu chama-lo de “Louco” sou réu do inferno (Mt 5:22). Tudo bem... Posso chamá-lo de “R’ca”, ou de “Loko”, e tudo fica bem! É isso?

Nos meus tempos de impiedade eu tinha um colega de trabalho que era muito chacotado por ser crente. Todos no setor de trabalho o provocávamos constantemente, e uma das nossas metas diárias era fazê-lo dizer uma palavra torpe, um “palavrão”. Em momentos de maior perturbação, ele nos xingava de palavras “modificadas”, como por exemplo “seus poxas”, numa clara intenção de chamar-nos por outra palavra, de baixo calão, mas substituindo-a estrategicamente por uma mais leve, digamos assim, mais gospel... Entre os próprios crentes vê-se o uso constante de palavras de baixo calão devidamente modificadas, tipo “caraca” e outras. Mulheres revoltadas com o comportamento de seus esposos chamam-lhes de “abençoados”, numa intenção clara de chamá-los pelo antônimo! Ora, e qual a diferença entre uma e outra palavra, se a intenção de usá-la foi uma só: xingar com palavras torpes?

Até o nome de Jesus é descartado por estes judaizantes, sendo substituído por “Yeshua”. Segundo eles, é o verdadeiro nome do Senhor, e usar sua versão aportuguesada é quase blasfêmia...  Esquecem eles que em todo o Novo Testamento o nome do Senhor é usado na sua versão grega. Os apóstolos mais ligados ao judaísmo (Pedro e João) e o próprio Tiago, irmão do Senhor, O tratam em suas epístolas pelo seu nome grego. Na cidade de Filipos, o apóstolo Paulo chega a usar este nome grego, “Iesous”, para expulsar um demônio — e funcionou! Em lugar nenhum do NT ele é chamado de “Yeshua”, mas de “Iesous”; para comprovar isto, dê uma olhada nas versões de grego koinê... Mas você pode chamá-lo da forma que quiser, desde que não afirme que a forma que você usa é melhor que a forma usada pelos demais. Simples, não?

Mas o que mais me chama a atenção é a tentativa de reconduzir a Igreja à lei mosaica, ou à Antiga Aliança. O próprio fato de esta Aliança ser chamada de “Antiga” já deixa patente que uma Nova Aliança é superior a ela... As cartas paulinas e a carta aos Hebreus deixam isto muito claro. Portanto, qualquer tentativa de retornar a ela não dá certo, e a própria lógica nos mostra isto. Paulo chega a afirmar que os que querem observar a lei caíram da graça (Gl 5:4). Paulo diz mais claramente: “Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar. De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados;Mas, depois que a fé veio, já não estamos debaixo de aio, porque todos sois filhos de Deus, pela fé em Cristo Jesus” (Gl 3:23-26). Qualquer pessoa sensata que lê as cartas aos Gálatas e aos Hebreus percebe esta verdade: vivemos a Nova Aliança, e não a Antiga.

Os judeus imaginavam a lei como algo seco. Letra mesmo. Por exemplo, pela lei eu posso maquinar um adultério, dirigir-me ao motel com uma mulher estranha para consumá-lo. Mas posso desistir na porta do motel, e retornar sem consumar o ato. Pela lei, não houve adultério. Na graça, a intenção do coração já consuma o pecado! O pecado não está no exterior, mas no interior do homem.

A questão do casamento também mostra o quanto a graça aperfeiçoou a lei. Na Antiga Aliança vemos a poligamia ser permitida por Deus, enquanto na Nova Aliança ao homem é permitido apenas uma esposa, e à mulher apenas um marido (1 Co 7:2, 1 Tm 3:2; Tt 1:6). E aí?? Podemos seguir a lei, ou a graça aperfeiçoou o que era imperfeito?

O sacerdócio também mudou por completo na Nova Aliança. Não está mais condicionada à tribo de Levi. Na Antiga Aliança existiam as figuras do Sumo Sacerdote, sacerdotes e levitas, todos ligados à mesma tribo; na Nova Aliança, Pastores, Diáconos, e nunca ligados a uma tribo, mas tirados de entre os gentios, nenhum com poderes maiores que o crente comum, no sentido de entrar na presença do Senhor (afinal, o véu foi rasgado, qualquer um pode entrar...)... E o mais gritante, que salta aos olhos de qualquer leitor sensato das Escrituras, mas escapa aos olhos dos judaizantes: “De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico (porque sob ele o povo recebeu a lei), que necessidade havia, logo, de que outro sacerdote se levantasse, segundo a ordem de Melquisedeque, e não fosse chamado segundo a ordem de Aarão? Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz, também, mudança da lei” (Hb 7:11-12 – grifos meus). Ou não??

Paulo lutou todo o seu ministério apostólico para dissociar a Igreja gentia dos costumes e práticas do judaísmo. E por isso os judeus o odiavam, perseguiam e tentavam tirar-lhe a vida. Não mudou muito. Por mais que tentemos seguir as Escrituras neotestamentárias e tentemos conduzir a Igreja à liberdade de Cristo, os judaizantes continuam odiando os que assim almejam, e fazem questão de escravizar o crente a costumes judaicos, dos quais fomos libertos na cruz de Cristo. Esquecem-se do relatado em Atos 15, quando a Igreja se reuniu exatamente para debater se os gentios deveriam se circuncidar e cumprir a lei mosaica.

Tendo tido Paulo e Barnabé não pequena discussão e contenda contra eles, resolveu-se que Paulo e Barnabé, e alguns de entre eles, subissem a Jerusalém, aos apóstolos e aos anciãos, sobre aquela questão.[...] E, quando chegaram a Jerusalém, foram recebidos pela igreja e pelos apóstolos e anciãos, e lhes anunciaram quão grandes coisas Deus tinha feito com eles. Alguns, porém, da seita dos fariseus, que tinham crido, se levantaram, dizendo que era necessário circuncidá-los e mandar-lhes que guardassem a lei de Moisés.Congregaram-se, pois, os apóstolos e os anciãos, para considerar este assunto. E, havendo grande contenda, levantou-se Pedro e disse-lhes: Varões irmãos, bem sabeis que já há muito tempo Deus me elegeu, de entre vós, para que os gentios ouvissem da minha boca a palavra do evangelho, e cressem. E Deus, que conhece os corações, lhes deu testemunho, dando-lhes o Espírito Santo, assim como, também, a nós; E não fez diferença alguma entre eles [os gentios] e nós [os judeus], purificando os seus corações pela féAgora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos [gentios] um jugo que nem nossos pais, nem nós, podemos suportar?Mas cremos que [nós, judeus] seremos salvos pela graça do Senhor Jesus Cristo, como eles, [os gebtios,] também. [...] Pelo que julgo que não se deve perturbar aqueles, de entre os gentios, que se convertem a Deusmas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue. Porque Moisés, desde os tempos antigos, tem em cada cidade quem o pregue, e cada sábado é lido nas sinagogas. Então pareceu bem aos apóstolos e aos anciãos, com toda a igreja, eleger varões de entre eles e enviá-los, com Paulo e Barnabé, a Antioquia, a saber: Judas, chamado Barsabás, e Silas, varões distintos entre os irmãos. E por intermédio deles, escreveram o seguinte: Os apóstolos, os anciãos e os irmãos, aos irmãos de entre os gentios que estão em Antioquia, e Síria e Cilícia, saúde. Porquanto ouvimos que alguns que saíram de entre nós vos perturbaram com palavras, e transtornaram as vossas almas, não lhes tendo nós dado mandamento, Pareceu-nos bem, reunidos concordemente, eleger alguns varões, e enviá-los com os nossos amados Barnabé e Paulo. Homens que já expuseram as suas vidas pelo nome do nosso Senhor Jesus Cristo. Enviamos, portanto, Judas e Silas, os quais, de boca, vos anunciarão também o mesmo. Na verdade, pareceu bem ao Espírito Santo, e a nós, não vos impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias: Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da prostituição, das quais coisas bem fazeis se vos guardardes. Bem vos vá” (At 15:2-29 – grifos e destaques meus, para melhor compreensão).

Amo os judeus! Amo e respeito a religião judaica, embora esteja ciente de que a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo 1:17). Posso perfeitamente aceitar que judeus (ou mesmo prosélitos gentios que adotem o judaísmo como sua fé) sigam e pratiquem sua religião. Mas não posso aceitar que CRISTÃOS JUDAIZANTES queiram recosturar o véu do Templo, ou seja, desfazer a obra que foi feita por Jesus, buscando-nos reconduzir à lei e à sua escravidão! São amantes da música que, em plena era da música digital, ainda se apegam às vitrolas e aos discos de vinil... Tô fora! Sola Gratia!